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Ei-los, Senhores, dispersos,
sob lajes e viadutos.
Quase mendigos, matutos,
vivem a esmo, sem lar...
Consigo levam crianças,
mulheres e anciãos.
Vede, têm marcas nas mãos
da sina de trabalhar!
Por sítios, os mais distantes,
erram prestando serviços.
São modestos, submissos,
provados nas aflições.
A suor e lágrimas regam
nossos prados verdejantes.
Vede que têm nos semblantes
sulcos de mil privações...
Parias - que sejam - não querem
de vis esmolas viver:
Sabem lutar e sofrer.
A vida os talhou assim.
Deles fez - homens valentes,
firmes na fé. Deu-lhes brio
para arrostar fome e frio
dias e noites sem fim.
Vede: por certo divagam
pensando o incerto amanhã:
O lar - sua Canaã -
a roça... Alguns animais...
À vida simples do campo,
por tesouros, desencavam
os sonhos que acalentavam
seus pais e os pais de seus pais...
Em grave êxodo urbano
estão por todo o país.
Se a elite, avara, os maldiz,
materna, a terra os atrai.
Unidos nas suas dores
só desejam, na verdade,
viver com dignidade.
Força nenhuma os retrai.
Temei, se ocultais a posse
de terras improdutivas,
porque hão de fazê-las, vivas,
medrar ao poder da enxada!
Temei-os, porquanto esperam,
já com fúria incendiária,
por essa "reforma agrária"
prometida e postergada.
Vede que ganham a estrada,
se agrupam, se fortalecem.
Seus ímpetos recrudescem
num movimento maior.
E é então que, sob um comando
ousado em suas ações,
preparam as invasões
e esperam pelo pior.
Se, rechaçados, reagem,
estrugem as carabinas
e o sangue dessas chacinas
mancha a terra. Faz história.
Vede que levam crianças,
mulheres e anciãos.
Todos têm marcas nas mãos -
as marcas da lide inglória...
Vede: já não se dispersam
pensando o incerto amanhã:
Querem sua Canaã...
Força nenhuma os retrai!
Em grave êxodo urbano
estão por todo o país.
Tirana, a elite os maldiz,
materna, a terra os atrai!
(Poema de solidariedade ao MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
(Do livro "Estado de Espírito")
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