quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Homenagem a minha Mãe




Sergio de Sersank







AS ROSAS DE DIRCE


(Relato)








AS ROSAS DE DIRCE




Manhã de domingo, 10 de janeiro do ano da graça de Nosso Senhor de 2016. Céu nublado. Temperatura amena em Rolândia, norte do Paraná, sul do Brasil. Um dia que marcou para sempre a minha e as vidas dos meus familiares. Mãezinha Dirce, aos 85 anos e exatos seis meses, retorna ao Mundo Espiritual.
Sua dessoma ocorreu pela madrugada. Ela, com certeza, nem se apercebeu disso. Ao ser encontrada, já sem vida, por volta das nove horas, estava em posição de quem dormia, de lado, com os olhos fechados, em aparente calma, o pé esquerdo, ao lado da cama, tocando levemente o chão.
Ela teve sete filhos: Rubens (1949), Mariza (1951), Sergio (1953), Wilson (1956), Sidney (1958), Luiz Carlos (1960) e Rosinês (1962).
Em sua Cédula de Identidade consta o dia 10 de julho de 1930 como data de nascimento. Mas, ela dizia que havia sido registrada com um ano a mais, costume dos pais naquela época, talvez porque desejassem ver as filhas casadas mais cedo. Assim, expirou aos 84 anos e seis meses completados na madrugada desse domingo.
 A causa da morte não foi determinada na Certidão de Óbito. No entanto, sabemos que se deveu a um aneurisma da veia aorta abdominal. Há cerca de nove meses ela se queixou de uma dor aguda na parte esquerda do abdômen. Levada a exames, a tomografia constatou o risco de aneurisma naquela região. Mas, em razão de sua idade avançada foi nossa família aconselhada, no hospital, a não submetê-la à cirurgia devido ao alto risco da operação. Novos exames seriam feitos. Se houvesse agravamento certamente a decisão seria revertida. Mas ela só retornaria para a avaliação clínica no próximo dia 27. Partiu antes dessa data.
Assim, também, inesperadamente, em Paris, vitimado pela ruptura de um aneurisma, em 31 de março de 1869, com a idade de 65 anos, retornou ao Mundo Maior o insigne Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec.
Sinto que Deus nos favoreceu grandemente, primeiro permitindo que ela tivesse uma longa vida. Depois, que partisse sem alarde, de madrugada, enquanto dormia.
Tenho pensado muito nas circunstâncias em que ocorreu o seu decesso. Penso que normalmente nos preocupa a todos, mais que a morte em si, o processo sempre difícil e doloroso de nossa desencarnação. Nesse ponto, tranquiliza-nos em parte saber que ela partiu serenamente, há duas ou três horas antes de irromper o dia.  Bem-te-vis cantaram como sempre, ao alvorecer, saudando o novo dia. Ela, com certeza os ouviu de mais longe e mais alto, em meio a infinidade de canoros cantos de pássaros multicores, entre verdejantes bosques circundados por campos em flor na Grande Gaia Espiritual.
Minha mãe com certeza queria mesmo que a sua partida ocorresse dessa forma: enquanto dormia, numa manhã de domingo. Um dia de descanso. Dia em que todos os seus poderiam dedicar a ela a atenção que desejassem sem prejuízo de suas atividades rotineiras na desenfreada e permanente luta pelo pão cotidiano.
No sábado à tarde, Mamãe e Mariza, falaram ao telefone. Minha mãe disse que se sentia bem. Minha irmã, por sua vez, queixou-se de fortes dores de cabeça que a estavam importunando muito, por isso iria dormir um pouco depois de tomar um comprimido relaxante. Mamãe lhe disse: - Você ficará bem. Estou pedindo ao Dr. Bezerra de Menezes e ao Chico Xavier que te amparem.
Mais tarde, por volta das 18h30min, mamãe ligou. Queria saber como ela estava. Mariza tinha melhorado. Falaram muito, como faziam todos os dias. Antes de desligar, mamãe disse à mana que iria até sua casa para auxiliá-la caso viesse a sentir novas dores. Mariza, disse-lhe que ficasse despreocupada, tomaria outro comprimido mais tarde e ficaria bem. Desejou-lhe boa noite, que dormisse bem.
Pela manhã, sua cachorrinha “Pandora”, lhasa caramelo, sempre vivaz, foi a primeira a notar o ocorrido.  Pandora dormia todas as noites sob a cama de minha mãe. Na manhã desse domingo, mamãe morta no leito, a pobre cachorrinha que sempre acorda tarde, entrava e saia sucessivamente do quarto, arranhava as patas no chão, emitia sons estranhos... Minha irmã Rosinês, estranhando isso, foi ao quarto - até porque pretendia acordar a mãe para o café que já estava à mesa. Ao perceber a triste realidade pôs-se a gritar alarmando os vizinhos que logo encheram a casa.
Por volta das onze horas, nesse fatídico dia, os familiares reunidos na varanda da casa em Rolândia (PR) estavam desolados. O corpo havia sido levado para a preparação do velório. De repente, o vento começou a soprar frio e forte, anunciando chuva. Intenso aroma de flores tomou a casa toda. Rosinês, nossa irmã caçula, notou o fenômeno e chamou a atenção de todos. Até mesmo nos fundos da casa sentiu-se a forte fragrância. Cheiro de rosas. Todos se comoveram.
No jardim, em frente à casa, com efeito, havia rosas vermelhas, amarelas e até mesmo cor-de-rosas que minha mãe cultivava entre outras plantas e folhagens.  Ela amava a natureza. Por diversas vezes a fotografamos em meio às suas flores. Eu mesmo vinha denominando algumas dessas fotos que tirávamos pelo celular, instantaneamente, em seu jardim: Rosas de Dirce-1, Rosas de Dirce-2, ...
Por isso, começamos a associar as lembranças de nossa mãe às rosas que ela cultivava e tudo o que falavámos sobre ela sempre culminava no seu amor por essas flores.
Lembrei-me, a propósito, durante o velório - seu corpo imóvel no esquife orlado por rosas vermelhas e uma rosa branca entre as mãos - de uma trova que escrevi, um dia, há muito tempo, em sua homenagem:


“Algo há de mães, algo nobre,
nas roseiras esmerosas:
de espinhos a vida as cobre
e elas à vida dão rosas.”

