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quinta-feira, 17 de agosto de 2023

POEMA DE KHALIL GIBRAN (Imperdível!)

 



Convidamos todos, leitoras e leitores do blog, a lerem este belíssimo poema de KHALIL GIBRAN.

Após sua transcrição em Esperanto, com a tradução de GEORGO ABRAĤAM, do Árabe, segue a íntegra da tradução que Sergio de Sersank fez, a partir dela, em Português do Brasil.

Ao final transcrevemos a biografia resumida desse grande escritor e poeta libanês que viveu grande parte de sua vida nos Estados Unidos, onde veio a falecer aos 48 anos de idade.

A pequena biografia nós a extraímos de outro interessante site literário.

Se vc não domina o Esperanto, pule para a tradução de Sersank en la portugala lingvo, cxu? (Ok?)

 

LA POETO

Ĥalil’ Ĝibran’

 

Mi estas fremdulo en ĉi tiu mondo.

Mi estas fremdulo kaj en la fremdeco

estas kruela soleco kaj doloriga tedo;

sed ĝi igas min pensadi pri ĉarma patrio, kiun mi ne konas,

kaj plenigas miajn revojn je bildoj de lando malproksimega,

kiun miaj okuloj ankoraŭ ne vidis.

 

Mi estas fremda al mia parencaro kaj al miaj amikoj.

Kiam mi renkontas iun el ili, mi diras al mi mem:

“Kiu estas tiu ĉi? Kiel mi lin ekkonis,

kia tradicio kunigis min kun li,

kial mi al li alproksimiĝas,

kaj kial mi sidas ĉe li?”

 

Mi estas fremda al mi mem:

kiam mi ekaŭdas la parolon de mia lango,

miaj oreloj trovas stranga mian voĉon.

 

Mi vidas mian kaŝitan memon ridanta kaj ploranta,

kuraĝa kaj timema;

mia estado admiras mian estadon,

kaj mian spiriton deĉifras la spirito mia,

sed mi restadas malkonata,

nemontrata per nebulo,

forkaŝita de l’ silento.

 

Mi estas fremda al mia korpo:

kiam mi staras antaŭ la spegulo,

ĉiam mi vidas en mia vizaĝo

tion, kion la profundoj de mia estaĵo ne enkaŝas.

 

Mi laŭiras la stratojn de l’ urbo

Kaj min sekvas la junuloj, kriante:

“Jen la blindulo; ni donu al li bastonon

por ke li sin apogu per ĝi.”

Kaj mi foriras de ili rapide.

 

Poste mi renkontas aron da knabinoj,

kiuj ekprenas min je la vesto, dirante:

“Li estas surda kiel ŝtono;

ni plenigu liajn orelojn je l’ melodio de la flirto.”

Kaj mi forlasas ilin kurante.

 

Poste mi renkontas grupon da plenaĝuloj,

kiuj stariĝas ĉirkaŭ mi, dirante:

“Ni rektigu la kurbecon de lia lango,

Ĉar li estas muta, kiel tombo.”

Kaj mi deiras de ili, timante.

 

Kaj poste mi renkontas grupeton da maljunuloj,

kiuj indikas al mi per fingroj tremetantaj kaj diras:

“Li estas frenezulo forperdinta sian prudenton.”

 

Mi estas fremdulo en ĉi tiu mondo.

Mi estas fremdulo, ĉar mi travojaĝis Orienton kaj Okcidenton

kaj ne trovis mian landon,

nek renkontis iun, kiu min konas

nek  kiun aŭskultis pri mi.

 

Mi vekiĝas matene kaj trovas min mallibera en senluma kaverno

de kies plafono dependas serpentoj

kaj ĉe kies anguloj abundas insektoj.

 

Poste mi aliras al la lumo, sekvata de l’ ombro de mia korpo,

sed la ombroj de mia animo iradas antaŭe de mi

tien, kie mi ne scias;

ili priserĉas aferojn,

kiujn mi ne komprenas

kaj tenas objektojn de mi nebezonatajn.

 

Kaj kiam vesperiĝas, mi revenas kaj rekuŝigas min

sur matracon elfaritan el strutaj plumoj kaj dornaĉoj.

Tiam, strangaj pensoj min ekposedas,

kaj transprenas min inklinoj ĉagrenaj,

ĝojigaj, dolorigaj, agrablaj.

 

Je l’ noktomezo envenas al mi,

el tra la fendaĵoj de l’ kaverno,

fantomoj de praaj tempoj kaj spiritoj de forgesitaj nacioj.

Mi ilin fikse rigardas kaj ili min ankaŭ rigardas fikse;

mi alparolas ilin demandante,

kaj ili respondas min ridetante.

 

Poste mi intencas preni ilin,

sed ili eknevidebliĝas

kaj neniiĝas kiel fumo.

 

* * *

 

Mi estas fremdulo en ĉi tiu mondo.

Mi estas fremdulo kaj ne ekzistas iu,

kiu scipovas eĉ unu vorton el la lingvo de mia animo.

