Convidamos todos, leitoras e leitores do blog,
a lerem este belíssimo poema de KHALIL GIBRAN.
Após sua transcrição em Esperanto, com a
tradução de GEORGO ABRAĤAM, do Árabe, segue a íntegra da tradução que Sergio de Sersank fez, a partir dela,
em Português do Brasil.
Ao final transcrevemos a biografia resumida desse
grande escritor e poeta libanês que viveu grande parte de sua vida nos Estados
Unidos, onde veio a falecer
aos 48 anos de idade.
A pequena biografia nós a extraímos de outro
interessante site literário.
Se vc não domina o Esperanto, pule para a
tradução de Sersank en la portugala lingvo, cxu? (Ok?)
LA POETO
Ĥalil’ Ĝibran’
Mi estas fremdulo en ĉi tiu mondo.
Mi estas fremdulo
kaj en la fremdeco
estas kruela soleco
kaj doloriga tedo;
sed ĝi igas min pensadi
pri ĉarma patrio, kiun mi ne konas,
kaj plenigas miajn
revojn je bildoj de lando malproksimega,
kiun miaj okuloj
ankoraŭ ne vidis.
Mi estas fremda al
mia parencaro kaj al miaj amikoj.
Kiam mi renkontas
iun el ili, mi diras al mi mem:
“Kiu estas tiu ĉi?
Kiel mi lin ekkonis,
kia tradicio kunigis
min kun li,
kial mi al li
alproksimiĝas,
kaj kial mi sidas ĉe li?”
Mi estas fremda al
mi mem:
kiam mi ekaŭdas la
parolon de mia lango,
miaj oreloj trovas stranga mian voĉon.
Mi vidas mian kaŝitan
memon ridanta kaj ploranta,
kuraĝa kaj timema;
mia estado admiras
mian estadon,
kaj mian spiriton deĉifras la spirito mia,
sed mi restadas
malkonata,
nemontrata per
nebulo,
forkaŝita de l’
silento.
Mi estas fremda al
mia korpo:
kiam mi staras antaŭ
la spegulo,
ĉiam mi vidas en mia
vizaĝo
tion, kion la
profundoj de mia estaĵo ne enkaŝas.
Mi laŭiras la
stratojn de l’ urbo
Kaj min sekvas la
junuloj, kriante:
“Jen la blindulo; ni
donu al li bastonon
por ke li sin apogu
per ĝi.”
Kaj mi foriras de
ili rapide.
Poste mi renkontas
aron da knabinoj,
kiuj ekprenas min je
la vesto, dirante:
“Li estas surda kiel
ŝtono;
ni plenigu liajn orelojn
je l’ melodio de la flirto.”
Kaj mi forlasas ilin
kurante.
Poste mi renkontas
grupon da plenaĝuloj,
kiuj stariĝas ĉirkaŭ mi, dirante:
“Ni rektigu la
kurbecon de lia lango,
Ĉar li estas muta,
kiel tombo.”
Kaj mi deiras de
ili, timante.
Kaj poste mi
renkontas grupeton da maljunuloj,
kiuj indikas al mi
per fingroj tremetantaj kaj diras:
“Li estas frenezulo
forperdinta sian prudenton.”
Mi estas fremdulo en ĉi tiu mondo.
Mi estas fremdulo, ĉar mi travojaĝis Orienton kaj
Okcidenton
kaj ne trovis mian landon,
nek renkontis iun,
kiu min konas
nek kiun aŭskultis pri mi.
Mi vekiĝas matene kaj
trovas min mallibera en senluma kaverno
de kies plafono
dependas serpentoj
kaj ĉe kies anguloj
abundas insektoj.
Poste mi aliras al
la lumo, sekvata de l’ ombro de mia korpo,
sed la ombroj de mia
animo iradas antaŭe de mi
tien, kie mi ne scias;
ili priserĉas
aferojn,
kiujn mi ne
komprenas
kaj tenas objektojn
de mi nebezonatajn.
Kaj kiam vesperiĝas, mi revenas kaj
rekuŝigas min
sur matracon elfaritan el strutaj plumoj kaj dornaĉoj.
Tiam, strangaj
pensoj min ekposedas,
kaj transprenas min
inklinoj ĉagrenaj,
ĝojigaj, dolorigaj,
agrablaj.
Je l’ noktomezo envenas
al mi,
el tra la fendaĵoj de l’ kaverno,
fantomoj de praaj tempoj kaj spiritoj de
forgesitaj nacioj.
Mi ilin fikse
rigardas kaj ili min ankaŭ rigardas fikse;
mi alparolas ilin
demandante,
kaj ili respondas
min ridetante.
Poste mi intencas
preni ilin,
sed ili eknevidebliĝas
kaj neniiĝas kiel fumo.
* * *
Mi estas fremdulo en ĉi tiu mondo.
Mi estas fremdulo kaj ne ekzistas iu,
kiu scipovas eĉ unu vorton el la
lingvo de mia animo.