(Trova de Sersank, 1974)

No Velório Municipal por volta das dezesseis horas, no interior da ampla sala, ao fundo, próximas ao esquife, havia pouco mais de trinta pessoas. Eu estava à porta de entrada, sozinho. Um carro de Floricultura estacionou à entrada. O condutor do veículo desceu e trouxe com cuidado a quarta e linda coroa de flores, esta enviada por diversas amigas, toda composta de rosas, vívidas, brancas e amarelas em forma de coração, emolduradas por entreabertas rosas rubras. Novamente lembrei, ao vê-la, o amor de minha mãe pelas flores e os cuidados que dispensava às suas roseiras.
Indiferente ao passar por mim, o entregador adentrou a sala mortuária. Eis, porém, que da coroa de rosas se desprende, nesse instante, uma isolada pétala vermelha que cai diante dos meus pés como a expressar os sons de uma longínqua e inesquecível voz: “É sua, meu filho!” Tomei-a do solo e após beijá-la na palma da mão, guardei-a comigo.
Mãezinha Dirce, sempre ativa, lúcida, alegre, criativa, apesar de velhinha, era forte. Em tudo o que falava, em tudo o que fazia, revigorava-nos a fé e a esperança na complacência divina.
Gostava de ouvi-la narrar certas passagens de sua infância e mocidade. Mas às vezes nos entristecíamos juntos quando recordava-nos as dificuldades da vida naqueles recuados tempos chegando quase às lágrimas. Eram cenas que reproduzia com humildade e contida emoção e nos faziam sentir quanto marcaram sua última experiência de vida na Crosta.



Dirce Cavalin, mãe de sete filhos; esposa do sapateiro paulista Rubens Santos Cunha, pioneiro de Florestópolis; filha de Giuseppe Boaventura Cavallin, laborioso ferreiro nascido na Fazenda Barreiro em Limeira (SP); neta de Victório Cavallin, valente agricultor italiano que aqui chegou atraído como tantos compatriotas seus pela falsa notícia de que havia terras disponíveis no Brasil – “um país de oportunidades, onde poderiam construir os seus sonhos com a família.”
No Brasil - diziam os enganosos cartazes espalhados pela Itália – “Vocês poderão ter o seu castelo. O governo dá terras e utensílios a todos”.
Eis alguns deles:



“Na América – Terras no Brasil para os italianos. Navios em partida todas as semanas do Porto de Gênova. Venham construir os seus sonhos com a família. Um país de oportunidade. Clima tropical e abundância. Riquezas minerais. No Brasil vocês poderão ter o seu castelo. O governo dá terras e utensílios a todos”.

“Na América – Terras no Brasil para os italianos. Navios em partida todas as semanas do Porto de Gênova. Venham construir os seus sonhos com a família. Um país de oportunidade. Clima tropical e abundância. Riquezas minerais. No Brasil vocês poderão ter o seu castelo. O governo dá terras e utensílios a todos”.

(Cartaz da propaganda, prometendo terra e abundância no Brasil, entre 1880 à 1930. 
Acervo Memorial do Imigrante.) 
 
Exatamente no dia 14 de novembro de 1887(1), aos 24 anos, Victório desembarcou do Navio Savoia no Porto de Santos, com os integrantes de sua família: o pai, Giuseppe (70), a mãe, Lúcia (61), a esposa, Anna (29), a irmã Giovanna (21) e os filhos Maria (05), Virgínia (02) e Itália (01). Foram orientados a laborar na propriedade rural do latifundiário Joaquim Leite da Cunha no Município de Pedreira (SP), situado às margens do Rio Jaguari, na microrregião de Campinas.
Não tiveram vida fácil. Meu bisavô, Victorio Cavalin morreu vinte anos mais tarde, aos 45 anos, desiludido, vitimado por um tumor cerebral. Não temos registros ainda dos fatos que se seguiram. Mas é de se supor que nossos antepassados sofreram muito e por muitos anos.
Bem, enquanto aguardávamos a chegada do féretro, cenas sucessivas de minha vida passaram aleatoriamente pelos mecanismos da memória: vi-me pequeno, pobrezinho, na antiga casa de madeira, inacabada, dos dois aos seis anos:

"Rebusco, mãe, na memória
o antigo e modesto lar.
Sou personagem na história
da tua vida exemplar!"
(Trova de Sersank)

Era, todas as manhãs, a sopinha de pão com leite morno na caneca, misturado com um pouquinho do café despejado do bule esmaltado.  Eram as inúmeras brincadeiras de pés descalços no quintal varrido, o cálido banho de bacia ao fim da tarde e já de noite, à luz bruxuleante do lampião de querosene, suas audições ao pé do rádio de pilhas transistorizado das novelas e programas musicais em parte prejudicadas pela nossa algazarra sempre contida com reprimendas verbais. Depois as orações, ela e meu pai ao pé dos nossos leitos, os beijos e desejos de boa noite. “A bênção, mãe! A bênção, pai!” E dormíamos, pobrezinhos, mas felizes!
A cada vez que a memória me resgata esses momentos imersos nas névoas do passado e da saudade, acodem-me os versos desta linda trova:

"Eu vi minha mãe rezando
aos pés da Virgem Maria.
Era uma santa escutando
o que outra santa dizia!"
(Barreto Coutinho)

Estou agora lembrando a primeira vez em que me vi realmente perdido: foi aos seis anos. Mamãe vestiu-me um bonito uniforme xadrez. Senti-me bem, mas estava ansioso. Relutei em dar a mão à maninha mais velha e com ela seguir para o desconhecido. Voltei-me, na ruazinha de terra, por diversas vezes, a dar-lhe com a mão um triste tchau, com lágrimas nos olhos.  Quanto odiei a vida nova que os pais sorridentes diziam chamar-se “escola”!
Mariza, a maninha, iniciava o segundo ano primário. Eu adentrava o “Jardim de Infância”, equivalente ao ano pré-escolar. Começaria, em breve, a aprender as maravilhas do “Caminho Suave”, a inesquecível cartilha que deu a multidões de crianças, nos anos sessenta e setenta do século passado, acesso ao fantástico mundo da escrita.
Não tem como não lembrar agora os versos do nosso querido poeta Carlos Drummond de Andrade:

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite
é tempo sem hora.
Luz que não apaga
quando sopra o vento
e a chuva desaba.
Veludo escondido
na pele enrugada.
Água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- Mistério profundo -
de tirá-la um dia?

