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quinta-feira, 5 de outubro de 2023

REFLEXÕES SOBRE A QUESTÃO DO ABORTO

 


Recentemente, a ex-Ministra Rosa Weber, na condição de relatora do processo que versa sobre o tema, de forma até corajosa, exarou antes de aposentar-se, o seu último voto no STF, com o qual deixou patente a firmeza de suas convicções pela descriminalização do aborto, no Brasil. O processo segue em curso. O tema é complexo, razão pela qual, resolvemos trazer aqui algumas reflexões.

Primeiramente coloco aqui um dos mais comoventes poemas que já li a respeito do aborto. 

Depois incluo outras considerações e argumentos de peso.

 

EU, O ASSASSINO

 

Um duplo assassino sou.

Quando minha esposa veio pela primeira vez e me disse,

eu de pronto respondi:

vai, desfaça-se dele!

De fato não poderíamos sustentá-lo se ele nascesse...

Ela ausentou-se e se livrou dele.

 

Longo tempo depois ela ficou em silêncio, melancólica.

Eu também.

Quando pela segunda vez a mesma coisa aconteceu,

por longo tempo conversamos a respeito.

De comum acordo decidimos interromper a vida do ser em gestação.

Porque se ele nascesse...

Pálida, ela saiu.

 

Quase desfalecido eu a conduzi de carro até nossa casa.

Novamente conversamos sobre ele, sobre eles.

Lamentamos.

 

Desde então, frequentemente, nós pensamos neles.

O que teria acontecido, se entretanto...?

Qual deles teria crescido,

desde os três primeiros quilogramas, aos de uma pessoa adulta?

 

Será que ambos seriam rapazes,

ou apenas um deles rapaz, o outro uma jovenzinha?

De olhos verdes, cabelos loiros ou castanhos?

 

De noite, frequentemente não durmo.

Fico estirado no leito, os olhos profundamente imersos na escuridão.

 

Lá fora o vento balouça as folhagens.

Em mim a terrível incerteza para sempre inapagável:

O que estariam me perguntando,

passados cinco anos, como acariciariam meu rosto? 

Teriam vindo chorar em torno do meu leito, ultimamente?

 

Que bom seria deslizar os meus dedos entre os cabelos do rapaz,

atravessar a nado o rio com a mocinha,

jogar bola com eles,

mostrá-los um ninho de melro no alto da árvore,

dourarmo-nos sob o sol.

 

Deitado, tenho os olhos ressequidos.

Ao meu lado, ela dorme.

Me ama. Também a amo muito.

O tempo passa, afasta de nós estes dois seres extintos.

 

Sua morte liberou-me de um grande temor.

Agora, penso que seria bom se eles estivessem vivos.

Se estivessem ressonando ali no outro quarto.

Naquele quarto que para sempre ficou vazio.

 

O vento corre pelo jardim.

Está frio.

Está muito frio.

István Nemere, renomado e profícuo escritor húngaro

 (Teksto orignale verkita en Esperanto kaj publikigita en la Revuo “Hungara Vivo” N-ro 5 – 1977)

El Esperanto tradukis Sergio de Sersank

 

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István Nemere

Criador: Czimbal Gyula | Crédito: MTI/MTVA

Direitos autorais: MTVA - Médiaszolgáltatás-támogató és Vagyonkezelő Alap

 

 

https://sezonoj.ru/2020/01/nemere/

https://www.google.com/search?q=istvan+nemere%2C+mi+la+murdisto&rlz=1C1CHBF_pt-BRBR912BR912&oq=&aqs=chrome.0.69i59i450l8.32823816j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8#vhid=HC_DcKFYrGTTYM&vssid=l&ip=1

 

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Texto original em Esperanto

 

MI, LA MURDISTO

István Nemere

Fama kaj produktema hungara verkisto

 

Duobla murdisto mi estas.

Kiam mia edzino lu unuan fojon venis al mi kaj diris,

mi tuj respondis:  

Iru, forigu ĝin!

Ja ni ne povus vin vivteni se ĝi naskiĝus...

Ŝi iris kaj forigis ĝin.

 

Longe poste ŝi estis silentema, senhumora.

Ankaŭ mi.

Kiam duafoje okazis la samo,

longe ni paroladis pri tio.

Kune ni decidis mortigi lin.

Ĉar se li naskiĝus…

Pala ŝi foriris.

 

Duonsvenintan mi veturigis ŝi hejmen.

Denove ni parolis pri li, pri ili.

Ni bedaŭris.

 

Ekde tiam ofte mi pensas pri ili.

Kio estus okazinta, se tamen?

Kiu el ili estus kreskinta

el trikilograma hometo al granda viro?

 

Ĉu ambaŭ estos knaboj,

aŭ nur unu el ili knabo, la alia knabino?

Verdokulaj, blondaj aŭ brunharaj?

 

Nokte, ofte mi ne dormas.

Mi kuŝas kun okuloj larĝe rigardantaj la malhelon.

 

Ekstere vento kuradas de foliaro al foliaro.

En mi la terura malcerteco, jam neniam forigebla:

Kion ili estus demanditajn post kvin jaroj,

kiel ili karesus mian vizaĝon,

ĉu ili estus plorontaj ĉirkaŭ mia lito, lastatage?

