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sábado, 30 de novembro de 2019

Natureza




O NINHO 




Imagem do gooogle disponível em



Junto ao poste, em minha rua
mamãe Bem-te-vi fez ninho.
Mas hoje, que dor a sua:
caiu o bem-te-vizinho.

Começava a anoitecer.
A lua já se avistava.
Mãe Bem-te-vi a sofrer
por ele, triste, cantava.

Sem o namorado, agora,
perdera a noção da hora
teimava em deixar o fio.

Por fim, parou de cantar,
deixou-se triste a voar
e o ninho ficou,  vazio.

Sersank, 30nov2019

(Do livro “Novos Poemas de Sersank”)

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Poema de amanhecer









Art by Khosrow Amirazodi


NOITE
Sersank



Novembro.
Céu com nuvens densas
estrelas a contar nos dedos
luar ausente.
Pequeno avião passa piscando luzes
perde-se logo de vista
e me deixa a sensação de ter em vão perdido a vida
a ansiar por vitórias no mundo.

Acrisolado em meu corpo
o ser cósmico respira.
Todo o amor deste mundo
parece morrer
nesta noite sem lua.

A vontade imensa
de imergir na fornalha do sol
me estremece
faz-me ver que sob os pés
e diante dos olhos
tenho todas as maravilhas
mas sobre os ombros  
sistemas
regimes
seus contrastes e dores.

No céu essas nuvens densas.
Não há discos voadores
nada em que acreditar.