Fosse eu rei do mundo
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca.
Mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Domingo, 10 de janeiro de 2016. Céu nublado. Passamos o tempo todo na Sala do Velório Municipal.
Pela manhã do dia 11, ao clarear do dia, sem mostras de cansaço, reunimo-nos, familiares e amigos mais íntimos, em torno do esquife, para uma singela e especial homenagem. Oramos a Prece de Caritas. Lemos e comentamos duas mensagens psicografadas por Chico Xavier, de Maria Dolores. Mariza, minha irmã, fez uma sentida prece, encerrando o ato.
Minha mana comentou que recentemente, numa de suas conversas frequentes, nossa mãezinha manifestou-lhe alguma preocupação com relação ao reingresso no Mundo Espiritual.  Marisa, otimista como sempre, estribada em suas convicções espiritistas, a tranquilizou:
- Não se preocupe com isso, Mãe. A Senhora, quando deixar este mundo despertará num imenso jardim encantado, onde haverá muitas flores, principalmente rosas que a Senhora gosta tanto, céu azul, pássaros cantando e verá a seu lado inúmeros amigos e Benfeitores Espirituais.
Pouco depois das nove horas, com a presença de dezenas de amigos que chegaram e já então sob a direção do Monsenhor José Agius, tivemos uma sequência de orações e cânticos católicos, facultativa, que muito nos emocionaram. Mas algo nos chamou a atenção: Mariza, de repente entrou em convulsivo pranto. O Monsenhor ficou sem entender essa súbita explosão de lágrimas e se limitou a passar a mão sobre o ombro dela, dando continuidade ao Ofício que dirigia.
Ao questioná-la a respeito, minutos depois, Mariza me chamou a um canto e contou-me o ocorrido. Ela que dedicou muitos anos de sua vida à prática da mediunidade assistida e assistencial, naquele instante ouviu nitidamente a voz de nossa mãe vinda do Plano Invisível, no mesmo tom de quando a chamava, entusiasmada, diante das coisas boas que via:
 -“Mariza!...”
Era como se desejasse dizer: “Você precisa ver isso!”
Notem que isso se deu em meio ao vozerio das rezas católicas!
A despedida foi muito triste, mas com serenidade, resignação e muitos abraços entre irmãos, parentes e amigos. O sepultamento se deu, com atraso, por volta das 11h00. Choveu sem parar durante a manhã toda. Debaixo de chuva, chuva intensa, o féretro seguiu até o túmulo. Sentíamos que a natureza chorava conosco, intensamente, a perda do bem maior de nossas vidas.
Depois soubemos que aquela foi uma das maiores chuvas que se abateu sobre o município paranaense de Rolândia, tanto que o Prefeito, Dr. Luiz Francisconi, com aval da Defesa Civil e com o reconhecimento do Governo estadual, decretou no dia seguinte, estado de emergência e, um dia depois, estado de calamidade pública.
Dois pedreiros trabalharam sob uma cobertura de lona plástica, escorada aos braços por outros três deles, para o fechamento. Diversos guarda-chuvas cobriam as pessoas à volta e ainda assim não houve quem não se molhasse muito. Sob o mesmo guarda-chuva eu estava com meu filho Leon, artista gráfico tatuador e meu sobrinho, Alberto Vinicius, policial militar especializado.
Comoveu-nos a dificuldade dos pedreiros. E essa dificuldade nos fez meditar mais sobre a vida maravilhosa de nossa Mãezinha Dirce, uma vida vitoriosa, apesar de muito sofrida do berço ao instante final. Ela começou a trabalhar muito cedo. Aos dez anos já era requisitada para serviços domésticos. Cuidava das irmãs Lúcia, Inês e Nico, menores que ela. Pouco tempo teve de escola. Só conheceu dificuldades mesmo depois que se casou com o modesto e honrado sapateiro Rubens, o grande amor de sua vida, com quem veio a se casar 1949.
No criado-mudo do seu quarto ficaram dois livros que ela estava terminando de ler: um romance de Rochester (Episódio da Vida de Tibério) e outro da Zíbia Gasparetto, autora que ela tinha entre suas favoritas. O da Zíbia nos chamou a atenção pelo título muito condizente com a trajetória de sua vida, plena de exemplos de luta, de devotamento e de vitórias na construção, desenvolvimento e manutenção dos nossos mais legítimos laços de afeto sobre os valores da família: "Só o Amor Consegue".
Sua cachorrinha Pandora anda triste. Observamos alterações em seu comportamento. Antes muito agitada, agora anda quieta, diferente. Sente, com certeza, a nossa dor.
Registro a seguir, para não estender-me muito, três, dentre muitas manifestações familiares que nos comoveram, pedindo escusas aos demais missivistas:

“A partida da tia Dirce para o Mundo Maior mexeu com todos nós. Oramos muito na casa da minha mãe, Lúcia. Reunimo-nos na sala e até na cozinha para orar por ela. Pedimos aos Nono e a Nona, aos amados pais dela, que a abraçassem bem forte e lhe transmitissem nosso carinho e amor. Conversamos em oração com os outros irmãos e irmãs de minha mãe. Estamos pedindo a todos que amparem tia Dirce em sua chegada à Pátria Espiritual. Choramos muito. A emoção foi imensa. Sentíamos presentes os seus pais e irmãos durante as orações. Que Nossa Senhora e os mentores da Espiritualidade estejam com vocês em todos os momentos, amparando a todos.” (José Augusto Novas, Guto, Artista Plástico e Professor, de São Paulo, Capital)
"A despedida foi repentina e sem volta. Hoje você está na companhia de Deus e viverá em nossas lembranças com amor. A saudade maltrata, pois sua falta dói. Apesar disso, sei que estás bem! Sei que você alcançou a paz eterna! Te amaremos sempre.”  (Jozyane Rodrigues, neta)       
DIRCE CAVALIN - a rosa mais bela ficará por perto, viva, vibrante e cheia de beleza dentro de nossos corações! A matriarca da família... devo-lhe a minha vida e a dos meus descendentes, orgulho-me de carregar seu sobrenome. Ficam as lembranças de uma infância feliz ao seu lado e a esperança de um dia reencontrá-la com aquele sorriso cheio de alegria, amor e luz. Vá com Deus, vovó! Te amaremos para sempre!” (Vanessa Cavalin, neta, no Facebook em 10jan2016)

