Os rubaiyát's do poeta persa Omar Khayyam
Omar Khayyam
BIOGRAFIA
Ghiyath
al-Din Abu'l-Fath Umar ibn Ibrahim Al-Nishapuri al-Khayyam, ou simplesmente, Omar Khayyam nasceu
e morreu em Nishapur, província de Khorassan, na Pérsia (c.1050-c.1123).
Importante astrônomo, matemático e pensador em sua época, chegou a nós como
poeta. Escreveu centenas de poemas em forma de quadras, chamados
"Rubaiyat". Exprimiu-se em poesias breves e satíricas. Nada negou nem
afirmou, apenas gozou o presente e colheu os frutos da vida ao sabor do vinho e
de todas as cores, ou vindo o som do alaúde, sentindo o perfume das rosas e
acariciando os seios cor de neve de uma bela mulher... Seu hedonismo, só depois
de seis séculos, chegou ao Ocidente, e tornou-se o poeta persa um dos autores
mais populares do mundo. Sua poesia, universal, sobreviveu ao passar dos anos e
às diversas traduções. Há qualquer coisa de intrigante e misteriosa no fato de que
os leitores de uma era eletrônica e globalizada se deliciem com esta poesia
simples e intemporal.
Omar Khayyam, no livro "Rubaiyat".
[Prefácio e Tradução Manuel Bandeira/
a partir da Tradução francesa de Franz Toussaint; texto orelhas Affonso
Romano de Sant'Anna]. 3ª ed., Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
- 1 -
Sabem todos que nunca
Murmurei uma prece.
Sabem todos que nunca
Escondi meus pecados.
Ignoro se realmente
Existe uma Justiça
E uma Misericórdia.
Nada temo no entanto.
Nada temo. Antes nelas,
Se é que existem, confia
Minh'alma, porque sempre
Fui um homem sincero.
§§
- 2 -
O que é melhor? Sentarmo-nos
Numa taverna e o exame
De consciência fazermos,
Ou bem numa mesquita
Prosternarmo-nos de alma
Fechada? Não me inquieta
Saber se um Senhor temos
E o que fará de mim.
§§
- 3 -
Olha com indulgência os homens
Que se embriagam. Dize que tens
Outros defeitos. Se quiseres
Ter a paz, a serenidade,
Volta-te para os deserdados
Da existência, para os humildes
Que sob o peso do infortúnio
Gemem, e sentir-te-ás feliz.
§§
- 4 -
Procede sempre de maneira
Que de tua sabedoria
Nunca sofra o teu semelhante.
Domina-te. Jamais te entregues
À ira. Se queres chegar
Um dia à paz definitiva,
Sorri aos golpes do Destino
E nunca batas em ninguém.
§§
- 5 -
Uma vez que se ignora o que é que nos reserva
O dia de amanhã, busca ser feliz hoje.
Vai sentar-te ao luar e bebe. Pois talvez
Não vivas mais quando amanhã voltar a lua.
§§
- 6 -
Alcorão, o livro supremo,
É lido às vezes pelos homens.
Mas que homem na leitura dele
Se deleita todos os dias?
Repara: há nas bordas das copas
Gravada uma secreta máxima
Que todos somos obrigados
A compreender e saborear.
§§
- 7 -
Nosso tesouro? O vinho.
O palácio? A taverna.
E os fiéis companheiros?
O vinho e a embriaguez.
Ignoramos o medo,
Pois sabemos que nossos
Corações, nossas almas,
Nossas copas e nossas
Roupas enodoadas
Pelas bebidas, nada,
Nada podem temer
Do pó, da água, do fogo.
§§
- 8 -
Satisfaze-te neste mundo
Com poucos amigos. Não busques
Tornar durável a amizade
Que possas sentir por alguém.
Antes de apertares na tua
A mão que te estendem, pergunta
A ti mesmo se ela algum dia
Não se erguerá para ferir-te.
§§
- 9 -
Outrora era este vaso um pobre
Amante que da indiferença
De uma mulher gemia. A asa
No gargalo... o braço a enlaçá-la.
§§
- 10 -
Vil coração que amar não sabes,
De amor não podes te embriagar!
Se não amas, como apreciares
O fulvo sol, o doce luar?
§§
- 11 -
Estou sentido que hoje
Meus anos reflorescem.
Vinho! Vinho! Que as chamas
Dele me abrasem... Vinho!
Não importa qual seja...
Pois qualquer um, o melhor,
Parecer-me-á, acredita,
Amargo como a vida.
§§
- 12 -
Nenhum poder sobre o destino
Te foi dado, sabes. Portanto
Que adianta a ansiedade em que ficas
Pela incerteza do amanhã?
Então, se és um sábio, procura
Tirar do momento presente
O maior proveito possível.
O futuro o que te trará?
§§
- 13 -
Chegada é a estação inefável,
A estação da esperança, quando,
Impacientes por expandir-se,
Buscam as almas a aromada
Solidão. Cada flor que cheira
Será a branca mão de Moisés?
Será cada brisa que sobra
O doce hálito de Jesus?
§§
- 14 -
Não anda firme em seu caminho
O homem que não colheu o fruto
Da verdade. Se conseguir,
Porém, da árvore da Ciência
Arrebatá-lo, saberá
Que passado e futuro em nada
Diferem daquele enganoso
Primeiro dia da Criação.
§§
- 15 -
Além da Terra e do Infinito
Eu procurava o Céu e o Inferno.
Mas uma voz solene disse-me:
– "Procura-os dentro de ti mesmo."
§§
- 16 -
Nada mais me interessa. Ergue-te,
Traz-me vinho! Amiga, esta noite
Tua boca amorável é a
Mais bela rosa do Universo.
Vinho! Vinho vermelho como
Tuas faces! E que os meus remorsos
Sejam leves, leves, tão leves
Como os cachos dos teus cabelos!
§§
- 17 -
A viração da primavera
Refresca as pétalas das rosas,
E na sombra azul do jardim
Beija as faces da minha amada.
Apesar da felicidade
Que gozamos outrora, esqueço
O passado. A doçura de hoje
É, querida, tão imperiosa!
§§
- 18 -
Por quanto tempo ainda encherás
De pedras o oceano? Não tenho
Senão o máximo desprezo
Por devotos e libertinos.
Vais para o Céu? Vais para o Inferno,
Khayyam? Quem poderá dizê-lo?
Sabes de alguém que tenha visto
Essas regiões desconhecidas?
§§
- 19 -
Bebedor, urna imensa, ignoro
Quem te modelou. Sei apenas
Que podes conter muito vinho
E a Morte quebrar-te-á um dia.
Então procurarei saber
Por que razão foste criado,
Por que razão foste feliz,
Por que não serás mais que pó.
§§
- 20 -
Mais rápidos que a água do rio,
Que o vento do deserto, escoam-se
Os dias. Dois não me interessam:
São o de ontem e o de amanhã.
§§
- 21 -
Não posso evocar o dia
Do meu nascimento, nem
Dizer quando morrerei.
Que homem saberá fazê-lo?
Vem, minha amada! À embriaguez
Quero pedir que me faça
Esquecer que neste mundo
Jamais saberemos de nada.
§§
- 22 -
Khayyanm que cosia as tendas
Da Sabedoria, foi,
Caindo da dor no fogo,
Reduzido a cinza. Então
O anjo Azrael cortou as cordas
Da tenda dele. Depois
A glória de Khayyam vendeu-a
À Morte por uma canção
§§
- 23 -
É inútil, Khayyam, penares
Por teres pecado tanto.
Depois da morte só existe
O nada ou a Misericórdia.
§§
- 24 -
Nos conventos, nas sinagogas
E nas mesquitas é costume
Irem refugiar-se os fracos
Que a ideia do Inferno apavora.
O homem que conhece a grandeza
De Deus não acolhe em sua alma
As sementes más do terror
E da imploração lamentosa.
§§
- 25 -
Na primavera vou, às vezes,
Sentar-me num campo florido.
E se uma bela rapariga
Vem trazer-me um copo de vinho,
Não penso em minha salvação
No outro mundo. Se me deixasse
Dominar por esse cuidado,
Valeria menos que um cão.
§§
- 26 -
O vasto mundo: apenas
Grão de poeira no espaço.
Toda a ciência dos homens:
Só palavras, palavras.
Povos, animais, flores
Dos sete climas: sombras.
Resultado de toda
Tua meditação: nada.
§§
- 27 -
Admitamos que tenhas
Resolvido o difícil
Enigma da Criação.
Qual será o teu destino?
Admitamos que tenhas
Conseguido afinal
Desvendar a Verdade.
Qual será o teu destino?
Admitamos que tenhas
Sido feliz cem anos,
E outros cem ainda o desejas.
Qual será o teu destino?
§§
- 28 -
Convence-te disto:
Um dia tua alma
Deixará teu corpo
E serás lançado
Para trás do véu
Que há flutuando sempre
Entre este Universo
E o desconhecido.
Enquanto esse dia
Não chega, procura
Ser feliz. Esquece
Todo outro cuidado.
Pois não sabes de onde
Vens, tampouco sabes
Para onde irás
Depois de tua morte.
§§
- 29 -
Os doutores e os sábios mais ilustres
Caminharam nas trevas da ignorância.
O que não impediu que em vida fossem
Tido por luminares de seu tempo.