Londrina, 25nov2019

domingo, 6 de outubro de 2019

LIVROS








LIVROS DOUTRINÁRIOS DE SERGIO FERNANDES ALEIXO

Recentemente tive a ventura de receber, com preciosos autógrafos, alguns livros doutrinários do renomado escritor, pesquisador e palestrante espírita Sergio Fernandes Aleixo. Já o admirava, desde os tempos em que começou a escrever ainda bem jovem (anos 90) no periódico “A Voz do Espírito”, de São José do Rio Preto (SP), órgão mantido pelo Grupo Espírita Bezerra de MenezesFoi um “presentaço” dele, não sei como devo retribuir.
Devo dizer que os li com o mais vivo interesse. Porque não são livros para se ler apenas e depois guardar na estante, onde vão ficar esquecidos. São livros para estudo contínuo. Elucidam, com fortes argumentos e sólido conhecimento doutrinário, questões profundas da existência humana e controvérsias lamentavelmente ainda existentes em relação a pontos importantes da Codificação Kardeciana, especialmente no tocante à estranha teoria do “Corpo Fluídico de Jesus”, consubstanciada na obra de J. B. Roustaing, (“Os Quatro Evangelhos” – A Revelação da Revelação) defendida desde sua fundação até recentemente pela Federação Espírita Brasileira. A propósito, ao que tudo indica, por força das improdutivas e desnecessárias dissidias que provocou no Movimento Espírita, esta obra tende a desaparecer do Catálogo Geral dos livros editados por aquela centenária instituição espírita. Esperamos que isso deveras aconteça.
Sergio Fernandes Aleixo, vai porém, ainda mais longe em suas didáticas e produtivas obras. Exegeta, avança pelo Antigo e Novo Testamentos para um destemido encontro com o “Espírito das Revelações”. E numa síntese que eu diria perfeita, com esteio nos lúcidos estudos e constatações de Allan Kardec, aclara os “Fundamentos da Relação entre o Espiritismo e o Cristianismo do Cristo”, onde destaca o ideal kardeciano de restauração do cristianismo primitivo, comprovando que  a figura do Espírito de Verdade  se identifica com a do próprio Cristo a trabalhar diretamente com Kardec na tarefa de constituição da Doutrina Espírita.
Em “O Mais Profundo Religar”, com prefácio do Médico Psiquiatra escritor e expositor do ICEB-Instituto de Cultura Espírita do Brasil, Jorge Andréa dos Santos, com a segurança de quem conhece profundamente a obra de Allan Kardec, o Professor e Pesquisador Sergio Aleixo nos traz em visão panorâmica os “Fundamentos Históricos e Conceituais do Espiritismo”. Livro lindíssimo.
Na obra “Com quem falaram os profetas?”, um livro de perguntas, mas de muitas respostas e que, a meu ver todos os evangélicos e católicos deviam ler, até para se auto abastecerem de conteúdos novos e indispensáveis na interpretação dos fatos bíblicos narrados, o autor traz à evidência os “Fundamentos Bíblicos da Fenomenologia Espírita” esclarecendo que os profetas não falavam diretamente com Deus, mas com intermediários d’Ele. Inclusive, Moisés. Aliás, Deus está tão acima dos homens que seria vã pretensão de qualquer mortal terráqueo ter o privilégio de falar com Ele. É claro que vão me objetar, com sua multidão de aloprados seguidores, os Senhores Waldemiro Santiago, R.R. Soares, Edir Macedo, Silas Malafaia e outros tantos pastores (e enganadores) que se autoproclamam “Procuradores de Deus”.
Carioca, Sergio Fernandes Aleixo (19out1970) graduou-se e se licenciou em Língua e Literaturas de Língua Portuguesa pelas Faculdades de Letras e de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1990-1995). De família lusitana, foi católico até os dezoito anos quando leu, de Allan Kardec, “O Livro dos Médiuns”. Abraçando a causa, estudou a fundo o Espiritismo, se fez pesquisador, palestrante e escritor. Integra desde 1996 o quadro de expositores do ICEB e da AD-RJ, a qual presidiu.
Num de seus importantes livros, como forma de homenagear um dos maiores líderes e escritores espíritas recentes, o Professor e filósofo José Herculano Pires, falecido em 9 de março de 1979,  Sergio Aleixo brindou-nos com  O Metro que Melhor Mediu Kardec”. Aliás, o título faz referência a uma citação de Emmanuel, pela mediunidade de Chico Xavier.
Quero ainda falar, em sequência, dessa obra monumental de sua lavra: “O que é o Espiritismo” -  um marco na literatura espírita contemporânea – (tem o lindíssimo, profundo e bem fundamentado prefácio da não menos admirável escritora e pesquisadora espírita Dora Incontri.)
Nesta sumária exposição analítica do Espiritismo em seu tríplice aspecto (Ciência, Filosofia e Religião), o autor em linguagem simples, faculta ao leitor o entendimento de questões relacionadas à mediunidade, à reencarnação, ao Evangelho, patenteando que o Espiritismo “é uma doutrina que abrange todo o conhecimento humano, acrescentando-lhe as dimensões espirituais para a visualização da realidade total.”
Por último gostaria de registrar que o livro “O Primado do Espírito”, do lúcido escritor Sergio Aleixo, eu o li de um fôlego, durante doze horas sucessivas, repassando páginas e confrontando citações e referências, enquanto me restabelecia de uma cirurgia abdominal. É um verdadeiro tratado sobre a necessidade de o Movimento Espírita Brasileiro primar pela pureza doutrinária das obras que se publicam. O autor distingue a verdadeira Metodologia Espírita, adotada e transmitida por Kardec aos espíritas do mundo.  Adverte quanto à aceitação e divulgação, até por conceituados líderes espíritas de teorias e concepções incompatíveis com ensinamentos dos Espíritos Superiores, sob a égide de Jesus (O Espírito da Verdade).
Também o cisma roustanguista, bem como as teorias estapafúrdias de J. B. Roustaing em sua obra “Os quatro Evangelhos”, há muitos anos divulgada pela FEB- Federação Espírita Brasileira, são nesta obra original, devidamente enquadrados e com lisura e sensatez devidamente rechaçados.
Sergio Fernandes Aleixo (18/10/1970) publicou pela Editora Lachâtre os títulos: Reencarnação (1999), “Com quem falaram os profetas?” (2000), “O Espírito das Revelações” (2001) E “O Mais Profundo Religar” (2003).
Pelo Centro Espírita Leon Denis publicou: “Meu novo nome” (2003).
Pela Editora Nova Era nos brindou com “O Que É O Espiritismo” (2003).

