Sergio de Sersank
AS ROSAS DE DIRCE
(Relato)
AS ROSAS DE DIRCE
Manhã de domingo, 10 de janeiro do ano da graça de Nosso
Senhor de 2016. Céu nublado. Temperatura amena em Rolândia, norte do Paraná,
sul do Brasil. Um dia que marcou para sempre a minha e as vidas dos meus
familiares. Mãezinha Dirce, aos 85 anos e exatos seis meses, retorna ao Mundo
Espiritual.
Sua dessoma ocorreu pela madrugada. Ela, com certeza, nem se
apercebeu disso. Ao ser encontrada, já sem vida, por volta das nove horas,
estava em posição de quem dormia, de lado, com os olhos fechados, em aparente
calma, o pé esquerdo, ao lado da cama, tocando levemente o chão.
Ela teve sete filhos: Rubens (1949), Mariza (1951), Sergio
(1953), Wilson (1956), Sidney (1958), Luiz Carlos (1960) e Rosinês (1962).
Em sua Cédula de Identidade consta o dia 10 de julho de 1930
como data de nascimento. Mas, ela dizia que havia sido registrada com um ano a
mais, costume dos pais naquela época, talvez porque desejassem ver as filhas casadas
mais cedo. Assim, expirou aos 84 anos e seis meses completados na madrugada desse
domingo.
A causa da morte não
foi determinada na Certidão de Óbito. No entanto, sabemos que se deveu a um aneurisma
da veia aorta abdominal. Há cerca de nove meses ela se queixou de uma dor aguda
na parte esquerda do abdômen. Levada a exames, a tomografia constatou o risco de
aneurisma naquela região. Mas, em razão de sua idade avançada foi nossa família
aconselhada, no hospital, a não submetê-la à cirurgia devido ao alto risco da
operação. Novos exames seriam feitos. Se houvesse agravamento certamente a
decisão seria revertida. Mas ela só retornaria para a avaliação clínica no
próximo dia 27. Partiu antes dessa data.
Assim, também, inesperadamente, em Paris, vitimado pela
ruptura de um aneurisma, em 31 de março de 1869, com a idade de 65 anos, retornou
ao Mundo Maior o insigne Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec.
Sinto que Deus nos favoreceu grandemente, primeiro permitindo
que ela tivesse uma longa vida. Depois, que partisse sem alarde, de madrugada,
enquanto dormia.
Tenho pensado muito nas circunstâncias em que ocorreu o seu
decesso. Penso que normalmente nos preocupa a todos, mais que a morte em si, o
processo sempre difícil e doloroso de nossa desencarnação. Nesse ponto,
tranquiliza-nos em parte saber que ela partiu serenamente, há duas ou três
horas antes de irromper o dia. Bem-te-vis
cantaram como sempre, ao alvorecer, saudando o novo dia. Ela, com certeza os
ouviu de mais longe e mais alto, em meio a infinidade de canoros cantos de
pássaros multicores, entre verdejantes bosques circundados por campos em flor na
Grande Gaia Espiritual.
Minha mãe com certeza queria mesmo que a sua partida
ocorresse dessa forma: enquanto dormia, numa manhã de domingo. Um dia de
descanso. Dia em que todos os seus poderiam dedicar a ela a atenção que desejassem
sem prejuízo de suas atividades rotineiras na desenfreada e permanente luta
pelo pão cotidiano.
No sábado à tarde, Mamãe e Mariza, falaram ao telefone. Minha
mãe disse que se sentia bem. Minha irmã, por sua vez, queixou-se de fortes dores
de cabeça que a estavam importunando muito, por isso iria dormir um pouco
depois de tomar um comprimido relaxante. Mamãe lhe disse: - Você ficará bem.
Estou pedindo ao Dr. Bezerra de Menezes e ao Chico Xavier que te amparem.
Mais tarde, por volta das 18h30min, mamãe ligou. Queria saber
como ela estava. Mariza tinha melhorado. Falaram muito, como faziam todos os
dias. Antes de desligar, mamãe disse à mana que iria até sua casa para
auxiliá-la caso viesse a sentir novas dores. Mariza, disse-lhe que ficasse
despreocupada, tomaria outro comprimido mais tarde e ficaria bem. Desejou-lhe
boa noite, que dormisse bem.