Como se fez constar no Atestado de Óbito, minha mãezinha não deixou bens a inventariar, mas é formidável a fortuna que nos legou no aspecto espiritual. Ela adorava dançar. E sempre gostou de cantar também. Eu me recordo, menino, ela nos deliciando com sua linda voz...
Seu toca-discos e mais de uma centena de LPs ficaram para mim porque a mana Mariza disse que esse era o desejo dela. De fato, quase ninguém liga mais para esses antigos discos de vinil. Mas foram muitas as vezes em que, ouvindo-os, dançávamos juntos, na edícula de sua casa, com plateia familiar aplaudindo... Tangos... Valsas... Boleros... Forrós... Eram só risadas!
Os discos todos eu os lavei, troquei as capas plásticas internas e externas. Religuei o velho e bom aparelho Stéreo Sistem CCE 4880, depois de mandar revisá-lo. Numa dessas últimas madrugadas, pus pra rodar o disco, “Os Grandes Sucessos de Anísio Silva”, aquela voz suave, interpretando a canção “Onde estás agora?” preencheu o espaço e adentrou-me a alma. As lágrimas rolaram sentidas... Era o tipo de música  que ela apreciava e ouvíamos todos no ambiente do lar na década de 60.
Mariza recebeu de volta, entre outras coisas, dois livros que lhe havia dado de presente em 1987: “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e “O que é o Espiritismo”, ambos de Allan Kardec. Nossa mãe os lia frequentemente pelo que constatamos nas anotações que fazia. Chamou-nos a atenção o fato de que em cada um dos livros, nas páginas iniciais, ela havia inserido um decalque de rosa vermelha. E como marcador de página do “Evangelho” usava um cartão de aniversário oferecido por sua neta, Vanessa, no dia 10 de julho de 1995.
Mãezinha Dirce, sua maravilhosa trajetória existencial de fato enalteceu a vida de todos os seus descendentes.
Devo agora transcrever um relato altamente simbólico e revelador da perenidade da vida. Com a palavra, minha filha Vanessa Cavalin (27):

“Sonhei que me encontrava com a vó Dirce num lugar fechado, tipo uma sala, vazia sem nada, estávamos sozinhas. Ela estava bem bonita, com a blusa vermelha de bolinhas brancas. Logo que a vi, corri para abraçá-la e falei: - Ai Vó, queria falar pra você uma coisa que eu não tive tempo de falar antes (estava consciente de que ela já estava desencarnada), queria falar que te amo muito, muito mesmo!
Fiquei muito emocionada e senti que ela emocionou-se também e nós duas, tremendo de emoção, quase perdemos a conexão. Antes que isso acontecesse, ela que já estava mais calma que eu, puxou meu braço, do modo que fazia quando bem empolgada queria me mostrar alguma coisa do seu jardim e me envolvendo num abraço terno,  falou no meu ouvido: Quero te contar um segredo:
 - AS ROSAS!
Nesse momento acordei.”

Vanessa ficou mesmo profundamente emocionada. Entramos na Internet e pesquisamos sobre “O Segredo das Rosas”.
Finalizo este relato, tomado da mesma emoção. Vejam o que ela e eu encontramos:

Rosacruz é denominação da fraternidade filosófica, que, de acordo com a tradição mais em voga, teria sido fundada por Christian Rosenkreuz e representa uma síntese do ocultismo imperante na Idade Média.
A rosa, por sua vez, a mais bela dentre todas as flores, traz consigo um elevadíssimo simbolismo, tanto no plano esotérico quanto no exotérico: ela jamais se reproduz por intermédio de sementes. Quando em vida - e pouca gente sabe disso! - é apenas um botão. Nessa condição ela se fecha sobre o seu próprio coração, o seu íntimo, guardando toda a sua beleza em sublime introspecção. Finalmente, quando ela se abre à luz, irradiando todas as suas cores e matizes, revelando toda a sua esplendorosa beleza e espargindo o seu suave perfume. Terá chegado a hora da sua morte.”
...A mística ideia da rosa, associada à lembrança da cor do sangue e aos espinhos que provocam o seu derramamento, contribuiu, certamente, para dar à palavra, uma grande força de sedução. Além disso, muitos rosacruzes veem, no emblema, um símbolo alquimista, concretizando uma ambiguidade muito comum aos símbolos. Os rosa-cruzes atuais tem uma interpretação bem mais mística a respeito da cruz e a rosa. A cruz representaria o ser humano, a parte material, enquanto a rosa representaria o ser imaterial, a alma, espírito ou corpo astral.
A rosa simboliza a perfeição, o amor, o coração, a paixão, a alma, o romantismo, a pureza, a beleza, a sensualidade, o renascimento; e, de acordo com sua cor, pode simbolizar a lua (branca), o sol (amarela) ou o fogo (vermelha). Universalmente, essa flor complexa e aromática representa o símbolo do amor e da união, famosa por sua beleza e seu perfume. Não obstante, o desabrochar do botão da rosa simboliza o segredo e o mistério da vida.”