Pelo Grupo de Estudo, Ética e Cidadania deu a lume a obra “O Espiritismo Perante a Bíblia” (2009).
E pela ADE (RJ) – Associação de Divulgadores do Espiritismo, “O Primado de Kardec” (2011).























sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Homenagem a Batuíra




Túmulo de Batuíra


Inscrição na Lápide
Sergio de Sersank


Não creias tudo acabe sob a lousa fria
da terra que recobre os despojos carnais.
Nada sabe de Deus quem supõe “fantasia”
o haver vida abundante nos planos astrais.
Fita os astros no espaço. Ouve, que sinfonia!
Ciclos e mutações em pautas magistrais.
É a razão quem nos fala da Sabedoria
que sustém o universo e nos fez imortais.
Retrocede no tempo. O Evangelho do Mestre.
Redivivo, Ele torna ao cenário terrestre
e se faz a Esperança nos lares da dor.
Ergue os olhos ao céu d’onde todos provimos:
viajores do tempo, no espaço seguimos
para a glória da luz e as benesses do amor.
(Soneto classificado em 1º lugar no I Concurso de Poesia da ARTE POÉTICA CASTRO ALVES, de São Paulo (SP) em abril de 1991.)
....................
UM ESPÍRITA E ABOLICIONISTA 
BATUÍRA
Se há uma figura na sociedade paulistana que mereceria muito mais destaque, esta figura é Antônio Gonçalves da Silva, o popular Batuíra. Nascido em Portugal em 1839, foi um homem de incrível personalidade. Depois de passar pelo Rio de Janeiro e por Campinas, fixou residência em São Paulo, onde adquiriu diversos lotes de terra na região onde hoje está a rua Lavapés. Figura incrível, foi entregador de jornais (Correio Paulistano), fabricante de charutos e dono de teatro. Mas destacou-se principalmente pela figura bondosa que era ao acolher escravos fugidos em sua propriedade, o qual só os deixava partir se alforriados pelos seus senhores, e também por sua notável dedicação ao Espiritismo.
Amigo de Azevedo Marques, conseguiu com ele a experiência necessária para em 1890 lançar o jornal “Verdade e Luz”, a primeira publicação dedicada ao Espiritismo em São Paulo, e que na época conseguiu a façanha de ter uma tiragem de 5 mil exemplares. No final da vida abriu mão de todos os seus bens para os mais pobres e sua casa abrigou a instituição beneficente “Verdade e Luz”. Posteriormente em sua homenagem a rua onde morava foi batizada de Rua Espírita, que existe até os dias hoje. Batuíra viria a falecer em 22 de janeiro de 1909 e curiosamente está sepultado bem próximo de seu grande amigo em vida, Joaquim Roberto de Azevedo Marques.”



domingo, 29 de setembro de 2019







Ao anoitecer
Sergio de Sersank



Céu em sombras, sem estrelas.
Lua triste, esmorecida.
Ouço o sino do meu peito,
ouço-lhe a fraca batida:

“No lago em que te contemplas
nunca mais serás visível.
Em breve o teu Universo
irá sumir-se contigo.”

Fantasmas de rostos tristes
talvez comentem: “- Por que
a morte ainda aflige tanto
se precisamos morrer?”

Há outras humanidades
no Cósmico Pensamento?
Bilhões de estrelas distantes
já se apagaram no tempo.

Se existem,  são como somos,
gente em busca do saber.
E vivem como vivemos:
escravos de algum poder.

Importa se irão findar-se?
Vivem, apenas vivem
como árvores e peixes
e borboletas azuis...

Quem há de entender os planos
dos deuses que nunca vêm?
Se estamos sós no Universo
por que há de fazer-se o bem?