Pela manhã, sua cachorrinha “Pandora”, lhasa caramelo, sempre vivaz, foi a primeira a notar o ocorrido. Pandora dormia todas as noites sob a cama de
minha mãe. Na manhã desse domingo, mamãe morta no leito, a pobre cachorrinha
que sempre acorda tarde, entrava e saia sucessivamente do quarto, arranhava as
patas no chão, emitia sons estranhos... Minha irmã Rosinês, estranhando isso,
foi ao quarto - até porque pretendia acordar a mãe para o café que já estava à
mesa. Ao perceber a triste realidade pôs-se a gritar alarmando os vizinhos que
logo encheram a casa.
Por volta das onze horas, nesse fatídico dia, os familiares
reunidos na varanda da casa em Rolândia (PR) estavam desolados. O corpo havia
sido levado para a preparação do velório. De repente, o vento começou a soprar
frio e forte, anunciando chuva. Intenso aroma de flores tomou a casa toda. Rosinês,
nossa irmã caçula, notou o fenômeno e chamou a atenção de todos. Até mesmo nos
fundos da casa sentiu-se a forte fragrância. Cheiro de rosas. Todos se
comoveram.
No jardim, em frente à casa, com efeito, havia rosas
vermelhas, amarelas e até mesmo cor-de-rosas que minha mãe cultivava entre
outras plantas e folhagens. Ela amava a
natureza. Por diversas vezes a fotografamos em meio às suas flores. Eu mesmo vinha
denominando algumas dessas fotos que tirávamos pelo celular, instantaneamente,
em seu jardim: Rosas
de Dirce-1, Rosas de Dirce-2, ...
Por isso, começamos a associar as lembranças de nossa mãe às
rosas que ela cultivava e tudo o que falavámos sobre ela sempre culminava no
seu amor por essas flores.
Lembrei-me,
a propósito, durante o velório - seu corpo imóvel no esquife orlado por rosas vermelhas
e uma rosa branca entre as mãos - de uma trova que escrevi, um dia, há muito
tempo, em sua homenagem:
“Algo há de mães, algo nobre,
nas roseiras esmerosas:
de espinhos a vida as cobre
e elas à vida dão rosas.”
(Trova de Sersank, 1974)
No Velório Municipal por volta das dezesseis horas, no
interior da ampla sala, ao fundo, próximas ao esquife, havia pouco mais de trinta
pessoas. Eu estava à porta de entrada, sozinho. Um carro de Floricultura
estacionou à entrada. O condutor do veículo desceu e trouxe com cuidado a
quarta e linda coroa de flores, esta enviada por diversas amigas, toda composta
de rosas, vívidas, brancas e amarelas em forma de coração, emolduradas por
entreabertas rosas rubras. Novamente lembrei, ao vê-la, o amor de minha mãe
pelas flores e os cuidados que dispensava às suas roseiras.
Indiferente ao passar por mim, o entregador adentrou a sala
mortuária. Eis, porém, que da coroa de rosas se desprende, nesse instante, uma isolada
pétala vermelha que cai diante dos meus pés como a expressar os sons de uma
longínqua e inesquecível voz: “É sua, meu filho!” Tomei-a
do solo e após beijá-la na palma da mão, guardei-a comigo.
Mãezinha Dirce, sempre ativa, lúcida, alegre, criativa, apesar de velhinha,
era forte. Em tudo o que falava, em tudo o que fazia, revigorava-nos a fé e a
esperança na complacência divina.
Gostava de ouvi-la narrar certas passagens de sua infância e
mocidade. Mas às vezes nos entristecíamos juntos quando recordava-nos as
dificuldades da vida naqueles recuados tempos chegando quase às lágrimas. Eram
cenas que reproduzia com humildade e contida emoção e nos faziam sentir quanto marcaram
sua última experiência de vida na Crosta.
No Brasil - diziam os enganosos cartazes espalhados pela
Itália – “Vocês poderão ter o seu castelo. O governo dá terras e utensílios a
todos”.
Eis alguns deles:
“Na América – Terras no Brasil
para os italianos. Navios em partida todas as semanas do Porto de Gênova.
Venham construir os seus sonhos com a família. Um país de oportunidade. Clima
tropical e abundância. Riquezas minerais. No Brasil vocês poderão ter o seu
castelo. O governo dá terras e utensílios a todos”.