A simbologia da Rosa

Desde a antiguidade remota a rosa foi honrada pelos deuses e heróis. Ornava o escudo de Aquiles, os capacetes de Heitor e de Enéas e na Idade Média, os escudos dos cavaleiros.
Era associada na antiga Grécia ao culto de Afrodite, a deusa do amor.
Já no Egito antigo, esta sensualidade expressa pela rosa em Afrodite, se torna mais espiritual no culto a Isis. Ao comerem algumas rosas, os iniciados sublimavam seus instintos carnais começando um processo de regeneração interior.
Na tradição cristã a rosa passou a representar Maria, a Rosa Mística, ou como acreditam certas correntes, ela representa Maria Madalena e está presente nas rosáceas dos vitrais e pisos de algumas igrejas europeias. Também na iconografia cristã, a rosa com todas as suas pétalas abertas simbolizava o Santo Graal, símbolo da natureza integral do homem.
A Rosa Crística do ocidente, equivalente à Flor de Lótus oriental, é considerada a flor mais perfeita entre todas. Exala um perfume delicado e suas pétalas se colocam em espiral, simbolizando o esforço de aperfeiçoamento. É a vida eterna que se renova constantemente e ressurge ao final de cada volta: RENOVAÇÃO/ RENASCIMENTO.
Para se chegar à rosa é necessário primeiramente subir e colher os espinhos (guardiões): CAMINHO HUMANO. No seu centro, os pistilos amarelos, significam EQUILÍBRIO e SABEDORIA e surgem ao término de seu sacrifício, quando as pétalas, de fora para dentro, morrem para poder deixar finalmente, ressurgir o centro, a ESSÊNCIA.
A Rosa, como a Flor de Lótus, representa o CAMINHO DE AUTO-APERFEIÇOAMENTO. Elas vêm do escuro da terra (ou do limo no caso do Lótus) e sobem para respirar o ar sutil da vida espiritual e ao abrir suas pétalas ao Sol, oferecem o sacrifício do próprio perfume em entrega: DEVOÇÃO e SERVIÇO à VERDADE.
Há uma diferenciação do sacrifício de acordo com a cor da rosa:
Rosa vermelha= Sacrifício por paixão.
Rosa branca= Sacrifício por pureza.
Rosa amarela= Espiritualidade.
A rosa é uma criação excepcional, o emblema da PERFEIÇÃO para a grande obra dos Alquimistas, só entreabrindo suas pétalas para revelar o seu mais íntimo segredo, no momento em que vai perecer. Por isto além de ser símbolo da VIDA é também símbolo da PERFEIÇÃO e MORTE.
Fernando Pessoa se refere à rosa em um de seus poemas: Rosa, Vida, Cristo encoberto.
As catedrais góticas, construídas segundo os preceitos da geometria sagrada, tinham a planta em forma da cruz e seus vitrais com desenhos de rosáceas (rosas estilizadas) ficavam ao sul para que deixassem entrar a luz do sol em todo o seu esplendor.
Lutero usava a rosa em seu selo, chamado de Selo de Lutero ou Rosa de Lutero e costumava dizer uma frase: “O coração está sempre em rosas quando está sob a cruz”.
O nome Rosa-Cruz está associado ao símbolo hermético do Cristo.
Para os adeptos da Rosa-Cruz, a cruz contém os opostos em suas partes: Feminino e Masculino, Lua e Sol, Morte e Vida. Quando esta vivência de opostos (o horizontal e o vertical) se encontra em um ponto de intersecção, acontece a Iluminação. Esta intersecção (Centro, ponto de Unidade) da cruz (Corpo), saúda o Sol e uma rosa colocada neste centro, no peito, permite que a Luz ajude o espírito a desenvolver-se e florescer. Em seu símbolo ora colocam a rosa na intersecção, ora no alto da cruz.
Para os esotéricos a Cruz é um signo masculino e espiritual, divina energia criadora que fecundou a matéria da substância primordial cuja imagem é a Rosa, que se inscreve nas quatro dimensões: comprimento, largura, espessura e tempo. A mente associada à Rosa apresenta sub-dimensões e forma: matéria, cor e perfume, reunidos na mais completa harmonia sendo defendidos pelos (guardiões) espinhos.
Segundo Robert Charroux (livro “Os mistérios da Rosa”), a história da Rosa é tão secreta que somente raros iniciados podem compreender o seu sentido profundo. A rosa é o símbolo do segredo guardado, pois é uma das raras flores que se fecha sobre seu coração. Quando abre a sua corola, está na hora da morte.
“Descobrir uma taça de rosas” é desvendar um segredo. Esta expressão ainda é usada em alguns lugares da Europa. Antigamente, se um anfitrião colocasse um ramo de rosas numa taça, significava que o bom tom e a honra deveriam prevalecer e que todos que estivessem à mesa manteriam rigorosamente secreto tudo que ali se dissesse. Algumas vezes a rosa era dependurada sobre a mesa, e tinha o mesmo significado.

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Finalizando incluo neste relato duas dentre muitas mensagens da Benfeitora Maria Dolores, através do inesquecível Francisco Cândido Xavier  - medianeiro dos temporariamente vivos que estamos com os permanentemente vivos que somos e haveremos de ser no Mundo Maior.  



  
Minha Mãe
Desejava, Mãezinha, para testemunhar-te afeto e gratidão, escrever-te um poema que me fotografasse o coração.
E, ao servir-me do verbo, quisera misturar a beleza das flores e das fontes, o azul do céu, o ouro do sol e os lírios do luar... 
Anseio enaltecer-te!... A palavra, no entanto, Mãe querida, não consegue mostrar as bênçãos incessantes que nos trazes à Vida.
Em vão consulto dicionários! Não encontro a expressão lúcida e bela que nos defina claramente a luz que o teu sorriso nos revela... 
Ofereço-te, assim ao carinho perfeito o doce pranto de agradecimento que me verte do peito.
As lágrimas que choro de alegria refletem, uma a uma as estrelas de amor que te engrandecem, – a tua glória em suma !... 
És tudo de mais lindo que há no mundo, – o agasalho a ternura calma e boa, o refúgio de santo entendimento, a presença que abençoa...
Desculpe, meu tesouro de esperança, se não te sei nobilitar o reino de bondade e sacrifício, no sustento do lar! 
E não sabendo, Mãe, como louvar-te a celeste afeição, rogando a Deus te glorifique a vida, trago-te o coração.                
Do livro “Mãe”. Maria Dolores - Psicografia de Francisco Cândido Xavier. (Mensagem recebida em reunião pública da Comunhão Espírita Cristã, na noite de 22/03/1969, em Uberaba (MG)