Assim como os dias trazem
manhãs de sol e de chuvas
há de o mistério da vida
levar-nos, vidas além?




Londrina, 11jan2017

A gente não muda muito, não difere tanto dos jovens que um dia fomos. O tempo nos desfigura, mas o que sentíamos em relação ao mundo, ao que sonhávamos, permanece sempre vivo em nós. (Sersank)

Coisas da Infância








CANTIGA DE REVOAR
Sergio de Sersank

Ouço, quieto, os passarinhos
que o dia sabe sem muros.
Falam-me de seus ninhos,
planícies,  frutos maduros.

Se a noite lhes foi de agruras
sob vento e chuva fria,
eis que pleno de aventuras
o sol lhes abre outro dia.

Imune às leis do Destino,
nos meus voos de menino,
também mil proezas fiz!

O céu sob os pés, sem medo,
bem conhecia o segredo
de ser, como eles, feliz!

Londrina, 28 de junho de 2013



terça-feira, 24 de setembro de 2019

Um pouco de nostalgia


Autor desconhecido


ODE AOS MEUS PÉS
(Relembranças)
Sersank

Nesta noite em que me via mais só do que nunca
em que nem a música do rádio
a paz da lua cheia
ou as estrelas no céu sem nuvens
afastavam-me a melancolia -
esse gosto de licor amargo
que sempre quis evitar -
deixei a janela de vidro
sentei-me no leito hospitalar
e estou agora a tocar os meus pés.
                       
Dão-me notícias
de dias há muito arrancados
ao calendário dos anos:

trilhas
pastos plantações pomares
estilingue no peito
estradas boiadeiras
vendas vales valetas
pontes e rios.

Recordam-me esquinas cobertas de grama
peladas de futebol
pedras e chinelos demarcando
limites ao gol.

Dias de pipas ao vento
de andar pelas ruas com pernas de pau
carrinhos de rolimã
jogos de malhas nas ruas vermelhas
bola a doer nas queimadas
pulos de amarelinhas,
batidas de bets
partidas de bochas
pião bilboquê burquinhas.
Dias festivos:
quermesses
corridas de saco
pau-de-sebo
banhos de rio.


Velhos e sofridos pés.
Lembram-me a escola primária -
o edifício amarelado
de muros altos que não me continham
e onde a “Cartilha Suave”
do ler e escrever descortinou-me o mundo.

Saudade: aquelas manhãs de frio
o leite quente em casa
o pão de forno caseiro.

As aulas de Dona Filinha
inesquecível amiga:
ela toda atenção e carinho
e sempre um moleque ou outro
na sala querendo briga.

Enquanto corríamos doidos
os meninos
no recreio
ouvia a cantiga no pátio:

“Ciranda, cirandinha,
vamos todos cirandar
vamos dar a meia volta
volta e meia vamos dar.”

......

Ventura tocá-los ainda.
Estes pés rebeldes
cansados
já não se atrevem a colher mangas nos quintais vizinhos
mas me devolvem a grata magia
de viver sem pressa.

......

À luz de um poste fraquinha
ouço meninas e meninos.
Tento revê-los, um a um,
nos toscos bancos de madeira
os pés se tocando,
a empurrões e risadas.

Noites de lua (folguedos):
passa-anel
rei-rainha
pique-salva
garrafão.

Noites escuras e frias (o medo):
Tempos de afrontamento
às almas penadas das ruas
e a gente contando
causos de assombração.

.......

Perdi como perdemos
ao calendário dos anos
a infância
aquelas tardes de chuva fina molhando a roupa
seus dias plenos de sol.

.......

Meus pés. Estes pés. Tentativas
nem sempre bem sucedidas
de varar o pano dos circos.
Entradas triunfais no salão do cinema.
Passos a dois no primeiro namoro.
Passeios na praça da Igreja.

Estes mesmos pés no trabalho duro
mal remunerado
e em fuga da escola.
Meses de vadiagem
dificuldades sem fim.

