Posted: 10
Feb 2016 02:21 PM PST
António Mendes Cardoso (poeta
angolano)
nasceu em Luanda/Angola, em 8 de
abril de 1933 - faleceu em Lisboa/Portugal, em 2006. Filho de pais
europeus, viveu vários anos no antigo musseque Braga, dos subúrbios da
capital angolana. Frequentou o Liceu de Luanda e foi empregado de escritório
e bancário naquela cidade. Militante do MPLA desde a sua fundação, foi preso
pela PIDE em 1960 e em 1961 (duas vezes), acabando por ser internado no campo
de concentração do Tarrafal, Cabo Verde, de 1961 até 1974, só tendo sido
libertado seis dias após a revolução de 25 de Abril. De regresso a Angola,
onde acabaria por fixar-se, voltou ao seu lugar de empregado bancário,
passando mais tarde à actividade de jornalista, tendo sido sequestrado e
torturado pela FNLA, quando, já depois da independência, exercia as funções
de director da Emissora de Angola. Exerceu o cargo de director do
Departamento de Espectáculos do Centro Nacional de Cultura de Angola e foi secretário-geral
da Associação dos Escritores Angolanos.
Estreou-se, como poeta, em O
Estudante, órgão da Associação Escolar do Liceu Salvador Correia, de Luanda.
A sua actividade cultural desenvolve-se de par com a sua produção poética,
quer colaborando nas revistas literárias de Luanda dos anos cinquenta, quer
fazendo parte dos corpos gerentes da Sociedade Cultural de Angola.
Tem colaboração dispersa pelos jornais e revistas Mensagem, Cultura, Jornal
de Angola, da Associação dos Naturais de Angola, Mensagem, da Casa dos
Estudantes do Império de Lisboa, África, também de Lisboa, e Présence
Africaine, de Paris, além de jornais vários de Portugal, Moçambique, Brasil e
Argentina. Em alguma desta colaboração usou o pseudónimo de Tony Dicar.
Está representado, entre outras, nas antologias: Poetas Angolanos, de Carlos
Ervedosa (Lisboa, 1959); Poetas Angolanos, de Alfredo Margarido (Lisboa,
1962); Antologia Poética Angolana, de Garibaldino de Andrade e Leonel Cosme
(Sá da Bandeira, hoje Lubango, 1963); Poetas e Contistas Africanos de
Expressão Portuguesa, de João Alves das Neves (São Paulo, 1963); Poèziia
Afriki [Poesia de África], de Robert Rozhdéstvensky e V. Mirimanov (Moscovo,
1972); Poesia Angolana (Lisboa, 1974); Poesia Angolana de Revolta, de
Giuseppe Mea (Porto, 1975); Antologia de Poesia Pré-Angolana, de Pires
Laranjeira (Porto, 1976); Poesia de Angola (Luanda, 1976); No Reino de
Caliban, de Manuel Ferreira (Lisboa, vol. 2, 1976); Poèziia Bor'by [A Poesia
da Luta], de Helena A. Riáuzova (Moscovo, 1976); Manguxi da Nossa Esperança
(Luanda, 1979); Poemas para Pioneiros (Luanda, 1979).
Fonte: Dicionário Cronológico de
Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999./ in: DGLAB - Direção Geral do
Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. (acessado em 10.2.2016).
OBRA DO POETA ANTÓNIO CARDOSO
(primeiras edições e reedições) Poesia
:: Poemas
de circunstância. Lisboa:
Editorial Minerva, 1959, 30p.
:: São Paulo: poema. Sá da Bandeira (actual Lubango):
Caderno Colectivo da Colecção Imbondeiro, 1960.
:: Chuva antiga. Lubango., 1964.
:: 21 poemas da cadeia. Lisboa: Plátano, 1979; Cadernos lavra & oficina, 16. Luanda: União
dos Escritores Angolanos, 1979, 30p.
:: Baixa & Musseques. Lisboa: Plátano, 1980.
