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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

sábado, 18 de novembro de 2023

Osho Rajneesh - "Deus é Brasileiro"



ENTREVISTA

(Jornal "Correio Brasiliense" - (1985)



https://www.youtube.com/watch?v=U2sAahOA4dQ


Bhaskar entrevistou Osho por duas vezes em 1985 para o Correio Braziliense e outra vez em 1989 para a Folha de São Paulo. Essa é a segunda entrevista em 1985. Já são quase 40 anos, hoje os entendimentos gerais são outros, informações, mas trazemos essa segunda entrevista. Todas estas três entrevistas foram literalmente excluídas das mídias, consegui essa cópia e não sei até quando ficará disponível.


POEMA


Primeiro aprenda a ficar sozinho.
Primeiro comece a se divertir sozinho.
Primeiro comece a amar a si mesmo.
Primeiro seja tão autenticamente feliz, que se ninguém vem, não importa;
você está cheio, transbordando.

Se ninguém bate à sua porta, está tudo bem.
Você não está em falta.
Você não está esperando por alguém para vir e bater à porta.
Você está em casa.
Se alguém vier, é bom e é belo.
Se ninguém vier, também é bom e belo.
Assim você notará que o seu maior medo, se acabará, o medo da solidão.

Como uma amiga uma vez me disse: "Apaixonou por si mesmo, e começou a existir".
Assim também vos digo: a mais perigosa das pessoas 
é aquela que passou por sua dor e solidão e sobreviveu, 
pois ela sabe que pode sobreviver à tudo que enfrentar".

Uma borboleta que viveu sozinha em seu casulo durante dias 
sabe que ela pode sobreviver na terra, afinal, e isso a faz capaz de voar,
pois não há voo se não soubermos como e onde pousar.

Em seguida, você pode passar para um relacionamento.
Agora você se move como um mestre, não como um mendigo.
Mas assim como um mestre não come qualquer tipo de comida,
você deverá saber escolher o que comer, o que vestir, como se comportar.

Saber escolher personalidades, não rostos.
Há milhares de mendigos que se escondem atrás de rostos de mestres,
e mestres que por sua humildade se escondem entre os mendigos.

Você saberá quando conhecer a pessoa certa.
Você saberá quando conhecer o mestre que lutará ao seu lado.
Será aquele que tirará o seu segundo maior medo,
o de lutar ao lado de alguém, o de se relacionar.

E a pessoa que viveu em sua solidão será sempre atraída para outra pessoa
que também está vivendo sua solidão lindamente, 
porque o mesmo atrai o mesmo.

Quando dois mestres se encontram, mestres do seu ser, de sua solidão,
a felicidade não é apenas acrescentada: é multiplicada.
Torna-se uma tremendo fenômeno de celebração.

E eles não exploram um ao outro, eles compartilham.
Eles não utilizam o outro.
Em vez disso, pelo contrário,
ambos tornam-se UM e
desfrutam da existência que os rodeia.

Osho Rajneesh


Ouça o poema declamado por “Mundo dos Poemas”:

 

https://www.youtube.com/watch?v=8znuAuVQuvs











terça-feira, 14 de novembro de 2023

HOMENAGEM AO MUNICÍPIO EM QUE NASCI

 



 

SAUDAÇÃO A FLORESTÓPOLIS

(No transcurso de seu 72º aniversário)

 

 

Sergio de Sersank (*)

 

  

Na gleba ainda em floresta,

como novos bandeirantes,

unem-se e erguem, confiantes,

os heroicos pioneiros,

a princípio, algumas casas,

pequena venda e  pensão

e o  “Patrimônio São João”

começa a acolher tropeiros.

 

Desponta, assim, promissora

a década de cinquenta,

o mundo, então, se orienta

para a pacificação.

Nasce um novo Município.

Traz no nome a sua origem.

Sobre seu solo  se erigem

o templo, a escola, a estação.

 

Às margens da rodovia

entre os verdes cafezais

das grandes áreas rurais,

ridente, cresce a cidade.

Planta-se a cana-de-açúcar,

o milho, o trigo, o algodão,

o arroz, o soja e o feijão.

E faz-se a prosperidade.

 

Surgem as oficinas,

a primeira serraria,

as casas de alvenaria,

o estádio, o clube, o cinema.

Consolida-se o comércio.

E, ante o fascínio do “novo”,

confraterniza-se o povo.

Progredir será seu lema.

 

Florestópolis é o berço

da Pastoral da Criança.

Com esse título avança

sua  gente varonil.

É terra de bandeirantes

e, na medida em que cresce,

dignifica e engrandece

o nosso amado Brasil.

 

 

Londrina, 14 de novembro de 2023

 

 (*) O poeta Sergio de Sersank, hoje residente em Londrina, é natural de Florestópolis.


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HINO OFICIAL DE FLORESTÓPOLIS

Música: Sebastião Lima
Letra: 
Cláudio Alvim Barbosa (Zininho)

Nasceste Florestópolis
Do labor de modernos Bandeirantes.
Surgiste com o destino
Dos que nascem triunfantes.
Ao céu azul e a natureza
É preciso que se some
A beleza da floresta
Que te emprestou o nome

Siga o caminho da glória
Na marcha firma para a vitória.
Hás de ser plena de sucesso
Na caminhada para o progresso.
És a rainha sem par
Do Vale Paranapanema
Teu solo é chama cintilar
Qual um formoso diadema

Terra amada e gentil
És a mais linda que há.
Recanto feliz do meu Brasil,
Orgulho do Paraná.

Nasceste Florestópolis
Do labor de modernos Bandeirantes.
Surgiste com o destino
Dos que nascem triunfantes.
Ao céu azul e à natureza
É preciso que se some
A beleza da floresta
Que te emprestou o nome.

 

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Bandeira do Município 


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FOTOS ANTIGAS

A Matriz Paroquial dos primeiros anos


A Matriz da Paróquia de S. João Batista em construção



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Bandeira de Florestópolis


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sábado, 4 de novembro de 2023

Chris Rea "Heaven"




https://youtu.be/zeyN52vyj_E?si=6GsrEOzkCu-ZHHUH

from the album "Auberge", 1991



Sting - Fragile | Maëlle vs Gulaan | The Voice France 2018 | Duels





https://youtu.be/12U1-CGj_ks?si=AObqRFsSKAAVyVtd

CHICO MENDES, eternamente

DAVID GILMOUR ▲ ROGER WATERS - Comfortably Numb





https://youtu.be/G_MXLI5hyEc?si=BMKTKcnXQhBOpHAp


PINK FLOYD ETERNAMENTE


Pink Floyd - EDITED VIDEO from Two Different Concerts: Roger Waters's "In The Flesh" and David Gilmour's "Live in Gdansk" - (video editado a partir de Roger Waters: In The Flesh y de David Gilmour Live in Gdansk). Confortably Numb © 1979.


sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Os rubaiyát's do poeta persa Omar Khayyam

 



Os rubaiyát's do poeta persa Omar Khayyam

Wikipédia

Omar Khayyam


BIOGRAFIA

Ghiyath al-Din Abu'l-Fath Umar ibn Ibrahim Al-Nishapuri al-Khayyam, ou simplesmente, Omar Khayyam nasceu e morreu em Nishapur, província de Khorassan, na Pérsia (c.1050-c.1123). Importante astrônomo, matemático e pensador em sua época, chegou a nós como poeta. Escreveu centenas de poemas em forma de quadras, chamados "Rubaiyat". Exprimiu-se em poesias breves e satíricas. Nada negou nem afirmou, apenas gozou o presente e colheu os frutos da vida ao sabor do vinho e de todas as cores, ou vindo o som do alaúde, sentindo o perfume das rosas e acariciando os seios cor de neve de uma bela mulher... Seu hedonismo, só depois de seis séculos, chegou ao Ocidente, e tornou-se o poeta persa um dos autores mais populares do mundo. Sua poesia, universal, sobreviveu ao passar dos anos e às diversas traduções. Há qualquer coisa de intrigante e misteriosa no fato de que os leitores de uma era eletrônica e globalizada se deliciem com esta poesia simples e intemporal.

 

  POEMAS TRADUZIDOS POR BANDEIRA


Omar Khayyam, no livro "Rubaiyat".

 

[Prefácio e Tradução Manuel Bandeira/ a partir da Tradução francesa de Franz Toussaint; texto orelhas Affonso Romano de Sant'Anna]. 3ª ed., Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

 

 

- 1 -

Sabem todos que nunca

Murmurei uma prece.

Sabem todos que nunca

Escondi meus pecados.

 

Ignoro se realmente

Existe uma Justiça

E uma Misericórdia.

Nada temo no entanto.

 

Nada temo. Antes nelas,

Se é que existem, confia

Minh'alma, porque sempre

Fui um homem sincero.

 

§§

- 2 -
O que é melhor? Sentarmo-nos
Numa taverna e o exame
De consciência fazermos,
Ou bem numa mesquita


Prosternarmo-nos de alma
Fechada? Não me inquieta
Saber se um Senhor temos
E o que fará de mim.

 

 

§§

- 3 -
Olha com indulgência os homens

Que se embriagam. Dize que tens

Outros defeitos. Se quiseres

Ter a paz, a serenidade,

 

Volta-te para os deserdados

Da existência, para os humildes

Que sob o peso do infortúnio

Gemem, e sentir-te-ás feliz.

 

§§

- 4 -
Procede sempre de maneira
Que de tua sabedoria
Nunca sofra o teu semelhante.
Domina-te. Jamais te entregues


À ira. Se queres chegar
Um dia à paz definitiva,

Sorri aos golpes do Destino
E nunca batas em ninguém. 

§§

 

- 5 - 
Uma vez que se ignora o que é que nos reserva
O dia de amanhã, busca ser feliz hoje.
Vai sentar-te ao luar e bebe. Pois talvez
Não vivas mais quando amanhã voltar a lua.  

 

§§

 

- 6 - 

Alcorão, o livro supremo,

É lido às vezes pelos homens.

Mas que homem na leitura dele

Se deleita todos os dias?

 

Repara: há nas bordas das copas

Gravada uma secreta máxima

Que todos somos obrigados

A compreender e saborear.

 

§§

 

- 7 - 

Nosso tesouro? O vinho.

O palácio? A taverna.

E os fiéis companheiros?

O vinho e a embriaguez.

 

Ignoramos o medo,

Pois sabemos que nossos 

Corações, nossas almas,

Nossas copas e nossas

 

Roupas enodoadas

Pelas bebidas, nada,

Nada podem temer

Do pó, da água, do fogo.


§§

 

- 8 - 

Satisfaze-te neste mundo
Com poucos amigos. Não busques
Tornar durável a amizade
Que possas sentir por alguém.