O filho do sapateiro,
queria ganhar o mundo
e o tempo a girar continuamente
na ampulheta dos dias
fazia-me pescador que volta
sem peixe, ao cair das tardes.

Vieram lutas e lutas
ao longo da trajetória.
Um casamento acabou-se
ainda na mocidade.
O outro consolidado
na madureza, perdura.

Filhos nasceram, cresceram
e - partes dessa aventura -
deram-me netos, abriram
outros, melhores destinos.

Sabem estes pés
de envelhecidos sonhos
do menino que sou.

Agora -
chegada a vez de transpassar
a nebulosa ponte
que de tudo nos separa -
certo estou de retomar roteiros
em que não mais me serão necessários
e assim como de tudo me despeço
digo adeus aos meus pés.

Devo-lhes muito.
Sangrando nas sendas de pedra
trouxeram-me ao tempo
que ansiava viver.

Afastam-me agora a tristeza.
Dão-me a certeza
de que sob as asas da alma
Não param. Não podem parar.
Aos píncaros mais altos da existência humana
meus pés
meus velhos, sofridos pés,
hão de, por certo, chegar.


  

Londrina, 20 de setembro de 2019.


sábado, 21 de setembro de 2019

SAUDAÇÃO À PRIMAVERA




SETEMBRO

(Minha primeira poesia publicada, escrita aos 17 anos)

Setembro. O inverno termina.
Há flores desabrochando
e pássaros chilreando
nas árvores do pomar.
O céu, diáfano, azul,
tem algo a mais que extasia.
A natureza irradia
cantigas do verbo “amar”.

O mundo se modifica
e exibe ao sol suas cores.
Nos bosques há mais olores,
nas cidades – mais bonança!
De verde estampam-se os prados
e eis de volta a primavera,
prenúncio da nova era
para a qual a gente avança.

Setembro. Mês de sorrisos!
No riacho que desliza,
ao tênue sopro da brisa
e em tudo há versos de amor.
Só os insensíveis não notam
nesses toques de beleza
a oblação da natureza
à glória do Criador.

Setembro...  A história, os anseios
dos heróis da Inconfidência!
O grito da independência,
O verde-louro pendão!
Brasil! ... Nossa brava gente
que sofre e trabalha duro
para colher no futuro
os trunfos da redenção! ...

Setembro... Um mês mais que os outros
repletado de saudade,
recorda a felicidade
de outras vidas que vivi.
Me diz de amizades caras
que espero, um dia, rever
porque me resta dizer:
em setembro renasci...
  

Florestópolis, 3 de setembro de 1970.
(Poema publicado no periódico espírita “O Imortal” da cidade de Cambé-PR, em setembro de 1972)

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Poema para dormir







Imagem disponível no Google


Meditação

 (Sonetilho invertido)

Pesa-me a noite nos olhos,
somada a outras perdidas
sob lâmpadas acesas.

Aprisionado no peito
entre colchas aquecidas
um turbilhão de incertezas.

Apago as luzes do quarto.
Penso um momento em Jesus,
nos vultos todos que estamos
cravados em sua cruz.

Como avançar para a noite
da nossa consumação
sem compreender que sem Ele
a vida perde a razão?


Sersank, 17 jul2019

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Inesquecível, eterno FERNANDO PESSOA



 


Imagem disponível no Google

      A CRIANÇA QUE FUI

Fernando Pessoa

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.


sábado, 4 de maio de 2019

Em favor da causa indígena





Imagem do Facebook

DE VOLTA A URIHI
(Pelo transcurso do Dia do Índio, a 19 de abril)

De mui longínquas florestas
vem esse múrmur de rios turvos
com sinfonia de pássaros assustados
uivos, rugidos, vozes
da natureza inquieta.

O vento balouça os meus cabelos
e as copas das árvores.

Lembro Rondon pacificador
 e os irmãos Villas-Boas
nas noites tenebrosas de muitas aldeias.

