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Uma
experiência de choque: o encontro com José Mujica
22/03/2015
Participando de um congreso
iberoamericano sobre Medicina Familiar e Comunitária, realizado em Montevideo
dos dias 18-22 de março, tive a oportunidade sempre desejada de um encontro com
o ex-presidente do Uruguai José Mujica. Finalmente foi possível no dia 17 de
março por volta das 16.00 horas. Tal encontro deu-se em sua Chácara, nos
arredores da capital Montevideo.
Encontramos uma pessoa que vendo-a e
ouvindo-a somos imediatamente remetidos a figuras clássicas do passado, como
Leon Tolstoi, Maathma Gandhi, Chico Mendes e até com Francisco de Assis. Aí
estava ele com sua camisa suada e rasgada pelo trabalho no campo, com uma calça
de esporte muito usada e sandálias rudes, deixando ver uns pés empoierados como
quem vem da faina da terra. Vive numa casa humilde e ao lado, o velho fusca que
não anda mais que 70 km a hora. Já lhe ofereceram um milhão de dólares por ele;
rejeitou a ofera por respeito ao velho carro que diariamente o levava ao
palácio presidencial e por consideração do amigo que lho havia dado de
presente.
Rejeita que o considerem pobre. Diz:
“não sou pobre, porque tenho tudo o que preciso para viver; pobre não é não
ter; é estar fora da comunidade; e eu não estou”.
Pertenceu à resistência à ditadura
militar. Viveu na prisão por treze anos e por um bom tempo dentro de um poço,
coisa que lhe deixou sequelas até os dias de hoje. Mas nunca fala disso, nem
mostra o mínimo ressentimento. Comenta que a vida lhe fez passar por muitas
situações difíceis; mas todas eram boas para lhe dar sábias lições e por e
fazê-lo crescer.
Conversamos por mais de uma hora e
meia. Começamos com a situação do Brasil e, em geral da América Latina.
Mostrou-se muito solidário com Dilma especialmente em sua determinação de
cobrar investigação rigorosa e punição adequada aos corruptos e corruptores do
caso penoso da Petrobrás. Não deixou de assinalar que há uma política
orquestrada a partir dos Estados Unidos de desestabilizar governos que tentam
realizar um projeto autônomo de país. Isso está ocorrendo no Norte da Africa e
pode estar em curso tambem na América Latina e no Brasil. Sempre em articulação
com os setores mais abastados e poderosos de dentro do país que temem mudanças
sociais que lhes podem ameaçar os privilégios históricos.
Mas a grande conversa foi sobre a
situação do sistema- vida e do sistema-Terra. Ai me dei conta do horizonte
vasto de sua visão de mundo. Enfatizava que a questão axial hoje não reside na
preocupação pelo Uruguai, seu pais, nem por nosso contienente latinoamericano,
mas pelo destino de nosso planeta e do futuro de nossa civilização. Dizia,
entre meditativo e preocupado, que talvez tenhamos que assistir a grandes
catástrofes até que os chefes de Estado se deem conta da gravidade de nossa
situação como espécie e tomar medidas salvadoras. Caso contrário, vamos ao
encontro de uma tragédia ecológico-social inimaginável.
O triste, comentava Mujica, é
perceber que entre os chefes de Estado, especialmente, das grandes potências
econômicas, não se verifica nenhuma preocupação em criar um gestão plural e
global do planeta Terra, já que os problemas são planetários. Cada país prefere
defender seus direitos particulares, sem dar-se conta das ameaças gerais que
pesam sobre a totalidade de nosso destino.
Mas o ponto alto da conversação,
sobre o qual pretendo voltar, foi sobre a urgência de criarmos uma cultura
alternativa à dominante, a cultura do capital. De pouco vale, sublinhava,
trocarmos de modo de produção, de distribuição e de consumo se ainda mantemos
os hábitos e “valores” vividos e proclamados pela cultura do capital. Esta
aprisinou toda a humanidade com a idéia de que precisamos crescer de forma
ilimitada e de buscar um bem estar material sem fim. Esta cultura opõe ricos e
pobres. E induz os pobres a buscarem ser como os ricos. Agiliza todos os meios
para que se façam consumidores. Quanto mais são inseridos no consumo mais
demandas fazem, porque o desejo induzido é ilimitado e nunca sacia o ser
humano. A pretensa felicidade prometida se esvai numa grande insatisfação e
vazio existencial.
A cultura do capital, acentuava
Mujica, não pode nos dar felicidade, porque nos ocupa totalmente, na ânsia de
acumular e de crescer, não nos deixando tempo de vida para simplesmente viver,
celebrar a convivência com outros e nos sentir inseridos na natureza. Essa
cultura é anti-vida e anti-natureza, devastada pela voracidade produtivista e
consumista.
Importa viver o que pensamos, caso
contrário, pensamos como vivemos: a espiral infernal do consumo incessante.
Impõe-se a simplicidade voluntária, a sobriedade compartida e a comunhão com as
pessoas e com toda a realidade. É difícil, constatava Mujica, construir as
bases para esta cultura humanitária e amiga da vida. Mas temos que começar por
nós mesmos.
Eu comentei: “o Sr. nos oferece um
vivo exemplo de que isso é possível e está no âmbito das virtualidades
humanas”.
No final, abraçando-nos fortemente,
lhe comentei: ”digo com sinceridade e com humildade: vejo que há duas pessoas
no mundo que me inspiram e me dão esperança: o Papa Francisco e Pepe Mujica”.
Nada disse. Olhou-me profundamente e vi que seus olhos se emudeceram de emoção.
Sai do encontro como quem viveu um
choque existencial benfazejo: me confirmou naquilo que com tantos outros
pensamos e procuramos viver. E agradeci a Deus por nos ter dado um pessoa com
tanto carisma, tanta simplicidade, tanta inteireza e tanta irradiação de vida e
de amor.
Fonte:
22/03/2015
José Mujica
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Período
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1 de março de 2010
a 1 de março de 2015 |
Vice-presidente
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Antecessor(a)
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Sucessor(a)
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Período
|
1 de março de 2005
a 3 de março de 2008 |
Antecessor(a)
|
Martín Aguirrezabala
|
Sucessor(a)
|
Ernesto Agazzi
|
Período
|
7 de dezembro de 2012
a 13 de julho de 2013 |
Antecessor(a)
|
|
Sucessor(a)
|
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Vida
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Nascimento
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20 de maio de 1935 (79 anos)
Montevidéu |
Dados pessoais
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Primeira-dama
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Partido
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Religião
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Profissão
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Assinatura
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Leonardo Boff
|
|
Leonardo Boff
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Nome
completo
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Genézio
Darci Boff
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Nascimento
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14 de dezembro de 1938 (76 anos)
Concórdia, SC |
Nacionalidade
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Cônjuge
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Márcia
Monteiro da Silva Miranda
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Ocupação
|
teólogo,
filósofo, escritor, professor, ecologista
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Gênero
literário
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Movimento
literário
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Religião
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Página oficial
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Wikipédia
22/03/2015
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Leonardo Boff
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