“Na América – Terras no Brasil para os italianos. Navios em partida
todas as semanas do Porto de Gênova. Venham construir os seus sonhos com a
família. Um país de oportunidade. Clima tropical e abundância. Riquezas
minerais. No Brasil vocês poderão ter o seu castelo. O governo dá terras e
utensílios a todos”.
(Cartaz da propaganda, prometendo terra e abundância no Brasil,
entre 1880 à 1930.
Acervo Memorial do Imigrante.)
Exatamente no dia 14 de novembro de 1887(1), aos
24 anos, Victório desembarcou do Navio Savoia no Porto de Santos, com os
integrantes de sua família: o pai, Giuseppe
(70), a mãe, Lúcia (61), a esposa, Anna (29), a irmã Giovanna (21) e os filhos Maria
(05), Virgínia (02) e Itália (01). Foram orientados a laborar
na propriedade rural do latifundiário Joaquim
Leite da Cunha no Município de Pedreira
(SP), situado às margens do Rio Jaguari, na microrregião de Campinas.
Não tiveram vida fácil. Meu bisavô, Victorio Cavalin morreu vinte anos mais tarde, aos 45 anos, desiludido,
vitimado por um tumor cerebral. Não temos registros ainda dos fatos que se
seguiram. Mas é de se supor que nossos antepassados sofreram muito e por muitos
anos.
Bem, enquanto aguardávamos a chegada
do féretro, cenas sucessivas de minha vida passaram aleatoriamente pelos
mecanismos da memória: vi-me pequeno, pobrezinho, na antiga casa de madeira,
inacabada, dos dois aos seis anos:
"Rebusco, mãe, na memória
o antigo e modesto lar.
Sou personagem na história
da tua vida exemplar!"
o antigo e modesto lar.
Sou personagem na história
da tua vida exemplar!"
(Trova de Sersank)
Era, todas as manhãs, a sopinha de
pão com leite morno na caneca, misturado com um pouquinho do café despejado do
bule esmaltado. Eram as inúmeras
brincadeiras de pés descalços no quintal varrido, o cálido banho de bacia ao
fim da tarde e já de noite, à luz bruxuleante do lampião de querosene, suas audições
ao pé do rádio de pilhas transistorizado das novelas e programas musicais em
parte prejudicadas pela nossa algazarra sempre contida com reprimendas verbais.
Depois as orações, ela e meu pai ao pé dos nossos leitos, os beijos e desejos
de boa noite. “A bênção, mãe! A bênção, pai!” E dormíamos, pobrezinhos, mas
felizes!
A cada vez que a memória me resgata esses
momentos imersos nas névoas do passado e da saudade, acodem-me os versos desta
linda trova:
"Eu vi minha mãe rezando
aos pés da Virgem Maria.
Era uma santa escutando
o que outra santa dizia!"
(Barreto Coutinho)
Estou agora lembrando a primeira vez
em que me vi realmente perdido: foi aos seis anos. Mamãe vestiu-me um bonito
uniforme xadrez. Senti-me bem, mas estava ansioso. Relutei em dar a mão à
maninha mais velha e com ela seguir para o desconhecido. Voltei-me, na ruazinha
de terra, por diversas vezes, a dar-lhe com a mão um triste tchau, com lágrimas nos olhos. Quanto odiei a vida nova que os pais
sorridentes diziam chamar-se “escola”!
Mariza, a maninha, iniciava o segundo
ano primário. Eu adentrava o “Jardim de Infância”, equivalente ao ano
pré-escolar. Começaria, em breve, a aprender as maravilhas do “Caminho Suave”, a
inesquecível cartilha que deu a multidões de crianças, nos anos sessenta e
setenta do século passado, acesso ao fantástico mundo da escrita.
Não tem como não lembrar agora os
versos do nosso querido poeta Carlos Drummond de Andrade:
Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite
é tempo sem hora.
Luz que não apaga
quando sopra o vento
e a chuva desaba.
Veludo escondido
na pele enrugada.
Água pura, ar puro,
puro pensamento.
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite
é tempo sem hora.
Luz que não apaga
quando sopra o vento
e a chuva desaba.
Veludo escondido
na pele enrugada.
Água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer
acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- Mistério profundo -
de tirá-la um dia?
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- Mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu rei do mundo
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca.
Mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Domingo, 10 de janeiro de
2016. Céu nublado. Passamos
o tempo todo na Sala do Velório Municipal.