Que fizeram? Pronunciaram
Algumas frases confusas
E depois adormeceram
Para toda a eternidade.
§§
- 30 -
Pediu-me o coração: "Quero
saber,
Quero instruir-me! Ensina-me Khayyam,
Tu que durante a tua vida inteira
Tanto tens estudado e
trabalhado"
Disse a primeira letra do alfabeto,
E logo, pressuroso, o coração
Secundou: "Sei agora, um é o
primeiro
Algarismo de um número sem fim".
§§
- 31 -
Ninguém pode compreender
O que é mistério, ninguém
Pode ver o que se esconde
Debaixo das aparências.
Nossas casas, salvo a última
– A terra, são provisórias.
Amigo, bebe o teu vinho!
Trégua às palavras supérfluas!
§§
- 32 -
Vida, jogo monótono
Em que só se está certo
De ganhar duas coisas:
Uma, a dor; a outra, a morte.
Feliz o que expirou
No dia em que nasceu
Mais feliz ainda quem
Não chegou a nascer!
§§
- 33 -
Nesta feira que tu atravessas
Nunca tentes fazer amigo,
Nem busques abrigo seguro.
Acolhe a dor sem procurares
Remédio: não o encontrarias.
Sorri em face do infortúnio.
Não esperes que te sorriam,
Pois seria tempo perdido.
§§
- 34 -
A Roda gira, descuidosa
Dos árduos cálculos dos sábios.
Renuncia aos teus esforços
De seguir o curso dos astros.
Mais sábio é meditares sobre
Esta certeza: morrerás
E não sonharás mais, e os vermes
Ou os cães, comerão teu cadáver.
§§
- 35 -
Eu estava com sono, quando
A Sabedoria me disse:
As rosas da felicidade
Não perfumam jamais teu sono;
Em lugar de te abandonares
Nos braços desse irmão da Morte,
Bebe vinho! Para dormir
Terás, sabes, a eternidade.
§§
- 36 -
O Criador do Universo e das estrelas
Superou-se a si mesmo ao criar a dor!
Bocas como rubis e cabeleiras
Embalsamadas, quantas sois na Terra!
§§
- 37 -
Não posso divisar o céu:
Tenho os olhos rasos de lágrimas!
As fogueiras do Inferno são
Uma centelha pequenina,
Pequenina, quando as comparo
A estas chamas devoradoras
Em que ardo todo. O Paraíso
Para mim é um instante de paz.
§§
- 38 -
Sono sobre a terra
Sono sob a terra.
Sobre e sobre a terra
Corpos estendidos.
Nada em toda parte.
Deserto do nada.
Homens vêm chegando.
Outros vão partindo.
§§
- 39 -
Velho mundo que és percorrido
A galope pelo cavalo
Branco e negro do dia e da noite,
És o triste palácio aonde
Cem Djemchids sonhando de glória,
Cem Bahrams sonhando de amor
Estiveram adormecidos
E despertaram soluçando.
§§
- 40 -
O vento sul veio fanar a rosa
Cuja beleza os rouxinóis cantavam.
Choraremos por ela ou por nós? Mortos
Nós, outras rosas desabrocharão.
§§
- 41 -
Ontem devias ser recompensado e não o
foste.
Mas não deplores nada, nem esperes
coisa alguma.
O que te deve acontecer está escrito
no Livro
Que ao acaso vai folheando o vento da
Eternidade.
§§
- 42 -
Quando eu ouço falar em
bem-aventuranças
Noutra vida, respondo apenas:
"Só no vinho
Posso confiar. Dinheiro à vista e não
promessa!
O ruído do tambor só me agrada à
distância..."
§§
- 43 -
Bebe vinho! Receberás
Com ele a vida eterna. Vinho!
Único filtro que te pode
Restituir a mocidade.
Mocidade! A estação divina
Das rosas e dos vinhos e dos
Amigos sinceros! Desfruta
Esse instante fugaz que é a vida.
§§
- 44 -
Amigo, bebe vinho. Dormirás
Um dia para sempre sob a terra
Sem mulher nem amigo. Ouve um
segredo:
Não reflorescem as tulipas murchas.
§§
- 45 -
Em voz baixa dizia a argila
Ao oleiro que a modelava:
"Já fui como tu, não te
esqueças...
Portanto não me brutalizes!"
§§
- 46 -
Se és perspicaz, oleiro, evita
machucar
A argila com que Adão foi modelado!
Vejo
Em teu torno sofrer a mão de Feridum,
Oleiro, o coração de Khosru... Que
fizeste.
§§
- 47 -
A cor da papoula provém
Do sangue de um rei enterrado.
Nasce a violeta do sinal
Do rosto de um adolescente.
§§
- 48 -
Há milhares de séculos
Há auroras e crepúsculos
Há milhares de séculos
Giram no céu os astros.
Pisa pois com cautela
A terra: este torrão
Porventura o olho lânguido
Foi de um adolescente.
§§
- 49 -
As raízes deste narciso
Que treme à beira do regato,
Tiram seiva talvez dos lábios
Decomposto de uma mulher.
Pisa de mansinho na relva!
Ela pode ter germinado
Das cinzas de faces que tinham
O brilho das papoulas rubras!
§§
- 50 -
Vi ontem sentado um oleiro
Modelando os flancos de um vaso;
Fora a argila que ele amassava
Crânios de reis, mãos de mendigos...
§§
- 51 -
Disputam o bem e o mal
A primazia na terra.
O Céu não é responsável
Pelas voltas do destino.
Não agradeças portanto
Ao Céu, nem tampouco o acuses...
O Céu é indiferente
A tuas dores e alegrias.
§§
- 52 -
Se em teu coração
Enxertaste a rosa
Do Amor, tua vida
Não passou inútil.
Quer a voz de Deus
Ouvir procurasses,
Ou a taça brandisses
Sorrindo ao prazer.
§§
- 53 -
Viajor, cuidado! A estrada que
palmilhas
É perigoso; o gládio do Destino,
Afiado. Deparando amêndoas doces,
Não as queiras colher; são venenosas.
§§
- 54 -
Um jardim, uma mulher, vinho,
Meu desejo e minha amargura:
Eis o meu Céu e o meu Inferno.
Mas quem já viu o Céu e o Inferno?
§§
- 55 -
Tu, cuja face humilha
A rosa silvestre; tu,
Cujo rosto semelha
Um ídolo chinês;
Sabes que teu olhar
Tornou o rei babilônio
Um bispo xadrez
Que foge da rainha?
§§
- 56 -
A vida escoa-se... Que é feito
De Bagade e Balk? O menor
Choque pode esfolhar a rosa
Demasiado desabrochada.
Por isso ouve este meu conselho:
Bebe vinho e contempla a lua
Lembrando as civilizações
Que ela viu desaparecerem.
§§
- 57 -
Escuta o que a Sabedoria
Está a dizer-te o dia inteiro:
"Nada tens de comum com as plantas,
Que rebrotam quando podadas."
§§
- 58 -
Retóricos os sábios
Morreram sem chegar
À conclusão nenhuma
Sobre o ser e o não-ser.
Nós, ignaros, bebamos
O bom suco das uvas,
Deixando aos grandes homens
O regalo das passas.
§§
- 59 -
Nenhum proveito trouxe ao Universo o
meu
Nascimento. Não o mudará na
imensidade
Nem no esplendor a minha morte. Quem
me explica
Por que vim a este mundo e hei de um
dia ir-me embora?
§§
- 60 -
Cairemos na estrada do Amor
E o Destino nos pisará.
Ergue-te, moça, ó linda taça!
Beija-me antes que eu seja pó.
§§
- 61 -
Só conhecemos da ventura o nome.
Nosso mais velho amigo é o vinho novo
Afaga o único bem do sangue dos
vinhedos.
§§
- 62 -
O paço de Bahram
É hoje abrigo das corças.
Feros leões vagueiam
No parque, ora deserto.
Bahram, que capturava
Os onagros selvagens,
Dorme hoje sob um cômoro
Onde pastam os asnos.
§§
- 63 -
Ah, não procures a felicidade!
A vida dura o tempo de um suspiro.
Djemchid e Kai-Kobad hoje são poeira.
A vida é um sonho; o mundo, uma miragem.
§§
- 64 -
Senta-te e bebe: uma ventura
Que Mahmud jamais conheceu.
Ouve: os cânticos dos amantes
São os veros salmos de Davi.
Não te mergulhes no passado
Nem no porvir. Teu pensamento
Não vá além do presente instante!
Este é que é o segredo da paz.
§§
- 65 -
Os homens estreitos ou orgulhosos
Fazem distinção entre a alma e o
corpo.
Eu afirmo apenas que o vinho acaba
Com as preocupações e nós dá o
sossego.
§§
- 66 -
Que enigma estes astros que giram no
espaço!
Cautela, Khayyam, com a vertigem que
em torno
De ti faz caírem os teus
companheiros!
Agarra-te à corda da Sabedoria.
§§
- 67 -
Não temo a morte. prefiro,
Irmãos, esse inelutável
Ao outro imposto ao nascermos.
O que é a vida afinal?
Um bem que me foi confiado
Sem o meu consentimento
E que eu com indiferença
Restituirei um dia.
§§
- 68 -
A vida passa, caravana rápida!
Sofreia o animal, busca ser feliz.
