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Neste meu jeito de amar
nunca demonstro querer-te.
Por eximir-me de ousar
resigno-me a não fruir.
Contento-me só de ver-te.
sorrio, se estás a rir.
Vivem em mim personagens
que não podem coexistir.
Ao mar do tempo infinito
me perco nas deslembranças
de estâncias não revividas.
Cenas submersas, perdidas,
borbulham, roubam-me o sono
jamais emergem à tona...
Mas eu as plasmo: és donzela
ingênua, de longas tranças.
Eu - um príncipe que, ao ver-te,
loucamente se apaixona.
Assim, em céus de outra esfera,
corremos como crianças
por entre louros trigais...
Podemos mesmo alçar vôo,
circundar cimos distantes
de planícies virginais.
Da sinfonia celeste -
acordes a se expandir,
em nós refulge o arco-íris!
E, feliz por existires,
sendo da vida, não minha,
cinjo-te a beijos – rainha;
minha razão de existir!
Mas, nesta vida plebéia
não sei que tenho, que idéia
impede-me, assim, de ousar.
Meu jeito estranho de amar
traduz bem mais que querer-te.
E só o que faço é sonhar.
Contento-me só de ver-te...
Ao mar do tempo infinito
me perco nas deslembranças,
resigno-me a não fruir.
Vivem em mim personagens
que não podem coexistir...
(Do livro "Estado de Espírito", de Sersank)