Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo o nosso vazio. Kahlil Gibran
Parece que foi ontem. Bem me lembro!...
Era um final de setembro,
manhã já bem alta, assim...
Chegáramos de mudança à nova casa.
Erguias-te, frondosa, junto à cerca,
num dos cantos do jardim.
Tudo mudou na circunvizinhança.
A rua mesma, quanto está mudada!
Na quadra à frente,
em bairro transformada,
remanescia um verde cafezal.
A casa, todavia, em nada se assemelha
àquela, pequenina, de horta no quintal.
Eras bem jovem, ainda,
singela, mas alta, mas linda
e linda hoje estás, velha Sibipiruna!
Assim que te vimos, assim
que, sob a tua fronde, nos reunimos,
foi grande o bem-estar que nós sentimos.
E eu disse, à meia voz, enternecido:
- Esta árvore, meus filhos, vale uma fortuna!
Revejo-te crescendo, as podas, as floradas,
o porte vicejante ao perpassar dos anos.
No agror dos insucessos meus, cotidianos,
andava acumulando madrugadas,
mas tínhamos um balanço para as crianças.
Riam, riamos, então, e que risadas!...
Recordo, ao te rever, aquelas cenas
envoltas na magia desta mesma brisa
que sinto agora, a passar.
Um chamariz de beija-flor naquele galho
agora alto demais,
um ninho, um novo ninho de pardais.
Desaba, um dia, a tormenta:
vem a casa a ser vendida.
Temos de partir e lá deixar-te.
A vida, todavia, que me há dado tanto,
tantas e tão gratas emoções,
foi pródiga até mesmo em conservar-te!
Nas lides sempre difíceis
dos anos que transcorreram
os meus meninos venceram,
estão felizes e bem.
Queria poder dizer-te
que somos gratos por tudo.
Faço-o por eles também.
Ah, velha árvore querida,
já só, como ficaste e ausente,
eu varo o inverno da vida
sem nada a lamentar do que perdi.
Minh’alma a escancarar as janelas dos olhos
rebusca a nitidez com que sonhava a realidade
e, assim, tocada pelos ventos da saudade
vem repletar-se de ti...
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