Mi iras tra la
dezerto
kaj vidas riverojn
suprenirantajn el la profundaĵojn de l’ valoj al la
montosupro.
Mi vidas, ke nudaj
arboj sin kovras, belaspektiĝas,
ekfrutas kaj disigas sian foliaron en unu minute,
kaj poste, ke ties
branĉoj defalas sur la herbetaron
kaj iĝas serpentoj
tremantaj.
Mi vidas la
birdarojn:
Ili deflugas, alteniĝas, malsupreniĝas,
ĝoje kantante kaj
ululante.
Mi vidas, ke poste
ili haltas kaj, malferminte la flugilojn,
ili fariĝas nudaj knabinoj
kun longaj delasitaj hararoj kaj etenditaj koloj
kiuj rigardas min el
palpebroj ombrumitaj per amo,
ridetas al mi per
lipoj rozecaj,
ŝmiritaj per mielo,
kaj etendas al mi
manojn blankajn, delikatajn, parfumitajn per olibano.
Poste, ekskuiĝante, ili malaperas
for de mia vidado,
kaj neniiĝas kvazaŭ nebulo,
postlasante en la
spaco
la eĥon de sia
ridado kaj mokado pri mi.
Mi estas fremdulo en ĉi tiu mondo.
Mi estas poeto kiu
versigas tion, kion la vivo proze verkas,
kaj prozigas kion ĝi verse komponas.
Tial mi estas
fremdulo,
kaj mi restados
fremda
ĝis la morto min
prenos kaj transportos
al mia patrio.
(El la araba esperantigis
GEORGO ABRAĤAM)
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O POETA
Khalil Gibran
Sou um estrangeiro neste mundo. Um estrangeiro.
E em terra estrangeira
a solidão é cruel,
é doloroso o tédio;
mas me fazem pensar
no país adorável que não conheço
e traz-me em sonhos imagens de um lugar longínquo
que os meus olhos ainda não viram.
Sou estranho para os meus parentes e amigos.
Quando encontro um deles digo a mim mesmo:
“Quem é este? Como o conheci,
que espécie de tradição uniu-me a ele,
por que dele me aproximo,
por que sento-me ao seu lado?”
Sou estranho a mim mesmo:
quando ouço a palavra de minha língua
soa estranha aos ouvidos minha voz.
Vejo meu “eu” oculto, rindo e chorando,
corajoso e com medo;
meu ser admira o meu ser;
revela-me em espírito este espírito meu,
mas permaneço desconhecido,
invisível na névoa,
oculto no silêncio.
Sou estranho ao meu corpo:
quando estou frente ao espelho
sempre vejo no meu rosto
o que minh’alma não sente
e encontro em meus olhos
o que as profundezas do meu ser não escondem.
Ando pelas ruas da cidade
seguido por rapazes que me gritam:
“Aqui está o cego. Vamos dar-lhe uma bengala
para que nela se apoie.”
Deles me afasto, depressa.
Depois encontro uma turma de moças
que me pegam pelas roupas dizendo:
“Ele é surdo como uma pedra;
vamos encher seus ouvidos
com a melodia da vibração.”
Eu as deixo correndo.
Mais tarde encontro um grupo de adultos
que se erguem ao meu redor, dizendo:
"Vamos endireitar a curvatura de sua
língua,
porque ele é mudo como um túmulo.”
Me afasto deles, com medo.
E então eu encontro um pequeno grupo de idosos
que apontam-me com dedos trêmulos e dizem:
“Ele é um louco, perdeu o juízo.”
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou estrangeiro porque viajei de leste a oeste
e não achei o meu país,
nem encontrei alguém que me conheça
ou algo tenha ouvido a meu respeito.
Acordo de manhã e me encontro preso em escura caverna
em cujo teto penduram-se cobras
e em cujos cantos abundam insetos.
Então me aproximo da luz,
seguida pela sombra do meu corpo,
mas as sombras de minha alma vão antes de mim
para onde não sei;
procuram coisas que não entendo,
guardam coisas que não preciso.
E quando anoitece, volto e de novo me deito
sobre um colchão de penas de avestruz e
espinhos.
Então, pensamentos me dominam.
Transpõem-me inclinações aflitivas,
alegres, doloridas, agradáveis.
À meia noite me vêm,
pelas fendas das cavernas,
fantasmas de antigos tempos,
espíritos de já esquecidas nações.
Eu os encaro de frente
e fixamente me encaram.
Pergunto-lhes certas coisas
e me respondem a rir.
Então pretendo tomá-los,
mas tornam-se invisíveis,
desaparecem como fumaça.
* * *
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou estrangeiro e não existe ninguém
que entenda claramente ao menos uma palavra
da língua de minha alma.
Caminho pelo deserto e vejo rios
a subir das profundezas dos vales
até o topo da montanha.
Vejo que as árvores nuas se cobrem, se
embelezam,
começam a frutificar e espalham suas folhagens
em um minuto.
