(Elegia da vida operária)
Silente é o clamor que refulge
nos olhos dos circunstantes
e foge, por entre as frestas
das paredes circundantes
e adentra bairros e becos,
para arrefecer distante...
Funesta, por mais freqüente,
é a nova que dissemina:
- Desabado o prédio;
- Naufragado o barco;
- Propagado o incêndio;
- Soterrada a mina.
Não tarda e, sem que se espere,
eventos tais acontecem.
Alteram, claro, a rotina..
Se diferença fizessem!...
Ao olvido,
simplesmente,
se destinam.
Não se espere desses homens
que reajam, furibundos.
Sentem-se os próprios culpados
em seus juízos profundos.
No éter perde-se o estalo
dos cabos. Perde-se o estrondo.
Um imprevisto intervalo
faculta o fato hediondo.
Perpetua-se o presságio
nas imagens repetidas:
fumos de tochas humanas;
janelas de quedas livres;
espumas de pós-naufrágio;
destroços de alvenaria.
Uns fragmentos das vidas,
num relance, interrompidas...
Se pairam no éter vozes
não repercutem bastante:
seu eco nos que se salvam
é o silêncio. Lancinante.
Mas não assusta o fragor
das máquinas hostis que movimentam.
São outras máquinas, tantas.
E é com certo pundonor,
que suas marcas ostentam.
Sangram o suor
entre noites mal dormidas
e dias sucessivos de exaustão.
Repartem, cada dia,
com seus magros filhos,
à custa de absurdos empecilhos,
a parte que lhes cabe de minguado pão.
Acrescem-lhe a farinha da esperança
e o sal da crença que lhe dá sabor.
Os filhos, não esperem outra herança
que a audácia de sobreviver.
Contentem-se: podem ter
os dias de carnaval,
televisor, celular,
o baile ao fim da semana,
o time de futebol...
Um dia, quem sabe, tenham,
também, seu lugar ao sol...
(Do livro: "Estado de Espírito", de Sersank)
Imagem: Banco de imagens do google, disponível em
http://www.rondoniadinamica.com/userfiles/TRABALHADORES%20CAMINHANDO.jpg
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