Páginas

sábado, 22 de outubro de 2011

DESAFOGO

Catulo da Paixão Cearense



 (Poema humorístico, em memória de Catullo da Paixão Cearense)



O mundo, agora, é concreto,
não tem luar, nem seresta.
Amar virou palavrão...
 Hoje em dia, camarada,
poesia é uma charada,
o poeta um charlatão.

Seus versos –  termos dispersos –
não têm ritmo ou cadência.
Se lhes sobra inteligência,
ressentem-se de emoção.

Aplaudem-nos, acadêmicos,
como linguagem de escol.
          E a eles, horas a fio,
dedicam-se. É um desafio...
          Que tempo “chove-não-molha”!
          Que dias de insosso sol!

Será que uma vez na vida
essa gente esclarecida
parou pra ver a alvorada,
as aves em revoada,
o campo, sob o arrebol?

Poeta de hoje, a contento,
não dá azo a sentimento,
não provoca frenesi.
Cultiva a verve sistêmica;
está mais para a polêmica
do que para a arte em si.

Já não escreve, “digita”.
Não sofre.  Não explicita
o que propõe-se a escrever.
São-lhe madrastas as musas,
e suas odes, confusas,
só louco as pode entender...

(Da coletânea "Estado de Espírito", de Sersank)

(Direitos autorais registrados e protegidos)

2 comentários:

  1. Sobre o poema “DESAFOGO”


    De Rosa Maria J.Fagotti
    rj.fagotti@yahoo.com.br




    Boa noite, meu amigo.
    Vai um verso, confirmando a tua poesia"DESAFOGO":

    Os versos que hoje leio,tão ausentes de desejo,emoção.
    Não expressam os anseios, nem tocam o coração.
    São tão frios como lápides, coisas desta geração.

    Nicéia Fagotti
    13-¬¬11-¬2011

    ResponderExcluir