Em uníssono cantam agora os índios como grandes pássaros.
Cantam e dançam
em torno à fogueira.
Mas seu canto é triste.
Das brasas vivas

evolam-se os guerreiros ancestrais:

Araribóia
Filipe Poti Camarão
Ajuricaba
Sepé Tiaraju

Cantam e dançam
são índios
vermelhos do sangue brasileiro
desafiam os deuses da terra
erguem seu grito a Tupã.

caingangues
ianomâmis
charruas
tupinambás
tupis
timbiras
guaranis kaiowás
caraíbas
caiapós
tupiniquins
xavantes
goitacazes
carajós
ashanincas
macuxis
ticunas
terenas
guajajaras
bororós
picarrãs
potiguaras
tantas mais.

Estão pintados à guerra

para a defesa de Urihi.
Davi Kopenawa
Raoni Metuktire
Ailton Krenak
Sonia Guajajara
e outros tantos.
Rufam como trovões seus tambores.


Versos me ocorrem de I-Juca Pirama(*):

“Não temas, meu filho,
não temas que a vida
é luta renhida,
viver é lutar!
Se o duro combate
aos fracos abate,
aos fortes, aos bravos,
só pode exaltar!”

Roubaram-lhes a terra virgem
roubam-lhes
os filhos
a sorte
a história.

Envergonho-me de ser natural de um país
vermelho do sangue indígena.
Este país que os humilha e despreza
ergueu-se
sobre as nações
destes filhos da selva
aguerridos
perseguidos
escravizados
ameaçados

tem para com eles uma dívida impagável.

São homens, mulheres, crianças
sempre longe de tudo
na faina de plantar caçar pescar colher frutos
e ofertar ou vender sua arte
aos invasores.

Que os ouçam, neste dia, o mundo inteiro!

Pesar do direito à vida com dignidade
privados de espaço e recursos
sem os irmãos Villas-Boas
os filhos da Terra de Santa Cruz
esses desconhecidos heróis que a natureza estima
celebram a alegria da paz que lhes é possível em seu meio
mas tentam (como e enquanto podem)
a duras penas
sobreviver.


Sersank, 19abr2019


(*) "I-Juca Pirama" é um poema clássico de Gonçalves Dias, um de nossos maiores poetas.

................................................

Nossa Terra-Floresta (Kami Yamaki Urihipë)

Para os Yanomami, ''Urihi'', a terra-floresta, não é um mero espaço inerte de exploração econômica (o que chamamos de “Natureza”) Trata-se de uma entidade viva, inserida numa complexa dinâmica cosmológica de intercâmbios entre humanos e não-humanos. Como tal, se encontra hoje ameaçada pela predação cega dos brancos. Na visão do líder Davi Kopenawa Yanomami:

A terra-floresta só pode morrer se for destruída pelos brancos. Então, os riachos sumirão, a terra ficará friável, as árvores secarão e as pedras das montanhas racharão com o calor. Os espíritos xapiripë, que moram nas serras e ficam brincando na floresta, acabarão fugindo. Seus pais, os xamãs, não poderão mais chamá-los para nos proteger. A terra-floresta se tornará seca e vazia. Os xamãs não poderão mais deter as fumaças-epidemias e os seres maléficos que nos adoecem. Assim, todos morrerão."

Fontes:


POTIGUARAS, TUPINAMBAS, KAYAPOS, CAETES, TUPIS, TUPINIQUINS, PATAXOS, IANOMAMIS, XAVANTES, GUAJAJARAS, TERENAS, MACUXIS, TERENAS, CAINGANGUES, GUARANIS, TICUNAS, KAIOWAS, JAEXAA PORA.

Dia do Índio

O Dia do Índio, 19 de abril, foi criado pelo presidente brasileiro Getúlio Vargas através do decreto-lei 5 540, de 1943 e relembra o dia, em 1940, no qual várias lideranças indígenas do continente resolveram participar do Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México. Eles haviam boicotado os dias iniciais do evento, temendo que suas reivindicações não fossem ouvidas pelos "homens brancos". Durante este congresso, foi criado o Instituto Indigenista Interamericano, também sediado no México, que tem, como função, zelar pelos direitos dos indígenas na América. O Brasil não aderiu imediatamente ao instituto, mas, após a intervenção do Marechal Rondon, apresentou sua adesão e instituiu o Dia do Índio no dia 19 de abril.