Antes de apertares na tua
A mão que te estendem, pergunta
A ti mesmo se ela algum dia
Não se erguerá para ferir-te. 

 

§§

 

- 9 - 

Outrora era este vaso um pobre

Amante que da indiferença

De uma mulher gemia. A asa

No gargalo... o braço a enlaçá-la.

 

§§

 

- 10 - 

Vil coração que amar não sabes,

De amor não podes te embriagar!

Se não amas, como apreciares

O fulvo sol, o doce luar?

 

§§

 

- 11 - 

Estou sentido que hoje

Meus anos reflorescem.

Vinho! Vinho! Que as chamas

Dele me abrasem... Vinho!

 

Não importa qual seja... 

Pois qualquer um, o melhor,

Parecer-me-á, acredita,

Amargo como a vida. 

 

§§

 

- 12 - 
Nenhum poder sobre o destino
Te foi dado, sabes. Portanto
Que adianta a ansiedade em que ficas
Pela incerteza do amanhã?


Então, se és um sábio, procura
Tirar do momento presente
O maior proveito possível.
O futuro o que te trará?  

 

§§
 

- 13 -

Chegada é a estação inefável,

A estação da esperança, quando,

Impacientes por expandir-se,

Buscam as almas a aromada

 

Solidão. Cada flor que cheira

Será a branca mão de Moisés?

Será cada brisa que sobra

O doce hálito de Jesus?

 

§§

 

- 14 - 

Não anda firme em seu caminho
O homem que não colheu o fruto
Da verdade. Se conseguir,
Porém, da árvore da Ciência


Arrebatá-lo, saberá
Que passado e futuro em nada
Diferem daquele enganoso
Primeiro dia da Criação.

 

§§

 

- 15 -
Além da Terra e do Infinito
Eu procurava o Céu e o Inferno.
Mas uma voz solene disse-me:
– "Procura-os dentro de ti mesmo."

 

§§

 

- 16 -

Nada mais me interessa. Ergue-te,
Traz-me vinho! Amiga, esta noite
Tua boca amorável é a
Mais bela rosa do Universo.


Vinho! Vinho vermelho como
Tuas faces! E que os meus remorsos
Sejam leves, leves, tão leves
Como os cachos dos teus cabelos!

 

§§

 

- 17 -

A viração da primavera

Refresca as pétalas das rosas,

E na sombra azul do jardim

Beija as faces da minha amada.

 

Apesar da felicidade

Que gozamos outrora, esqueço

O passado. A doçura de hoje

É, querida, tão imperiosa!

 

§§

 

- 18 -

Por quanto tempo ainda encherás

De pedras o oceano? Não tenho

Senão o máximo desprezo

Por devotos e libertinos.

 

Vais para o Céu? Vais para o Inferno,

Khayyam? Quem poderá dizê-lo?

Sabes de alguém que tenha visto

Essas regiões desconhecidas?

 

§§

 

- 19 -

Bebedor, urna imensa, ignoro

Quem te modelou. Sei apenas

Que podes conter muito vinho

E a Morte quebrar-te-á um dia.

 

Então procurarei saber

Por que razão foste criado,

Por que razão foste feliz, 

Por que não serás mais que pó.

 

§§

 

- 20 -

Mais rápidos que a água do rio, 

Que o vento do deserto, escoam-se

Os dias. Dois não me interessam:

São o de ontem e o de amanhã.

 

§§

 

- 21 -
Não posso evocar o dia
Do meu nascimento, nem
Dizer quando morrerei.
Que homem saberá fazê-lo?


Vem, minha amada! À embriaguez
Quero pedir que me faça
Esquecer que neste mundo
Jamais saberemos de nada.

 

§§

 

- 22 -

Khayyanm que cosia as tendas

Da Sabedoria, foi,

Caindo da dor no fogo,

Reduzido a cinza. Então

 

O anjo Azrael cortou as cordas

Da tenda dele. Depois

A glória de Khayyam vendeu-a

À Morte por uma canção

 

§§  

 

- 23 -
É inútil, Khayyam, penares
Por teres pecado tanto.
Depois da morte só existe
O nada ou a Misericórdia.

 

§§  

 

- 24 - 
Nos conventos, nas sinagogas
E nas mesquitas é costume
Irem refugiar-se os fracos
Que a ideia do Inferno apavora.


O homem que conhece a grandeza
De Deus não acolhe em sua alma
As sementes más do terror
E da imploração lamentosa.

 

§§

 

- 25 -
Na primavera vou, às vezes,
Sentar-me num campo florido.
E se uma bela rapariga
Vem trazer-me um copo de vinho,


Não penso em minha salvação
No outro mundo. Se me deixasse
Dominar por esse cuidado,
Valeria menos que um cão. 

 

§§

 

- 26 -

O vasto mundo: apenas
Grão de poeira no espaço.
Toda a ciência dos homens:
Só palavras, palavras.


Povos, animais, flores
Dos sete climas: sombras.
Resultado de toda
Tua meditação: nada.

 

§§

 

- 27 -

Admitamos que tenhas

Resolvido o difícil

Enigma da Criação.

Qual será o teu destino?

 

Admitamos que tenhas

Conseguido afinal

Desvendar a Verdade.

Qual será o teu destino?

 

Admitamos que tenhas

Sido feliz cem anos,

E outros cem ainda o desejas.

Qual será o teu destino?

 

§§  
 

- 28 -
Convence-te disto:
Um dia tua alma
Deixará teu corpo
E serás lançado


Para trás do véu
Que há flutuando sempre
Entre este Universo
E o desconhecido.


Enquanto esse dia
Não chega, procura
Ser feliz. Esquece
Todo outro cuidado.


Pois não sabes de onde
Vens, tampouco sabes
Para onde irás
Depois de tua morte.

 

§§

 

- 29 - 
Os doutores e os sábios mais ilustres
Caminharam nas trevas da ignorância.
O que não impediu que em vida fossem
Tido por luminares de seu tempo.


Que fizeram? Pronunciaram
Algumas frases confusas
E depois adormeceram
Para toda a eternidade.  

§§

 

- 30 -

Pediu-me o coração: "Quero saber,

Quero instruir-me! Ensina-me Khayyam,

Tu que durante a tua vida inteira

Tanto tens estudado e trabalhado"

 

Disse a primeira letra do alfabeto,

E logo, pressuroso, o coração

Secundou: "Sei agora, um é o primeiro

Algarismo de um número sem fim".

 

§§

 

- 31 -
Ninguém pode compreender
O que é mistério, ninguém
Pode ver o que se esconde
Debaixo das aparências.


Nossas casas, salvo a última
– A terra, são provisórias.
Amigo, bebe o teu vinho!
Trégua às palavras supérfluas!

 

§§

 

- 32 -

Vida, jogo monótono

Em que só se está certo

De ganhar duas coisas:

Uma, a dor; a outra, a morte.

 

Feliz o que expirou

No dia em que nasceu

Mais feliz ainda quem

Não chegou a nascer!

 

§§

 

- 33 -

Nesta feira que tu atravessas

Nunca tentes fazer amigo,

Nem busques abrigo seguro.

Acolhe a dor sem procurares

 

Remédio: não o encontrarias.

Sorri em face do infortúnio.

Não esperes que te sorriam,

Pois seria tempo perdido.

 

§§

 

- 34 -

A Roda gira, descuidosa

Dos árduos cálculos dos sábios.

Renuncia aos teus esforços

De seguir o curso dos astros.

 

Mais sábio é meditares sobre

Esta certeza: morrerás

E não sonharás mais, e os vermes

Ou os cães, comerão teu cadáver.

 

 §§

 

- 35 -

Eu estava com sono, quando

A Sabedoria me disse:

As rosas da felicidade

Não perfumam jamais teu sono;

 

Em lugar de te abandonares

Nos braços desse irmão da Morte,

Bebe vinho! Para dormir

Terás, sabes, a eternidade.

 

§§

 

- 36 - 
O Criador do Universo e das estrelas

Superou-se a si mesmo ao criar a dor!

Bocas como rubis e cabeleiras

Embalsamadas, quantas sois na Terra!

 

§§

 

- 37 - 
Não posso divisar o céu:

Tenho os olhos rasos de lágrimas!

As fogueiras do Inferno são 

Uma centelha pequenina,

 

Pequenina, quando as comparo

A estas chamas devoradoras

Em que ardo todo. O Paraíso

Para mim é um instante de paz. 

 

§§

 

- 38 - 
Sono sobre a terra
Sono sob a terra.
Sobre e sobre a terra
Corpos estendidos.


Nada em toda parte.
Deserto do nada.
Homens vêm chegando.
Outros vão partindo.  

 

§§

 

- 39 - 
Velho mundo que és percorrido

A galope pelo cavalo

Branco e negro do dia e da noite,

És o triste palácio aonde

 

Cem Djemchids sonhando de glória,

Cem Bahrams sonhando de amor

Estiveram adormecidos

E despertaram soluçando.

 

§§  

 

- 40 - 

O vento sul veio fanar a rosa
Cuja beleza os rouxinóis cantavam.
Choraremos por ela ou por nós? Mortos
Nós, outras rosas desabrocharão.  

 

§§

 

- 41 -  

Ontem devias ser recompensado e não o foste.

Mas não deplores nada, nem esperes coisa alguma.

O que te deve acontecer está escrito no Livro

Que ao acaso vai folheando o vento da Eternidade.

 

§§

 

- 42 -

Quando eu ouço falar em bem-aventuranças

Noutra vida, respondo apenas: "Só no vinho

Posso confiar. Dinheiro à vista e não promessa!

O ruído do tambor só me agrada à distância..."

 

§§

 

- 43 -

Bebe vinho! Receberás

Com ele a vida eterna. Vinho!

Único filtro que te pode

Restituir a mocidade.

 

Mocidade! A estação divina 

Das rosas e dos vinhos e dos

Amigos sinceros! Desfruta

Esse instante fugaz que é a vida.

 

§§

 

- 44 -

Amigo, bebe vinho. Dormirás

Um dia para sempre sob a terra

Sem mulher nem amigo. Ouve um segredo:

Não reflorescem as tulipas murchas.

 

§§

 

- 45 -

Em voz baixa dizia a argila

Ao oleiro que a modelava:

"Já fui como tu, não te esqueças...

Portanto não me brutalizes!"

 

§§

 

- 46 -

Se és perspicaz, oleiro, evita machucar

A argila com que Adão foi modelado! Vejo

Em teu torno sofrer a mão de Feridum,

Oleiro, o coração de Khosru... Que fizeste.

 

§§

 

- 47 -

A cor da papoula provém

Do sangue de um rei enterrado. 