Por que estás triste, rapariga? Vamos
Dá-me vinho, que a noite já vem
perto.
§§
- 69 -
Ouço dizer que os amantes
Do vinho vão para o Inferno.
Não há verdades na vida,
Mas há evidentes mentiras.
Se porventura os amantes
Do amor e do vinho vão
Para o Inferno, então vazio
Deve estar o Paraíso.
§§
- 70 -
Estou velho. Minha paixão
Por ti conduz-me à sepultura,
Pois não cesso de encher de vinho
De tâmara esta grande copa.
Minha paixão por ti levou
De vencida a minha razão.
E o tempo esflora sem piedade
A bela rosa que eu possuía.
§§
- 71 -
Podes perseguir-me incessante,
Ó imagem de outra ventura!
Podeis, ó vozes amorosas,
Modular os versos encantos!
Olho só para o que escolhi.
Só escuto o que já me embalou.
Dizem-me: "Deus te
perdoará."
Recuso o perdão que não peço.
§§
- 72 -
Um pedaço de pão, um pouco de água,
Fresca, à sombra de uma árvore e os
teus olhos!
Nenhum sultão é mais feliz do que eu.
Nem mendigo nenhum mais
melancólico
§§
- 73 -
Por que tanta delicia e afagos
No começo do nosso amor?
Mas agora o teu só prazer
É rasgar o meu coração.
§§
- 74 -
Quando minha alma pura e a tua
Abandonarem nossos corpos,
Virão colocar um tijolo
Embaixo das nossas cabeças.
E um dia virá um tijoleiro,
Que recolherá minhas cinzas
E as tuas, em sua oficina
Fará com eles uns tijolos
§§
- 75 -
Vinho! Meu coração enfermo
Necessita desse remédio
Para curar-se! Vinho cor-
De-rosa! Vinho perfumado!
Vinho, vinho, para apagar
O incêndio da minha tristeza!
Vinho, vinho, e o teu alaúde
De cordas de seda, ó amada!
§§
- 76 -
Falam de um Criador...Terá formado
Então os seres só para destruí-los?
Por que são feios? Quem é o
responsável?
Por que são belos? Não compreendo
nada.
§§
- 77 -
Falam da estrada do conhecimento...
Uns dizem tê-la achado, outros procuram-na
Mas um dia uma voz há de exclamar-lhes:
“Não há estrada nenhuma, nem vereda!”
§§
- 78 -
Dedica às chamas da aurora
O vinho da tua copa,
Que se assemelha à amorável
Tulipa da primavera!
Eia, dedica ao sorriso
De algum belo adolescente
O vinho de tua taça
Semelhante à boca dele!
Bebe descuidado e esquece
Que o punho do sofrimento
Te prostrará dentro em breve,
Talvez para sempre... Bebe!
§§
- 79 -
Vinho! Vinho a jorro!
Que ele ferva dentro
De minha cabeça!
Salte em minhas veias!
Taças... E não fales!
Tudo são mentiras.
Taças... Mas depressa,
Que estou envelhecendo...
§§
- 80 -
Um tal cheiro de vinho
Virá do meu sepulcro,
Que poderão os passantes
Embriagar-se aspirando-o
E tamanho sossego
Cercará o meu jazigo,
Que não poderão dele
Afastar-se os amantes.
§§
- 81 -
No turbilhão da existência
Só são felizes aqueles
Que se consideram sábios
Ou não procuram instruir-se.
Fui inclinar-me sobre todos
Os segredos do Universo...
Voltei a casa invejando
Os cegos que eu encontrava.
§§
- 82 -
Dizem: "Não bebas mais, Khayyam!"
Respondo: "Quando bebo entendo
O que dizem rosas, tulipas,
E até o que não diz minha amada."
§§
- 83 -
Em que meditas, meu amigo?
Será nos teus antepassados?
Todos eles são pó no pó,
Meditas nas virtudes deles?
Repara só como sorrio.
Toma desta copa e bebamos,
Ouvindo sem inquietação
O grande silêncio do mundo.
§§
- 84 -
Encheu de rosas a aurora
A copa do céu. No ar límpido
Modula seu canto o meigo
Derradeiro rouxinol.
O odor do vinho é mais leve.
Pensar que há agora quem sonhe
Glórias e honras! Que sedosos
São teus cabelos, querida!
§§
- 85 -
Amigo, não faças plano
Para amanhã. Sabes lá
Se poderás terminar
A frase que vais dizer?
Talvez bem longe amanhã
Estejamos deste albergue,
Já iguais aos que faleceram
Há mais de sete mil anos.
§§
- 86 -
Ó reciário dos corações,
Toma de uma urna e uma copa,
E vamos no dia que morre
Sentar à beira do regato.
Esbelto adolescente de olhos
Tão claros, tão claro semblante,
Contemplo-te e penso na urna,
Na copa que serás um dia.
§§
- 87 -
Há muito tempo minha juventude
Foi-se juntar a tudo o que é já
morto,
Primavera de minha vida, estás
Onde estão as passadas primaveras.
Ó mocidade, sem que eu percebesse,
Te partiste! Partiste para sempre
Como todos os anos a doçura
Da primavera, que esta porém,
volta...
§§
- 88 -
Abra-te, meu irmão, a todos os
perfumes,
Todas as músicas, todas as cores.
Beija,
Afaga todas as mulheres, e repete
Que a vida é breve e serás pó na
terra um dia.
§§
- 89 -
Aspiras à paz na Terra: uma loucura.
Confiares no repouso eterno: outra
loucura.
Morto, teu sono será breve, e ainda
serás
Erva que pisarão, ou flor que
murchará.
§§
- 90 -
Que possuo de verdade?
Que restará de mim
Depois de morto? É a vida
Breve como um incêndio.
Chamas que o transeunte
Não tardará a esquecer,
Cinzas que o vento espalha,
Varre: um homem viveu.
§§
- 91 -
Convicção e dúvida,
Verdade e erro são
Palavras vazias
Como a bolha de ar.
Irisada ou baça,
Essa boca oca
É a imagem mesma
Da existência humana.
§§
- 92 -
Riquezas do Khorassan,
Poder de Kai-Kaús, glória
De Kai-Kobad trocaria
Eu por um jarro de vinho.
Estimo o amante que geme
E suspira de volúpia;
Desprezo, porém, o hipócrita
Que murmura uma oração.
§§
- 93 -
Ouve este grande segredo,
Irmão, que te vou contar.
Quando o Universo clareou
Na luz da primeira aurora,
Adão já não era mais
Que uma triste criatura
Suspirando pela noite,
Suspirando pela Morte.
§§
- 94 -
A lua do Ramazan
Acaba de aparecer.
Amanhã o sol banhará
Uma cidade silente.
Os vinhos dormirão quietos
Em suas urnas, e à sombra
Dos bosques repousarão
Tranquilas as raparigas.
§§
- 95 -
Não pedi para nascer
Forcejo por aceitar,
Sem cólera nem espanto,
O que a vida me oferece.
E quando me for embora,
Partirei sem indagar
Explicação desta minha
Estanha estada na Terra.
§§
- 96 -
Não deixes de colher os frutos
Que a vida te oferece. Corre
A todos os festins e escolhe
As copas que forem maiores.
Não creias que Deus leve em conta
Os nossos vícios e virtudes.
Nunca desprezes qualquer coisa
Que te possa fazer feliz.
§§
- 97 -
Não me preocupa saber onde eu poderia
Comprar o manto da Perfídia ou da
Mentira:
Desprezo e odeio pérfidos e
mentirosos
Mas ando sempre à descoberta do bom
vinho.
Os meus cabelos já estão brancos.
Completei
Meus setent'anos. Aproveito a ocasião
De ser feliz no dia de hoje, que
amanhã
Posso talvez não ter mais forças para
tanto...
§§
- 98 -
Se soubesses quão
pouco me interesso
Pelos quatro elementos naturais
E pelas cinco faculdades do homem!
Certos sábios da Grécia - ao que me dizes
Eram capazes de propor um cento
De enigmas aos seus ouvintes. É total
A minha indiferença a tal respeito.
Traz-me vinho, toca o alaúde e que as suas notas,
As suas modelações me façam lembrar
A brisa que cicia nas ramagens
Das árvores, a brisa leve, leve,
Leve… A brisa que passa como nós!
§§
- 99 -
Quando a sombra da Morte me alcançar
E o feixe de meus dias for atado,
Chamar-vos-ei e levar-me-eis, amigos,
À minha sepultura! E quando já
Me tenha eu transformado em pó na
terra,
Modelareis com a minha cinza um vaso
Que enchereis de bom vinho. Então
talvez
Despertarei de novo para a vida.
§§
- 100 -
No silêncio da noite, como o imóvel
Galho queda-me o imóvel pensamento.
De uma rosa, que é a imagem de teu
brilho
Precário, uma das pétalas caiu.
Onde estarás, reflito, neste
instante,
Ó tu, que me estendeste a copa cheia
De vinho, e por quem chamo ainda,
saudoso
E só, no ermo sem fim desta hora
morta?
Certo nenhuma rosa se desfolha
Junto de quem agora desalteras;
E estás privada da ventura amarga
Com que eu te saberia embriagar...
§§
- 101 -
Onde os nossos amigos? Terá a Morte
Derrubado e pisado todos eles?
Ainda ouço-os na taverna... Estarão
mortos?