Fonte: 


“(...) os Villas-Boas dedicaram todas as suas vidas a conduzir os índios xinguanos do isolamento original em que os encontraram até o choque com as fronteiras da civilização. Aprenderam a respeitá-los e perceberam a necessidade imperiosa de lhes assegurar algum isolamento para que sobrevivessem. Tinham uma consciência aguda de que, se os fazendeiros penetrassem naquele imenso território, isolando os grupos indígenas uns dos outros, acabariam com eles em pouco tempo. Não só matando, mas liquidando as suas condições ecológicas de sobrevivência.” (RIBEIRO, Darcy. Confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 194)

Os índios

Artigo de jornal da década de 1970
No aspecto dos índios, os irmãos Villas-Boas implantaram uma nova política indigenista, que, basicamente, consiste na defesa dos valores culturais dos índios, como único meio de evitar a marginalização e o desaparecimento dos grupos tribais. A partir da máxima segundo a qual “O índio só sobrevive na sua própria cultura”, os irmãos Villas-Bôas conseguiram implantar uma nova forma de relacionamento entre nossa sociedade e as comunidades indígenas brasileiras. Essa política vem sendo esposada por etnólogos e entidades científicas não só nacionais, como estrangeiras.
Os Villas-Boas mostraram que a antiga visão que a sociedade nacional tinha acerca do índio era absolutamente equivocada. Não se tratava, portanto, de sociedades selvagens, sem regras e sem estrutura social como se narrava na época do Descobrimento do Brasil. A nova imagem do índio, trazida pelos Villas-Bôas à nossa sociedade, era a de uma sociedade equilibrada, estável, erguida sobre sólidos princípios morais e donos de um comportamento ético que sustentava uma organização tribal harmônica. A esse respeito Cláudio Villas-Bôas teria dito certa feita:
(...) “Se achamos que nosso objetivo aqui, na nossa rápida passagem pela Terra, é acumular riquezas, então não temos nada a aprender com os índios. Mas se acreditamos que o ideal é o equilíbrio do homem dentro de sua família e dentro de sua comunidade, então os índios têm lições extraordinárias para nos dar.” Cláudio Villas-Bôas
https://www.youtube.com/watch?v=rr_tyGdscio

“É impagável a dívida social que temos para com os povos indígenas do Brasil. Os portugueses colonizadores, os donatários das Capitanias Hereditárias, os Bandeirantes e, depois os invasores de terras, grileiros e outros bichos, quase que dizimaram sua cultura, suas línguas, seus costumes. E são eles, os legítimos herdeiros da Pindorama, as terras de Santa Cruz. (Sersank) 

Fila de índios se apresentando para a cerimônia do Kuarup

Parqu






Bolsonaro é a ameaça mais séria aos indígenas:
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/bolsonaro-e-a-ameaca-mais-seria-aos-indigenas-desde-a-constituicao-de-1988-avalia-revista-cientifica-britanica/?fbclid=IwAR1Wo8U2PHk6ckjR6NmlBDvHhPg0zQtjeNZNY-iTAMjLzY7FdtW1pupQqnI

https://leonardoboff.wordpress.com/2019/10/30/a-vantagem-da-imperfeicao/

https://antropofagista.com.br/2020/02/08/itau-e-dono-da-ambev-estao-entre-acionistas-que-invadem-terra-indigena-jaragua-em-sp/

Abrahamm Weintraub: "Odeio o termo POVOS INDÍGENAS"
https://leonardoboff.org/2020/06/15/odeio-o-termo-povos-indigenasuma-blasfemia-em-dois-atos/

https://leonardoboff.org/2020/08/16/una-poesia-orada/