Nasce a violeta do sinal

Do rosto de um adolescente.

 

§§

 

- 48 -

Há milhares de séculos

Há auroras e crepúsculos

Há milhares de séculos

Giram no céu os astros.

 

Pisa pois com cautela

A terra: este torrão

Porventura o olho lânguido

Foi de um adolescente.

 

§§

 

- 49 -

As raízes deste narciso

Que treme à beira do regato,

Tiram seiva talvez dos lábios

Decomposto de uma mulher.

 

Pisa de mansinho na relva!

Ela pode ter germinado

Das cinzas de faces que tinham

O brilho das papoulas rubras!

 

§§

 

- 50 -

Vi ontem sentado um oleiro

Modelando os flancos de um vaso;

Fora a argila que ele amassava

Crânios de reis, mãos de mendigos...

 

§§

 

- 51 -
Disputam o bem e o mal
A primazia na terra.
O Céu não é responsável
Pelas voltas do destino.


Não agradeças portanto
Ao Céu, nem tampouco o acuses...
O Céu é indiferente
A tuas dores e alegrias.  

 

§§

 

- 52 -

Se em teu coração

Enxertaste a rosa

Do Amor, tua vida

Não passou inútil.

 

Quer a voz de Deus

Ouvir procurasses,

Ou a taça brandisses

Sorrindo ao prazer.

 

§§

 

- 53 -

Viajor, cuidado! A estrada que palmilhas

É perigoso; o gládio do Destino,

Afiado. Deparando amêndoas doces,

Não as queiras colher; são venenosas.

 

§§

 

- 54 -

Um jardim, uma mulher, vinho,

Meu desejo e minha amargura:

Eis o meu Céu e o meu Inferno.

Mas quem já viu o Céu e o Inferno?

 

§§

 

- 55 -

Tu, cuja face humilha

A rosa silvestre; tu,

Cujo rosto semelha

Um ídolo chinês;

 

Sabes que teu olhar

Tornou o rei babilônio

Um bispo xadrez

Que foge da rainha?

 

§§

 

- 56 -

A vida escoa-se... Que é feito

De Bagade e Balk? O menor

Choque pode esfolhar a rosa

Demasiado desabrochada.

 

Por isso ouve este meu conselho:

Bebe vinho e contempla a lua

Lembrando as civilizações 

Que ela viu desaparecerem.

 

§§

 

- 57 -

Escuta o que a Sabedoria

Está a dizer-te o dia inteiro:

"Nada tens de comum com as plantas,

Que rebrotam quando podadas."

 

§§

 

- 58 -

Retóricos os sábios

Morreram sem chegar

À conclusão nenhuma

Sobre o ser e o não-ser.

 

Nós, ignaros, bebamos

O bom suco das uvas,

Deixando aos grandes homens

O regalo das passas.

 

§§

 

- 59 -

Nenhum proveito trouxe ao Universo o meu

Nascimento. Não o mudará na imensidade

Nem no esplendor a minha morte. Quem me explica

Por que vim a este mundo e hei de um dia ir-me embora?

 

§§

 

- 60 -

Cairemos na estrada do Amor

E o Destino nos pisará.

Ergue-te, moça, ó linda taça!

Beija-me antes que eu seja pó.

 

§§

 

- 61 -

Só conhecemos da ventura o nome.

Nosso mais velho amigo é o vinho novo

Afaga o único bem do sangue dos vinhedos.

 

§§

 

- 62 -

O paço de Bahram

É hoje abrigo das corças.

Feros leões vagueiam

No parque, ora deserto.

 

Bahram, que capturava

Os onagros selvagens,

Dorme hoje sob um cômoro

Onde pastam os asnos.

 

§§

 

- 63 -
Ah, não procures a felicidade!
A vida dura o tempo de um suspiro.
Djemchid e Kai-Kobad hoje são poeira.
A vida é um sonho; o mundo, uma miragem. 

 

§§

 

- 64 - 

Senta-te e bebe: uma ventura

Que Mahmud jamais conheceu.

Ouve: os cânticos dos amantes

São os veros salmos de Davi.

 

Não te mergulhes no passado

Nem no porvir. Teu pensamento

Não vá além do presente instante!

Este é que é o segredo da paz.

 

§§

 

- 65 - 

Os homens estreitos ou orgulhosos

Fazem distinção entre a alma e o corpo.

Eu afirmo apenas que o vinho acaba

Com as preocupações e nós dá o sossego.

 

§§

 

- 66 - 

Que enigma estes astros que giram no espaço!

Cautela, Khayyam, com a vertigem que em torno

De ti faz caírem os teus companheiros!

Agarra-te à corda da Sabedoria.

 

§§

 

- 67 - 

Não temo a morte. prefiro,
Irmãos, esse inelutável
Ao outro imposto ao nascermos.
O que é a vida afinal?


Um bem que me foi confiado
Sem o meu consentimento
E que eu com indiferença
Restituirei um dia. 

 

§§

 

- 68 - 

A vida passa, caravana rápida!

Sofreia o animal, busca ser feliz.

Por que estás triste, rapariga? Vamos

Dá-me vinho, que a noite já vem perto.

 

§§

 

- 69 -

Ouço dizer que os amantes
Do vinho vão para o Inferno.
Não há verdades na vida,
Mas há evidentes mentiras.


Se porventura os amantes
Do amor e do vinho vão
Para o Inferno, então vazio
Deve estar o Paraíso. 

 

§§

 

- 70 - 

Estou velho. Minha paixão

Por ti conduz-me à sepultura,

Pois não cesso de encher de vinho

De tâmara esta grande copa.

 

Minha paixão por ti levou 

De vencida a minha razão.

E o tempo esflora sem piedade

A bela rosa que eu possuía.

 

§§

 

- 71 - 

Podes perseguir-me incessante,

Ó imagem de outra ventura!

Podeis, ó vozes amorosas,

Modular os versos encantos!

 

Olho só para o que escolhi.

Só escuto o que já me embalou.

Dizem-me: "Deus te perdoará."

Recuso o perdão que não peço. 

 

§§

 

- 72 - 

Um pedaço de pão, um pouco de água,

Fresca, à sombra de uma árvore e os teus olhos!

Nenhum sultão é mais feliz do que eu.

Nem mendigo nenhum mais melancólico 

 

§§

 

- 73 - 

Por que tanta delicia e afagos

No começo do nosso amor?

Mas agora o teu só prazer

É rasgar o meu coração.

 

§§

 

- 74 - 

Quando minha alma pura e a tua

Abandonarem nossos corpos,

Virão colocar um tijolo

Embaixo das nossas cabeças.

 

E um dia virá um tijoleiro, 

Que recolherá minhas cinzas

E as tuas, em sua oficina

Fará com eles uns tijolos

 

§§

 

- 75 - 

Vinho! Meu coração enfermo

Necessita desse remédio

Para curar-se! Vinho cor-

De-rosa! Vinho perfumado!

 

Vinho, vinho, para apagar

O incêndio da minha tristeza!

Vinho, vinho, e o teu alaúde

De cordas de seda, ó amada!

 

§§

 

- 76 - 

Falam de um Criador...Terá formado

Então os seres só para destruí-los?

Por que são feios? Quem é o responsável?

Por que são belos? Não compreendo nada.

 

§§
 

- 77 - 
Falam da estrada do conhecimento...
Uns dizem tê-la achado, outros procuram-na
Mas um dia uma voz há de exclamar-lhes:
“Não há estrada nenhuma, nem vereda!”

 

§§

 

- 78 - 

Dedica às chamas da aurora

O vinho da tua copa,

Que se assemelha à amorável

Tulipa da primavera!

 

Eia, dedica ao sorriso

De algum belo adolescente

O vinho de tua taça

Semelhante à boca dele!

 

Bebe descuidado e esquece

Que o punho do sofrimento

Te prostrará dentro em breve,

Talvez para sempre... Bebe!

 

§§

 

- 79 - 

Vinho! Vinho a jorro!

Que ele ferva dentro

De minha cabeça!

Salte em minhas veias!

 

Taças... E não fales!

Tudo são mentiras.

Taças... Mas depressa,

Que estou envelhecendo...

 

§§

 

- 80 - 

Um tal cheiro de vinho

Virá do meu sepulcro,

Que poderão os passantes

Embriagar-se aspirando-o

 

E tamanho sossego

Cercará o meu jazigo,

Que não poderão dele

Afastar-se os amantes.

 

§§

 

- 81 - 

No turbilhão da existência

Só são felizes aqueles

Que se consideram sábios

Ou não procuram instruir-se.

Fui inclinar-me sobre todos

Os segredos do Universo...

Voltei a casa invejando

Os cegos que eu encontrava.

 

§§
 

- 82 -
Dizem: "Não bebas mais, Khayyam!"
Respondo: "Quando bebo entendo
O que dizem rosas, tulipas,
E até o que não diz minha amada."


§§
 
- 83 -

Em que meditas, meu amigo?

Será nos teus antepassados?

Todos eles são pó no pó,

Meditas nas virtudes deles?

 

Repara só como sorrio. 

Toma desta copa e bebamos,

Ouvindo sem inquietação

O grande silêncio do mundo.

 

§§

 

- 84 -

Encheu de rosas a aurora

A copa do céu. No ar límpido
Modula seu canto o meigo
Derradeiro rouxinol.


O odor do vinho é mais leve.
Pensar que há agora quem sonhe
Glórias e honras! Que sedosos
São teus cabelos, querida!

 

§§

 

- 85 -

Amigo, não faças plano

Para amanhã. Sabes lá

Se poderás terminar

A frase que vais dizer?

 

Talvez bem longe amanhã

Estejamos deste albergue,

Já iguais aos que faleceram

Há mais de sete mil anos.

 

§§

 

- 86 -

Ó reciário dos corações,

Toma de uma urna e uma copa,

E vamos no dia que morre

Sentar à beira do regato.

 

Esbelto adolescente de olhos

Tão claros, tão claro semblante,

Contemplo-te e penso na urna,

Na copa que serás um dia.

 

§§

 

- 87 -

Há muito tempo minha juventude

Foi-se juntar a tudo o que é já morto,

Primavera de minha vida, estás

Onde estão as passadas primaveras.

 

Ó mocidade, sem que eu percebesse,

Te partiste! Partiste para sempre

Como todos os anos a doçura

Da primavera, que esta porém, volta...

 

§§

 

- 88 -

Abra-te, meu irmão, a todos os perfumes,

Todas as músicas, todas as cores. Beija,

Afaga todas as mulheres, e repete

Que a vida é breve e serás pó na terra um dia.

 

§§

 

- 89 -

Aspiras à paz na Terra: uma loucura.