Pela manhã do dia 11, ao clarear do dia, sem mostras de
cansaço, reunimo-nos, familiares e amigos mais íntimos, em torno do esquife,
para uma singela e especial homenagem. Oramos a Prece de Caritas. Lemos e comentamos duas mensagens psicografadas
por Chico Xavier, de Maria Dolores. Mariza, minha irmã, fez uma sentida prece,
encerrando o ato.
Minha mana comentou que recentemente, numa de suas conversas
frequentes, nossa mãezinha manifestou-lhe alguma preocupação com relação ao
reingresso no Mundo Espiritual. Marisa,
otimista como sempre, estribada em suas convicções espiritistas, a
tranquilizou:
- Não se preocupe com
isso, Mãe. A Senhora, quando deixar este mundo despertará num imenso jardim
encantado, onde haverá muitas flores, principalmente rosas que a Senhora gosta
tanto, céu azul, pássaros cantando e verá a seu lado inúmeros amigos e
Benfeitores Espirituais.
Pouco depois das nove horas, com a presença de dezenas de amigos
que chegaram e já então sob a direção do Monsenhor José Agius, tivemos uma sequência de orações e cânticos católicos,
facultativa, que muito nos emocionaram. Mas algo nos chamou a atenção: Mariza, de
repente entrou em convulsivo pranto. O Monsenhor ficou sem entender essa súbita
explosão de lágrimas e se limitou a passar a mão sobre o ombro dela, dando
continuidade ao Ofício que dirigia.
Ao questioná-la a respeito, minutos depois, Mariza me chamou
a um canto e contou-me o ocorrido. Ela que dedicou muitos anos de sua vida à
prática da mediunidade assistida e assistencial, naquele instante ouviu
nitidamente a voz de nossa mãe vinda do Plano Invisível, no mesmo tom de quando
a chamava, entusiasmada, diante das coisas boas que via:
-“Mariza!...”
Era como se desejasse dizer: “Você precisa ver isso!”
Notem que isso se deu em meio ao vozerio das rezas católicas!
A despedida foi muito triste, mas com serenidade, resignação
e muitos abraços entre irmãos, parentes e amigos. O sepultamento se deu, com
atraso, por volta das 11h00. Choveu sem parar durante a manhã toda. Debaixo de
chuva, chuva intensa, o féretro seguiu até o túmulo. Sentíamos que a natureza
chorava conosco, intensamente, a perda do bem maior de nossas vidas.
Depois soubemos que aquela foi uma das maiores chuvas que se
abateu sobre o município paranaense de Rolândia, tanto que o Prefeito, Dr. Luiz
Francisconi, com aval da Defesa Civil e com o reconhecimento do Governo
estadual, decretou no dia seguinte, estado de emergência e, um dia depois,
estado de calamidade pública.
Dois pedreiros trabalharam sob uma cobertura de lona plástica,
escorada aos braços por outros três deles, para o fechamento. Diversos guarda-chuvas
cobriam as pessoas à volta e ainda assim não houve quem não se molhasse muito.
Sob o mesmo guarda-chuva eu estava com meu filho Leon, artista gráfico tatuador
e meu sobrinho, Alberto Vinicius, policial militar especializado.
Comoveu-nos a dificuldade dos pedreiros. E essa dificuldade
nos fez meditar mais sobre a vida maravilhosa de nossa Mãezinha
Dirce, uma vida vitoriosa, apesar de muito sofrida do berço ao
instante final. Ela começou a trabalhar muito cedo. Aos dez anos já era
requisitada para serviços domésticos. Cuidava das irmãs Lúcia, Inês e Nico, menores que ela. Pouco tempo teve
de escola. Só conheceu dificuldades mesmo depois que se casou com o modesto e
honrado sapateiro Rubens, o grande amor
de sua vida, com quem veio a se casar 1949.
No criado-mudo do seu quarto ficaram dois livros que ela
estava terminando de ler: um romance de Rochester (Episódio da Vida de Tibério)
e outro da Zíbia Gasparetto, autora que ela tinha entre suas favoritas. O da
Zíbia nos chamou a atenção pelo título muito condizente com a trajetória de sua
vida, plena de exemplos de luta, de devotamento e de vitórias na construção,
desenvolvimento e manutenção dos nossos mais legítimos laços de afeto sobre os
valores da família: "Só o Amor
Consegue".
