Ars Poetica
A
José
Augusto Novas
Não
há, poeta, estancar
a
geratriz do poema.
Não
há falseá-la no ópio,
fadá-la
por clandestina,
enclausurá-la
em doutrina,
submetê-la
a sistema.
Não
lhe mascare a verdade
por
mais odiosa, obscena.
Faça-se
canto de guerra
ou
uma écloga, amena;
narre
uma nobre façanha,
evoque
um vulgar dilema;
cante
a esperança mais alta,
louve
a verdade suprema.
Não
há, poeta, estancar
a
geratriz do poema.
Atemporal,
surterrena,
a
realidade é seu tema.
Senti-la
profundamente,
sonhá-la,
subvertê-la,
recriá-la
a todo o instante
busque
um esteta se – imensa –
a
vê na pedra ainda informe,
na
tela descolorida,
num
fato que o impressione.
Rio
a descer da montanha,
na
sua corrente infinda,
flua
por entre os veios
da
alma de cada artista.
Flua
por entre os veios
da
alma de cada homem
e
fale de amor ainda,
mesmo
onde o ódio resista
e
rujam os bombardeios.
O
Amor é essa luz que buscam
os homens com seus receios.
Sersank
(Do livro “Estado de Espírito”, Ed. Íthala, Curitiba, 2013)