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Khosrow Amirazodi
Meu Poema
Cecília Meireles
Quando eu não pensava em ti,
os meus pés corriam ligeiros pela relva,
e os meus olhos erravam, distraídos e
felizes,
pela paisagem toda...
Quando eu não pensava em ti,
as minhas noites eram
como o sono do céu, cheio de luar...
Quando eu não pensava em ti,
minha alma era simples e quieta...
minha alma era uma ave mansa,
de olhos fechados,
na alta imobilidade de um ramo,
quando eu não pensava em ti....
E agora, ó eleito, o meu passo demora,
esperando pelos meus olhos
que procuram a tua sombra...
As minhas noites são longas, morosas, tão
tristes,
porque o meu pensamento põe-se a buscar-te
e eu, sem ele, fico mais só...
Perderam-se os meus olhos entre as estrelas.
Entre as estrelas se perderam as minhas mãos
nesta ansiedade de te alcançarem...
Eleito, ó eleito,
Porque foi que eu fiquei assim?
Por que, desde o chão do meu corpo,
até o céu de minha alma,
sou fumaça de um perfume
a subir em teu louvor?
Quando eu não pensava em ti
"Os meus olhos erravam, distraídos e felizes,
pela paisagem toda...
De “Poema
dos Poemas” (1923)
Comentário de Sersank:
Não poderia deixar de trazer aqui este belíssimo poema da nossa imortal Cecília Meireles. Ela o escreveu, recém-casada, mas ainda bem jovem. É um poema realmente encantador. Mas deixo falar por mim um dos nossos maiores escritores de todos os tempos, o folclorista, dialetólogo, poeta e ensaísta brasileiro AMADEU AMARAL (Capivari-SP, 1875 - São Paulo-SP, 1929) saudando a poeta estreante, à época, numa deliciosa crítica posteriormente enfeixada em sua obra "O Elogio da Mediocridade" (HUCITEC, 1976). Eis alguns trechos:
"O Poema dos Poemas é onde esse misticismo abre as asas com mais possança e demora. Aí, tudo chega à máxima simplicidade e ao máximo apuro emocional. Há trechos de uma beleza virgem, de ingenuidade despida. Os maiores efeitos com a maior singeleza de processos. Longe iríamos a querer levar o leitor através de todos os cantos deste poema que, não sendo longo, tem, entretanto, a extensão da profundidade."
(...)
"Nos versos dessa poetisa há tal unidade e sequência, tal harmonia de conjunto, um ar de sinceridade tão visível, tudo parece tão claramente amassado na mesma greda que se pode prescindir de excogitar "influências". Parafraseando Vieira, é lícito afirmar que na sua poesia não há enxertos: tudo é nascido. Dona Cecília Meireles é "um poeta".. Traz em si a massa de que se fazem os grandes poetas. No Brasil já é uma figura de belo e inconfundível relevo. Quererá produzir mais, ir adiante, crescer como lhe pede a seiva que se lhe adivinha? Esperemos. E, enquanto esperamos, saudemos nela o advento auroral de uma grande e nobre alma de artista, digna de profundo interesse e infinito carinho."
Estava certíssimo o grande poeta e imortal escritor. Cecília Meireles veio a se tornar uma das maiores expressões da nossa literatura poética.
Biografia
Cecília Meireles
Poetisa
brasileira
Cecília Meireles (1901-1964) foi
poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz
feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras
publicadas. Com 18 anos estreia na literatura com o livro
"Espectros". Participou do grupo literário da Revista Festa, grupo
católico, conservador e anti modernista. Dessa vinculação herdou a tendência
espiritualista que percorre seus trabalhos com frequência.
A maioria de suas obras expressa estados de ânimo,
predominando os sentimentos de perda amorosa e solidão. Uma das marcas do
lirismo de Cecília Meireles é a
musicalidade de seus versos. Alguns poemas como "Canteiros" e
"Motivo" foram musicados pelo cantor Fagner. Em 1939 publicou
"Viagem" livro que lhe deu o prêmio de poesia da Academia Brasileira
de Letras.