Confiares no repouso eterno: outra loucura.

Morto, teu sono será breve, e ainda serás

Erva que pisarão, ou flor que murchará.

 

§§

 

- 90 -

Que possuo de verdade?

Que restará de mim

Depois de morto? É a vida

Breve como um incêndio.

 

Chamas que o transeunte

Não tardará a esquecer,

Cinzas que o vento espalha,

Varre: um homem viveu.

 

§§

 

- 91 - 
Convicção e dúvida,
Verdade e erro são
Palavras vazias
Como a bolha de ar.


Irisada ou baça,
Essa boca oca
É a imagem mesma
Da existência humana.  

 

§§

 

- 92 -

Riquezas do Khorassan,

Poder de Kai-Kaús, glória

De Kai-Kobad trocaria

Eu por um jarro de vinho.

 

Estimo o amante que geme

E suspira de volúpia;

Desprezo, porém, o hipócrita

Que murmura uma oração.

 

§§

 

- 93 -

Ouve este grande segredo,

Irmão, que te vou contar.

Quando o Universo clareou

Na luz da primeira aurora,

 

Adão já não era mais

Que uma triste criatura

Suspirando pela noite,

Suspirando pela Morte.

 

§§

 

- 94 -

A lua do Ramazan

Acaba de aparecer.

Amanhã o sol banhará

Uma cidade silente.

 

Os vinhos dormirão quietos

Em suas urnas, e à sombra

Dos bosques repousarão

Tranquilas as raparigas.

 

§§

 

- 95 -

Não pedi para nascer

Forcejo por aceitar,

Sem cólera nem espanto,

O que a vida me oferece.

 

E quando me for embora,

Partirei sem indagar

Explicação desta minha

Estanha estada na Terra.

 

§§

 

- 96 - 
Não deixes de colher os frutos
Que a vida te oferece. Corre
A todos os festins e escolhe
As copas que forem maiores.


Não creias que Deus leve em conta
Os nossos vícios e virtudes.
Nunca desprezes qualquer coisa
Que te possa fazer feliz.  

 

§§

 

- 97 -

Não me preocupa saber onde eu poderia

Comprar o manto da Perfídia ou da Mentira:

Desprezo e odeio pérfidos e mentirosos

Mas ando sempre à descoberta do bom vinho.

 

Os meus cabelos já estão brancos. Completei

Meus setent'anos. Aproveito a ocasião

De ser feliz no dia de hoje, que amanhã

Posso talvez não ter mais forças para tanto...

 

§§

 

- 98 -

Se soubesses quão pouco me interesso

Pelos quatro elementos naturais
E pelas cinco faculdades do homem!
Certos sábios da Grécia - ao que me dizes

 

Eram capazes de propor um cento
De enigmas aos seus ouvintes. É total
A minha indiferença a tal respeito.
Traz-me vinho, toca o alaúde e que as suas notas,

As suas modelações me façam lembrar
A brisa que cicia nas ramagens
Das árvores, a brisa leve, leve,
Leve… A brisa que passa como nós!

 

§§

 

- 99 -

Quando a sombra da Morte me alcançar

E o feixe de meus dias for atado,

Chamar-vos-ei e levar-me-eis, amigos,

À minha sepultura! E quando já

 

Me tenha eu transformado em pó na terra,

Modelareis com a minha cinza um vaso

Que enchereis de bom vinho. Então talvez 

Despertarei de novo para a vida.

 

§§

 

- 100 -

No silêncio da noite, como o imóvel

Galho queda-me o imóvel pensamento.

De uma rosa, que é a imagem de teu brilho

Precário, uma das pétalas caiu.

 

Onde estarás, reflito, neste instante,

Ó tu, que me estendeste a copa cheia

De vinho, e por quem chamo ainda, saudoso

E só, no ermo sem fim desta hora morta?

 

Certo nenhuma rosa se desfolha

Junto de quem agora desalteras;

E estás privada da ventura amarga

Com que eu te saberia embriagar...

 

§§

 

- 101 -

Onde os nossos amigos? Terá a Morte

Derrubado e pisado todos eles?

Ainda ouço-os na taverna... Estarão mortos?

Ou bêbados de tanto ter vivido?

 

§§

 

- 102 -

Quando eu deixar de existir,

Não existirão mais rosas, 

Ciprestes, lábios vermelhos,

Canções, vinho perfumado.

 

Não haverá mais auroras,

Não haverá mais crepúsculos.

Não haverá mais amores,

Nem penas, nem alegrias.

 

O mundo será abolido,

Pois do nosso pensamento

É que a sua realidade

Depende exclusivamente.

 

§§

 

- 103 -

Eis a única verdade: 

Somos os peões no xadrez

Que Deus joga. Ele desloca-nos

Para diante, para trás,


Detém-nos, de novo impele-nos,

Lança-nos um contra outro...

Depois um a um nos mete

Todos na caixa do Nada.

 

§§

 

- 104 -

Abóbada do céu

Se assemelha a uma taça

Emborcada. Sob ela

Erram em vão os sábios.

 

Seja igual teu amor

Ao da urna pela taça.

Vê... Lábio contra lábio

A urna dá-lhe o seu sangue.

 

§§

 

- 105 - 
Os sábios não te ensinam nada,
Mas ao acarinhares os longos
Cílios de tua bem-amada
Sentirás a felicidade.


Não te esqueça que tens os dias
Contados. Assim, compra vinho,
Busca um retiro sossegado
E no vinho a paz, o consolo.

 

§§

 

- 106 - 
O vinho te dará calor; das neves

Do passado e das brumas do futuro

Te aliviará; te inundará de luz;

Teus ferros quebrará de prisioneiro.

 

§§

 

- 107 - 
Nunca rezei numa mesquita,

Mas lá me sorria a esperança.

Hoje ainda vou sentar-me nelas:

Sua sombra é propícia ao sono.

 

§§

 

- 108 - 
Na terra multicolorida

Alguém caminha que não é

Nem muçulmano, nem infiel,

Nem opulento, nem humilde.

 

Não venera nem Deus nem leis.

Não acredita na verdade.

Jamais afirma coisa alguma.

Que homem é esse, bravo e triste?

 

§§

 

- 109 - 
Antes de tu poderes afagar

Um rosto que é semelhante a uma rosa, 

Quantos espinhos, quantos, dolorosos, 

Não tens que retirar de tua carne!

 

Teu pente de madeira que suplício

Não teve que sofrer quando o talharam?

Mas hoje ele mergulha deliciado

Na cabeleira de um adolescente.

 

§§

 

- 110 - 
Quando a brisa pela manhã

Entreabre as rosas, cochichando-lhes

Que as violetas já despertaram,

Só é digno de viver aquele

 

Que, contemplando o quieto sono

De uma grácil adolescente,

Toma de sua taça, bebe,

Esvazia-a e depois atira-a.

 

§§

 

- 111 -

Aprendes o que amanhã

Pode acontecer-te? Confia,

Senão não deixará a sorte

De justificar teus receios

 

Nada merece o teu esforço,

Não te prendas a nada, não

Questiones livros nem pessoas,

Pois nosso destino é insondável!

 

§§

 

- 112 -
Senhor, ó Senhor, responde-nos!
Deste-nos olhos, permitiste
Que a beleza das criaturas
Perturbasse os nossos sentidos.


Dotaste-nos da faculdade
De ser felizes, e pretendes
Todavia que renunciemos
A gozar dos bens deste mundo?


Mas isto é-nos mais impossível
Que virar, Senhor, uma taça
Para o chão, sem que se derrame
O líquido que ela contém.

 

§§

 

- 113 -
Pedi numa taverna a um velho sábio

Que sobre os mortos algo me ensinasse.

"O que há de certo é que não voltarão",

Disse. "É tudo o que sei. Bebe teu vinho!"

 

§§

 

- 114 -
Olha! Escuta! Na brisa de uma rosa estremece.

Um rouxinol canta-lhe um hino apaixonado.

Uma nuvem parou. Bebe, e esquece que a brisa

Desfolha a rosa, leva o canto e a fresca nuvem.

 

§§

 

- 115 -
És uma lanterna mágica,

Ó céu! A lâmpada é o sol;

O mundo, a tela na qual

Passam as nossas imagens.

 

§§

 

- 116 -

"Eu sou a maravilha

Do mundo", a rosa disse.

"Que perfumista ousara

Expor-me ao sofrimento?"

 

Um rouxinol cantou:

"Um dia de ventura

Pode ser que prepare

Todo um ano de lágrimas."

 

§§

 

- 117 -
Hoje à noite, amanhã,

Talvez já não existas.

É tempo de pedires

Um vinho cor-de-rosa.

 

Comparaste, insensato,

A um tesou, e acreditas

Que os ladrões virão um dia

Roubar o teu cadáver?

 

§§

 

- 118 -
Sultão, teu glorioso fado

Está escrito em constelações

Onde Khosru resplandece!

Desde o princípio dos tempos

 

Teu cavalo de áureos cascos

Salta entre os astros. Se passas,

Um turbilhão de centelhas

Te esconde dos nossos olhos.

 

§§

 

- 119 - 

O amor que não devasta

Não é amor. A brasa

Pode espalhar acaso

Um calor de fogueira?

 

Noite e dia, durante

Toda a sua vida, o amante

Verdadeiro consome-se

De dor e de alegria.

 

§§

 

- 120 -
Não sairás da noite que nos cerca,

Por mais que te debatas... Adão, Eva,

Que atroz deve ter sido o vosso beijo,

Pois nos gerastes tais desesperados!

 

§§

 

- 121 -
Flores do céu deixam cair as suas pétalas.

Como não está já o meu jardim coberto delas?

E como o céu espalha sobre a Terra,

Verto eu também vinho rosado em minha taça.

 

§§

 

- 122 -
Bebo vinho como as raízes do salgueiro

Bebem as águas cristalinas da torrente,

Deus me criou sabendo bem que eu beberia:

Se eu me abstivesse de beber, Deus falharia.

 

§§

 

- 123 -
Só o vinho pode te livrar dos teus cuidados;

De entre as setenta e duas seitas vacilares.

Não te separes, pois, do mago que possui

Poder de transportar-te às regiões onde esqueces.

 

§§

 

- 124 -
Toda manhã o orvalho pesa sobre as rosas,

Jasmins, tulipas, mas o sol livra-se do fardo.

Toda manhã meu coração pesa em meu peito;

Mas teu olhar logo o liberta da tristeza.

 

§§

 

- 125 -
Se queres ter a solidão magnifica

Dos astros, foge aos homens e às mulheres.

Afasta-te de todos. De nenhuma

Dor participes, nem de festa alguma.

 

§§

 

- 126 -
O vinho tem a cor das rosas.