Ou bêbados de tanto ter vivido?
§§
- 102 -
Quando eu deixar de existir,
Não existirão mais rosas,
Ciprestes, lábios vermelhos,
Canções, vinho perfumado.
Não haverá mais auroras,
Não haverá mais crepúsculos.
Não haverá mais amores,
Nem penas, nem alegrias.
O mundo será abolido,
Pois do nosso pensamento
É que a sua realidade
Depende exclusivamente.
§§
- 103 -
Eis a única verdade:
Somos os peões no xadrez
Que Deus joga. Ele desloca-nos
Para diante, para trás,
Detém-nos, de novo impele-nos,
Lança-nos um contra outro...
Depois um a um nos mete
Todos na caixa do Nada.
§§
- 104 -
Abóbada do céu
Se assemelha a uma taça
Emborcada. Sob ela
Erram em vão os sábios.
Seja igual teu amor
Ao da urna pela taça.
Vê... Lábio contra lábio
A urna dá-lhe o seu sangue.
§§
- 105 -
Os sábios não te ensinam nada,
Mas ao acarinhares os longos
Cílios de tua bem-amada
Sentirás a felicidade.
Não te esqueça que tens os dias
Contados. Assim, compra vinho,
Busca um retiro sossegado
E no vinho a paz, o consolo.
§§
- 106 -
O vinho te dará calor; das neves
Do passado e das brumas do futuro
Te aliviará; te inundará de luz;
Teus ferros quebrará de prisioneiro.
§§
- 107 -
Nunca rezei numa mesquita,
Mas lá me sorria a esperança.
Hoje ainda vou sentar-me nelas:
Sua sombra é propícia ao sono.
§§
- 108 -
Na terra multicolorida
Alguém caminha que não é
Nem muçulmano, nem infiel,
Nem opulento, nem humilde.
Não venera nem Deus nem leis.
Não acredita na verdade.
Jamais afirma coisa alguma.
Que homem é esse, bravo e triste?
§§
- 109 -
Antes de tu poderes afagar
Um rosto que é semelhante a uma
rosa,
Quantos espinhos, quantos,
dolorosos,
Não tens que retirar de tua carne!
Teu pente de madeira que suplício
Não teve que sofrer quando o
talharam?
Mas hoje ele mergulha deliciado
Na cabeleira de um adolescente.
§§
- 110 -
Quando a brisa pela manhã
Entreabre as rosas, cochichando-lhes
Que as violetas já despertaram,
Só é digno de viver aquele
Que, contemplando o quieto sono
De uma grácil adolescente,
Toma de sua taça, bebe,
Esvazia-a e depois atira-a.
§§
- 111 -
Aprendes o que amanhã
Pode acontecer-te? Confia,
Senão não deixará a sorte
De justificar teus receios
Nada merece o teu esforço,
Não te prendas a nada, não
Questiones livros nem pessoas,
Pois nosso destino é insondável!
§§
- 112 -
Senhor, ó Senhor, responde-nos!
Deste-nos olhos, permitiste
Que a beleza das criaturas
Perturbasse os nossos sentidos.
Dotaste-nos da faculdade
De ser felizes, e pretendes
Todavia que renunciemos
A gozar dos bens deste mundo?
Mas isto é-nos mais impossível
Que virar, Senhor, uma taça
Para o chão, sem que se derrame
O líquido que ela contém.
§§
- 113 -
Pedi numa taverna a um velho sábio
Que sobre os mortos algo me
ensinasse.
"O que há de certo é que não
voltarão",
Disse. "É tudo o que sei. Bebe
teu vinho!"
§§
- 114 -
Olha! Escuta! Na brisa de uma rosa estremece.
Um rouxinol canta-lhe um hino
apaixonado.
Uma nuvem parou. Bebe, e esquece que
a brisa
Desfolha a rosa, leva o canto e a
fresca nuvem.
§§
- 115 -
És uma lanterna mágica,
Ó céu! A lâmpada é o sol;
O mundo, a tela na qual
Passam as nossas imagens.
§§
- 116 -
"Eu sou a maravilha
Do mundo", a rosa disse.
"Que perfumista ousara
Expor-me ao sofrimento?"
Um rouxinol cantou:
"Um dia de ventura
Pode ser que prepare
Todo um ano de lágrimas."
§§
- 117 -
Hoje à noite, amanhã,
Talvez já não existas.
É tempo de pedires
Um vinho cor-de-rosa.
Comparaste, insensato,
A um tesou, e acreditas
Que os ladrões virão um dia
Roubar o teu cadáver?
§§
- 118 -
Sultão, teu glorioso fado
Está escrito em constelações
Onde Khosru resplandece!
Desde o princípio dos tempos
Teu cavalo de áureos cascos
Salta entre os astros. Se passas,
Um turbilhão de centelhas
Te esconde dos nossos olhos.
§§
- 119 -
O amor que não devasta
Não é amor. A brasa
Pode espalhar acaso
Um calor de fogueira?
Noite e dia, durante
Toda a sua vida, o amante
Verdadeiro consome-se
De dor e de alegria.
§§
- 120 -
Não sairás da noite que nos cerca,
Por mais que te debatas... Adão, Eva,
Que atroz deve ter sido o vosso
beijo,
Pois nos gerastes tais desesperados!
§§
- 121 -
Flores do céu deixam cair as suas pétalas.
Como não está já o meu jardim coberto
delas?
E como o céu espalha sobre a Terra,
Verto eu também vinho rosado em minha
taça.
§§
- 122 -
Bebo vinho como as raízes do salgueiro
Bebem as águas cristalinas da
torrente,
Deus me criou sabendo bem que eu
beberia:
Se eu me abstivesse de beber, Deus
falharia.
§§
- 123 -
Só o vinho pode te livrar dos teus cuidados;
De entre as setenta e duas seitas
vacilares.
Não te separes, pois, do mago que
possui
Poder de transportar-te às regiões
onde esqueces.
§§
- 124 -
Toda manhã o orvalho pesa sobre as rosas,
Jasmins, tulipas, mas o sol livra-se
do fardo.
Toda manhã meu coração pesa em meu
peito;
Mas teu olhar logo o liberta da tristeza.
§§
- 125 -
Se queres ter a solidão magnifica
Dos astros, foge aos homens e às
mulheres.
Afasta-te de todos. De nenhuma
Dor participes, nem de festa alguma.
§§
- 126 -
O vinho tem a cor das rosas.
Não é talvez sangue das uvas,
E sim das rosas. Esta copa
Talvez não seja de cristal,
Mas de azul do céu coagulado.
A noite, tão contrária ao dia,
Talvez não seja a noite negra
Mais do que a pálpebra do dia.
§§
- 127 -
O vinho proporciona aos sábios
Embriaguez como a dos Eleitos.
Restitui-nos a mocidade,
Dá-nos tudo que desejamos.
Queima-nos como uma torrente
De fogo, mas por outro lado
Pode mudar em fresca água
Nossas mais acerbas tristezas.
§§
- 128 -
Fecha o teu Corão. Pensa livremente.
Encara livremente o Céu e a Terra.
Ao pobre que passar, pedir-te esmola,
Dá-lhe a metade do que possuíres.
Perdoa sempre a todos os culpados.
Não concorras jamais para a tristeza
De nenhuma criatura. Se tiveres
Vontade de sorrir, esconde-te.
§§
- 129 -
Como o home é fraco! E inelutável
É o nosso destino! Não cumprimos
As juras que fazemos, e a vergonha
De tal conduta é-nos indiferente.
Eu mesmo muita vez, ai tantas vezes!
Procedo e falo como um insensato.
Tenho, porém, amigos, a desculpa
De estar ébrio de amor, e sou
perdoável.
§§
- 130 -
Se este mundo é uma miragem,
Homem, por que desesperas
E incessantemente lembras
Tua mísera condição?
Entrega pois a tua alma
À fantasia das horas.
O Teu destino está escrito.
Nada poderá mudá-lo.
§§
- 131-
A névoa em torno desta rosa...
É voluta do seu perfume?
Ou frágil proteção que a bruma
Lhe deixou? Tua cabeleira
Sobre o teu rosto é noite ainda
Que o teu olhar vai dissipar?
Desperta, bem-amado! O sol
Doura as nossas copas. Bebamos!
§§
- 132 -
Toma a decisão de não mais
Contemplares o céu, e cerca-te
De algumas belas raparigas.
Afaga-as. Pois ainda hesitas?
Tens vontade de orar ainda?
Muitos homens antes de ti
Oraram fervorosamente...
Sabes lá se Deus os ouviu?
§§
- 133 -
A aurora! Ventura e pureza!
Um imenso rubi cintila
Dentro de cada uma copa.
Toma estes dois galhos de sândalo,
Transforma um em alaúde,
Depois ateia fogo ao outro,
A fim de que ele nos perfume,
Querida, enquanto nos amamos.
§§
- 134 -
Fatigado de interrogar
Em vão os homens e livros, quis
Interpelar a urna de vinho.
Pousei meus lábios nos seus lábios
E murmurei: "Quando eu morrer,
Para onde vou?" E ela:
"Bebe.
Bebe em meus lábios longamente.
Nunca mais voltarás aqui."
§§
- 135 -
Sê feliz, quando ébrio, Khayyam
Sê feliz, se olhas tua amada.