Mãe, Deus Te Abençoe



Quero mãezinha, agradecer-te, em festa, por tudo que me dás ao coração, entretecer-te uma canção modesta, mas todo esforço é em vão...
Se pudesse dizer a gratidão que sinto por teu santo carinho protetor, precisaria conhecer na essência toda a glória do amor.
Tens o segredo da Bondade Eterna, Deus me acena e sorri por tua face...
Não há sábio no mundo que defina o Sol quando aparece, o lírio quando nasce!
Falar de ti, mostrar-te? Isso seria como explicar da Terra, olhando a Altura, a doce maravilha de uma estrela a guiar o viajor em noite escura.
Converto em prece o reconhecimento, que em meu peito humilde se extravasa, rogando ao Céu te envolva em rosas de ventura, anjo sustentador de nossa casa!
Deus te guarde, mãezinha, pelo berço, descuidado e risonho, em que me acalentaste para a vida, como flor de teu sonho.
Deus te compense pelas noites tristes de aflição que te dei, pelo perdão de tantas vezes, tantas! ... Quantas foram não sei...
Deus te enalteça a fonte de ternura, que nunca se enodoa e nem se cansa, pelo cuidado com que restauras, ante o dom do trabalho e a força de esperança...
Perdoa se te oferto unicamente, na minha devoção de todo dia, o meu ramo de flores orvalhadas nas lágrimas que choro de alegria!
Com júbilos divinos, Mãe querida, que a Celeste Bondade te coroe!
Por tudo o que nos dá nos caminhos da vida, Deus te exalte e abençoe!

(Mensagem de Maria Dolores,
extraída do livro “Mãe – Antologia Mediúnica” por Espíritos Diversos,
psicografado por Chico Xavier, Editora O Clarim.)

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Mãezinha Dirce, os céus se abriram para recebê-la. 
Que você seja muito feliz, entre as flores, amizades e alegrias da Vida Maior!
Meus beijos de amor e gratidão.
Sempre seu filho,

Sergio de Sersank
Londrina, 12 de janeiro de 2016.

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NOTAS

A data 14 de novembro é significativa em nossa vida familiar.  Vejam as coincidências:

1. No dia 14 de novembro de 1887, ocorreu a chegada do navio Savoia e o histórico desembarque de nossos antepassados italianos no Porto de Santos (SP), oriundos da Comune de Vedelago.

2. Nesse mesmo dia 14 de novembro, em 1951, ocorreu a emancipação política do Município de Florestópolis, no Norte Paranaense, para onde os meus pais haviam se transferido de Novo Horizonte (SP), em 1949.  É a minha terra natal.
A principal via pública da cidade se denomina Avenida 14 de Novembro.

3. No dia exato da Emancipação Política de Florestópolis, (14 de novembro de 1951) ocorreram dois nascimentos, devidamente registrados em Cartório: o de minha mana Mariza Santos Cunha e o de minha cunhada Laura Dias.

4. Outra coincidência: No dia 14 de novembro de 1988 nasceu
 em Rolândia (PR) o meu filho Leon Cavalin Neto Cunha.
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Dirce Cavalin em foto de 1979






































António Cardoso, poeta angolano




Posted: 10 Feb 2016 02:21 PM PST
 
   
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António Mendes Cardoso


António Mendes Cardoso (poeta angolano) 
nasceu em Luanda/Angola, em 8 de abril de 1933 - faleceu em Lisboa/Portugal,  em 2006. Filho de pais europeus, viveu vários anos no antigo musseque Braga, dos subúrbios da capital angolana. Frequentou o Liceu de Luanda e foi empregado de escritório e bancário naquela cidade. Militante do MPLA desde a sua fundação, foi preso pela PIDE em 1960 e em 1961 (duas vezes), acabando por ser internado no campo de concentração do Tarrafal, Cabo Verde, de 1961 até 1974, só tendo sido libertado seis dias após a revolução de 25 de Abril. De regresso a Angola, onde acabaria por fixar-se, voltou ao seu lugar de empregado bancário, passando mais tarde à actividade de jornalista, tendo sido sequestrado e torturado pela FNLA, quando, já depois da independência, exercia as funções de director da Emissora de Angola. Exerceu o cargo de director do Departamento de Espectáculos do Centro Nacional de Cultura de Angola e foi secretário-geral da Associação dos Escritores Angolanos.
Estreou-se, como poeta, em O Estudante, órgão da Associação Escolar do Liceu Salvador Correia, de Luanda. A sua actividade cultural desenvolve-se de par com a sua produção poética, quer colaborando nas revistas literárias de Luanda dos anos cinquenta, quer fazendo parte dos corpos gerentes da Sociedade Cultural de Angola.
Tem colaboração dispersa pelos jornais e revistas Mensagem, Cultura, Jornal de Angola, da Associação dos Naturais de Angola, Mensagem, da Casa dos Estudantes do Império de Lisboa, África, também de Lisboa, e Présence Africaine, de Paris, além de jornais vários de Portugal, Moçambique, Brasil e Argentina. Em alguma desta colaboração usou o pseudónimo de Tony Dicar.
Está representado, entre outras, nas antologias: Poetas Angolanos, de Carlos Ervedosa (Lisboa, 1959); Poetas Angolanos, de Alfredo Margarido (Lisboa, 1962); Antologia Poética Angolana, de Garibaldino de Andrade e Leonel Cosme (Sá da Bandeira, hoje Lubango, 1963); Poetas e Contistas Africanos de Expressão Portuguesa, de João Alves das Neves (São Paulo, 1963); Poèziia Afriki [Poesia de África], de Robert Rozhdéstvensky e V. Mirimanov (Moscovo, 1972); Poesia Angolana (Lisboa, 1974); Poesia Angolana de Revolta, de Giuseppe Mea (Porto, 1975); Antologia de Poesia Pré-Angolana, de Pires Laranjeira (Porto, 1976); Poesia de Angola (Luanda, 1976); No Reino de Caliban, de Manuel Ferreira (Lisboa, vol. 2, 1976); Poèziia Bor'by [A Poesia da Luta], de Helena A. Riáuzova (Moscovo, 1976); Manguxi da Nossa Esperança (Luanda, 1979); Poemas para Pioneiros (Luanda, 1979).
Fonte: Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999./ in: DGLAB - Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. (acessado em 10.2.2016). 