Sua cachorrinha Pandora
anda triste. Observamos alterações em seu comportamento. Antes muito agitada,
agora anda quieta, diferente. Sente, com certeza, a nossa dor.
Registro a seguir, para não estender-me muito, três, dentre
muitas manifestações familiares que nos comoveram, pedindo escusas aos demais
missivistas:
“A partida da tia Dirce para o Mundo Maior mexeu com todos nós. Oramos
muito na casa da minha mãe, Lúcia.
Reunimo-nos na sala e até na cozinha para orar por ela. Pedimos aos Nono e a
Nona, aos amados pais dela, que a abraçassem bem forte e lhe transmitissem
nosso carinho e amor. Conversamos em oração com os outros irmãos e irmãs de
minha mãe. Estamos pedindo a todos que amparem tia Dirce em sua chegada à
Pátria Espiritual. Choramos muito. A emoção foi imensa. Sentíamos presentes os seus
pais e irmãos durante as orações. Que Nossa Senhora e os mentores da
Espiritualidade estejam com vocês em todos os momentos, amparando a todos.” (José
Augusto Novas, Guto, Artista
Plástico e Professor, de São Paulo, Capital)
"A despedida foi repentina e sem volta. Hoje você está na companhia de Deus e
viverá em nossas lembranças com amor. A
saudade maltrata, pois sua falta dói. Apesar disso, sei que estás bem! Sei que
você alcançou a paz eterna! Te amaremos sempre.” (Jozyane Rodrigues, neta)
“DIRCE CAVALIN - a rosa mais bela
ficará por perto, viva, vibrante e cheia de beleza dentro de nossos corações! A
matriarca da família... devo-lhe a minha vida e a dos meus descendentes,
orgulho-me de carregar seu sobrenome. Ficam as lembranças de uma infância feliz
ao seu lado e a esperança de um dia reencontrá-la com aquele sorriso cheio de
alegria, amor e luz. Vá com Deus, vovó! Te amaremos para sempre!” (Vanessa Cavalin, neta, no Facebook em
10jan2016)
Como se fez constar no Atestado de Óbito, minha mãezinha não
deixou bens a inventariar, mas é formidável a fortuna que nos legou no aspecto
espiritual. Ela adorava dançar. E sempre gostou de cantar também. Eu me recordo,
menino, ela nos deliciando com sua linda voz...
Seu toca-discos e mais de uma centena de LPs ficaram para mim
porque a mana Mariza disse que esse era o desejo dela. De fato, quase ninguém
liga mais para esses antigos discos de vinil. Mas foram muitas as vezes em que,
ouvindo-os, dançávamos juntos, na edícula de sua casa, com plateia familiar
aplaudindo... Tangos... Valsas... Boleros... Forrós... Eram só risadas!
Os discos todos eu os lavei, troquei as capas plásticas
internas e externas. Religuei o velho e bom aparelho Stéreo Sistem CCE 4880, depois
de mandar revisá-lo. Numa dessas últimas madrugadas, pus pra rodar o disco, “Os Grandes Sucessos de Anísio Silva”, aquela
voz suave, interpretando a canção “Onde estás agora?” preencheu o espaço e
adentrou-me a alma. As lágrimas rolaram sentidas... Era o tipo de música que ela apreciava e ouvíamos todos no ambiente
do lar na década de 60.
Mariza recebeu de volta, entre outras coisas, dois livros que
lhe havia dado de presente em 1987: “O
Evangelho Segundo o Espiritismo” e “O
que é o Espiritismo”, ambos de Allan Kardec. Nossa mãe os lia
frequentemente pelo que constatamos nas anotações que fazia. Chamou-nos a
atenção o fato de que em cada um dos livros, nas páginas iniciais, ela havia
inserido um decalque de rosa vermelha. E como marcador de página do “Evangelho”
usava um cartão de aniversário oferecido por sua neta, Vanessa, no dia 10 de
julho de 1995.
Mãezinha Dirce, sua maravilhosa trajetória
existencial de fato enalteceu a vida de todos os seus descendentes.