Se sonhas que já não existes,
Sê feliz, pois a morte é o nada.
§§
- 136 -
Atravessei a deserta
Oficina de um oleiro.
Umas mil urnas falavam
Baixinho. Senão quando uma,
Vendo-me, disse: "Silêncio!
Deixemos que este que aí vai
Possa evocar os oleiros
E os compradores que fomos..."
§§
- 137 -
Dizes: "Só existe um bálsamo no
mundo!"
Trazei-me todo o vinho do universo
Então! Mas coração tem tais e tantas
Feridas... Todo o vinho do universo,
E que o meu coração guarde as
feridas!
§§
- 138 -
Como é leve a alma do vinho!
Assim que, para contê-la,
Vós, oleiros, modelais
Jarros de flancos bem lisos!
Cinzeladores de taças,
Com amor arredondai-as,
Para que essa voluptuosa
Possa afagar-se no azul.
§§
- 139 -
Homem ignaro, que te crês um sábio,
Vejo-te sufocado entre o infinito
Do passado e o infinito do futuro.
Entre os dois infinitos gostarias
De erguer um marco onde te
alcandorares.
Melhor fora sentares sob uma árvore
Com um jarro de vinho, que faria
Esqueceres ali tua impotência.
§§
- 140 -
Mais uma aurora! Como todas
As manhãs, ante esse esplendor,
Aflijo-me de não poder
Agradecer ao seu Criador
Mas tantas rosas me consolam,
Tantos lábios se me oferecem!
Deixa o teu alaúde, as aves
Começam a cantar, querida...
§§
- 141 -
Contenta-te em saber que tudo
É mistério: a criação do mundo
E a tua, o destino do mundo
E o teu. Sorri desse mistério
Como de um risco que desprezas
Não creias que saberás algo
Depois da Morte. Paz aos homens
No silêncio negro do Além!
§§
- 142 -
No meio da campina verde a sombra
Desta árvore semelha-se a uma ilha.
Fica onde estás, passante! Entre o
caminho
E a sombra que se move lentamente,
Talvez haja um abismo intransponível.
§§
- 143 -
Que devo fazer hoje? Ir à taverna?
Sentar-me num jardim? Folhear um
livro?
Uma ave corta o espaço... Oh,
embriaguez
Da ave no quente azul! Melancolia
Do home na sombra fresca da mesquita?
§§
- 144 -
Um pouco mais de vinho, bem-amada!
Tua face ainda não tem a cor das
rosas
Um pouco mais de tristeza, Khayyam!
A tua bem-amada vai sorrir-te.
§§
- 145 -
O nosso mundo é um caramanchel
De rosas. Nossos visitantes
São as borboletas. Os nossos
Músicos são os rouxinóis.
Quando já não há rosas nem
No bosque mais folhas nas árvores,
As estrelas são minhas rosas;
Teus cabelos, minha floresta.
§§
- 146 -
Servidores, não tragam lâmpadas:
Meus convivas, extenuados,
Adormeceram. Vejo bem
Como estão imóveis e pálidos.
E hirtos e frios como estão,
Jazerão na noite do túmulo.
Não tragam lâmpadas, não há
Aurora na mansão dos mortos.
§§
- 147 -
Ao cambaleares sob o peso
Da dor, ao secarem-te as lágrimas,
Pensa nas folhinhas da relva
Que cintilam depois da chuva.
Quanto te exaspera o esplendor
Do dia e desejas que a noite
Baixe definitiva, pensa
No despertar de uma criança.
§§
- 148 -
Bem como os pássaros feridos
Que se escondem para morrer,
Dissimulo a minha tristeza.
Vinho, vinho! Ouve os meus gracejos!
Tudo o que quero neste instante
É vinho, sons de alaúde, cantos,
Rosas e tua indiferença,
Amor, para a minha tristeza!
§§
- 149 -
Mil armadilhas colocaste,
Senhor, na estrada que trilhamos,
E depois disseste: "Ai daqueles
Que não souberam evitá-las!
Tudo vês e sabes. Sem tua
Permissão nada ocorre. Somos
Responsáveis por nossos erros?
Podes censurar-me a revolta?
§§
- 150 -
Aprendi muito, esqueci muito
Também, e por vontade própria.
Em minha mente cada coisa
Estava sempre em seu lugar.
Não cheguei à paz senão quando
Tudo rejeitei com desprezo.
Compreendera enfim que é impossível
Tanto afirmar como negar.
§§
- 151 -
Estudei muito quando moço.
Tive muito mestre eminente.
Orgulhei-me, regozijei-me
De meus progressos e triunfos.
Quando evoco o sábio que eu era,
Comparo-o à água, que se amolda
À forma do vaso, e à fumaça,
Que é dissipada pelo vento.
§§
- 152 -
A tristeza e a alegria, o bem e o mal
São parecidos aos olhos do sábio.
Para o sábio tudo o que principiou
Deve acabar. E se assim, pergunta
A ti mesmo, se tens, irmão, motivo
De porventura te regozijares
De uma felicidade que te chega,
Te afliges com o mal que não
esperavas?
§§
- 153 -
Já que a nossa sorte no mundo
É penar e depois morrer,
Não seria um bem revertermos
À terra o mais breve possível?
E a nossa alma que Deus espera
Para julgá-la? Dirás tu.
Responder-te-ei quando instruído
Por alguém vindo de entre os mortos.
§§
- 154 -
Derviche, despoja-te dessas
Vestes pintadas, de que estás
Tão orgulhoso e que no entanto
Não trazias quando nasceste.
Não te saudará quem passar,
É verdade, mas dentro em teu
Coração hás de ouvir cantar
Todos os serafins do céu.
§§
- 155 -
Ébrio ou sedento, não procuro
Senão dormir. Renunciei
A saber que é o bem, que é o mal,
E não distingo o mal do bem.
Para mim ventura e desgraça
Se parecem. Se uma alegria
Chega, dou-lhe pouca atenção,
Pois sei que uma dor se lhe segue.
§§
- 156 -
Não se pode incendiar o mar, nem
convencer
O homem de que a ventura é perigosa.
Todavia
Sabes que o menor choque é fatal à
urna cheia,
E no entanto deixa intacta a urna
vazia.
§§
- 157 -
Olha em torno de ti. Verás somente
Angústias, aflições e desesperos.
Teus melhores amigos já morreram,
Tens por só companhia, hoje, a
tristeza.
Mas levanta a cabeça! Abre os dois
punhos!
Agarra firmemente, caso o avistes
À mão, o que desejas. O passado
É um cadáver que deves enterrar.
§§
- 158 -
Cavalheiro que vejo ao longe na
neblina
Do crepúsculo, aonde irá? Sei não.
Por Vales
E montanhas? Sei não. Estará amanhã
estendido...
Sobre a terra? Ou debaixo da terra?
Sei não.
§§
- 159 -
"Deus é grande!" Esse grito
do muezim
Ecoa no ar como uma queixa imensa
Cinco vezes por dia. Será a Terra.
Que implora o seu criador indiferente?
§§
- 160 -
Terminou o Ramazan. Corpos exaustos,
Almas fanadas, a alegria volta!
Contadores de histórias sabem novas
Vendedores de vinho - mercadores
De sonho - vão lançando os seus
apelos.
Mas entre tantos só não ouço aquele
Que num momento me restituiria
A vida - o apelo da mulher amada!
§§
- 161 -
Olha o arroio brilhante no jardim.
Como eu, dize que avistas o Kautar
E estás no Paraíso. Vai buscar
Tua amiga de faces de carmim.
§§
- 162 -
Não vês mais que as aparências
Das coisas e das criaturas.
Percebes tua ignorância,
Mas não abdicas do amor.
Aprende que Deus nos deu
O amor com a mesma intenção
Com que fez na natureza
Certas plantas venenosas.
§§
- 163 -
És infeliz! Pois não penses
Em tua dor: não sofrerás.
Se essa dor é muito forte,
Pensa em todas as criaturas
Que inutilmente sofreram.
Escolhe uma mulher de alvos
Seios, mas evita amá-la.
E que ela também não te ame...
§§
- 164 -
Pobre homem, nunca saberás
Nada; jamais explicarás
Um só dos mistérios do mundo.
E já que as religiões prometem
Depois da morte o Paraíso,
Busca tua mesmo criar um
Para teu gozo aqui na Terra,
Pois o outro talvez não exista.
§§
- 165 -
Lâmpadas que se apagam, esperanças
Que se acendem: aurora.
Lâmpadas que se acedem, esperanças
Que se apagam: noite.
§§
- 166 -
Todos os reinos por uma copa
De vinho límpido e generoso!
Todos os livros e dota a ciência
Por um suave aroma de vinho!
Todos os hinos do amor humano
Pela canção do vinho que corre!
A glória de Feridum
Pela cambiante cor desta urna!
§§
- 167 -
Recebi o golpe que esperava:
A minha amada abandonou-me.
Quando a possuía, era-me fácil
Exaltar todas as renúncias.
Junto de tua bem-amada,
Khayyam, ah como estavas só!
Sabe? Ela se foi embora
Para te refugiares nela...
§§
- 168 -
Senhor, me destruíste a alegria!
Senhor, ergueste uma muralha
Entre o meu coração amante
E o coração de minha amada!
Minha bela, rica vindima
Calcaste aos pés desapiedado.