:: Chão de exílio. Lisboa: África Editora, 1980.
:: Lição de coisas. Lisboa: Ulmeiro, 1980.
:: Nunca é velha a
esperança. Lisboa:
Plátano,1980.
:: Poemas circunstâncias e São
Paulo. Lisboa: África Editora, 1980.
:: Poemas de
circunstâncias - (1949-1960)..
[apresentação Mário Dionísio]. Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003,
182p.
Prosa
:: A casa da mãezinha:
cinco estórias incompletas de mulheres.
Lisboa: Ulmeiro, 1980, 136p.
:: A fortuna: novela de
amor. Lisboa: África
Editora, 1981; Coleção Biblioteca de Literatura Angolana. Luanda:
Edições Maianga, 2004.
Ensaio poético
:: Economia política,
poética. [prefácio António Jacinto].
reprodução facsimilada do manuscrito redigido no pavilhão prisional da PIDE,
em Luanda, em 1962. s.l.: s.n., 1979.
:: Panfleto poético. [prefácio Manuel Ferreira]. Lisboa: Caderno da Casa dos
Estudantes do Império (CEI), 1979.
Ensaio, crônicas e artigos em
jornais e revistas
CARDOSO, António Mendes. Poderá identificar-se Congo e Cuango?.
In: Boletim Cultural Museu de Angola, 2 (1960), p. 61-64.
______ . Aviso. in:
África, Literatura, Arte e Cultura (Lisboa), 3, año 1, (Jan.-Mar.-1979), p.
292.
______ . Redacção sobre a
forca. Lavra & oficina - Luanda: União dos Escritores Angolanos,
1979, p. 25.
______ . Namibe: recordação de Abril de 61. in: Lavra &
Oficina: União dos Escritores Angolanos (Luanda), 34-39, (1981), p. 13.
______ . Contrato. in: África, Literatura, Arte e Cultura
(Lisboa), 3, año 1, (Jan.-Mar.-1979), p. 292.
______ . Construção civil. in: África, Literatura, Arte e Cultura
(Lisboa), 3, año 1, (Jan.-Mar.-1979), p. 294.
Antologias (participação)
FIGUEIREDO, Jaime de (sel. e apres.). Modernos poetas caboverdianos:
antologia. Praia|Cabo Verde: Edições Henriquinas Achamento de Cabo Verde,
1961.
TRIGUEIROS, Luís Forjaz (org.). O ultramar português: Angola.
Lisboa: Livraria Bertrand, 1961.
POETAS angolanos. Casa dos Estudantes do Império. Lisboa: Secretaria de Estado da Educação e Cultura, 1962.
MEA, Giuseppe
(org.). Poesia angolana de revolta: antologia. Porto: Paisagem,
1975.
FERREIRA, Serafim (org.). Resistência africana. Lisboa: Diabril,
1975.
FERREIRA, Manuel (org.). No reino de Caliban:
antologia panorâmica da poesia africana
de expressão portuguesa - Vol. II: Angola e São Tome
e Príncipe". Lisboa: Seara Nova, 1976.
TORIELLO, Fernanda (org.). Poesia angolana moderna. [direção
Giuliano Macchi, Luciana Stegnano Picchio, Fernanda Toriello]. Bari:
Adriatica Editrice, 1981.
FREUDENHTHAL. A. (org.). Antologias de Poesia da Casa dos Estudantes do
Império, 1951-1963. Angola, São Tomé e Príncipe. Lisboa: Edição CEI, vol.
I, 1994.
TRIGO, Salvato (org.). Matrilíngua. vol. II. Viana do
Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo, 1997.
SECCO, Carmen Lúcia Tindó Ribeiro (coord.). Antologia do mar na
poesia africana de língua portuguesa do século XX: Cabo Verde /../. Rio
de Janeiro: UFRJ, 1999.
VASCONCELOS, Adriano Botelho de (org.) Todos os sonhos. Antologia da
Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolanos,
2005, 593p.