Cecília
Meireles (1901-1964) nasceu no Rio de
Janeiro em 7 de novembro de 1901. Órfã de pai e mãe, aos três anos de idade é
criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides. Fez o curso primário na
Escola Estácio de Sá, onde recebeu das mãos de Olavo Bilac a medalha do ouro
por ter feito o curso com louvor e distinção. Formou-se professora pelo
Instituto de Educação em 1917. Passa a exercer o magistério em escolas oficiais
do Rio de Janeiro. Estreia na Literatura com o livro "Espectros" em
1919, com 17 sonetos de temas históricos.
Em 1922 casa-se com o artista plástico português
Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Viúva, casa-se pela segunda
vez com o engenheiro Heitor Vinícius da Silva Grilo, falecido em 1972. Estudou
literatura, música, folclore e teoria educacional. Colaborou na imprensa
carioca escrevendo sobre folclore. Atuou como jornalista em 1930 e 1931,
publicou vários artigos sobre os problemas na educação. Fundou em 1934 a
primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro.
Cecília
Meireles lecionou Literatura e
Cultura Brasileira na Universidade do Texas, em 1940. Profere em Lisboa e
Coimbra, conferência sobre Literatura Brasileira. Publica em Lisboa o ensaio
"Batuque, Samba e Macumba", com ilustrações de sua autoria. Em 1942
torna-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de
Janeiro. Realiza várias viagens aos Estados Unidos, Europa, Ásia e África,
fazendo conferências sobre Literatura Educação e Folclore.
Cecília
Benevides de Carvalho Meireles morre
no Rio de Janeiro, no dia 9 de novembro de 1964. Seu corpo foi velado no
Ministério da Educação e Cultura.
Cecília Meireles foi homenageada pelo Banco Central, em 1989, com sua
efígie na cédula de cem cruzados novos.
Obras
de Cecília Meireles
Espectros, poesia,
1919
Nunca Mais... e Poema dos Poemas, 1923
Baladas Para El-Rei, poesia, 1925
Viagem, poesia, 1925
Viagem, poesia 1939
Vaga Música, poesia, 1942
Mar Absoluto, poesia, 1945
Evocação Lírica de Lisboa, prosa, 1948
Retrato Natural, poesia, 1949
Amor em Leonoreta, poesia, 1952
Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, poesia, 1952
Romanceiro da Inconfidência, poesia, 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara, poesia, 1955
Pístoia, Cemitério Militar Brasileiro, poesia, 1955
Canção, poesia, 1956
Giroflê, Giroflá, prosa, 1956
Romance de Santa Cecília, poesia, 1957
A Rosa, poesia, 1957
Eternidade em Israel, prosa, 1959
Metal Rosicler, poesia, 1960
Poemas Escritos Na Índia, 1962
Antologia Poética, poesia, 1963
Ou Isto Ou Aquilo, poesia, 1965
Escolha o Seu Sonho, crônica, 1964
Crônica Trovoada da Cidade de San Sebastian, poesia, 1965
Poemas Italianos, poesia, 1968
Inéditos, crônica, 1968
Nunca Mais... e Poema dos Poemas, 1923
Baladas Para El-Rei, poesia, 1925
Viagem, poesia, 1925
Viagem, poesia 1939
Vaga Música, poesia, 1942
Mar Absoluto, poesia, 1945
Evocação Lírica de Lisboa, prosa, 1948
Retrato Natural, poesia, 1949
Amor em Leonoreta, poesia, 1952
Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, poesia, 1952
Romanceiro da Inconfidência, poesia, 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara, poesia, 1955
Pístoia, Cemitério Militar Brasileiro, poesia, 1955
Canção, poesia, 1956
Giroflê, Giroflá, prosa, 1956
Romance de Santa Cecília, poesia, 1957
A Rosa, poesia, 1957
Eternidade em Israel, prosa, 1959
Metal Rosicler, poesia, 1960
Poemas Escritos Na Índia, 1962
Antologia Poética, poesia, 1963
Ou Isto Ou Aquilo, poesia, 1965
Escolha o Seu Sonho, crônica, 1964
Crônica Trovoada da Cidade de San Sebastian, poesia, 1965
Poemas Italianos, poesia, 1968
Inéditos, crônica, 1968
Fonte:
09/01/2016
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