Nossa outra face
UMA TROVA
Gira a Terra - astro que pensa,
se repensa e se recria.
Nua, a lua brilha intensa
em sua imensa nostalgia.
Sersank, 28 nov 2025
Nossa outra face
UMA TROVA
Gira a Terra - astro que pensa,
se repensa e se recria.
Nua, a lua brilha intensa
em sua imensa nostalgia.
Sersank, 28 nov 2025
Sergio de Sersank, cidadão comum, cosmopolita, é poeta, pensador e ativista digital de esquerda.
Imagem disponível no Google
Névoas |
Wilson Martins |
| Em nossas letras, Fagundes Varela é figura paradigmática do poeta maldito, numa escala em que, aliás, não eram os poetas tenebrosos que faltavam (Melhores poemas, Sel. Antônio Carlos Secchin. São Paulo: Global, 2005). Em 1861, as Noturnas, seu livro de estréia, continham dez poemas arcaizantes, prolongando a atmosfera byroniana da Academia de São Paulo na geração anterior: “A temática do maldito e do errante, do foragido e desenraizado predomina nesses poucos poemas, escritos no período em que ele ‘escolhia’ existencialmente a sua própria biografia (O foragido, Fragmentos, Sobre um túmulo, Tristeza), descontada a espórtula que pagou à imitação literária e aos lugares-comuns da escola”, observei na História da inteligência brasileira. Não era, contudo, e à diferença de tantos outros, uma atitude literária ou cacoete romântico: era um destino e uma condenação prometéica. Nas palavras de Antônio Carlos Sechin, “toda a sua vida foi marcada por desencontros, projetos inconclusos, infortúnios. Na vida acadêmica, não conseguiu concluir o curso de Direito (...) na vida afetiva, foi infeliz nos dois casamentos ... dois dos seus filhos morreram antes do primeiro aniversário... dependia financeiramente do pai.. zanzou, bêbado, por lugarejos e fazendas fluminenses, declamando de improviso versos que passaram à tradição oral (...)”. Nos românticos da geração anterior, o byronismo foi uma extravagância de juventude; ele, chegando “tarde demais num mundo demasiadamente velho”, viveu a frustração de não poder competir em igualdade, menos ainda superar, os marcos que outros haviam plantado antes dele. Sua vida desregrada foi uma vingança, uma reação de ressentimento. Era também uma obsessão obscura: em 1865, prefaciando os Cantos e fantasia, Ferreira de Menezes dizia tratar-se da “ressureição de Álvares de Azevedo”, mas, acrescento por minha conta, ele apresentava sobre o autor adolescente da Lira dos vinte anos a vantagem do amadurecimento emocional e poético. O volume incorporou para sempre à nossa literatura o “Cântico do Calvário”, além de introduzir uma nota nova no lirismo amoroso: a desgraça de uma personalidade anormal, condenada sem esperança à infelicidade e ao sofrimento. Falecendo em 1875, ele deixou no prelo Anchieta ou O Evangelho nas selvas, tentativa, ao mesmo tempo, de epopéia cristã e reafirmação de fidelidade católica e jesuítica, linha de inspiração que seria retomada por Bittencourt Sampaio, em 1882, com A divina epopéia de João Evangelista, paráfrase evangélica a colocar na mesma estante da paráfrase vareliana da história sagrada. De fato, seus mais de oito mil decassílabos brancos, escreve Antônio Carlos Secchin, “revelam um escritor de grande domínio técnico, embora o imperativo de obediência à narrativa do Novo Testamento acabe freando maiores ímpetos de imaginação, reduzindo o nível do texto a uma mediania algo tediosa ao leitor não particularmente aficionado do assunto”. É o menos que se pode dizer a respeito de um poema mais propenso a desencorajar a fé do que a estimulá-la. Para compô-lo em alto plano poético seria preciso um pensamento poderoso, uma maturidade filosófica e uma inspiração épica que lhe faltavam por completo, idealmente imagináveis na pena de um Antônio Vieira, não na do bem intencionado Anchieta. Sua incapacidade para tratá-lo aparece desde logo na ficção de que se serviu: os Evangelhos explicados aos índios, o que corresponde a ignorar-lhes a grandeza e a essência. Sua tarefa seria, antes, a de “interpretar” e não a de parafrasear, seria, por assim dizer, “criá-los” no piano poético, como Victor Hugo criou a história da humanidade na Légende des siêcles. Quando Varela se atreve a abandonar os carreiros estreitos da paráfrase é para cair, ou na heresia teológica, apresentando Sócrates como precursor de Jesus, ou na antecipação malvinda, com a antevisão do continente americano, ou no anacronismo puro e simples, colocando os Francos na Gália ao tempo de Jesus. Nesse quadro, surpreende encontrá-lo compromissado com a realidade social e política do momento, a exemplo do poema “A