Foto: Khosrow Amirazodi
Páginas
▼
domingo, 31 de dezembro de 2017
NO APAGAR DAS LUZES
Imagem do Google
ANO-NOVO
Meia-noite.
Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.
Olho o céu;
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa.
E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.
Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta).
Ferreira Gullar
In Barulhos
sábado, 23 de dezembro de 2017
Poema de Natal
Natalby АКО ТЕ ИМА ЛЮБОВ
Poema
de Natal
Vinicius
de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos
para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais
esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte,
apenas
Nascemos, imensamente.
...................................................................