Não é talvez sangue das uvas,

E sim das rosas. Esta copa

Talvez não seja de cristal,

 

Mas de azul do céu coagulado.

A noite, tão contrária ao dia,

Talvez não seja a noite negra

Mais do que a pálpebra do dia.

 

§§

 

- 127 -
O vinho proporciona aos sábios

Embriaguez como a dos Eleitos.

Restitui-nos a mocidade,

Dá-nos tudo que desejamos.

 

Queima-nos como uma torrente

De fogo, mas por outro lado

Pode mudar em fresca água

Nossas mais acerbas tristezas.

 

§§

 

- 128 -

Fecha o teu Corão. Pensa livremente.
Encara livremente o Céu e a Terra.
Ao pobre que passar, pedir-te esmola,
Dá-lhe a metade do que possuíres.


Perdoa sempre a todos os culpados.
Não concorras jamais para a tristeza
De nenhuma criatura. Se tiveres
Vontade de sorrir, esconde-te. 

 

§§

 

- 129 -

Como o home é fraco! E inelutável

É o nosso destino! Não cumprimos

As juras que fazemos, e a vergonha

De tal conduta é-nos indiferente.

 

Eu mesmo muita vez, ai tantas vezes!

Procedo e falo como um insensato.

Tenho, porém, amigos, a desculpa

De estar ébrio de amor, e sou perdoável.

 

§§

 

- 130 -

Se este mundo é uma miragem,

Homem, por que desesperas

E incessantemente lembras

Tua mísera condição?

 

Entrega pois a tua alma

À fantasia das horas.

O Teu destino está escrito.

Nada poderá mudá-lo.

 

§§

 

- 131-

A névoa em torno desta rosa...

É voluta do seu perfume?

Ou frágil proteção que a bruma

Lhe deixou? Tua cabeleira

 

Sobre o teu rosto é noite ainda

Que o teu olhar vai dissipar?

Desperta, bem-amado! O sol

Doura as nossas copas. Bebamos!

 

§§

 

- 132 -

Toma a decisão de não mais

Contemplares o céu, e cerca-te

De algumas belas raparigas.

Afaga-as. Pois ainda hesitas?

 

Tens vontade de orar ainda?

Muitos homens antes de ti

Oraram fervorosamente...

Sabes lá se Deus os ouviu?

 

§§

 

- 133 -

A aurora! Ventura e pureza!

Um imenso rubi cintila 

Dentro de cada uma copa.

Toma estes dois galhos de sândalo,

 

Transforma um em alaúde,

Depois ateia fogo ao outro,

A fim de que ele nos perfume,

Querida, enquanto nos amamos.

 

§§

 

- 134 -

Fatigado de interrogar

Em vão os homens e livros, quis

Interpelar a urna de vinho.

Pousei meus lábios nos seus lábios

 

E murmurei: "Quando eu morrer,

Para onde vou?" E ela: "Bebe. 

Bebe em meus lábios longamente.

Nunca mais voltarás aqui."

 

§§

 

- 135 -

Sê feliz, quando ébrio, Khayyam

Sê feliz, se olhas tua amada.

Se sonhas que já não existes,

Sê feliz, pois a morte é o nada.

 

§§

 

- 136 -

Atravessei a deserta

Oficina de um oleiro.

Umas mil urnas falavam

Baixinho. Senão quando uma,

 

Vendo-me, disse: "Silêncio!

Deixemos que este que aí vai

Possa evocar os oleiros

E os compradores que fomos..."

 

§§

 

- 137 -

Dizes: "Só existe um bálsamo no mundo!"

Trazei-me todo o vinho do universo

Então! Mas coração tem tais e tantas

Feridas... Todo o vinho do universo,

E que o meu coração guarde as feridas!

 

§§

 

- 138 -

Como é leve a alma do vinho!

Assim que, para contê-la,

Vós, oleiros, modelais

Jarros de flancos bem lisos!

 

Cinzeladores de taças,

Com amor arredondai-as,

Para que essa voluptuosa

Possa afagar-se no azul.

 

§§

 

- 139 -

Homem ignaro, que te crês um sábio,

Vejo-te sufocado entre o infinito

Do passado e o infinito do futuro.

Entre os dois infinitos gostarias

 

De erguer um marco onde te alcandorares.

Melhor fora sentares sob uma árvore

Com um jarro de vinho, que faria

Esqueceres ali tua impotência.

 

§§

 

- 140 -

Mais uma aurora! Como todas

As manhãs, ante esse esplendor,

Aflijo-me de não poder

Agradecer ao seu Criador

 

Mas tantas rosas me consolam,

Tantos lábios se me oferecem!

Deixa o teu alaúde, as aves

Começam a cantar, querida...

 

§§

 

- 141 -

Contenta-te em saber que tudo

É mistério: a criação do mundo

E a tua, o destino do mundo

E o teu. Sorri desse mistério

 

Como de um risco que desprezas

Não creias que saberás algo

Depois da Morte. Paz aos homens

No silêncio negro do Além!

 

§§

 

- 142 -

No meio da campina verde a sombra

Desta árvore semelha-se a uma ilha.

Fica onde estás, passante! Entre o caminho

E a sombra que se move lentamente,

Talvez haja um abismo intransponível.

 

§§

 

- 143 -

Que devo fazer hoje? Ir à taverna?

Sentar-me num jardim? Folhear um livro?

Uma ave corta o espaço... Oh, embriaguez 

Da ave no quente azul! Melancolia

Do home na sombra fresca da mesquita?

 

§§

 

- 144 -

Um pouco mais de vinho, bem-amada!

Tua face ainda não tem a cor das rosas

Um pouco mais de tristeza, Khayyam!

A tua bem-amada vai sorrir-te.

 

§§

 

- 145 -

O nosso mundo é um caramanchel

De rosas. Nossos visitantes

São as borboletas. Os nossos

Músicos são os rouxinóis.

 

Quando já não há rosas nem

No bosque mais folhas nas árvores,

As estrelas são minhas rosas;

Teus cabelos, minha floresta.

 

§§

 

- 146 -

Servidores, não tragam lâmpadas:

Meus convivas, extenuados,

Adormeceram. Vejo bem

Como estão imóveis e pálidos.

 

E hirtos e frios como estão,

Jazerão na noite do túmulo.

Não tragam lâmpadas, não há

Aurora na mansão dos mortos.

 

§§

 

- 147 -

Ao cambaleares sob o peso

Da dor, ao secarem-te as lágrimas,

Pensa nas folhinhas da relva

Que cintilam depois da chuva.

 

Quanto te exaspera o esplendor

Do dia e desejas que a noite

Baixe definitiva, pensa

No despertar de uma criança.

 

§§

 

- 148 -

Bem como os pássaros feridos

Que se escondem para morrer,

Dissimulo a minha tristeza.

Vinho, vinho! Ouve os meus gracejos!

 

Tudo o que quero neste instante

É vinho, sons de alaúde, cantos,

Rosas e tua indiferença,

Amor, para a minha tristeza!

 

§§

 

- 149 -

Mil armadilhas colocaste,

Senhor, na estrada que trilhamos,

E depois disseste: "Ai daqueles

Que não souberam evitá-las!

 

Tudo vês e sabes. Sem tua

Permissão nada ocorre. Somos

Responsáveis por nossos erros?

Podes censurar-me a revolta?

 

§§

 

- 150 -

Aprendi muito, esqueci muito

Também, e por vontade própria.

Em minha mente cada coisa

Estava sempre em seu lugar.

 

Não cheguei à paz senão quando

Tudo rejeitei com desprezo.

Compreendera enfim que é impossível

Tanto afirmar como negar.

 

§§

 

- 151 -

Estudei muito quando moço.

Tive muito mestre eminente.

Orgulhei-me, regozijei-me

De meus progressos e triunfos.

 

Quando evoco o sábio que eu era,

Comparo-o à água, que se amolda

À forma do vaso, e à fumaça,

Que é dissipada pelo vento.

 

§§

 

- 152 -

A tristeza e a alegria, o bem e o mal

São parecidos aos olhos do sábio.

Para o sábio tudo o que principiou

Deve acabar. E se assim, pergunta

 

A ti mesmo, se tens, irmão, motivo

De porventura te regozijares

De uma felicidade que te chega,

Te afliges com o mal que não esperavas?

 

§§

 

- 153 -

Já que a nossa sorte no mundo

É penar e depois morrer,

Não seria um bem revertermos

À terra o mais breve possível?

 

E a nossa alma que Deus espera

Para julgá-la? Dirás tu.

Responder-te-ei quando instruído

Por alguém vindo de entre os mortos.

 

§§

 

- 154 -

Derviche, despoja-te dessas

Vestes pintadas, de que estás

Tão orgulhoso e que no entanto

Não trazias quando nasceste.

 

Não te saudará quem passar,

É verdade, mas dentro em teu 

Coração hás de ouvir cantar

Todos os serafins do céu.

 

§§

 

- 155 -

Ébrio ou sedento, não procuro

Senão dormir. Renunciei

A saber que é o bem, que é o mal,

E não distingo o mal do bem.

 

Para mim ventura e desgraça

Se parecem. Se uma alegria

Chega, dou-lhe pouca atenção,

Pois sei que uma dor se lhe segue.

 

§§

 

- 156 -

Não se pode incendiar o mar, nem convencer

O homem de que a ventura é perigosa. Todavia

Sabes que o menor choque é fatal à urna cheia,

E no entanto deixa intacta a urna vazia.

 

§§

 

- 157 -

Olha em torno de ti. Verás somente

Angústias, aflições e desesperos.

Teus melhores amigos já morreram,

Tens por só companhia, hoje, a tristeza.

 

Mas levanta a cabeça! Abre os dois punhos!

Agarra firmemente, caso o avistes

À mão, o que desejas. O passado

É um cadáver que deves enterrar.

 

§§

 

- 158 -

Cavalheiro que vejo ao longe na neblina

Do crepúsculo, aonde irá? Sei não. Por Vales

E montanhas? Sei não. Estará amanhã estendido...

Sobre a terra? Ou debaixo da terra? Sei não.

 

§§

 

- 159 -

"Deus é grande!" Esse grito do muezim

Ecoa no ar como uma queixa imensa

Cinco vezes por dia. Será a Terra.

Que implora o seu criador indiferente?

 

§§

 

- 160 -

Terminou o Ramazan. Corpos exaustos,

Almas fanadas, a alegria volta!

Contadores de histórias sabem novas

Vendedores de vinho - mercadores

 

De sonho - vão lançando os seus apelos.

Mas entre tantos só não ouço aquele

Que num momento me restituiria 

A vida - o apelo da mulher amada!