estátua eqüestre”, que encerra o volume de 1861. Trata-se da enorme polêmica que agitara o país em 1855, quando Haddock Lobo propôs à Câmara Municipal do Rio erguer um monumento ao fundador do Império, na praça da Constituição. Àquela altura, o projeto não despertou nenhum antagonismo, abrindo-se o concurso em que foi escolhido o modelo do escultor Mafra, mandado executar em Paris. Contudo, ao se aproximar a data da inauguração, os liberais mais exaltados e os republicanos viram nessa homenagem uma tentativa dissimulada de revitalizar as instituições monárquicas. Publicado no momento da inauguração, um poema célebre de Pedro Luís chamava à estátua “mentira de bronze”, opondo a Pedro I o nome de Tiradentes como verdadeiro herói da emancipação brasileira. Datado de 1861, o poema de Varela insiste nos mesmos temas, nas mesmas imagens e paralelos históricos: “Ergue-te ousado sobre o chão da praça,/ Homem de bronze – imagem de monarca / Simulacro fatal! (...) Raça de ilotas ... por que reledes o passado escuro / Quando deveras derribar os tronos / Cantando a liberdade ? // Vota-se à treva o busto dos Andradas, / Some-se a glória de ferventes mártires / Na lama do ervaçal! / Mas fria a estátua pisa a turba, como / As dura patas do corcel de bronze / O chão do pedestal!”. O poeta também comungou na indignação coletiva por ocasião da famosa Questão Christie – “diplomata insolente, ave maldita”: “Dize, filho da sombra, – onde aprendeste / A voar como as àguias ? ”. Reconheçamos que não estava nada mal no seu gênero, inspirando-lhe ainda, com o poema “ A São Paulo”, pátria de heróis, berço de guerreiros “, uma das páginas mais belas e perfeitas de nossa literatura poética, tanto mais admirável quanto não faz a menor alusão ao incidente diplomático: ”Foi no teu solo, em borbotões de sangue/ Que a fronte ergueram destemidos bravos (...). O que, sub-reptícia e ironicamente, significava restituir a Pedro I o seu papel no processo da Independência... |
http://www.jornaldepoesia.jor.br/fvarela.htmlhttp://www.jornaldepoesia.jor.br/wilsonmartins.html
Sergio de Sersank, cidadão comum, cosmopolita, é poeta, pensador e ativista digital de esquerda.
SAUDAÇÃO A FLORESTÓPOLIS
(Pelo transcurso de seu 74º aniversário)
Sergio de Sersank (*)
Na gleba ainda em floresta,
como novos bandeirantes,
unem-se e erguem, confiantes,
os heróicos pioneiros,
a princípio, algumas casas,
pequena venda e
pensão
e o “Patrimônio
São João”
começa a acolher tropeiros.
Desponta, assim, promissora
a década de cinquenta,
o mundo, então, se orienta
para a pacificação.
Nasce um novo Município.
Traz no nome a sua origem.
Sobre seu solo se
erigem
o templo, a escola, a estação.
Às margens da rodovia
entre os verdes cafezais
das grandes áreas rurais,
ridente, cresce a cidade.
Planta-se a cana-de-açúcar,
o milho, o trigo, o algodão,
o arroz, o soja e o feijão.
E faz-se a prosperidade.
Surgem as oficinas,
a primeira serraria,
as casas de alvenaria,
o estádio, o clube, o cinema.
Consolida-se o comércio.
E, ante o fascínio do “novo”,
confraterniza-se o povo.
Progredir será seu lema.
Florestópolis é o Berço
da Pastoral da Criança.
Com esse título avança
sua gente varonil.
É terra de bandeirantes
e, na medida em que cresce,
dignifica e engrandece
o nosso amado Brasil.
Londrina, 14 de novembro de
2025
FLORESTÓPOLIS
Sergio de Sersank
Tive a felicidade de (re) nascer na pequenina
FLORESTÓPOLIS, (antigo Patrimônio de São João), no norte do Estado do Paraná,
região sul do Brasil. O município tem atualmente 11.500 habitantes. Sua
emancipação política se deu na data de 14/11/1951. Meus pais, oriundos do
Estado de São Paulo (Novo Horizonte) já residiam no Município desde 1949.
Curiosamente, minha irmã, Mariza e minha cunhada Laura Dias vieram à luz
exatamente no dia em que nascia o Município. Mais
tarde, também a 14 de novembro, porém no ano de 1988 (ano de falecimento de meu
pai) nasceu o meu filho Leon Nilavac, hoje ilustrador gráfico.
Vivi em Florestópolis toda
minha infância e juventude. Meu pai era sapateiro. Meu tio, Manoel Tudela foi
farmacêutico e proprietário do Cinema, que se chamava CINE PARATODOS, principal
meio de entretenimento local até o final da década de 70. São de saudosa
memória as tardes de sol vividas às margens do ribeirão Capim, as pescarias no
Rio Vermelho e as disputadíssimas partidas de futebol do valoroso ECF - Esporte
Clube Florestópolis, reconhecido até hoje como uma das grandes forças do
futebol parananense amador, sendo de registrar-se que foi tetra-campeão da Copa
Brasil Sul de Futebol Amador.