Devo agora transcrever um relato altamente simbólico e
revelador da perenidade da vida. Com a palavra, minha filha Vanessa Cavalin (27):
“Sonhei que me encontrava com a vó Dirce
num lugar fechado, tipo uma sala, vazia sem nada, estávamos sozinhas. Ela
estava bem bonita, com a blusa vermelha de bolinhas brancas. Logo que a vi,
corri para abraçá-la e falei: - Ai Vó, queria falar pra você uma coisa que eu
não tive tempo de falar antes (estava consciente de que ela já estava
desencarnada), queria falar que te amo muito, muito mesmo!
Fiquei muito emocionada e senti que ela
emocionou-se também e nós duas, tremendo de emoção, quase perdemos a conexão. Antes
que isso acontecesse, ela que já estava mais calma que eu, puxou meu braço, do
modo que fazia quando bem empolgada queria me mostrar alguma coisa do seu jardim
e me envolvendo num abraço terno, falou
no meu ouvido: Quero te contar um segredo:
- AS ROSAS!
Nesse momento acordei.”
Vanessa
ficou mesmo profundamente emocionada. Entramos na Internet e pesquisamos sobre
“O Segredo das Rosas”.
Finalizo
este relato, tomado da mesma emoção. Vejam o que ela e eu encontramos:
“Rosacruz é
denominação da fraternidade filosófica, que, de acordo com a tradição mais em
voga, teria sido fundada por Christian
Rosenkreuz e representa uma síntese do ocultismo imperante na Idade Média.
“A rosa, por sua vez, a mais bela
dentre todas as flores, traz consigo um elevadíssimo simbolismo, tanto no plano
esotérico quanto no exotérico: ela jamais se reproduz por intermédio de
sementes. Quando em vida - e pouca gente sabe disso! - é apenas um botão. Nessa
condição ela se fecha sobre o seu próprio coração, o seu íntimo, guardando toda
a sua beleza em sublime introspecção. Finalmente, quando ela se abre à luz,
irradiando todas as suas cores e matizes, revelando toda a sua esplendorosa
beleza e espargindo o seu suave perfume. Terá chegado a hora da
sua morte.”
...A
mística ideia da rosa, associada à lembrança da cor do sangue e aos espinhos
que provocam o seu derramamento, contribuiu, certamente, para dar à palavra,
uma grande força de sedução. Além disso, muitos rosacruzes veem, no emblema, um
símbolo alquimista, concretizando uma ambiguidade muito comum aos símbolos. Os rosa-cruzes
atuais tem uma interpretação bem mais mística a respeito da cruz e a rosa. A
cruz representaria o ser humano, a parte material, enquanto a rosa
representaria o ser imaterial, a alma, espírito ou corpo astral.
A
rosa simboliza a perfeição, o amor, o coração, a paixão, a alma, o romantismo,
a pureza, a beleza, a sensualidade, o renascimento; e, de acordo com sua cor,
pode simbolizar a lua (branca), o sol (amarela) ou o fogo (vermelha).
Universalmente, essa flor complexa e aromática representa o símbolo do amor e
da união, famosa por sua beleza e seu perfume. Não obstante, o desabrochar do
botão da rosa simboliza o segredo e o mistério da vida.”
A simbologia da Rosa
Desde a antiguidade remota a rosa foi honrada pelos deuses e heróis. Ornava o escudo de Aquiles, os capacetes de Heitor e de Enéas e na Idade Média, os escudos dos cavaleiros.
Era associada na antiga Grécia ao culto de Afrodite, a deusa do amor.
Já no Egito antigo, esta sensualidade expressa pela rosa em Afrodite, se torna mais espiritual no culto a Isis. Ao comerem algumas rosas, os iniciados sublimavam seus instintos carnais começando um processo de regeneração interior.
Na tradição cristã a rosa passou a representar Maria, a Rosa Mística, ou como acreditam certas correntes, ela representa Maria Madalena e está presente nas rosáceas dos vitrais e pisos de algumas igrejas europeias. Também na iconografia cristã, a rosa com todas as suas pétalas abertas simbolizava o Santo Graal, símbolo da natureza integral do homem.
A Rosa Crística do ocidente, equivalente à Flor de Lótus oriental, é considerada a flor mais perfeita entre todas. Exala um perfume delicado e suas pétalas se colocam em espiral, simbolizando o esforço de aperfeiçoamento. É a vida eterna que se renova constantemente e ressurge ao final de cada volta: RENOVAÇÃO/ RENASCIMENTO.