 

§§

 

- 161 -

Olha o arroio brilhante no jardim.

Como eu, dize que avistas o Kautar

E estás no Paraíso. Vai buscar

Tua amiga de faces de carmim.

 

§§

 

- 162 -

Não vês mais que as aparências

Das coisas e das criaturas.

Percebes tua ignorância,

Mas não abdicas do amor.

 

Aprende que Deus nos deu

O amor com a mesma intenção

Com que fez na natureza

Certas plantas venenosas.

 

§§

 

- 163 -

És infeliz! Pois não penses 

Em tua dor: não sofrerás.

Se essa dor é muito forte,

Pensa em todas as criaturas

 

Que inutilmente sofreram.

Escolhe uma mulher de alvos

Seios, mas evita amá-la.

E que ela também não te ame...

 

§§

 

- 164 -

Pobre homem, nunca saberás

Nada; jamais explicarás

Um só dos mistérios do mundo.

E já que as religiões prometem

 

Depois da morte o Paraíso,

Busca tua mesmo criar um

Para teu gozo aqui na Terra,

Pois o outro talvez não exista.

 

§§

 

- 165 - 

Lâmpadas que se apagam, esperanças

Que se acendem: aurora.

Lâmpadas que se acedem, esperanças

Que se apagam: noite.

 

§§

 

- 166 -

Todos os reinos por uma copa

De vinho límpido e generoso!

Todos os livros e dota a ciência

Por um suave aroma de vinho!

 

Todos os hinos do amor humano

Pela canção do vinho que corre!

A glória de Feridum

Pela cambiante cor desta urna!

 

§§

 

- 167 -

Recebi o golpe que esperava:

A minha amada abandonou-me.

Quando a possuía, era-me fácil

Exaltar todas as renúncias.

 

Junto de tua bem-amada,

Khayyam, ah como estavas só!

Sabe? Ela se foi embora

Para te refugiares nela...

 

§§

 

- 168 -

Senhor, me destruíste a alegria!

Senhor, ergueste uma muralha

Entre o meu coração amante

E o coração de minha amada!

 

Minha bela, rica vindima

Calcaste aos pés desapiedado.

Vou morrer, mas tu cambaleias,

Completamente embebedado!

 

§§

 

- 169 -

Silêncio, ó minha dor!

Deixa-me ir à procura

Do remédio. É preciso

Continuar a viver.

 

Pois os mortos não têm

Memória, e eu quero sempre,

Quero sempre rever

A minha bem-amada!

 

§§

 

- 170 -

Alaúdes, perfumes, copas,

Lábios, cabelos, grandes olhos:

Brinquedos que o Tempo destrói

Dia a dia - meros brinquedos!

 

Austeridade, solitude,

Meditação, prece e renúncia:

Cinzas que o Tempo esmaga e espalha

A seu bel-prazer  - tudo cinzas!

 

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Notas:

 

AZRAEL - O anjo da Morte. Assistia aos moribundos, separando a alma do corpo,

 

BAHRAN - Rei persa da dinastia do Sassanidas. Pereceu num pantano quando perseguia um asno selvagem.

 

DJEMCHID - Rei semi-lendário, considerado o pai da civilização persa.

 

FERIDUM - Rei semilendário da Pérsia, filho ou neto de Djemchid.

 

KAI-KOBAD - Rei persa, o primeiro da dinastia dos Kaianides.

 

KAI KAUS - Rei persa, sucessor de Kai-Kobad.

 

KOSRU - Rei persa, filho de Kai-Kobad.

 

MAHMUD - Sultão de Ghazni, conquistador da India.

 

 

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Omar Khayyam - poeta persa

 

OBRA RUBAIYAT DE OMAR KHAYYAM TRADUZIDA NO  BRASIL E PORTUGAL

RUBAIYAT DE OMAR KHAYYAM NO BRASIL

 

*(ver a preciosa pesquisa de Denise Bottmann, com várias observações)

 

Edições e traduções

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução Octavio Tarquinio de Souza / com base na versão francesa de Franz Toussaint]. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1928.

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução Alfonso Sáenz Pardo; prefacio Paulo Tacla]. Mundial Curityba, 1932.  em espanhol.

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução Martins de Oliveira]. Patrocínio: Brito & Santos Editores, 1933.

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Prefácio e Tradução Octavio Tarquinio de Souza / a partir da Tradução francesa de Franz Toussaint; posfácio Tristão de Athayde; capa Santa Rosa]. Coleção Rubáyát. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935; 1948; 12ª ed., 1957.

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução Matos Pereira]. Rio de Janeiro: Jangada, 1944.

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução, prefácio e notas Jamil Almansur Haddad/ a partir da Tradução inglesa de Fitzgerald; apresentação de Yadollah Azodi]. Coleção 'seleções preciosas' - vol. 2. São Paulo: Bolsa do Livro, 1944.

- Sugestões de um poeta persa. [Tradução e paráfrases de Joaquim de Araújo Filho]. ? 1945.

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução Emílio de Adour/ a partir da Tradução das edições 1ª e 5ª de Edward Fitzgerald; ilustrações Gordon Ross]. Pongetti, 1947.

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução Cordélia Fontainha Seta]. Belo Horizonte: Edições João Calazans, 1950.

- Rubaiyat de Omar Khayyam e meus haikais. [Tradução Eno Theodoro Wanke]. Santos: Of. Horácio Reis & Cie. Ltda. 1954; 2ª ed.,1959.  

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução, prefácio e notas Jamil Almansur Haddad/ a partir da Tradução inglesa de Fitzgerald]. São Paulo: Civilização Brasileira, 1956.

- Rubaiatas de Omar Khaiame / Rubáiyát Omar Kháyyám. [Tradução Ragy Basile / direto do persa; introdução e versão poética de Christovam de Camargo]. Rio de Janeiro: Editora Minerva, 1960.

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução Manuel Bandeira/ a partir da Tradução francesa de Franz Toussaint]. Coleção Biblioteca Universal Popular, n. 33. Editora Bup, 1964.

- O Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução: version en español Homero Icaza Sánches; versão em português Manuel Bandeira; ilustrações Eugene karlin]. Coleção Clássicos de Bolso, n. 1470. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1965.

- As mais belas Rubaiatas de Omar Khaiame. [Versão poética/Tradução Christovam de Camargo*; pinturas Solon Botelho]. Trilíngue: português, espanhol e francês. Rio de Janeiro: Conquista, 1970. {Edição premiada pelo Salão Nacional de Belas Artes}. *Tradução Ragy Basile / direto do persa.

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução Jamil Almansur Haddad/ a partir da Tradução inglesa de Fitzgerald; ilustração Marcus de Sant´Anna]. São Paulo: Pioneira, 1978. {Edição comemorativa dos 30 anos da Editora Pioneira/ Edição de Luxo Limitada, 954 exemplares, numerados e autografados}.

- O Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução (em nome) de Torrieri Guimarães**]. São Paulo: Hemus, s/d [1979].

- O Rubaiyat. Omar Khayyam. [Prefácio e tradução de Manuel Bandeira a partir da Tradução francesa de Franz Toussaint (1925); ilustrações Eugene Karlin]. Coleção Sabedoria e Pensamento. Rio de Janeiro: Ediouro, 1985.

- Rubaiyat. Omar Khayyam. [Tradução Eugenio Amado]. Belo Horizonte: Garnier, 1999.

- Apelo, Rubaiyat e Satã: poesia completaOmar Khayyam/ Eno Theodoro Wanke. [Tradução Eno Theodoro Wanke]. vol. 5. Rio de Janeiro: Plaquette, 2001.

- Rubaiatas de Omar Khaiame / Rubáiyát Omar Kháyyám. [Tradução Ragy Basile / direto do persa; introdução e versão poética de Christovam de Camargo]. São Paulo: Martin Claret, 2003.

- Rubaiyát. Omar Khayyām. [Tradução Ragy Basile; Christovam de Camargo; perfil biográfico Matos Pereira]. Martin Claret, 2003.

- Rubaiyat de Omar Khayyam: explicado. Paramahansa Yogananda / a partir da Tradução de Edward FitGerald). Madras, 2003. {Traduzido J. Donald Walters} 

- O Rubaiyat. Omar Khayyam. Coleção Prestígio Coroa 667. [Prefácio e tradução de Manuel Bandeira a partir da Tradução francesa de Franz Toussaint (1925); texto orelhas Affonso Romano de Sant'Anna]. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

- Rubaiyát. Omar Khayyām. [Tradução ]. Coleção clássicos do oriente. Blumenau: Eko, 2007.

- Rubaiyát. Omar Khayyām. [Tradução Octavio Tarquínio de Souza]. Coleção Clássicos do Oriente. Todo livro, 2008.

- Rubáiyát - Memória de Omar Khayyám. [Tradução Luiz Antônio de Figueiredo]. Editora Unesp, 2012.

- Rubaiyát. Omar Khayyām. [Tradução João Baptista de Mello e Souza; prefácio Marco Lucchesi]. Editora Topbooks, 2013.

- Rubaiyát. Omar Khayyām. [Tradução de Gentil Saraiva Júnior/ via Fitzgerald]. Edição bilíngue. Createspace, 2014.

- RubaiyátOmar Khayyām. [Tradução Milton Lins]. Recife: editora Bagaço, 2014.

- Meu RubaiyatOmar Khayyām. Tradução Ivo Barroso. Giordanus, 2017.

- Rubaiyát. Omar Khayyām. [Tradução João Baptista de Mello e Souza]. 2ª ed., Editora Garnier/ Itatiaia, 2020.

 

 

Rubaiyata de Omar Khayyam em Ebook online

- Os Rubaiyat de Omar Khayyam / versão em português de Alfredo Braga. In: Blog Alfredo Braga, s/data. Disponível no link. (Acessado em 19.7.2022).

- Rubaiayt - Odes ao vinho e ao amorOmar Khayyam. Tradução/versão pessoal José Maria Alves. In: homeoesp.org/livros online (2012). Disponível no link. (Acessado em 10.8.2022)

- Rubaiyat de Omar Khayyam. [Tradução Rafael Arrais/ a partir da versão Edward FitzGerald; ilustrações de René Bull, Adelaide H. Leeson, Arthur Szyk, Gilbert James e Mohammad Tajvidi]. Ebook. Textos para Reflexão, 2022.

 

 

Rubaiyata de Omar Khayyam em antologias e estudos

 

- O anticrítico de Augusto de Campos. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. {Omar Khayyám Rubáiyát - Tradução Augusto de Campos a partir da Tradução inglesa de Fitzgerald, no ensaio "A língua do pó, a linguagem do poeta"}.