E logo seus galhos caem sobre as ervas do chão
e tornam-se trêmulas serpentes.
Vejo bandos de pássaros voando, subindo,
descendo,
alegremente a cantar e a uivar.
Vejo que, depois, param e, abrindo as asas,
tornam-se garotas nuas com longos cabelos
esvoaçados
e pescoços esticados
que me olham com pálpebras sombreadas de amor,
riem para mim com lábios rosados,
untados de mel
e estendem-me suas alvas mãos, delicadas,
perfumadas de incenso.
Então, estremecendo, desaparecem de minha vista
e se esvaem como névoa,
deixando para trás, no espaço,
o eco de sua risada e motejo de mim.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou poeta e faço em versos o que a vida em prosa
escreve.
Faço em prosa o que a vida em versos compõe.
É por isso que sou estrangeiro.
Continuarei estrangeiro
até que a morte me pegue e me leve para o meu
país.
(El la esperanta lingvo tradukis Sergio de Sersank)
BIOGRAFIA:
Khalil
Gibran (1883-1931) foi um filósofo, escritor,
poeta, ensaísta e pintor libanês. Sua
obra reflete a espiritualidade e os princípios que levam aos patamares mais
altos da alma humana. É conhecido por ter criado frases inspiradoras.
Seu livro mais conhecido é “O Profeta”.
Khalil
Gibran nasceu em Bsharri, nas
montanhas do Líbano, no dia 06 de janeiro de 1883. Viveu a maior parte de sua
vida nos Estados Unidos, para onde se mudou com sua mãe, o irmão e duas irmãs
no ano de 1894. Nascido Gibran Khalil
Gibran, reduziu seu nome para Khalil
Gibran. Em 1898 retornou para o Líbano onde completou seus
estudos árabes, no Colégio da Sabedoria, em Beirute.
Em 1902 voltou para os Estados Unidos. Nessa
época escreveu poemas e meditações para
um jornal árabe, publicado em Boston, chamado “O Emigrante”. Dedicou-se
à pintura e ao desenho, numa arte mística que lhe é própria. Uma exposição com
seus primeiros trabalhos despertou o interesse de Mary Haskell, diretora
de uma escola americana, que lhe ofereceu um curso de artes em Paris. Publicou “A
Música” (1905) e “As Ninfas do Vale” (1906).
Entre os anos de 1908 e
1910, Khalil
Gibran estudou em Paris, na Académie Julien, onde produziu telas com temas místicos. Uma de suas telas foi escolhida
para a Exposição de Belas Artes. Nessa época escreveu “Espíritos Rebeldes”
(1908). Em 1910 volta para Boston e nesse
mesmo ano muda-se para Nova York, onde reúne
em volta de si, diversos escritores libaneses e sírios, que formam uma academia
literária (A Liga Literária),
que publicava duas revistas árabes: “As Artes” e “O Errante”.
OBRAS ESCRITAS EM
ÁRABE:
- Música (al-Musiqah) - 1905
- Ninfas do Vale (Ara'is al-Muruj) - 1906
- Asas Quebradas (al.Ajnib al-Mutakassirah) - 1908
- Espíritos Rebeldes (al-Arwah al-Mutamarridah) - 1908
- Para Além da Imaginação (1910)
- Lágrimas e Risos (Dam a wa Ibtisamah) - 1914
- A Procissão (al Mawakib) - 1919
- A Tempestade (al-'Awasif) - 1920
- Em Direcção a Deus (Nawa Allah) - 1920
- Irão, Cidade de Imponentes Pilares (Iram Dhat al-Imad) - 1921
OBRAS ORIGINALMENTE ESCRITAS EM INGLÊS:
- O Louco (The Madman) - 1918
- Vinte Desenhos (Twenty Drawings) - 1919
- O Mensageiro (The Forerunner) - 1920
- O Profeta (The Prophet) - 1923
- Areia e Espuma (Sand and Foam) - 1926
- O Reino da Imaginação (Kingdom of the Imagination) - 1927
- Jesus, o Filho do Homem (Jesus, the Son of Man) - 1928
- Os Deuses da Terra (The Earth Gods) - 1931
ALGUMAS OBRAS PÓSTUMAS:
- O Vagabundo (The Wanderer) - 1932
- O Jardim do Profeta (The Garden of the
Prophet) - 1933
- O Discípulo de Lázaro (Lazarus and his Beloved) - 1933
- A Morte do Profeta (The Death of the
Prophet) - 1933
- A Voz do Mestre (The Voice of the
Master) - 1963
- Segredo do Coração (Secrets of the Heart) - 1947
Khalil
Gibran faleceu, vítima de tuberculose, em
Nova York, no dia 10 de abril de 1931. Após sua morte, foram publicados os
livros: “O Errante”, “O Jardim Secreto do Profeta” e
“Curiosidades e Belezas”.
Fonte:
https://amantesliterarios.wixsite.com/livros/single-post/2018/01/06/khalil-gibran
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