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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

VINTE QUADRAS DO CORAÇÃO



I - Prova de amor

- Se a amo? Ora, amor, perquira
Estes olhos frente aos seus.
Eles dirão se é mentira.
Perquira estes olhos meus!


II - Amante à moda antiga

Teci de amores um leque. 
Fui herói, vilão... Fiz lenda.
Tenho um coração moleque
Que apanha, mas não se emenda...


III - Sedução

Meus olhos são tristes, vagos,
Os teus são vivos, brejeiros...
Que buscam nos meus, aziagos,
Os teus olhos feiticeiros?


IV - Desilusão

Esperança - tolo anseio,
Por que resistes em mim?
Trago ainda a taça ao meio,
Devo sorvê-la até o fim...


V - Reação

Com outro a vi. Fatal dia!
Fez-se de estranha, com charme.
Foi o fim. Mas... Quem diria!
Perdendo-a pude encontrar-me.


VI - Diversidade

Ouço os grilos... Com seus trinos,
Desdenham-me a solidão.
Parece que tangem sinos,
Festejam a escuridão.


VII - Mal de amor

Quem ama, sofre. É o reclame
Do coração que chameja.
Mas, pobre do ser que ame
Quando, em paga, odiado seja!


VIII - Vala comum

Na vida de tudo um pouco
Eu posso dizer que fiz:
Amei, lutei como um louco
E morro, pobre, infeliz...


IX -Amores, amores!...


Ah, o amor dito “proibido”
- Mescla de êxtase e dor!...
Quanto mais é combatido
Mais se obstina esse amor!


X - A imensidade vazia

Nada a dizer, nada a dar-te
No dia em que fazes anos...
Pobre bardo! Fica a olhar-te.
Como dar-te desenganos?


XI - O poeta afaga o cão

Cãozinho amigo, ignoras
As mágoas que coleciono...
Bem está que assim não choras
Se a chorar te afaga o dono...


XII - Senectude

Têm as noites ternos lumes?
Não a minha noite, interna...
Sem astros, sem vaga-lumes...
Em mim dorme um sol que hiberna...


XIII - Suspiro

Ando a pensar: se ouso um verso,
Ou outro, assim, de momento,
Um gênio parvo, adverso,
Os sopra, perverso, ao vento...


XIV - Realidade

Guarda-nos, certa, o futuro
A morte, por termo ao fado.
Mas o que mata, no duro,
O que nos mata é o passado.


XV -Nostálgico

Olho, num velho retrato,
o jovem que me sorri:
tem no ar feliz o recato
da fé que há muito perdi...


XVI - Enquanto o inverno não vem

A arder no peito, mais frio -
sol de outono a declinar -
meu sonho, um sonho tardio,
abre-se agora ao luar!... 


XVII - Tempestade

Sibila o vento. Troveja.
Brusca, a borrasca arrebenta.
E, ao mar da noite, veleja
minh’alma em outra tormenta...


XVIII - Dilema

Triste dilema o do triste
Amante entregue à paixão. 
Se a razão lhe diz – Desiste!
Diz-lhe: - Insiste! – o coração...


XIX - Felicidade

Felicidade – a viela
Que a vida aponta – é ilusão. 
Ao que rasteja, ao fim dela,
A vida aponta a amplidão...



XX - Um brinde, o melhor dos brindes!

Comigo envelhecem sonhos
Que nunca realizarei.
Brindo, pois. Brindo aos meus sonhos.
Brindo à vida que sonhei!



(Do Livro "Estado de Espírito", de Sersank)


(Direitos autorais registrados e protegidos por lei)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

AHINSA




Do livro:  "Estado de Espírito", de Sersank
Direitos protegidos

Desde as eras primitivas 
a Terra se nutre da seiva que expande,
da seiva e do sangue
que expande e recria. 

O sangue de todos os seres, 
transfunde-o nos seres
que a vida, num ciclo incessante, lhe dá...

A Terra é algo assim, 
deusa grega, inclemente, 
devora, em seu dorso, 
faminta, o que há.

Mas farta, no entanto,  
do sangue das guerras, 
farta do homem 
sangrento ela está.

A Terra precisa somente da seiva
que a vida incessante lhe dá...



sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

UMA TROVA NATALINA










Natal! ...  Ó doce alegria
 que a gente exibe tão bem, 
por disfarce à nostalgia 
dos Natais que nunca vêm...






(Do livro "Estado de Espírito", de Sersank)



(Direitos autorais protegidos por lei)




ESTES POEMAS QUE LÊS...











Bem o sei, são fogos-fátuos,
estes meus versos vulgares.
No entanto, talvez, reflitam,
em parte, ao menos, o encanto
dessas cousas singulares,
profundas, cíclicas, breves,
que ao mais insensível dos homens
podem às vezes tocar...