Ezra Pound - ABC da Literatura. [Organização e apresentação Augusto de Campos; Tradução Augusto de Campos e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1990. {Rubaiyat (IX, XXV, LXV) de Omar Khayyam/ Tradução Augusto de Campos/a partir da Tradução inglesa de Fitzgerald}.

- Babel de poemas: uma antologia multilíngue. [Organização, seleção e Tradução Carlos Freire]. Versões bilíngues. Porto Alegre: L&PM, 2004. (Autores traduzidos: Alexander Pushkin, Shakespeare, Goethe, Radindranath Tagore, François Villon, Giuseppe Ungaretti, Omar Khayyam, Pier Paulo Pasolini, Konstantinos Kaváfis, Samir Al-Qasim, Galaktion Tabidze, F. V. Lorenz, ...). {"Dois quartetos" de Omar Khayyam / Tradução Carlos Freire/direto do persa}.

Pequeno dicionário de arte poética. Geir Campos. Rio de Janeiro: Conquista, 1960 (618 verbetes); Edições de Ouro, 1965; São Paulo: Cultrix, 1978 (revista e aumentada); 4ª edição - revista e aumentada*. Coleção Estrela de Ouro. Rio de Janeiro: Ediouro, 1989 (*640 verbetes com centenas de exemplos poéticos cuidadosamente selecionados). Rubaiyat / Tradução Geir Campos/ a partir do inglês Edward Fitzgerald - ilustração do verbete sobre os Rubaiyat's}.

 

 

Rubaiyat de Omar Khayyam em revistas, jornais e sites

 

Rubaiyat de Omar Khayyam. Quadras de 1 a 5 da Tradução em versos / tradutor Eno Theodoro Wanke. In:  Tapejara, nº 13, p. 14, maio de 1954.

Rubaiyat de Omar Khayyam. Quadras de 6 a 10/ Tradução Eno Theodoro Wanke. In:  Tapejara, nº 14, pg. 5, setembro de 1954.

Meu Rubaiyat. Ivo Barroso. In: Gaveta do Ivo, 1.3.2013. Disponível no link. (Acessado em 9.8.2021).

 

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*BOTTMANN, Denise. Rubaiyat [traduzido no Brasil]. In: não gosto de plagio, 9 de abril 2013/ com atualizações 28.12.2018. Disponível no link. (Acessado em 20.7.2022).

** BOTTMANN, Denise. Os Rubaiyat de Manuel Bandeira e de Torrieri Guimarães. In: Qorpus, edição 024. Disponível no link. (Acessado em 9.8.2021).

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Imagem: (2) Omar Khayyam - por © Ivona17.

 

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RUBAIYAT DE OMAR KHAYYAM EM PORTUGUAL

- Rubaiyat - quadras de Omar Khayyam: poeta persa do século XI. [Tradução Gomes Monteiro/ inclui um estudo biográfico do autor]. Lisboa: Diário de Notícias, 1927.  

- Rubaiyat: odes ao vinhoOmar Khayyam. [Tradução/versão Fernando Couto; prefácio Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro]. Lisboa: Moraes, 1963; 1970; 1982.

- Rubaiyat: odes ao vinho. Omar Khayyam. [Tradução Fernando Couto; prefácio Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro]. Lisboa: Estampa, 1990; 3ª ed., 1999.

- Rubaiyat: celebração da vida. Omar Khayyam. [Tradução A. César Rodrigues/ se­gundo a ver­são in­glesa de Fran­cis Scott Fitzge­rald]. Queluz: Coisas de Ler, 2002.

- Rubaiyat, Umar-I Khayyám [seleção, Tradução e notas Halima Naimova / direto do persa; apresentação Maria Aliete Galhoz; notas adicionais Pedro Belo Clara; revisão António Lampreia]. An­to­lo­gia é bi­lin­gue. Lisboa: Assírio & Alvim, 2009.

 

 

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Rubaiyat Fernando Pessoa

- Canções de beber na Obra de Fernando Pessoa. [Maria Aliete Galhoz - fixação de texto, organização, prefácio e bibliografia; pinturas de Eurico Gonçalves]. Lisboa: Edições de Arte, lda, 1997.

- Canções de beber. Rubaiyat na Obra de Fernando Pessoa [edição e prefácio Maria Aliete Galhoz; nota prévia Halima Naimova]. Coleção Páginas de Fernando Pessoa. Lisboa: Assírio & Alvim, em 2003. {A partir de dois tradutores ingleses: Fitzgerald e T. H. Weir}. 

- Poemas de Fernando Pessoa - Rubaiyat. Edição Crítica de Fernando Pessoa - vol. I - tomo 8. Lisboa: INCM - Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2009.

- Rubaiyat de Fernando Pessoa. [Tradução para persa de Sepideh Radfar; revisão poética Seyed Ali Salehi]. Edição bilingue persa-português. Lisboa: Embaixada de Portugal em Teerão; Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., 2022. {Inclui um texto inédito da autoria do professor Fernando Cabral Martins, analisando a influência que a obra de Khayyam exerceu no imaginário de Fernando Pessoa nos últimos anos da sua vida}.

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GALLOZ, Maria Aliete. O Rubā‘iyat de Umar-I Khayyām. In: A Phala / Documenta Poética, 6 de julho de 2009. Disponível no link. (Acessado em 20.7.2022).

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Imagens: (1) Omar Khayyam - por © Mariia Domnikova.  

 

 

Omar Khayyam - poeta persa

 

RUBÁIYAT DE OMAR KHAYYÁM EM TRADUÇÃO DE MANUEL BANDEIRA

 

OMAR KAYYAM POR MANUEL BANDEIRA

Omar Khayyam, cujo nome completo era Ghiyathuddin Abulfath Omar bin Ibrahim Al-Khayyami, o que vem depois de Omar significando "filho de Ibrahim, o fabricante de tendas", nasceu e morreu em Nishapur, província de Khorassan, na Pérsia (c. 1050-c. 1123). Parece ter seguido, a princípio, o oficio do pai. Entrando para um colégio na sua cidade natal, a fim de fazer os seus estudos, travou ali estreita amizade com Hassan Sabbah e Abú Ali Hasán Tusí, filhos de famílias nobres, mas arruinadas. Os três amigos firmaram um pacto mediante o qual cada um deles se comprometia, logo que a fortuna lhes sorrisse, a proteger os outros dois tanto quanto pudesse. O primeiro bafejado pela fortuna foi Abú Ali Hasán Tusí, que recebeu a nomeação de secretário e, pouco depois, a de vizir do Sultão, passando a chamar-se Nizam-Ul-Mulk. Cumprindo o pacto, nomeou a Hassan Sabbah para um alto cargo na corte, mas, entregando-se ele a toda classe de intrigas, não tardou a cair no desagrado do Sultão; refugiou-se numa cordilheira ao sul do Mar Cáspio e fundou a seita dos Kaschichinos, que espalhou o terror em todo o país. A Omar Khayyam foi concedida inicialmente uma pensão de 1.200 mithkals de ouro e, posteriormente, foi nomeado diretor do observatório astronômico de Merv. Dedicado ao estudo da matemática e da astronomia, escreveu tratados, um dos quais, sobre álgebra, tornou-se um livro clássico e foi traduzido no Ocidente por Woepke (1851). Elaborou a reforma do calendário muçulmano. Em vida era conhecido sobretudo como matemático e astrônomo. Mas foi poeta também, exprimindo-se em quadras epigramáticas (rubáyyát é a plural de rubay, quadra em persa). Compôs algumas centenas delas.

 

A filosofia que impregna esses breves poemas caracteriza-se pelo seu agnosticismo: não se pode negar nem afirmar coisa alguma, devemos contentar-nos com saber que tudo é mistério - a criação do mundo e a nossa, o destino do mundo e o nosso, jamais saberemos nada, jamais elucidaremos um só dos mistérios do universo; pelo seu imediatismo: goza o momento que passa, não te preocupes com o passado nem com o futuro - o passado é um cadáver que se deve enterrar, o futuro é indevassável, os homens falam de um Paraiso depois da morte, mas é bem possível que ele a exista e portanto, cria um Paraíso para o teu gozo na Terra, e que é um Paraiso? A sombra de uma árvore, vinho, os sons de alaúde, rosas, canções, uma bonita mulher de seios cor de neve... e melhor evitar amá-la, e que ela seja também incapaz de amar-te: Deus deu-nos o amor como a certas plantas deu o veneno; o seu hedonismo: o prazer é o fim da vida, nosso tesouro é o vinho, nosso palácio a taverna, nossos fiéis companheiros o vinho e a embriaguez, não penses na morte; depois da morte só pode haver duas coisas - o nada ou a misericórdia, colhe todos os frutos da vida, deixa-te penetrar de todos os perfumes, de todas as cores, de todas as músicas, acaricia todas as mulheres... Seu hedonismo, porém, não era o de um egoísta, não excluía a compaixão pelo próximo, e o poeta aconselhava: ao pobre que te pede uma esmolada metade do que possuis; perdoa todos os culpados; não concorras para a tristeza de ninguém.

 

Mais de seis séculos se passaram antes que as quadras do poeta persa fossem conhecidas no Ocidente, o que ocorreu em 1857 na Tradução francesa de Nicolas. Leu-a o inglês Edward FitzGerald (1809-1883), que encantado com os versos de Khayyam, empreendeu traduzi-los (já ele havia traduzido seis autos de Calderón de La Barca), publicando anonimamente em 1859 a Tradução em verso de 75 rubayyát. Passou porém quase despercebida embora Swinburne e Dante Gabriel Rossetti tivessem toma do conhecimento dela. Só oito anos depois apareceu nova edição. Com esta veio subitamente a popularidade. A poesia do persa serviu como arma de combate contra as convenções, a afetação moralista, o cant da era vitoriana.

 

A obrinha de FitzGerald tornou-se um clássico da literatura inglesa. Surgiram as traduções para outros idiomas, o francês, o alemão, o italiano, o dinamarquês, o húngaro. E novas traduções apeteceram, de outros autores - Sadik Ali (1878), Whinfield (1883), J. H. McCarthy (1889), Dole (1896), J. Payne (1898). E. Heron Allen (1898), Pollen (1915), Franz Toussaint (1923), etc. Octávio Tarquinio, que verteu para o português a Tradução de Toussaint, cita ainda as de Grolleau, J. Carpentier, Jules Marthold, Edmond Dulac, Claude Anet e Mirza Muhammad, que no prefácio à edição José Olympio do seu trabalho (1955) diz ter lido, preferindo afinal a de Toussaint. Foi esta que utilizamos no nosso trabalho, já que a de FitzGerald, se primorosa do ponto de vista literário, é, do ponto de vista da fidelidade ao texto original, inaproveitável.