 

Mi iras tra la dezerto

kaj vidas riverojn suprenirantajn el la profundaĵojn de l’ valoj al la montosupro.

Mi vidas, ke nudaj arboj sin kovras, belaspektiĝas,

ekfrutas kaj disigas sian foliaron en unu minute,

kaj poste, ke ties branĉoj defalas sur la herbetaron

kaj iĝas serpentoj tremantaj.

 

Mi vidas la birdarojn:

Ili deflugas, alteniĝas, malsupreniĝas,

ĝoje kantante kaj ululante.

Mi vidas, ke poste ili haltas kaj, malferminte la flugilojn,

ili fariĝas nudaj knabinoj kun longaj delasitaj hararoj kaj etenditaj koloj

kiuj rigardas min el palpebroj ombrumitaj per amo,

ridetas al mi per lipoj rozecaj,

ŝmiritaj per mielo,

kaj etendas al mi manojn blankajn, delikatajn, parfumitajn per olibano.

 

Poste, ekskuiĝante, ili malaperas for de mia vidado,

kaj neniiĝas kvazaŭ nebulo,

postlasante en la spaco

la eĥon de sia ridado kaj mokado pri mi.

 

Mi estas fremdulo en ĉi tiu mondo.

 

Mi estas poeto kiu versigas tion, kion la vivo proze verkas,

kaj prozigas kion ĝi verse komponas.

 

Tial mi estas fremdulo,

kaj mi restados fremda

ĝis la morto min prenos kaj transportos

al mia patrio.

 

(El la araba esperantigis GEORGO ABRAĤAM)

 

 

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O POETA

Khalil Gibran

 

Sou um estrangeiro neste mundo. Um estrangeiro.

E em terra estrangeira

a solidão é cruel,

é doloroso o tédio;

mas me fazem pensar

no país adorável que não conheço

e traz-me em sonhos imagens de um lugar longínquo

que os meus olhos ainda não viram.

 

Sou estranho para os meus parentes e amigos.

Quando encontro um deles digo a mim mesmo:

“Quem é este? Como o conheci,

que espécie de tradição uniu-me a ele,

por que dele me aproximo,

por que sento-me ao seu lado?”

 

Sou estranho a mim mesmo:

quando ouço a palavra de minha língua

soa estranha aos ouvidos minha voz.

Vejo meu “eu” oculto, rindo e chorando,

corajoso e com medo;

meu ser admira o meu ser;

revela-me em espírito este espírito meu,

mas permaneço desconhecido,

invisível na névoa,

oculto no silêncio.

 

Sou estranho ao meu corpo:

quando estou frente ao espelho

sempre vejo no meu rosto

o que minh’alma não sente

e encontro em meus olhos

o que as profundezas do meu ser não escondem.

 

Ando pelas ruas da cidade

seguido por rapazes que me gritam:

“Aqui está o cego. Vamos dar-lhe uma bengala

para que nela se apoie.”

Deles me afasto, depressa.

 

Depois encontro uma turma de moças

que me pegam pelas roupas dizendo:

“Ele é surdo como uma pedra;

vamos encher seus ouvidos

com a melodia da vibração.”

Eu as deixo correndo.

 

Mais tarde encontro um grupo de adultos

que se erguem ao meu redor, dizendo:

"Vamos endireitar a curvatura de sua língua,

porque ele é mudo como um túmulo.”

Me afasto deles, com medo.

 

E então eu encontro um pequeno grupo de idosos

que apontam-me com dedos trêmulos e dizem:

“Ele é um louco, perdeu o juízo.”

 

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou estrangeiro porque viajei de leste a oeste

e não achei o meu país,

nem encontrei alguém que me conheça

ou algo tenha ouvido a meu respeito.

 

Acordo de manhã e me encontro preso em escura caverna

em cujo teto penduram-se cobras

e em cujos cantos abundam insetos.

Então me aproximo da luz,

seguida pela sombra do meu corpo,

mas as sombras de minha alma vão antes de mim

para onde não sei;

procuram coisas que não entendo,

guardam coisas que não preciso.

 

E quando anoitece, volto e de novo me deito

sobre um colchão de penas de avestruz e espinhos.

Então, pensamentos me dominam.

Transpõem-me inclinações aflitivas,

alegres, doloridas, agradáveis.

 

À meia noite me vêm,

pelas fendas das cavernas,

fantasmas de antigos tempos,

espíritos de já esquecidas nações.

Eu os encaro de frente

e fixamente me encaram.

Pergunto-lhes certas coisas

e me respondem a rir.

 

Então pretendo tomá-los,

mas tornam-se invisíveis,

desaparecem como fumaça.

 

* * *

 

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou estrangeiro e não existe ninguém

que entenda claramente ao menos uma palavra

da língua de minha alma.

 

Caminho pelo deserto e vejo rios

a subir das profundezas dos vales

até o topo da montanha.

Vejo que as árvores nuas se cobrem, se embelezam,

começam a frutificar e espalham suas folhagens em um minuto.

E logo seus galhos caem sobre as ervas do chão

e tornam-se trêmulas serpentes.

