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Graças te rendo, Senhor,
e acolho a chama da dor
por bênção do Teu apreço!
Sempre me hás concedido
mais do que tenho pedido
e mais, enfim, que mereço.
Se me turva a enfermidade
áureos sonhos, não me invade
a vida o rancor revel.
Cada um colhe o que planta.
Ora o incauto, em gozo, canta,
depois sorve, em pranto, fel.
Ninguém sofre injustamente.
Impressa temos na mente
toda causa de aflição.
Mesmo a do berço trazida
bem pode ser compreendida
à luz da reencarnação.
Males por nós provocados
terão de ser reparados
com atos de elevação.
É claro esse ensinamento:
tão só o arrependimento
não exime a expiação.
Sem o bálsamo da crença
a dor se faz mais intensa,
atrai a queixa malsã.
Confio, assim, que me amas.
Se, ora, a refletir me chamas,
trar-me-ás à luta, amanhã.
Por mais perdure a catarse,
minh'alma há de libertar-se,
planar ao sol que a ilumina,
pois tem o dom de viver
imersa no vir-a-ser
de um hoje que não termina.
Graças Te rendo, Senhor!
Acolho a chama da dor
por bênção do Teu apreço!
Graças mil pelo que tenho
e sou e posso e mantenho!
Sei que é bem mais que mereço!...
(Da coletânea "Estado de Espírito", de Sergio de Sersank)