 

Sente-se isto a priori, pois todas as quadras foram por ele traduzidas em decassílabos, rimando o primeiro, o segundo e o quarto versos, deixando solto o terceiro. Ora, só muito raramente será isso possível de fazer sem abandonar quase todo o original. Assim procedeu o inglês: alterou frequentemente as ideias de Khayyam, ora condensando-as, ora desenvolvendo-as, transpondo imagens, enxertando ideias e imagens suas... Na verdade pouco resta do poeta persa na Tradução do inglês. Apenas o sentido geral da sua filosofia e algumas belas imagens. Prefaciando a Tradução de Toussaint, escreveu Ali-Nô Rouze em 1923 quando servia na legação da Pérsia no Egito: "A limpidez das quadras, tanto quanto a sua profundidade, determinou na Europa o sucesso delas, apesar das odiosas traições do seu primeiro tradutor Nicolas e das falsas variações de FitzGerald." E mais adiante: "Tendo a fortuna de apresentar-vos a rosa vermelha que Mr. Franz Toussaint religiosamente colheu no mais melancólico jardim da Pérsia, admiro sobretudo que ela tenha guardado a sua cor e o seu perfume, a despeito dessa longa, perigosa viagem."

 

 

SIMPLES E INTEMPORAL POR AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA 

 

Faz sentido que seja Manuel Bandeira o tradutor de Omar Khayyam, aquele poeta persa do século XI, que com poemas escritos em forma de quadras, chamados "Rubaiyat", tornou-se um dos autores mais populares do mundo. Faz sentido porque a obra de Bandeira, iniciada na estética do "decadentismo", tem algo a ver com o sempre referido hedonismo de Omar Khayyam e a celebração de vinhos e mulheres. Bandeira, nessa edição optou por trabalhar sobre a Tradução francesa de Toussaint (1923), pois achava que a edição inglesa de FitzGerald (1859), que popularizou Omar Khayyan no Ocidente, sendo "primorosa" do ponto de vista literário, é, do ponto de vista da fidelidade ao texto original, "inaproveitável". Na verdade, FitzGerald resolveu "melhorar" e "recriar" o que não exigia nenhuma melhora ou recriação. O primeiro problema em torno da obra de Omar é saber quantas "quadras" deixou. Seriam 206 conforme a edição iraniana de 1461 ou 464 de acordo com a edição francesa de J.B. Nicolas (1857), que trabalhava na embaixada francesa em Teerã? Seriam as 178 da edição em Teerã, em 1943, ou as 121 da edição dinamarquesa de 1927? Com efeito, a bela e ilustrada edição italiana de Diego Angeli (Bérgamo, s/d) não tem uma só linha parecida com esta brasileira. Omar Khayyam é um fenômeno, criado e recriado por muitas mãos. Sua primeira Tradução no Ocidente, diferentemente do que Bandeira e outros afirmam, não foi a de Nicolas (1857), e sim a do austríaco Joseph von Hammer-Purgstall (1774-1856). Importante astrônomo, matemático e pensador em sua época, chegou a nós como poeta. Sua poesia sobreviveu à sua ciência e aos seus tradutores. Há qualquer coisa intrigante e misteriosa que faz com que leitores de uma era eletrônica e globalizada se deliciem com essa poesia simples e intemporal.

 

 

Omar Khayyam - poeta persa

 

OUTRAS  TRADUÇÕES

 

RUBÁIYAT DE OMAR KHAYYÁM EM TRADUÇÃO DE AUGUSTO DE CAMPOS  

Omar Khayyám. Rubáiyát - Tradução Augusto de Campos/ a partir da Tradução inglesa de Fitzgerald, no ensaio "A língua do pó, a linguagem do poeta", no livro "O anticrítico" de Augusto de Campos. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

 

IX

Em Naishapur ou Babilônia, alguma

Taça, ou amarga ou doce, sempre espuma,

Verte o Vinho da Vida, gota à gota,

Vão-se as Folhas da Vida, uma a uma.

 

XXIII

Ah, vem, vivamos mais que a Vida, vem,

Antes que em Pós nos deponham também;

Pó sobre Pó, e sob o Pó, pousados,

Sem Cor, sem Sol, sem Som, sem Sonho - sem.

 

XLV

Inferno ou Céu, do beco sem saída

Uma só coisa é certa: voa a Vida,

E, sem a Vida, tudo o mais é Nada.

A Flor que for logo se vai, flor ida.

 

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RUBÁIYAT DE OMAR KHAYYÁM EM TRADUÇÃO DE GEIR CAMPOS

 

Omar Khayyám. Rubáiyát. Tradução Geir Campos/ a partir do inglês Edward Fitzgerald. | ilustração do verbete sobre os Rubayat's, no livro "Pequeno dicionário de arte poética". de Geir Campos. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1965.

 

LXVI

Minha alma arremessei rumo ao Eterno,

Para ler o destino em seu caderno,

Mas dentro em pouco a alma tornou a mim

E disse: "Eu mesma sou o Céu e o Inferno!"

 

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Omar Khayyam - poeta persa

 

FORTUNA CRÍTICA SOBRE OMAR KHAYYAM / RUBAIYAT

 

ARAÚJO, Lucia. Trágica e bela uma viagem pelas 1001 faces da Persia e do Irã. Editora Alta Cult, 2021.

ARRUDA, Vasco. O Rubaiyat de Omar Khayyam. In: O Povo, 9.9.2009. Disponível no link. (acessado em 20.7.2022).
BARROSO, Ivo. Meu Rubaiyat. In: Gaveta do Ivo, 1.3.2013. Disponível no 
link. (acessado em 19.7.2022).

BOTTMANN, Denise. Rubaiyat [traduzido no Brasil]. In: não gosto de plagio, 9 de abril 2013/ com atualizações 28.12.2018. Disponível no link. (acessado em 20.7.2022).
FEITOSA, Márcia Manir Miguel. Uma Leitura de Fernando Pessoa "ele mesmo" à Luz do Ruba'iyat de Omar Khayyam. In: Hottopos, s/data. Disponível no 
link. (acessado em 19.7.2022).

FRAGMENTOSRubaiyát. Omar Khayyām. (fragmentos).. [Tradução Alexandre S. Rocha]. In: Zunái - Revista de poesia & debates, s/data.  Disponível no link. (acessado em 20.7.2022).

BERGONCI, Ana Paula Aydos. O pensamento autônomo de um poeta persa (século XI e XII): relações entre indivíduo e cultura no Rubáiyát de Omar Khayyam. (Monografia Graduação em História). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, 2008. Disponível no link. e link. (acessado em 19.7.2022).

CAMÕES, I.P.. Irão: Publicação em língua persa dos "Rubaiyat", de Fernando Pessoa. In: Camões - Instituto de Cooperação e da Língua Portugal, 5 abril 2022. Disponível no link. (acessado em 21.7.2022).

CARDIELLO, Antonio. Os Orientes de Fernando Pessoa: adenda. In: Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016. Disponível no link. (acessado em 21.7.2022).

CARVALHO, Paula Carolina de Andrade. O “Rubaiyat” de Fernando Pessoa. In: Editora Tabla, s/data. Disponível no link. (acessado em 10.8.2022).

CLARA, Pedro Belo. Nove ruba’iyat de Umar-I Khayyam (Omar Khayyam). In: Letras In.Verso e Re.Verso, 29 de maio 2022. Disponível no link. (acessado em 10.8.2022).

COSTA, Anderson Ferreira. Obras do Matemático Árabe Omar Khayyam. (Monografia Graduação em Matemática). Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - São Paulo: IFSP, 2013. Disponível no link. (acessado em 20.7.2022).

FEITOSA, Márcia Manir Miguel. Fernando Pessoa e Omar Khayyam - O Rubaiyat na poesia portuguesa do século XX.  São Paulo: Gioedano, 1998.

FEITOSA, Márcia Manir Miguel. O orientalismo na poesia de Fernando Pessoa: presença de Omar Khayyam. (Tese Doutorado em Letras / Literatura Portuguesa). Universidade de São Paulo, USP, 1997.

FEITOSA, Márcia Manir Miguel. Ricardo Reis e Omar Khayyam: a presença do ruba'iyat nas odes do heterônimo pessoano. In: Revista de Estudos Universitários, v. 34, p. 93-102, 2008.

FEITOSA, Márcia Manir Miguel. Presença do Ruba'iyat no Livro do Desassossego: uma leitura de Omar Khayyam em Fernando Pessoa. In: Voz Lusíada (São Paulo), São Paulo, v. 21, n.21, p. 78-88, 2004.

FEITOSA, Márcia Manir Miguel. Uma leitura de Fernando Pessoa "ele mesmo" à luz do Ruba'iyat de Omar Khayyam. In: Mirandum, São Paulo, v. 1, n.1, p. 7-20, 1997. Disponível no link. (acessado em 10.8.2022).

FONSECA, N.. Rubā’iyat, Umar-I Khayyām. In:  Orgia Literária, 17 de abril de 2009. Disponível no link. (acessado em 19.7.2022).

GALLOZ, Maria Aliete. O Rubā‘iyat de Umar-I Khayyām. In: A Phala / Documenta Poética, 6 de julho de 2009. Disponível no link. (acessado em 20.7.2022).

GRIZZO, Arnaldo. Omar Khayyam desafiou as leis islâmicas para celebrar o vinho e a vida. In: Revista Adega, 28.12.2015. Disponível no link. (acessado em 19.7.2022).

ILUSTRAÇÕESEdmund Joseph Sullivan (1869-1933): Series - Sullivan’s illustrations for The Rubaiyat of Omar Khayyam. In: Share Farang, s/data. Disponível no link. (acessado em 9.8.2022).

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Rubaiyat. Fernando Pessoa. Contemporânea 2, julho — outubro de 1926, p. 98.

 

 

RUBAIYAT

 

O fim do longo, inútil dia ensombra.

A mesma esp’rança que não deu se escombra,

Prolixa... A vida é um mendigo bêbado

Que estende a mão à sua própria sombra.

 

Dormimos o universo. A extensa massa

Da confusão das coisas nos enlaça,

Sonhos; e a ébria confluência humana

Vazia ecoa-se de raça em raça.

 

Ao gozo segue a dor, e o gozo a esta.

Ora o vinho bebemos porque é festa,

Ora o vinho bebemos porque há dor.

Mas de um e de outro vinho nada resta.

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Rubaiyat

Fernando Pessoa, em Contemporânea 2 de julho de outubro de 1926, p. 98.

 

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COMO CITAR:

FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, organização e edição). Os rubaiyát's do poeta persa Omar Khayyam. In: Templo Cultural Delfos, agosto/2022.

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