Vou morrer, mas tu cambaleias,
Completamente embebedado!
§§
- 169 -
Silêncio, ó minha dor!
Deixa-me ir à procura
Do remédio. É preciso
Continuar a viver.
Pois os mortos não têm
Memória, e eu quero sempre,
Quero sempre rever
A minha bem-amada!
§§
- 170 -
Alaúdes, perfumes, copas,
Lábios, cabelos, grandes olhos:
Brinquedos que o Tempo destrói
Dia a dia - meros brinquedos!
Austeridade, solitude,
Meditação, prece e renúncia:
Cinzas que o Tempo esmaga e espalha
A seu bel-prazer - tudo cinzas!
====
Notas:
AZRAEL - O anjo da Morte. Assistia aos moribundos, separando
a alma do corpo,
BAHRAN - Rei persa da dinastia do Sassanidas. Pereceu num
pantano quando perseguia um asno selvagem.
DJEMCHID - Rei semi-lendário, considerado o pai da civilização
persa.
FERIDUM - Rei semilendário da Pérsia, filho ou neto de
Djemchid.
KAI-KOBAD - Rei persa, o primeiro da dinastia dos Kaianides.
KAI KAUS - Rei persa, sucessor de Kai-Kobad.
KOSRU - Rei persa, filho de Kai-Kobad.
MAHMUD - Sultão de Ghazni, conquistador da India.
****
Omar Khayyam - poeta persa
OBRA
RUBAIYAT DE OMAR KHAYYAM TRADUZIDA NO BRASIL E PORTUGAL
RUBAIYAT
DE OMAR KHAYYAM NO BRASIL
*(ver a preciosa pesquisa de Denise Bottmann,
com várias observações)
Edições e traduções
- Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Tradução Octavio Tarquinio de Souza / com base na versão francesa
de Franz Toussaint]. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1928.
- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução
Alfonso Sáenz Pardo; prefacio Paulo Tacla]. Mundial Curityba, 1932. em espanhol.
- Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Tradução Martins de Oliveira]. Patrocínio: Brito & Santos
Editores, 1933.
- Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Prefácio e Tradução Octavio Tarquinio de Souza / a partir da Tradução
francesa de Franz Toussaint; posfácio Tristão de Athayde; capa Santa Rosa].
Coleção Rubáyát. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935; 1948; 12ª ed., 1957.
- Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Tradução Matos Pereira]. Rio de Janeiro: Jangada, 1944.
- Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Tradução, prefácio e notas Jamil
Almansur Haddad/ a partir da Tradução inglesa de Fitzgerald; apresentação de
Yadollah Azodi]. Coleção 'seleções preciosas' - vol. 2. São Paulo: Bolsa do
Livro, 1944.
- Sugestões de um poeta persa.
[Tradução e paráfrases de Joaquim de Araújo Filho]. ? 1945.
- Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Tradução Emílio de Adour/ a partir da Tradução das edições
1ª e 5ª de Edward Fitzgerald; ilustrações Gordon Ross]. Pongetti, 1947.
- Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Tradução Cordélia Fontainha Seta]. Belo Horizonte: Edições João
Calazans, 1950.
- Rubaiyat de
Omar Khayyam e meus haikais. [Tradução Eno Theodoro Wanke]. Santos: Of.
Horácio Reis & Cie. Ltda. 1954; 2ª ed.,1959.
- Rubaiyat.
Omar Khayyam. [Tradução, prefácio e notas Jamil Almansur Haddad/ a partir
da Tradução inglesa de Fitzgerald]. São Paulo: Civilização Brasileira, 1956.
- Rubaiatas de
Omar Khaiame / Rubáiyát Omar Kháyyám. [Tradução
Ragy Basile / direto do persa; introdução e versão poética de Christovam de
Camargo]. Rio de Janeiro: Editora Minerva, 1960.
- Rubaiyat.
Omar Khayyam. [Tradução Manuel Bandeira/ a
partir da Tradução francesa de Franz Toussaint].
Coleção Biblioteca Universal Popular, n. 33. Editora Bup, 1964.
- O Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Tradução: version en español Homero Icaza Sánches; versão em
português Manuel Bandeira; ilustrações Eugene karlin]. Coleção Clássicos de
Bolso, n.
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de Janeiro: Edições
de Ouro, 1965.
- As
mais belas Rubaiatas de Omar Khaiame. [Versão poética/Tradução Christovam de Camargo*; pinturas Solon Botelho]. Trilíngue: português,
espanhol e francês. Rio de Janeiro: Conquista, 1970. {Edição premiada pelo
Salão Nacional de Belas Artes}. *Tradução
Ragy Basile / direto do persa.
- Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Tradução Jamil Almansur Haddad/ a partir da Tradução inglesa de Fitzgerald; ilustração Marcus de
Sant´Anna]. São Paulo: Pioneira, 1978. {Edição
comemorativa dos 30 anos da Editora Pioneira/ Edição de Luxo Limitada, 954
exemplares, numerados e autografados}.
- O Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Tradução (em nome) de Torrieri Guimarães**]. São Paulo: Hemus, s/d [1979].
- O Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Prefácio e tradução de Manuel Bandeira a partir da Tradução
francesa de Franz Toussaint (1925); ilustrações Eugene Karlin]. Coleção
Sabedoria e Pensamento. Rio de Janeiro: Ediouro, 1985.
- Rubaiyat. Omar
Khayyam. [Tradução Eugenio Amado]. Belo Horizonte: Garnier, 1999.
- Apelo, Rubaiyat e Satã:
poesia completa. Omar Khayyam/ Eno Theodoro Wanke. [Tradução
Eno Theodoro Wanke]. vol. 5. Rio de Janeiro: Plaquette, 2001.
- Rubaiatas de Omar Khaiame / Rubáiyát
Omar Kháyyám. [Tradução Ragy Basile / direto do persa; introdução e
versão poética de Christovam de Camargo]. São Paulo: Martin Claret, 2003.
- Rubaiyát. Omar
Khayyām. [Tradução Ragy Basile; Christovam de Camargo; perfil biográfico
Matos Pereira]. Martin Claret, 2003.
- Rubaiyat de Omar Khayyam:
explicado. Paramahansa Yogananda / a partir da Tradução de
Edward FitGerald). Madras, 2003. {Traduzido J. Donald Walters}
- O Rubaiyat. Omar
Khayyam. Coleção Prestígio Coroa 667. [Prefácio e tradução de Manuel
Bandeira a partir da Tradução francesa de Franz Toussaint (1925); texto orelhas
Affonso Romano de Sant'Anna]. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
- Rubaiyát. Omar
Khayyām. [Tradução ? ]. Coleção clássicos do oriente. Blumenau: Eko,
2007.
- Rubaiyát. Omar
Khayyām. [Tradução Octavio Tarquínio de Souza]. Coleção Clássicos do
Oriente. Todo livro, 2008.
- Rubáiyát - Memória de Omar
Khayyám. [Tradução Luiz Antônio de Figueiredo]. Editora Unesp, 2012.
- Rubaiyát. Omar
Khayyām. [Tradução João Baptista de Mello e Souza; prefácio Marco
Lucchesi]. Editora Topbooks, 2013.
- Rubaiyát. Omar
Khayyām. [Tradução de Gentil Saraiva Júnior/ via Fitzgerald]. Edição
bilíngue. Createspace, 2014.
- Rubaiyát. Omar
Khayyām. [Tradução Milton Lins]. Recife: editora Bagaço, 2014.
- Meu Rubaiyat. Omar
Khayyām. Tradução Ivo Barroso. Giordanus, 2017.
- Rubaiyát. Omar
Khayyām. [Tradução João Baptista de Mello e Souza]. 2ª ed., Editora
Garnier/ Itatiaia, 2020.
Rubaiyata de Omar Khayyam
em Ebook online
- Os Rubaiyat de Omar Khayyam /
versão em português de Alfredo Braga. In: Blog Alfredo Braga, s/data.
Disponível no link.
(Acessado em 19.7.2022).
- Rubaiayt - Odes ao vinho e ao
amor. Omar Khayyam. Tradução/versão pessoal José Maria
Alves. In: homeoesp.org/livros online (2012). Disponível no link.
(Acessado em 10.8.2022)
- Rubaiyat de Omar Khayyam.
[Tradução Rafael Arrais/ a partir da versão Edward FitzGerald; ilustrações de
René Bull, Adelaide H. Leeson, Arthur Szyk, Gilbert James e Mohammad Tajvidi].
Ebook. Textos para Reflexão, 2022.
Rubaiyata de Omar Khayyam em
antologias e estudos
- O anticrítico de
Augusto de Campos. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. {Omar Khayyám
Rubáiyát - Tradução Augusto de Campos a partir da Tradução inglesa de
Fitzgerald, no ensaio "A língua do pó, a linguagem do poeta"}.
- Ezra Pound - ABC da
Literatura. [Organização e apresentação Augusto de Campos; Tradução
Augusto de Campos e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1990. {Rubaiyat
(IX, XXV, LXV) de Omar Khayyam/ Tradução Augusto de Campos/a partir da Tradução
inglesa de Fitzgerald}.