 

Vejo bandos de pássaros voando, subindo, descendo,

alegremente a cantar e a uivar.

Vejo que, depois, param e, abrindo as asas,

tornam-se garotas nuas com longos cabelos esvoaçados

e pescoços esticados

que me olham com pálpebras sombreadas de amor,

riem para mim com lábios rosados,

untados de mel

e estendem-me suas alvas mãos, delicadas,

perfumadas de incenso.

 

Então, estremecendo, desaparecem de minha vista

e se esvaem como névoa,

deixando para trás, no espaço,

o eco de sua risada e motejo de mim.

 

Sou um estrangeiro neste mundo.

 

Sou poeta e faço em versos o que a vida em prosa escreve.

Faço em prosa o que a vida em versos compõe.

 

É por isso que sou estrangeiro.

Continuarei estrangeiro

até que a morte me pegue e me leve para o meu país.

 

(El la esperanta lingvo tradukis Sergio de Sersank)

 

 

Líbano 6 Jan 1883 / NewYork, 10 Abr 1931

 

 

BIOGRAFIA:

 

Khalil Gibran (1883-1931) foi um filósofo, escritor, poeta, ensaísta e pintor libanês. Sua obra reflete a espiritualidade e os princípios que levam aos patamares mais altos da alma humana. É conhecido por ter criado frases inspiradoras. Seu livro mais conhecido é “O Profeta”.

Khalil Gibran nasceu em Bsharri, nas montanhas do Líbano, no dia 06 de janeiro de 1883. Viveu a maior parte de sua vida nos Estados Unidos, para onde se mudou com sua mãe, o irmão e duas irmãs no ano de 1894. Nascido Gibran Khalil Gibran, reduziu seu nome para Khalil Gibran. Em 1898 retornou para o Líbano onde completou seus estudos árabes, no Colégio da Sabedoria, em Beirute.

Em 1902 voltou para os Estados Unidos. Nessa época escreveu poemas e meditações para um jornal árabe, publicado em Boston, chamado “O Emigrante”. Dedicou-se à pintura e ao desenho, numa arte mística que lhe é própria. Uma exposição com seus primeiros trabalhos despertou o interesse de Mary Haskell, diretora de uma escola americana, que lhe ofereceu um curso de artes em Paris. Publicou “A Música” (1905) e “As Ninfas do Vale” (1906).

Entre os anos de 1908 e 1910, Khalil Gibran estudou em Paris, na Académie Julien, onde produziu telas com temas místicos. Uma de suas telas foi escolhida para a Exposição de Belas Artes. Nessa época escreveu “Espíritos Rebeldes” (1908). Em 1910 volta para Boston e nesse mesmo ano muda-se para Nova York, onde reúne em volta de si, diversos escritores libaneses e sírios, que formam uma academia literária (A Liga Literária), que publicava duas revistas árabes:As Artes” e “O Errante”.



OBRAS ESCRITAS EM ÁRABE:

 

  • Música (al-Musiqah) - 1905
  • Ninfas do Vale (Ara'is al-Muruj) - 1906
  • Asas Quebradas (al.Ajnib al-Mutakassirah) - 1908
  • Espíritos Rebeldes (al-Arwah al-Mutamarridah) - 1908
  • Para Além da Imaginação (1910)
  • Lágrimas e Risos (Dam a wa Ibtisamah) - 1914
  • A Procissão (al Mawakib) - 1919
  • A Tempestade (al-'Awasif) - 1920
  • Em Direcção a Deus (Nawa Allah) - 1920
  • Irão, Cidade de Imponentes Pilares (Iram Dhat al-Imad) - 1921
  •  

OBRAS ORIGINALMENTE ESCRITAS EM INGLÊS:

 

  • O Louco (The Madman) - 1918
  • Vinte Desenhos (Twenty Drawings) - 1919
  • O Mensageiro (The Forerunner) - 1920
  • O Profeta (The Prophet) - 1923
  • Areia e Espuma (Sand and Foam) - 1926
  • O Reino da Imaginação (Kingdom of the Imagination) - 1927
  • Jesus, o Filho do Homem (Jesus, the Son of Man) - 1928
  • Os Deuses da Terra (The Earth Gods) - 1931
  •  

ALGUMAS OBRAS PÓSTUMAS:

 

  • O Vagabundo (The Wanderer) - 1932
  • O Jardim do Profeta (The Garden of the Prophet) - 1933
  • O Discípulo de Lázaro (Lazarus and his Beloved) - 1933
  • A Morte do Profeta (The Death of the Prophet) - 1933
  • A Voz do Mestre (The Voice of the Master) - 1963
  • Segredo do Coração (Secrets of the Heart) - 1947
  •  

Khalil Gibran faleceu, vítima de tuberculose, em Nova York, no dia 10 de abril de 1931. Após sua morte, foram publicados os livros: “O Errante”, “O Jardim Secreto do Profeta” e “Curiosidades e Belezas”.

 

Fonte:

https://amantesliterarios.wixsite.com/livros/single-post/2018/01/06/khalil-gibran

 

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