O tronco repleto de orquídeas,
no ermo recanto de um pasto,
sob um lampejo solar...
Acordes de Vivaldi, às estações,
na via de um vilarejo
envolto em franco luar...

Espero, assim, te afugentem
rumores de passos, prantos
de séquitos ancestrais.
Que te amenizem, temores.
Façam-te ver que há poesia
(ainda)  e melhor que esta:
há uma poesia que vibra
acima e à volta, dos homens,
acima e à volta dos crimes 
dos homens, os mais brutais...

Espero, assim, que a lembrar-te
a infância,  a escola, os amores,
cantilenas,  madrigais,
em os guardando, um momento,
os tenhas por teus, não mais.

Bem o sei, são fogos-fátuos.
E a quem importa o destino
que a um livro de versos dês?
São meros torrões de terra
estes poemas que lês...



(Do livro "Estado de Espírito", de Sersank)

sábado, 18 de dezembro de 2010

UMA QUESTÃO COSMOGENÉTICA




        


Debruçaram os milênios
sobre essa atraente questão:
O tempo de vida real da alma terráquea
restringe-se à uma existência e mais nada?
Alteados ao poder da espada
a Bíblia, o Hamurabi e o Alcorão
ressentem-se, nesse ponto, 
da luz,  por mais pardacenta, 
do mais esplendente farol.

Talvez devam também contar-se os anos
por órbitas da nossa galáxia
em torno de Alcíone - o gigantesco sol.
Talvez deva também contar-se o tempo
por órbitas dos universos
em torno de uma Luz, ainda maior, 
que lhes incita à expansão.

Já não se pode duvidar 
que vive para sempre a noss’alma terráquea
na busca incansável de Deus, 
que é nossa causa e razão.


(Do livro "Estado de Espírito", de Sersank)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

ESPERANTO






    O Esperanto – mensageiro 
    De encantados tempos novos  
    Erguerá nações e povos 
    Do campo de lodo e pó. 

    Da Harmonia timoneiro, 
    Que os portos da paz descerra, 
    Libertará toda a Terra, 
    Na glória de um mundo só! 



    Vemo-lo já, no futuro, 
    Fulgente, impávido e forte, 
    Vencendo a miséria e a morte, 
    Luz fraterna em sendas mil! 

    Chave de amor santo e puro, 
    Abrirá caminhos grandes, 
    Do altivo Himalaia aos Andes, 
    Da Cochinchina ao Brasil. 



    Nessa eminência sublime 
    Do mundo regenerado, 
    Não haverá Jove irado, 
    Cujos carros fugirão; 

    Nem Babilônias do crime 
    Bebendo em festins sangrentos, 
    Nem purpúreos paramentos 
    De senhores da ilusão. 



    Seus luzidos estandartes 
    Brilharão no mundo inteiro, 
    Abolindo o cativeiro 
    A que a maldade conduz; 

    Convertendo os Bonapartes 
    Em benfeitores amados, 
    De canhões – forjando arados, 
    De balas – penas de luz! 



    Hífen de sol, religando 
    Os Templos da Humanidade, 
    De grande fraternidade 
    Fazendo virtude e lei; 

    Orgulho triste e nefando, 
    Que torvas guerras produzes, 
    Espadas, fuzis, obuses, 
    Mentiras, trevas – tremei! 



    Na Terra inda há sombra inglória 
    Da noite do mundo velho, 
    Embora seja o Evangelho 
    O Amor que do Alto reluz! 

    No limiar da vitória 
    Das verdades do Infinito, 
    Esperanto! Sê bendito 
    Ao doce olhar de Jesus! 



                  A. Castro Alves  


*Poema psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, na sessão pública do Grupo Espírita “Luiz Gonzaga”, em 26-5-1947. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

CREPUSCULAR



Imagem disponível no Google




Uma folha dispersa,
aos pés do poeta,
de súbito, cai.
Rola e, no vento, 
com outra, esquecida,
folha se vai...

Juntam-se, soltam-se,
prendem-se a outras,
rolam ao vento,
distantes se vão...

Amores da gente
são folhas dispersas
que ao vento se dão.

...  Vai-se o poeta
- as cãs, já grisalhas -
pensando bobagens
do seu coração....  

Do Livro "Estado de Espírito", de Sersank


Direitos autorais protegidos por lei. 



quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

BILHETE A UM PUSILÂNIME

Poema direcionado às pessoas
que em busca de alguma evidência
comprazem-se
em rasgar sedas inúteis, mutuamente.
sem nada a acrescentar de inteligência.








Imagem do google:



Disfarça o teu querer pisando firme!
Esconde a tua incúria abrindo o riso!
Quem poderá saber que és parvo, se bajulas?
Jamais alguém fará de ti tão mau juízo...



(Do livro de Sersank)