- Babel de poemas: uma
antologia multilíngue. [Organização, seleção e Tradução
Carlos Freire]. Versões bilíngues. Porto Alegre: L&PM, 2004. (Autores
traduzidos: Alexander Pushkin, Shakespeare, Goethe, Radindranath Tagore,
François Villon, Giuseppe Ungaretti, Omar Khayyam, Pier Paulo Pasolini,
Konstantinos Kaváfis, Samir Al-Qasim, Galaktion Tabidze, F. V. Lorenz, ...). {"Dois
quartetos" de Omar Khayyam / Tradução Carlos Freire/direto do
persa}.
- Pequeno dicionário de
arte poética. Geir Campos. Rio de Janeiro: Conquista, 1960 (618
verbetes); Edições de Ouro, 1965; São Paulo: Cultrix, 1978 (revista e
aumentada); 4ª edição - revista e aumentada*. Coleção Estrela de Ouro. Rio de Janeiro: Ediouro,
1989 (*640
verbetes com centenas de exemplos poéticos cuidadosamente selecionados). Rubaiyat
/ Tradução Geir Campos/ a partir do inglês Edward Fitzgerald - ilustração do
verbete sobre os Rubaiyat's}.
Rubaiyat de Omar Khayyam em revistas,
jornais e sites
- Rubaiyat de Omar Khayyam.
Quadras de 1 a 5 da Tradução em versos / tradutor Eno Theodoro Wanke. In:
Tapejara, nº 13, p. 14, maio de 1954.
- Rubaiyat de Omar Khayyam.
Quadras de 6 a 10/ Tradução Eno Theodoro Wanke. In: Tapejara, nº 14, pg.
5, setembro de 1954.
- Meu Rubaiyat. Ivo
Barroso. In: Gaveta do Ivo, 1.3.2013. Disponível no link. (Acessado em 9.8.2021).
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*BOTTMANN, Denise. Rubaiyat [traduzido no Brasil]. In: não
gosto de plagio, 9 de abril 2013/ com atualizações 28.12.2018. Disponível
no link. (Acessado em 20.7.2022).
** BOTTMANN, Denise. Os Rubaiyat de Manuel Bandeira e
de Torrieri Guimarães. In: Qorpus, edição 024. Disponível no link. (Acessado em 9.8.2021).
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Imagem: (2) Omar Khayyam - por ©
Ivona17.
*****
RUBAIYAT DE OMAR KHAYYAM EM PORTUGUAL
- Rubaiyat - quadras de Omar
Khayyam: poeta persa do século XI. [Tradução Gomes Monteiro/ inclui um
estudo biográfico do autor]. Lisboa: Diário de Notícias, 1927.
- Rubaiyat: odes ao vinho. Omar
Khayyam. [Tradução/versão Fernando Couto; prefácio Ernesto Manuel Geraldes
de Melo e Castro]. Lisboa: Moraes, 1963; 1970; 1982.
- Rubaiyat: odes ao vinho. Omar
Khayyam. [Tradução Fernando Couto; prefácio Ernesto Manuel
Geraldes de Melo e Castro]. Lisboa: Estampa, 1990; 3ª ed., 1999.
- Rubaiyat: celebração da vida.
Omar Khayyam. [Tradução A. César Rodrigues/ segundo a versão inglesa de
Francis Scott Fitzgerald]. Queluz: Coisas de Ler, 2002.
- Rubaiyat, Umar-I Khayyám [seleção,
Tradução e notas Halima Naimova / direto do persa; apresentação Maria Aliete
Galhoz; notas adicionais Pedro Belo Clara; revisão António Lampreia]. Antologia
é bilingue. Lisboa: Assírio & Alvim, 2009.
***
Rubaiyat
Fernando Pessoa
- Canções de beber na Obra de
Fernando Pessoa. [Maria Aliete Galhoz - fixação de texto, organização,
prefácio e bibliografia; pinturas de Eurico Gonçalves]. Lisboa: Edições de
Arte, lda, 1997.
- Canções de beber. Rubaiyat na
Obra de Fernando Pessoa [edição e prefácio Maria Aliete Galhoz;
nota prévia Halima Naimova]. Coleção Páginas de Fernando Pessoa. Lisboa:
Assírio & Alvim, em 2003. {A partir de dois tradutores ingleses: Fitzgerald
e T. H. Weir}.
- Poemas de Fernando Pessoa -
Rubaiyat. Edição Crítica de Fernando Pessoa - vol. I -
tomo 8. Lisboa: INCM - Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2009.
- Rubaiyat de Fernando Pessoa.
[Tradução para persa de Sepideh Radfar; revisão poética Seyed Ali Salehi].
Edição bilingue persa-português. Lisboa: Embaixada de Portugal em Teerão;
Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., 2022. {Inclui um texto inédito da autoria do professor
Fernando Cabral Martins, analisando a influência que a obra de Khayyam exerceu
no imaginário de Fernando Pessoa nos últimos anos da sua vida}.
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GALLOZ, Maria Aliete. O Rubā‘iyat de Umar-I
Khayyām. In: A Phala / Documenta Poética, 6 de julho de 2009.
Disponível no link. (Acessado em 20.7.2022).
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Imagens: (1) Omar Khayyam - por
© Mariia Domnikova.
Omar Khayyam - poeta persa
RUBÁIYAT
DE OMAR KHAYYÁM EM TRADUÇÃO DE MANUEL BANDEIRA
OMAR
KAYYAM POR MANUEL BANDEIRA
Omar Khayyam, cujo nome completo era Ghiyathuddin Abulfath Omar
bin Ibrahim Al-Khayyami, o que vem depois de Omar significando "filho de
Ibrahim, o fabricante de tendas", nasceu e morreu em Nishapur, província
de Khorassan, na Pérsia (c. 1050-c. 1123). Parece ter seguido, a princípio, o
oficio do pai. Entrando para um colégio na sua cidade natal, a fim de fazer os
seus estudos, travou ali estreita amizade com Hassan Sabbah e Abú Ali Hasán
Tusí, filhos de famílias nobres, mas arruinadas. Os três amigos firmaram um
pacto mediante o qual cada um deles se comprometia, logo que a fortuna lhes
sorrisse, a proteger os outros dois tanto quanto pudesse. O primeiro bafejado
pela fortuna foi Abú Ali Hasán Tusí, que recebeu a nomeação de secretário e,
pouco depois, a de vizir do Sultão, passando a chamar-se Nizam-Ul-Mulk.
Cumprindo o pacto, nomeou a Hassan Sabbah para um alto cargo na corte, mas,
entregando-se ele a toda classe de intrigas, não tardou a cair no desagrado do
Sultão; refugiou-se numa cordilheira ao sul do Mar Cáspio e fundou a seita dos
Kaschichinos, que espalhou o terror em todo o país. A Omar Khayyam foi
concedida inicialmente uma pensão de 1.200 mithkals de ouro e, posteriormente,
foi nomeado diretor do observatório astronômico de Merv. Dedicado ao estudo da
matemática e da astronomia, escreveu tratados, um dos quais, sobre álgebra,
tornou-se um livro clássico e foi traduzido no Ocidente por Woepke (1851).
Elaborou a reforma do calendário muçulmano. Em vida era conhecido sobretudo
como matemático e astrônomo. Mas foi poeta também, exprimindo-se em quadras
epigramáticas (rubáyyát é a plural de rubay, quadra em
persa). Compôs algumas centenas delas.
A filosofia que impregna esses breves
poemas caracteriza-se pelo seu agnosticismo: não se pode negar nem afirmar
coisa alguma, devemos contentar-nos com saber que tudo é mistério - a criação
do mundo e a nossa, o destino do mundo e o nosso, jamais saberemos nada, jamais
elucidaremos um só dos mistérios do universo; pelo seu imediatismo: goza o
momento que passa, não te preocupes com o passado nem com o futuro - o passado
é um cadáver que se deve enterrar, o futuro é indevassável, os homens falam de
um Paraiso depois da morte, mas é bem possível que ele a exista e portanto,
cria um Paraíso para o teu gozo na Terra, e que é um Paraiso? A sombra de uma
árvore, vinho, os sons de alaúde, rosas, canções, uma bonita mulher de seios
cor de neve... e melhor evitar amá-la, e que ela seja também incapaz de
amar-te: Deus deu-nos o amor como a certas plantas deu o veneno; o seu
hedonismo: o prazer é o fim da vida, nosso tesouro é o vinho, nosso palácio a
taverna, nossos fiéis companheiros o vinho e a embriaguez, não penses na morte;
depois da morte só pode haver duas coisas - o nada ou a misericórdia, colhe
todos os frutos da vida, deixa-te penetrar de todos os perfumes, de todas as
cores, de todas as músicas, acaricia todas as mulheres... Seu hedonismo, porém,
não era o de um egoísta, não excluía a compaixão pelo próximo, e o poeta
aconselhava: ao pobre que te pede uma esmolada metade do que possuis; perdoa
todos os culpados; não concorras para a tristeza de ninguém.
Mais de seis séculos se passaram
antes que as quadras do poeta persa fossem conhecidas no Ocidente, o que
ocorreu em 1857 na Tradução francesa de Nicolas. Leu-a o inglês Edward
FitzGerald (1809-1883), que encantado com os versos de Khayyam, empreendeu traduzi-los
(já ele havia traduzido seis autos de Calderón de La Barca), publicando
anonimamente em 1859 a Tradução em verso de 75 rubayyát. Passou
porém quase despercebida embora Swinburne e Dante Gabriel Rossetti tivessem
toma do conhecimento dela. Só oito anos depois apareceu nova edição. Com esta
veio subitamente a popularidade. A poesia do persa serviu como arma de combate
contra as convenções, a afetação moralista, o cant da era
vitoriana.