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Antônio Cardoso - poemas de circunstância

OBRA DO POETA ANTÓNIO CARDOSO 
(primeiras edições e reedições)
Poesia
:: Poemas de circunstância. Lisboa: Editorial Minerva, 1959, 30p. 
:: São Paulo: poemaSá da Bandeira (actual Lubango): Caderno Colectivo da Colecção Imbondeiro, 1960.
:: Chuva antiga. Lubango., 1964. 
:: 21 poemas da cadeiaLisboa: Plátano, 1979; Cadernos lavra & oficina, 16. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1979, 30p. 
:: Baixa & Musseques. Lisboa: Plátano, 1980. 
:: Chão de exílio. Lisboa: África Editora, 1980. 
:: Lição de coisas. Lisboa: Ulmeiro, 1980.
:: Nunca é velha a esperança. Lisboa: Plátano,1980.  
:: Poemas circunstâncias São Paulo. Lisboa: África Editora, 1980.
:: Poemas de circunstâncias - (1949-1960).. [apresentação Mário Dionísio]. Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003, 182p. 

Prosa
:: A casa da mãezinha: cinco estórias incompletas de mulheres. Lisboa: Ulmeiro, 1980, 136p. 
:: A fortuna: novela de amor. Lisboa: África Editora, 1981; Coleção Biblioteca de Literatura Angolana. Luanda: Edições Maianga, 2004.

Ensaio poético
:: Economia política, poética. [prefácio António Jacinto]. reprodução facsimilada do manuscrito redigido no pavilhão prisional da PIDE, em Luanda, em 1962. s.l.: s.n., 1979. 
:: Panfleto poético. [prefácio Manuel Ferreira]. Lisboa: Caderno da Casa dos Estudantes do Império (CEI), 1979.

Ensaio, crônicas e artigos em jornais e revistas
CARDOSO, António Mendes. Poderá identificar-se Congo e Cuango?. In: Boletim Cultural Museu de Angola, 2 (1960), p. 61-64.
______ . Aviso. in: África, Literatura, Arte e Cultura (Lisboa), 3, año 1, (Jan.-Mar.-1979), p. 292.
______ . Redacção sobre a forca. Lavra & oficina - Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1979, p. 25.
______ . Namibe: recordação de Abril de 61. in: Lavra & Oficina: União dos Escritores Angolanos (Luanda), 34-39, (1981), p. 13.
______ . Contrato. in: África, Literatura, Arte e Cultura (Lisboa), 3, año 1, (Jan.-Mar.-1979), p. 292.
______ . Construção civil. in: África, Literatura, Arte e Cultura (Lisboa), 3, año 1, (Jan.-Mar.-1979), p. 294. 

Antologias (participação)
FIGUEIREDO, Jaime de (sel. e apres.). Modernos poetas caboverdianos: antologia. Praia|Cabo Verde: Edições Henriquinas Achamento de Cabo Verde, 1961.
TRIGUEIROS, Luís Forjaz (org.). O ultramar português: Angola. Lisboa: Livraria Bertrand, 1961. 
POETAS angolanos. Casa dos Estudantes do Império. Lisboa: Secretaria de Estado da Educação e Cultura, 1962. 
MEA, Giuseppe (org.). Poesia angolana de revolta: antologia. Porto: Paisagem, 1975. 
FERREIRA, Serafim (org.). Resistência africana. Lisboa: Diabril, 1975.  
FERREIRA, Manuel (org.). No reino de Caliban: antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa - Vol. II: Angola e São Tome e Príncipe". Lisboa: Seara Nova, 1976.
TORIELLO, Fernanda (org.). Poesia angolana moderna. [direção Giuliano Macchi, Luciana Stegnano Picchio, Fernanda Toriello]. Bari: Adriatica Editrice, 1981. 
FREUDENHTHAL. A. (org.). Antologias de Poesia da Casa dos Estudantes do Império, 1951-1963. Angola, São Tomé e Príncipe. Lisboa: Edição CEI, vol. I, 1994.
TRIGO, Salvato (org.). Matrilíngua.  vol. II. Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo, 1997. 
SECCO, Carmen Lúcia Tindó Ribeiro (coord.). Antologia do mar na poesia africana de língua portuguesa do século XX: Cabo Verde /../. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999.
VASCONCELOS, Adriano Botelho de (org.) Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2005, 593p. 

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António Cardoso

POEMAS ESCOLHIDOS DE ANTÓNIO MENDES CARDOSO

Árvore de frutos
Cheiras ao caju da minha infância
e tens a cor do barro vermelho molhado
de antigamente;
há sabor a manga a escorrer-te na boca
e dureza de maboque a saltar-te nos seios.

Misturo-te com a terra vermelha
e com as noites
de histórias antigas
ouvidas há muito.

No teu corpo
sons antigos dos batuques à minha porta,
com que me provocas,
enchem-me o cérebro de fogo incontido.

Amor, és o sonho feito carne
do meu bairro antigo do musseque!

- António Mendes Cardoso, em "No reino de Caliban: antologia panorâmica da poesia africana deexpressão portuguesa - Vol. II: Angola e São Tome e Príncipe". [organização Manuel Ferreira]. Lisboa: Seara Nova, 1976.

§

Cresc[imento] [d]a força – ventre do futuro
Hoje vou deitar-me sobre o mundo
Como se cama de algodão fosse.
Insuflar o peito, sorver fundo
Toda sua sânie amarga - e - doce...
(Na raiz desperta sangue e sonho,
Na luta, a aurora rediviva...
– Vem imagem certa, onde te ponho
Flor desabrochada e sempre esquiva)

Hoje vou deitar-me sobre o mundo
Como se cama de algodão fosse.
Insuflar o peito, sorver fundo
Todo seu calor amargo - e - doce...
(... andam no ar lábios de mulher

– cresce a força-ventre do futuro!)

- António Mendes Cardoso  Tarrafal, 18.7.70), em "Chão de exílio". Lisboa: África Editora, 1980, p. 37.

§ 

É inútil chorar
É inútil chorar:
«Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.»
Por todos os que tombam pela verdade
Ou que julgam tombar.
O importante neles é já sentir a vontade
De lutar por ela,
Por isso é inútil chorar.
Ao menos se as lágrimas
Dessem pão,
Já não haveria fome.
Ao menos se o desespero vazio
Das nossas vidas
Desse campos de trigo.
Mas o que importa
É não chorar:
«Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.»
Mesmo quando já não se sinta calor
É bom pensar que há fogueiras
E que a dor também ilumina.
Que cada um de nós
Lance a lenha que tiver,
Mas que não chore
Embora tenha frio:
«Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.»