FLORESTÓPOLIS é o Berço da Pastoral da Criança,
criada pela benemérita e saudosa médica sanitarista Zilda Arns Neumann,
em 1983. Esse reconhecimento se deu mediante Lei Federal. Faz-se, no entanto,
preciso assinalar que este título é, infelizmente, inglório. Segundo o
sociólogo e ex-Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, em
texto intitulado "A Pastoral da Criança - 20 Anos - parte integrante do livro de Martha Mamede
Batalha, "Pastoral da Criança - 20 Anos de Vidas" (Edições
Loyola, São Paulo-SP, 2003) “Florestópolis é uma cidade de bóias-frias.
A população vive em função do corte de cana para a Usina de Álcool e Açúcar
Cofercatu, antes pertencente ao Grupo Atalla, criada na região com recursos do Programa
Proálcool. Esses “Bóias-frias” também trabalham no plantio e colheita de
algodão e café. (...)”
“As condições sociais, associadas à falta de informação,
faziam a taxa de mortalidade infantil chegar a 127 óbitos para cada mil
nascidos. (...) Vinte anos depois, a taxa de mortalidade infantil em
Florestópolis caiu para 18,7 mortes para cada 1000 nascidos vivos, de acordo
com dados de 2002 da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná."
Vitória da Campanha de aleitamento materno promovida pela
inesquecível missionária católica, Zilda Arns.
Sergio de Sersank, cidadão comum, cosmopolita, é poeta, pensador e ativista digital de esquerda.
Sergio de Sersank, cidadão comum, cosmopolita, é poeta, pensador e ativista digital de esquerda.
Do livro "ACENDALHAS", de Sergio de Sersank
Ao anoitecer
Sergio de Sersank
Céu em sombras, sem estrelas.
Lua triste, esmorecida.
Ouço o sino do meu peito,
ouço-lhe a fraca batida:
“No lago em que te contemplas
nunca mais serás visível.
Em breve o teu Universo
irá sumir-se contigo.”
Fantasmas de rostos tristes
talvez comentem: “- Por que
a morte ainda aflige tanto
se precisamos morrer?”
Bilhões de estrelas distantes
já se apagaram no tempo.
Há outras humanidades
no Cósmico Pensamento?
Se existem, são como somos,
fontes de vida e saber.
Mas vivem como vivemos,
escravas de algum poder?
Importa se irão findar-se?
Vivem, apenas vivem
como árvores e peixes
e borboletas azuis?
Quem há de entender os planos
dos deuses que nunca vêm?
Se estamos sós no Universo
por que há de fazer-se o bem?
Assim como os dias trazem
manhãs de sol e de chuvas
há de o mistério da vida
levar-nos, vidas além?
Londrina, 11jan2017
“A gente não muda muito,
não difere tanto dos jovens que um dia fomos. O tempo nos desfigura, mas o que
sentíamos em relação ao mundo, ao que sonhávamos, permanece no íntimo de nós.”
(Sersank)
Londrina, 11jan2017
Sergio de Sersank, cidadão comum, cosmopolita, é poeta, pensador e ativista digital de esquerda.
Sergio de Sersank, cidadão comum, cosmopolita, é poeta, pensador e ativista digital de esquerda.

Sergio de Sersank, cidadão comum, cosmopolita, é poeta, pensador e ativista digital de esquerda.
Imagem do Pinterest
AMIZADES ANTIGAS
Os anos passam
e como as águas dos rios
não voltam mais.
Nessas águas turvas do tempo
amizades antigas
lembram veleiros que partem
de incertos, noturnos, cais.
Tolerantes com nossos erros
poucas permanecerão vivas.
Terão pelas noites que avançam
sonhos que temos iguais.
As que se perdem no horizonte em brumas
são como outras velas.
No quarto escuro das nossas lembranças
extinguem-se elas
em frágeis pavios.
Com deslembrados dizeres vazios.
Ficam em velhos cartões postais.
Vão-se nos veleiros do horizonte em brumas.
Apagam-se nas velas que nada alumiam mais.
Sersank, 30dez2022
Sergio de Sersank, cidadão comum, cosmopolita, é poeta, pensador e ativista digital de esquerda.
Poema Antifas
Aquele
que comeu por toda a vida
o
pão superfaturado
que
o diabo, mesquinho, amassou,
acabou
com ojeriza.
Já
não come
deita
aos porcos esse pão.
Quer
hoje encerrar o diabo
no
seu forno
a um
safanão...
Desconheço o autor
PENSANDO BEM
Não somos absolutamente
donos de nossos
pensamentos.
Não sabemos pensar.
Somos donos de
nada.
Temos coisa
nenhuma.
A terra
infelizmente
ainda
não é o nosso lar.
Não me tenho
Não te tens.
Somos nada.
Apenas vivemos.
Seguimos em frente
em suposta
iluminada
estrada.
Á volta sabemos que
há gente
iguais a nós.
E campos
montanhas
animais
flores e pedras.
Tem um céu a
atrair-nos
rios e mares sem
fim.
Mas não temos ainda
o caminho.
Só temos o dever de
caminhar.
(Do livro "Acendalhas", de Sersank)