A obrinha de FitzGerald tornou-se um
clássico da literatura inglesa. Surgiram as traduções para outros idiomas, o
francês, o alemão, o italiano, o dinamarquês, o húngaro. E novas traduções
apeteceram, de outros autores - Sadik Ali (1878), Whinfield (1883), J. H.
McCarthy (1889), Dole (1896), J. Payne (1898). E. Heron Allen (1898), Pollen
(1915), Franz Toussaint (1923), etc. Octávio
Tarquinio, que verteu para o português a Tradução de Toussaint, cita
ainda as de Grolleau, J. Carpentier, Jules Marthold, Edmond Dulac, Claude Anet
e Mirza Muhammad, que no prefácio à edição José Olympio do seu trabalho (1955)
diz ter lido, preferindo afinal a de Toussaint. Foi esta que utilizamos no
nosso trabalho, já que a de FitzGerald, se primorosa do ponto de vista
literário, é, do ponto de vista da fidelidade ao texto original, inaproveitável.
Sente-se isto a priori,
pois todas as quadras foram por ele traduzidas em decassílabos,
rimando o primeiro, o segundo e o quarto versos, deixando solto o terceiro.
Ora, só muito raramente será isso possível de fazer sem abandonar quase todo o
original. Assim procedeu o inglês: alterou frequentemente as ideias de Khayyam,
ora condensando-as, ora desenvolvendo-as, transpondo imagens, enxertando ideias
e imagens suas... Na verdade pouco resta do poeta persa na Tradução do inglês.
Apenas o sentido geral da sua filosofia e algumas belas imagens. Prefaciando a Tradução
de Toussaint, escreveu Ali-Nô Rouze em 1923 quando servia na legação da Pérsia
no Egito: "A limpidez das quadras, tanto quanto a sua
profundidade, determinou na Europa o sucesso delas, apesar das odiosas traições
do seu primeiro tradutor Nicolas e das falsas variações de FitzGerald." E
mais adiante: "Tendo a fortuna de apresentar-vos a rosa vermelha
que Mr. Franz Toussaint religiosamente colheu no mais melancólico jardim da
Pérsia, admiro sobretudo que ela tenha guardado a sua cor e o seu perfume, a
despeito dessa longa, perigosa viagem."
SIMPLES E INTEMPORAL POR AFFONSO
ROMANO DE SANT'ANNA
Faz sentido que seja Manuel Bandeira
o tradutor de Omar Khayyam, aquele poeta persa do século XI, que com poemas
escritos em forma de quadras, chamados "Rubaiyat",
tornou-se um dos autores mais populares do mundo. Faz sentido porque a obra de
Bandeira, iniciada na estética do "decadentismo", tem algo a ver com
o sempre referido hedonismo de Omar Khayyam e a celebração de vinhos e
mulheres. Bandeira, nessa edição optou por trabalhar sobre a Tradução francesa
de Toussaint (1923), pois achava que a edição inglesa de FitzGerald (1859), que
popularizou Omar Khayyan no Ocidente, sendo "primorosa" do ponto de
vista literário, é, do ponto de vista da fidelidade ao texto original,
"inaproveitável". Na verdade, FitzGerald resolveu
"melhorar" e "recriar" o que não exigia nenhuma melhora ou
recriação. O primeiro problema em torno da obra de Omar é saber quantas
"quadras" deixou. Seriam 206 conforme a edição iraniana de 1461 ou
464 de acordo com a edição francesa de J.B. Nicolas (1857), que trabalhava na
embaixada francesa em Teerã? Seriam as 178 da edição em Teerã, em 1943, ou as
121 da edição dinamarquesa de 1927? Com efeito, a bela e ilustrada edição
italiana de Diego Angeli (Bérgamo, s/d) não tem uma só linha parecida com esta
brasileira. Omar Khayyam é um fenômeno, criado e recriado por muitas mãos. Sua
primeira Tradução no Ocidente, diferentemente do que Bandeira e outros afirmam,
não foi a de Nicolas (1857), e sim a do austríaco Joseph von Hammer-Purgstall
(1774-1856). Importante astrônomo, matemático e pensador em sua época, chegou a
nós como poeta. Sua poesia sobreviveu à sua ciência e aos seus tradutores. Há
qualquer coisa intrigante e misteriosa que faz com que leitores de uma era
eletrônica e globalizada se deliciem com essa poesia simples e intemporal.
Omar
Khayyam - poeta persa
OUTRAS
TRADUÇÕES
RUBÁIYAT
DE OMAR KHAYYÁM EM TRADUÇÃO DE AUGUSTO DE CAMPOS
Omar Khayyám. Rubáiyát - Tradução
Augusto de Campos/ a partir da Tradução inglesa de Fitzgerald, no
ensaio "A língua do pó, a linguagem do poeta", no livro "O
anticrítico" de Augusto de Campos. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
IX
Em Naishapur ou Babilônia, alguma
Taça, ou amarga ou doce, sempre
espuma,
Verte o Vinho da Vida, gota à gota,
Vão-se as Folhas da Vida, uma a uma.
XXIII
Ah, vem, vivamos mais que a Vida,
vem,
Antes que em Pós nos deponham também;
Pó sobre Pó, e sob o Pó, pousados,
Sem Cor, sem Sol, sem Som, sem Sonho
- sem.
XLV
Inferno ou Céu, do beco sem saída
Uma só coisa é certa: voa a Vida,
E, sem a Vida, tudo o mais é Nada.
A Flor que for logo se vai, flor ida.
****
RUBÁIYAT
DE OMAR KHAYYÁM EM TRADUÇÃO DE GEIR CAMPOS
Omar Khayyám. Rubáiyát. Tradução Geir
Campos/ a partir do inglês Edward Fitzgerald. | ilustração do verbete sobre os
Rubayat's, no livro "Pequeno dicionário de arte poética". de Geir
Campos. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1965.
LXVI
Minha alma arremessei rumo ao Eterno,
Para ler o destino em seu caderno,
Mas dentro em pouco a alma tornou a
mim
E disse: "Eu mesma sou o Céu e o
Inferno!"
****
Omar
Khayyam - poeta persa
FORTUNA
CRÍTICA SOBRE OMAR KHAYYAM / RUBAIYAT
ARAÚJO, Lucia. Trágica e bela uma viagem pelas
1001 faces da Persia e do Irã. Editora Alta Cult, 2021.
ARRUDA, Vasco. O Rubaiyat de Omar Khayyam.
In: O Povo, 9.9.2009. Disponível no link. (acessado em 20.7.2022).
BARROSO, Ivo. Meu Rubaiyat. In: Gaveta do Ivo, 1.3.2013.
Disponível no link.
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BOTTMANN, Denise. Rubaiyat [traduzido no Brasil]. In: não
gosto de plagio, 9 de abril 2013/ com atualizações 28.12.2018. Disponível
no link. (acessado em 20.7.2022).
FEITOSA, Márcia Manir Miguel. Uma Leitura de Fernando Pessoa
"ele mesmo" à Luz do Ruba'iyat de Omar Khayyam. In: Hottopos,
s/data. Disponível no link.
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FRAGMENTOS. Rubaiyát. Omar Khayyām. (fragmentos).. [Tradução
Alexandre S. Rocha]. In: Zunái - Revista de poesia & debates,
s/data. Disponível no link.
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BERGONCI, Ana Paula Aydos. O pensamento autônomo de um
poeta persa (século XI e XII): relações entre indivíduo e cultura no Rubáiyát
de Omar Khayyam. (Monografia Graduação em História). Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, UFRGS, 2008. Disponível no link.
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CAMÕES, I.P.. Irão: Publicação em língua persa dos
"Rubaiyat", de Fernando Pessoa. In: Camões - Instituto de
Cooperação e da Língua Portugal, 5 abril 2022. Disponível no link. (acessado em 21.7.2022).
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adenda. In: Pessoa
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TORRES, Yael Carvalho. Um poema e duas posturas
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WANKE, Eno Theodoro. Michaele Faris -
o Tapejara: uma biografia. Rio de
Janeiro: Edições Plaquette, 1999.
Rubaiyat. Fernando Pessoa.
Contemporânea 2, julho — outubro de 1926, p. 98.
RUBAIYAT
O fim do longo, inútil dia ensombra.
A mesma esp’rança que não deu se
escombra,
Prolixa... A vida é um mendigo bêbado
Que estende a mão à sua própria
sombra.
Dormimos o universo. A extensa massa
Da confusão das coisas nos enlaça,
Sonhos; e a ébria confluência humana
Vazia ecoa-se de raça em raça.
Ao gozo segue a dor, e o gozo a esta.
Ora o vinho bebemos porque é festa,
Ora o vinho bebemos porque há dor.
Mas de um e de outro vinho nada
resta.
.
Rubaiyat
Fernando Pessoa, em Contemporânea 2
de julho de outubro de 1926, p. 98.
****
COMO CITAR:
FENSKE,
Elfi Kürten (pesquisa, seleção, organização e edição). Os rubaiyát's do poeta persa Omar Khayyam.
In: Templo Cultural Delfos,
agosto/2022.
****
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