Páginas

terça-feira, 14 de janeiro de 2014







 Foto by Veldrán Smailovicz - Ruinas Bíbl. Nac. 
Sarajevo-Bósnia, durante a guerra, em 1992

Ars Poetica
A José Augusto Novas
Não há, poeta, estancar
a geratriz do poema.
Não há falseá-la no ópio,
fadá-la por clandestina,
enclausurá-la em doutrina,
submetê-la a sistema.
Não lhe mascare a verdade
por mais odiosa, obscena.
Faça-se canto de guerra
ou uma écloga, amena;
narre uma nobre façanha,
evoque um vulgar dilema;
cante a esperança mais alta,
louve a verdade suprema.

Não há, poeta, estancar
a geratriz do poema.
Atemporal, surterrena,
a realidade é seu tema.
Senti-la profundamente,
sonhá-la, subvertê-la,
recriá-la a todo o instante
busque um esteta se – imensa –
a vê na pedra ainda informe,
na tela descolorida,
num fato que o impressione.
Rio a descer da montanha,
na sua corrente infinda,
flua por entre os veios
da alma de cada artista.
Flua por entre os veios
da alma de cada homem
e fale de amor ainda,
mesmo onde o ódio resista
e rujam os bombardeios.

O Amor é essa luz que buscam
os homens com seus receios.

Sersank

(Do livro “Estado de Espírito”, Ed. Íthala, Curitiba, 2013)





quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Maldição(?) de ser poeta








ARTE ETERNA
 Celso Martins

Enquanto houver num bosque verdejante
Lindas flores em densa profusão
E houver da via – láctea, na amplidão
Milhões de sóis de brilho fulgurante

E houver algum humano coração
Da saudade, presença torturante
E houver o mimo, o zelo cativante
Da mãe trazendo o filho pela mão

E houver um jovem tendo no seu peito
De ver seu sonho de ouro já despeito
Uns espinhos cruéis da dor secreta,

A poesia não terá morrido,
Nem triste ficará por ter nascido

Alguém com a maldição de ser poeta.



Celso Martins, professor, poeta, escritor e palestrante espírita. Membro emérito da Liga Brasileira de Esperanto.