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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

INTERLÚDIO




Banco de imagens do Google:

(Poema para meu filho)



Inesperadamente,
o Titanic encontra à frente um icebergue.
Em descontrole,
já não irá manter-se à superfície.

Um belo, terrível dia,
a arma do bandido está no rosto,
o câncer em metástase no fígado:
és tu..

A sensação do astronauta -
a nave ingovernável no infinito:
és tu.
Irremediavelmente, um dia
- espada de Dâmocles, solta –
um bloco de velho edifício
cairá sobre a cabeça do transeunte.

És tu como seria qualquer outro
no espaço-tempo crucial.
O pedestre atropelado.
O alvo da bala perdida.
O nome na lista terrível
de passageiros do vôo fatal.

Mas, não te furtes ao dever que temos
de acreditar em nós mesmos,
de traçar nosso destino.
É tudo efêmero, tudo,
exceto a Vida. Que a Vida
expande-se a eflúvios de amor, eternos
da Grande Consciência
a que chamamos – Deus.

Como a criança que toma a avezinha ferida
e, após reanimá-la, lhe devolve o vôo,
alguém há de surgir
e é o que fará contigo.

Não há - diz minúscula estrela
no zênite a pulsar, furtiva,
a esteira intérmina do Nada
o abismo da noite infinda.

Como não há calabouços
de pedras intransponíveis,
aos raros homens despertos
que se sabem livres.

(Do livro de Sersank "Estado de Espírito")

(Direitos autorais registrados e protegidos por lei)

sábado, 18 de setembro de 2010

UM ALERTA AOS GOVERNANTES




Imagem:


(Poema de solidariedade ao MST - Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra)


Ei-los, Senhores, dispersos,
Sob lajes e viadutos,
Quase mendigos, matutos,
Vivem a esmo, sem lar...
Consigo levam  crianças,
Mulheres e anciãos.
Vede, têm marcas nas mãos
Da sina de trabalhar!

Por sítios, os mais distantes,
Erram prestando serviços.
São modestos, submissos,
Provados nas aflições.
A suor e lágrima regam
nossos prados verdejantes.
Vede que têm nos semblantes
Sulcos de mil privações...

Parias - que sejam - não querem
De vis esmolas viver:
Sabem lutar e sofrer.
A vida os talhou assim.
Deles fez - homens valentes,
Firmes na fé. Deu-lhes brio
Para arrostar fome e frio
Dias e noites sem fim.

Vede: por certo divagam
Pensando o incerto amanhã:
O lar - sua Canaã -
A roça... alguns animais...
À vida simples do campo,
Por tesouros, desencavam
Os sonhos que acalentavam
Seus pais e os pais de seus pais...

Em grave êxodo urbano
Estão por todo o país.
Se a elite, avara, os maldiz,
Materna, a terra, os atrai.
Unidos nas suas dores
Só desejam, na verdade,
Viver com dignidade.
Não os temeis? - Pois, temai!

Temai, se deteis a posse
De terras improdutivas,
Porque hão de fazê-las, vivas,
Medrar ao poder da enxada!

Temai-los, porquanto esperam,
Já com fúria incendiária,
Por essa "reforma agrária"
Prometida e postergada.

Vede que ganham a estrada,
Se agrupam, se fortalecem.
Seus ímpetos recrudescem
Num movimento maior.
E é então que, sob um comando
Ousado em suas ações,
Preparam as invasões
E esperam pelo pior.

 Se, rechaçados, reagem,
Estrugem as carabinas
E o sangue dessas chacinas
Mancha a terra. Faz história.
Vede que levam crianças,
Mulheres e anciãos.
Todos têm marcas nas mãos -
As marcas da lide inglória...

Vede: não mais se dispersam 
Pensando o incerto amanhã:
Querem sua Canaã...
Força nenhuma os retrai!
Em grave êxodo urbano
Estão por todo o país.
Tirana, a elite os maldiz.
Materna, a terra os atrai!

(Do livro de Sersank, "Estado de Espírito")










quarta-feira, 8 de setembro de 2010

CONCLAVE




 
- Depois de outro dia findo
como página reescrita
que se exclui por trivial,
de que resulta, minguado,
o tosco pão, macerado
a lágrima etílica e sal,

repensemos: já são tantos
os que morreram sem voz...
Se os pobres, se os miseráveis
do mundo inteiro se unissem,
bradassem, alto, seus ais...
Não demoramos demais?

- Quimera! Pura tolice!
Se os pobres, parvos, se unissem!...
Mais nada, certo, fariam
que excitar a crueldade
dos maus patrões patriarcais
(que bem fácil mobilizam
contingentes policiais) ...

- Despertemos do sono dos justos,
injustiçados irmãos!
Os pobres derrubam reinos
se a fome lhes rouba o sono!

- E os reconstroem depressa,
porquanto precisam deles.
Não dominam a si mesmos,
vivem da submissão!

- ... Mas, em nome desse sonho
sob os nossos travesseiros...

-... Seta que aponta o sol posto
a loucos e aventureiros!...

- Compartilhemos a vida,
que nos escorre das mãos!
Façamo-la, então, mais bela!
Unamos nossos esforços
no escopo da educação!
Comecemos por nós mesmos,
a grande Revolução!

- ...


(Do livrro de Sersank, "Estado de Espírito")


Imagem:


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

NA HORA DO DESESPERO









Na hora do desespero
treme o facínora e, tíbio,
lambe o sangue da navalha
que traz o oponente à mão;
Calígulas assombrados -
em trajes comuns, soturnos,
sanguinolentos caudilhos,
ex-monarcas, ex-tiranos -
se ocultam na multidão.


Na hora do desespero,
aristocratas da guerra,
como porcos (e é o que são),
chafurdam na lama podre
que lançaram sobre o chão.


Fingem ser apenas homens.
Convencem, mesmo aos mais sábios
que apenas humanos são.
Na hora do desespero,
carrascos, pedem perdão.


Num átimo, recompostos,
de volta ao “dolce far niente”,
mefistofelicamente,
já não disfarçam nos lábios
o esgar da dominação.

... Crêem-se mais do que homens,
reconduzidos aos postos,
de guias da multidão.


(Do Livro de Sersank, "Estado de Espírito")

Imagem:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZdhS7CfhI4cBrk7R2SL2YjSMpE3bSoruziA4taTYM1-VUdmCis7XvB63aPOyWibdbDvwtzRuedcMOV0SVrqTo5-0RJRfiybBAz2vbaUIFIVstin8iF58FIeMY58A7kZhoi5Z7jqnit4A/s1600/CAL%C3%8DGULA+1.jpg