 

Bone estus fingre kombi inter la haroj de la knabo,

tranaĝi la riveron kun la knabino,

pilkludi,

montri al ili la neston de merlo surarbe,

bruniĝi sub la suno...

 

Mi kuŝas, sekokule.

Apude dormas ŝi.

Amas min. Kaj mi – ŝin.

La tempo pasas, malproksimigas de ni tiuj du mortuloj.

 

Ilia morto liberigas min de timego.

Nun, tamen, estus bone, se ili vivus.

Se ili snufus tie, en la dua ĉambro.

En ĉambro jam por ĉiam malplena.

 

Vento kuradas en la ĝardeno.

Estas malvarme.

Tre malvarme.

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"A legalização é apenas um aspecto, conjunturalmente importante, de um processo mais amplo de luta contra uma sociedade organizada sobre o aborto social de seus filhos e filhas. Uma sociedade que não tem condições objetivas de dar emprego, saúde, moradia, escolas é uma sociedade abortiva. Uma sociedade que obriga as mulheres a escolherem entre a permanência no trabalho ou a interrupção da gravidez é abortiva. Uma sociedade que silencia a responsabilidade dos homens e apenas culpabiliza as mulheres, desrespeita seus corpos e sua história, é uma sociedade excludente, sexista e abortiva."

Ivone Gebara, freira católica, teóloga e filósofa

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Allan Kardec – “O Livro dos Espíritos” – Q. 136, (a)

“... Antes do nascimento, ainda não há união definitiva entre a alma e o corpo; enquanto que, depois dessa união se houver estabelecido, a morte do corpo rompe os laços que o prendem à alma e esta o abandona. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica.” 

Allan Kardec – “O livro dos Espíritos” – Q. 344

 “A união entre alma e corpo começa na concepção, mas só é completa por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por uma laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até ao instante em que a criança vê a luz. (...)”

Allan Kardec – “O Livro dos Espíritos” – Q. 358

Pergunta: “Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?”

“Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando.”

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"A mulher é sempre dona de seu corpo e detentora de livre-arbítrio quando pratica o ato sexual com a pessoa que ama, conhecendo, inclusive, o risco de engravidar-se. A gravidez é, pois, consequência de um ato livre. Somente a partir daí o problema genético deixa de ser seu, mas da Natureza de que ela é  partícipe e, portanto, de Deus. Ela é senhora, sim, de seu corpo, mas nunca da vida que permitiu desabrochasse em seu ventre."

 Inaldo Lacerda Lima, poeta, escritor e tradutor

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https://www.youtube.com/watch?v=ysolG_v16FM

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O voto da Ministra Rosa Weber

https://www.google.com/search?q=O+voto+de+Rosa+Weber+sobre+a+descriminaliza%C3%A7%C3%A3o+do+aborto&rlz=1C1CHBF_pt-BRBR912BR912&oq=o+vo&aqs=chrome.0.69i59j46i433i512j69i57j0i131i433i512j0i512l2j46i512j0i512j46i512j69i64.5828j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8#fpstate=ive&vld=cid:858e5ccf,vid:iVdaUk6S-28,st:0


https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=514619&ori=1#:~:text=A%20ministra%20Rosa%20Weber%2C%20presidente,primeiras%2012%20semanas%20de%20gesta%C3%A7%C3%A3o.

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Poesia rude e sincera sobre o aborto

 


Imagem reproduzida da Internet

Gabriela Prado

 

 

Eu quero poder escolher entre gerar uma criança em meu ventre

e não dar chance ao feto de crescer dentro de mim.

Eu quero ter a opção de abortar.

Eu quero decidir o que fazer com o meu corpo.

Eu quero poder escolher entre ser mãe e continuar sendo mulher mesmo assim.

Eu quero que parem de importar que eu tenha que gerar um bebê.

Quero ter a liberdade para decidir o que vai sair da minha vagina

e não quero ser julgado caso eu diga “não” à gravidez.

Eu quero poder tomar minhas decisões baseadas em meus princípios

e não no que os outros pensarão de mim.

Eu quero que as manas possam ser elas mesmas sem precisar provar algo

para uma sociedade que só nos massacra com suas hipocrisias.

Eu quero que minha vizinha não seja julgada por ser mãe solteira

e também não quero que a mulher do carteiro seja rotulada como “desnaturada”

por não querer gerar um filho.

Eu quero mais amor e mais liberdade.

Quero que a justiça entenda que precisamos ser livres.

Eu quero viver

sem ter que colocar outra vida no mundo.

Eu quero decidir se você não será mãe.

Eu quero decidir.

Sozinha.

Eu só quero poder abortar caso eu não queira ter um filho.

E eu quero respeito por decidir o que fazer com minha própria vida.

Meu corpo, minhas regras.

Se não é seu corpo, o que isso importa?

Minha poesia para sua hipocrisia,

que talvez tenha se tornado um monólogo,

mas com a intenção de avisar que

no meu corpo mando eu.

Apenas.

Eu só quero ter uma opção de ter opções.

Quero que entendam que eu preciso escolher

e determinar o melhor para mim.

Eu quero decidir.

 

 

Esta poesia faz parte da Virada Pela Legalização do Aborto que ocorrerá entre os dias 26, 27 e 28 de setembro, promovida pela rede Ativismo de Sofá e pela Frente Nacional Pela Legalização do Aborto . Acompanhe tudo sobre pela #PrecisamosFalarSobreAborto24H nas redes sociais.

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