Para se chegar à rosa é necessário primeiramente subir e colher os espinhos (guardiões): CAMINHO HUMANO. No seu centro, os pistilos amarelos, significam EQUILÍBRIO e SABEDORIA e surgem ao término de seu sacrifício, quando as pétalas, de fora para dentro, morrem para poder deixar finalmente, ressurgir o centro, a ESSÊNCIA.
A Rosa, como a Flor de Lótus, representa o CAMINHO DE AUTO-APERFEIÇOAMENTO. Elas vêm do escuro da terra (ou do limo no caso do Lótus) e sobem para respirar o ar sutil da vida espiritual e ao abrir suas pétalas ao Sol, oferecem o sacrifício do próprio perfume em entrega: DEVOÇÃO e SERVIÇO à VERDADE.
Há uma diferenciação do sacrifício de acordo com a cor da rosa:
Rosa vermelha= Sacrifício por paixão.
Rosa branca= Sacrifício por pureza.
Rosa amarela= Espiritualidade.
A rosa é uma criação excepcional, o emblema da PERFEIÇÃO para a grande obra dos Alquimistas, só entreabrindo suas pétalas para revelar o seu mais íntimo segredo, no momento em que vai perecer. Por isto além de ser símbolo da VIDA é também símbolo da PERFEIÇÃO e MORTE.
Fernando Pessoa se refere à rosa em um de seus poemas: Rosa, Vida, Cristo encoberto.
As catedrais góticas, construídas segundo os preceitos da geometria sagrada, tinham a planta em forma da cruz e seus vitrais com desenhos de rosáceas (rosas estilizadas) ficavam ao sul para que deixassem entrar a luz do sol em todo o seu esplendor.
Lutero usava a rosa em seu selo, chamado de Selo de Lutero ou Rosa de Lutero e costumava dizer uma frase: “O coração está sempre em rosas quando está sob a cruz”.
O nome Rosa-Cruz está associado ao símbolo hermético do Cristo.
Para os adeptos da Rosa-Cruz, a cruz contém os opostos em suas partes: Feminino e Masculino, Lua e Sol, Morte e Vida. Quando esta vivência de opostos (o horizontal e o vertical) se encontra em um ponto de intersecção, acontece a Iluminação. Esta intersecção (Centro, ponto de Unidade) da cruz (Corpo), saúda o Sol e uma rosa colocada neste centro, no peito, permite que a Luz ajude o espírito a desenvolver-se e florescer. Em seu símbolo ora colocam a rosa na intersecção, ora no alto da cruz.
Para os esotéricos a Cruz é um signo masculino e espiritual, divina energia criadora que fecundou a matéria da substância primordial cuja imagem é a Rosa, que se inscreve nas quatro dimensões: comprimento, largura, espessura e tempo. A mente associada à Rosa apresenta sub-dimensões e forma: matéria, cor e perfume, reunidos na mais completa harmonia sendo defendidos pelos (guardiões) espinhos.
Segundo Robert Charroux (livro “Os mistérios da Rosa”), a história da Rosa é tão secreta que somente raros iniciados podem compreender o seu sentido profundo. A rosa é o símbolo do segredo guardado, pois é uma das raras flores que se fecha sobre seu coração. Quando abre a sua corola, está na hora da morte.
“Descobrir uma taça de rosas” é desvendar um segredo. Esta expressão ainda é usada em alguns lugares da Europa. Antigamente, se um anfitrião colocasse um ramo de rosas numa taça, significava que o bom tom e a honra deveriam prevalecer e que todos que estivessem à mesa manteriam rigorosamente secreto tudo que ali se dissesse. Algumas vezes a rosa era dependurada sobre a mesa, e tinha o mesmo significado.
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Minha Mãe
Desejava, Mãezinha, para
testemunhar-te afeto e gratidão, escrever-te um poema que me fotografasse o
coração.
E, ao servir-me do verbo, quisera
misturar a beleza das flores e das fontes, o azul do céu, o ouro do sol e os
lírios do luar...
Anseio enaltecer-te!... A palavra, no
entanto, Mãe querida, não consegue mostrar as bênçãos incessantes que nos
trazes à Vida.
Em vão consulto dicionários! Não
encontro a expressão lúcida e bela que nos defina claramente a luz que o teu
sorriso nos revela...
Ofereço-te, assim ao carinho perfeito
o doce pranto de agradecimento que me verte do peito.