POEMAS ESCOLHIDOS DE ANTÓNIO MENDES CARDOSO Árvore de frutos Cheiras ao caju da minha infância e tens a cor do barro vermelho molhado de antigamente; há sabor a manga a escorrer-te na boca e dureza de maboque a saltar-te nos seios. Misturo-te com a terra vermelha e com as noites de histórias antigas ouvidas há muito. No teu corpo sons antigos dos batuques à minha porta, com que me provocas, enchem-me o cérebro de fogo incontido. Amor, és o sonho feito carne do meu bairro antigo do musseque! - António Mendes Cardoso, em "No reino de Caliban: antologia panorâmica da poesia africana deexpressão portuguesa - Vol. II: Angola e São Tome e Príncipe". [organização Manuel Ferreira]. Lisboa: Seara Nova, 1976. § Cresc[imento] [d]a força – ventre do futuro Hoje vou deitar-me sobre o mundo Como se cama de algodão fosse. Insuflar o peito, sorver fundo Toda sua sânie amarga - e - doce... (Na raiz desperta sangue e sonho, Na luta, a aurora rediviva... – Vem imagem certa, onde te ponho Flor desabrochada e sempre esquiva) Hoje vou deitar-me sobre o mundo Como se cama de algodão fosse. Insuflar o peito, sorver fundo Todo seu calor amargo - e - doce... (... andam no ar lábios de mulher – cresce a força-ventre do futuro!) - António Mendes Cardoso Tarrafal, 18.7.70), em "Chão de exílio". Lisboa: África Editora, 1980, p. 37. § É inútil chorar É inútil chorar: «Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.» Por todos os que tombam pela verdade Ou que julgam tombar. O importante neles é já sentir a vontade De lutar por ela, Por isso é inútil chorar. Ao menos se as lágrimas Dessem pão, Já não haveria fome. Ao menos se o desespero vazio Das nossas vidas Desse campos de trigo. Mas o que importa É não chorar: «Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.» Mesmo quando já não se sinta calor É bom pensar que há fogueiras E que a dor também ilumina. Que cada um de nós Lance a lenha que tiver, Mas que não chore Embora tenha frio: «Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.» - António Mendes Cardoso (21.2.55), em "Poemas de circunstâncias". (1949-1960). Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003. § Exílio Eu vivo na minha terra Mas estou exilado. Quem vive nela não sou eu Mas outro que em mim vive. A minha terra está por vir E o meu outro ser vive, vive... ...vive à espera desse porvir - António Mendes Cardoso, em ""Poemas de circunstâncias". (1949-1960). Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003. § Há Momentos Há momentos na vida de um Homem Em que sabe que acordou diferente E que já não é o mesmo para ele, Mesmo que o seja para toda a gente... Há momentos na vida de um Homem Onde só pode entrar uma Mulher Aquela que lhe trouxer A flor do sexo Desenhada a vermelho no ventre E nada lhe perguntar... Há momentos na vida de um Homem Onde só pode entrar uma mulher Aquela que lhe trouxer, Num abraço total, A ilusão da vida inteira... E, depois, partir Com a esperança de vida que ele semeou... Há momentos na vida de um Homem Onde só pode entrar uma Mulher Para todo o Mundo se resumir À flor vermelha Como um bocado de sol Que desponta numa telha! - António Mendes Cardoso (21.2.55), em "Poemas de circunstâncias". (1949-1960). Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003. § O mar visto da cadeia O mar é largo E profundo. Tão largo e profundo, Que cabe todo inteiro E amargo, no fundo Do simples olhar que lhe deito ... Estendido e liso, Refeito como um ventre de mulher Apetecido sem aviso, Já teve sereias e monstros, Ossos a apodrecer, Para ser, agora, De um qualquer ... Desencanto a apodrecer- -me o canto, nesta hora? — Só se for nas areias Onde morre monótono, E nas marés-cheias De tanto luar e espanto Na memoria... Já o tive Insatisfeito, Na cova da mão, No búzio dos ouvidos, E no sonho que ainda vive De urna doce ilusão ... Inventei-lhe Desaparecidos ecos, Talvez reinos perdidos, Tesouros, conchas, Algas e palácios Encantados de mouros ... Depois ficou só mar Vulgar, indigesto, Azul, verde, prateado, «Grande ... grande ... », Com o resto afogado No coração ... Chegou então a hora Do mar lúcido Sem papão, Apreendido, Económico, Assassino, embora, Mas também elo de ligação - António Mendes Cardoso, em "21 poemas da cadeia". Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1979. § Poema Na espuma verde do mar desenharei o teu nome, Em cada areia da praia em cada pólen da flor em cada gota do orvalho o teu nome deixarei gravado No protesto calado de cada homem ultrajado em cada insulto em cada folha caída em cada boca faminta hei de escrever o teu nome Nos seios férteis das virgens nos sorrisos perenes das mães nos dedos dos namorados no embrião da semente na luz irreal das estrelas nos limites do tempo hei de uma esperança semear. - António Mendes Cardoso (N.ª S.ª Conceição, Ilha do Fogo, Cabo Verde, 5/10/1935). em "Modernos poetas caboverdianos: antologia". [sel. e apresentação Jaime de Figueiredo]. Praia: Edições Henriquinas Achamento de Cabo Verde, 1961, p. 189-190. § Uma canção Uma canção em casa grito de agonia Uma flor em cada sonho violado Um painel em cada aurora ensanguentada Um poema em cada gota de sangue derramada. - António Mendes Cardoso (N.ª S.ª da Conceição, Ilha do Fogo, Cabo Verde, 5/10/1935), em "No reino de Caliban: antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa - Vol. II: Angola e SãoTome e Príncipe". [organização Manuel Ferreira]. Lisboa: Seara Nova, 1976, p. 261. FORTUNA CRÍTICA DE ANTÓNIO CARDOSO BARROS, Victor. Campos de concentração em Cabo Verde: as ilhas como espaços de deportação e de prisão no estado novo. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2009. CARDOSO, Jerónimo. Obra literária - prosa latina. tomo I. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009. CAVACAS, Fernanda; GOMES, Aldónio. Dicionário de Autores de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 1997. LABAN, Michel. Encontro com António Cardoso. in: Encontro com Escritores. Fundação Eng. António de Almeida, Luanda, 1988, p.332-359. MACÊDO, Tania. Luanda: literatura, história e identidade de Angola. in: VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, Coimbra, Universidade de Coimbra, 16 a 18 de setembro de 2004. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016). MATA, Inocência. A Casa dos Estudantes do Império e o lugar da literatura na consciencialização política. Coleção Autores da Casa dos Estudantes do Império. Lisboa: União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), 2015. OLIVEIRA, Mário António Fernandes de.. Reler África. [apresentação, revisão e nota bibliográfica de Heitor Gomes Teixeira]. Coimbra: Instituto de Antropologia|Universidade de Coimbra, 1990, p.187. PADILHA, Laura Cavalcante. Guerra, poesia, estilhaç[ament]os - um olhar para Angola. in: Mulemba - n.1 - UFRJ - Rio de Janeiro - Brasil - Outubro de 2009. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016). PAPELO, João. António Cardoso, um poeta caído nas malhas do esquecimento. in: O País, 7 de janeiro de 2015. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016). PARPAROTO, Tércio de Abreu. A lição de coisas de António Cardoso: uma poética para além da prisão. (Tese Doutorado em Estudos Comparados de Literaturas Africanas de Lingua Portuguesa). Universidade de São Paulo, USP, 2009. ROCHA, Darliane. Identidade, etnicidade e angolanidade em António Cardoso. in: XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais - Diversidade e (Des)Igualdades, UFBA, Campus de Ondina, Salvador, 7 a 10 de agosto de 2011. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016).
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). António
Cardoso - a poética da resistência. Templo Cultural Delfos,
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** Página atualizada em 10.2.2016.
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