- António Mendes Cardoso (21.2.55), em "Poemas de circunstâncias". (1949-1960). Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003. 


§  

Exílio
Eu vivo na minha terra
Mas estou exilado.
Quem vive nela não sou eu
Mas outro que em mim vive.

A minha terra está por vir
E o meu outro ser vive, vive...
...vive à espera desse porvir
 
- António Mendes Cardoso, em ""Poemas de circunstâncias". (1949-1960). Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003.

§ 

Há Momentos
Há momentos na vida de um Homem
Em que sabe que acordou diferente
E que já não é o mesmo para ele,
Mesmo que o seja para toda a gente...
Há momentos na vida de um Homem
Onde só pode entrar uma Mulher
Aquela que lhe trouxer
A flor do sexo
Desenhada a vermelho no ventre
E nada lhe perguntar...
Há momentos na vida de um Homem
Onde só pode entrar uma mulher
Aquela que lhe trouxer,
Num abraço total,
A ilusão da vida inteira...
E, depois, partir
Com a esperança de vida que ele semeou...
Há momentos na vida de um Homem
Onde só pode entrar uma Mulher
Para todo o Mundo se resumir
À flor vermelha
Como um bocado de sol
Que desponta numa telha!

- António Mendes Cardoso (21.2.55), em "Poemas de circunstâncias". (1949-1960). Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003. 

§

O mar visto da cadeia
O mar é largo
E profundo.
Tão largo e profundo,
Que cabe todo inteiro
E amargo, no fundo
Do simples olhar que lhe deito ...

Estendido e liso,
Refeito como um ventre de mulher
Apetecido sem aviso,
Já teve sereias e monstros,
Ossos a apodrecer,
Para ser, agora,
De um qualquer ...

Desencanto a apodrecer-
-me  o canto, nesta hora?
— Só se for nas areias
Onde morre monótono,
E nas marés-cheias
De tanto luar e espanto
Na memoria...

Já o tive
Insatisfeito,
Na cova da mão,
No búzio dos ouvidos,
E no sonho que ainda vive
De urna doce ilusão ...

Inventei-lhe
Desaparecidos ecos,
Talvez reinos perdidos,
Tesouros, conchas,
Algas e palácios
Encantados de mouros ...

Depois ficou só mar
Vulgar, indigesto,
Azul, verde, prateado,
«Grande ... grande ... »,
Com o resto afogado
No coração ...

Chegou então a hora
Do mar lúcido
Sem papão,
Apreendido,
Económico,
Assassino, embora,
Mas também elo de ligação
 
- António Mendes Cardoso, em "21 poemas da cadeia". Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1979. 

§

Poema
Na espuma verde
do mar
desenharei o teu nome,

Em cada areia
da praia
em cada pólen
da flor
em cada gota
do orvalho
o teu nome
deixarei gravado

No protesto calado
de cada homem ultrajado
em cada insulto
em cada folha caída
em cada boca faminta
hei de escrever
o teu nome

Nos seios férteis
das virgens
nos sorrisos perenes
das mães
nos dedos dos namorados
no embrião da semente
na luz irreal das estrelas
nos limites do tempo
hei de uma esperança semear.
 
- António Mendes Cardoso (N.ª S.ª Conceição, Ilha do Fogo, Cabo Verde, 5/10/1935). em "Modernos poetas caboverdianos: antologia". [sel. e apresentação Jaime de Figueiredo]. Praia: Edições Henriquinas Achamento de Cabo Verde, 1961, p. 189-190.

§

Uma canção
Uma canção
em casa grito
de agonia

Uma flor
em cada sonho
violado

Um painel
em cada aurora
ensanguentada

Um poema
em cada gota de sangue
derramada.
 
- António Mendes Cardoso (N.ª S.ª da Conceição, Ilha do Fogo, Cabo Verde, 5/10/1935), em "No reino de Caliban: antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa - Vol. II: Angola e SãoTome e Príncipe". [organização Manuel Ferreira]. Lisboa: Seara Nova, 1976, p. 261.



FORTUNA CRÍTICA DE ANTÓNIO CARDOSO
BARROS, Victor. Campos de concentração em Cabo Verde: as ilhas como espaços de deportação e de prisão no estado novo. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2009.
CARDOSO, Jerónimo. Obra literária - prosa latina. tomo I. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009.
CAVACAS, Fernanda; GOMES, Aldónio. Dicionário de Autores de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 1997. 
LABAN, Michel. Encontro com António Cardoso. in: Encontro com Escritores. Fundação Eng. António de Almeida, Luanda, 1988, p.332-359.
MACÊDO, Tania. Luanda: literatura, história e identidade de Angola. in: VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, Coimbra, Universidade de Coimbra, 16 a 18 de setembro de 2004. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016).
MATA, Inocência. A Casa dos Estudantes do Império e o lugar da literatura na consciencialização política. Coleção Autores da Casa dos Estudantes do Império. Lisboa: União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), 2015. 
OLIVEIRA, Mário António Fernandes de.. Reler África. [apresentação, revisão e nota bibliográfica de Heitor Gomes Teixeira]. Coimbra: Instituto de Antropologia|Universidade de Coimbra, 1990, p.187. 
PADILHA, Laura Cavalcante. Guerra, poesia, estilhaç[ament]os - um olhar para Angola. in: Mulemba - n.1 - UFRJ - Rio de Janeiro - Brasil - Outubro de 2009. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016).
PAPELO, João. António Cardoso, um poeta caído nas malhas do esquecimento. in: O País, 7 de janeiro de 2015. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016). 
PARPAROTO, Tércio de Abreu. A lição de coisas de António Cardoso: uma poética para além da prisão. (Tese Doutorado em Estudos Comparados de Literaturas Africanas de Lingua Portuguesa). Universidade de São Paulo, USP, 2009.
ROCHA, Darliane. Identidade, etnicidade e angolanidade em António Cardoso. in: XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais - Diversidade e (Des)Igualdades, UFBA, Campus de Ondina, Salvador, 7 a 10 de agosto de 2011. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016).

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António Cardoso

OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA 
:: Infopédia - Dicionários Porto Editora, 2003-2016
:: Memória África 

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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). António Cardoso - a poética da resistência. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 10.2.2016.
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