As lágrimas que choro de alegria
refletem, uma a uma as estrelas de amor que te engrandecem, – a tua glória em
suma !...
És tudo de mais lindo que há no
mundo, – o agasalho a ternura calma e boa, o refúgio de santo entendimento, a
presença que abençoa...
Desculpe, meu tesouro de esperança,
se não te sei nobilitar o reino de bondade e sacrifício, no sustento do
lar!
E não sabendo, Mãe, como louvar-te a
celeste afeição, rogando a Deus te glorifique a vida, trago-te o
coração.
Do livro “Mãe”.
Maria Dolores - Psicografia de Francisco Cândido Xavier. (Mensagem recebida em
reunião pública da Comunhão Espírita Cristã, na noite de 22/03/1969, em Uberaba
(MG)
Leia mais em:http://blog.clickgratis.com.br/anjoazul/6897/minha-mae-maria-dolores.html#ixzz3wqVrlSzW
Mãe, Deus Te Abençoe
Quero mãezinha, agradecer-te,
em festa, por tudo que me dás ao coração, entretecer-te uma canção modesta, mas
todo esforço é em vão...
Se pudesse dizer a gratidão que
sinto por teu santo carinho protetor, precisaria conhecer na essência toda a
glória do amor.
Tens o segredo da Bondade
Eterna, Deus me acena e sorri por tua face...
Não há sábio no mundo que
defina o Sol quando aparece, o lírio quando nasce!
Falar de ti, mostrar-te? Isso
seria como explicar da Terra, olhando a Altura, a doce maravilha de uma estrela
a guiar o viajor em noite escura.
Converto em prece o
reconhecimento, que em meu peito humilde se extravasa, rogando ao Céu te
envolva em rosas de ventura, anjo sustentador de nossa casa!
Deus te guarde, mãezinha, pelo
berço, descuidado e risonho, em que me acalentaste para a vida, como flor de
teu sonho.
Deus te compense pelas noites
tristes de aflição que te dei, pelo perdão de tantas vezes, tantas! ... Quantas
foram não sei...
Deus te enalteça a fonte de
ternura, que nunca se enodoa e nem se cansa, pelo cuidado com que restauras,
ante o dom do trabalho e a força de esperança...
Perdoa se te oferto unicamente,
na minha devoção de todo dia, o meu ramo de flores orvalhadas nas lágrimas que
choro de alegria!
Com júbilos divinos, Mãe
querida, que a Celeste Bondade te coroe!
Por tudo o que nos dá nos
caminhos da vida, Deus te exalte e abençoe!
(Mensagem de Maria
Dolores,
extraída do livro “Mãe
– Antologia Mediúnica” por Espíritos Diversos,
psicografado por Chico
Xavier, Editora O Clarim.)
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Mãezinha Dirce, os céus se abriram para recebê-la.
Que você seja muito feliz, entre as flores, amizades e alegrias da Vida Maior!
Meus beijos de amor e gratidão.
Sempre seu filho,
Que você seja muito feliz, entre as flores, amizades e alegrias da Vida Maior!
Meus beijos de amor e gratidão.
Sempre seu filho,
Sergio de Sersank
Londrina, 12 de janeiro de 2016.
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NOTAS
A
data 14 de novembro é significativa em nossa vida familiar. Vejam as coincidências:
1.
No dia 14 de novembro de 1887, ocorreu a chegada do navio Savoia e o histórico
desembarque de nossos antepassados italianos no Porto de Santos (SP), oriundos
da Comune de Vedelago.
2. Nesse mesmo dia 14 de novembro,
em 1951, ocorreu a emancipação política do Município de Florestópolis, no Norte
Paranaense, para onde os meus pais haviam se transferido de Novo Horizonte (SP),
em 1949. É a minha terra natal.
A
principal via pública da cidade se denomina Avenida 14 de Novembro.
3.
No dia exato da Emancipação Política de Florestópolis, (14 de novembro de 1951)
ocorreram dois nascimentos, devidamente registrados em Cartório: o de minha
mana Mariza Santos Cunha e o de minha cunhada Laura Dias.
4.
Outra coincidência: No dia 14 de novembro de 1988 nasceu
em Rolândia (PR) o meu filho Leon Cavalin Neto
Cunha.
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Dirce Cavalin em foto de 1979