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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

UM BELO SONETO DE AMOR





Amor - by АКО ТЕ ИМА ЛЮБОВ



Soneto XLIII


Elizabeth Barrett Browning



Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh'alma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.

Amo-te em cada dia, hora e segundo:
À luz do sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.

Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.

Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte.

Tradução de Manuel Bandeira.



XLIII

How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.

I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.

I love thee with a passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose

With my lost saints, --- I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life! --- and, if God choose,
I shall but love thee better after death.

Elizabeth Barrett Browning






ELIZABETH BROWNING
(Elizabeth Barrett Moulton Barrett)

Poeta
Nasceu: 06 de Março de 1806
Local: Coxhoe, Durham - Inglaterra
Faleceu: 29 de Junho de 1861
Local: Florença - Itália


Autora de uma obra poética de singular sensibilidade na literatura inglesa, provavelmente decorrente de sua frágil saúde e temperamento arredio. Viveu sua infância numa casa de campo, em Worcestershire, e aos 15 anos contraiu grave doença da qual nunca se recuperou por completo. Mudou-se para Londres (1836), onde publicou seu primeiro volume de poesias, The Seraphim and Other Poems (1838), porém sua consagração como poeta veio definitivamente com a segunda coletânea de poesias,  Poems (1844). Casou (1846) com o também o poeta Robert Browning, apesar da oposição da família. Publicou Sonnets from the Portuguese (1850), com composições originais apesar do título e uma de suas principais obras, uma expressão lírica de seu amor por Browning. Com o marido mudou-se para Florença, cidade onde permaneceu até sua morte e onde escreveu e publicou sua mais ambiciosa obra, Aurora Leigh (1857), extenso poema narrativo, em versos brancos, no qual expressava sua concepção da vida e da arte.

É preciso ter algum conhecimento da história de Robert Browning e Elizabeth Barrett para entender por que os Sonnets from the Portuguese que ela escreveu são os “Sonetos da Portuguesa”: como Barrett tivesse um pé na Jamaica, parecia um pouco mestiça, e Browning a chamava de “minha portuguesinha(My little Portuguese), mostrando que a nossa miscigenação brasileira tem raízes mui antigas.
Um destes poemas (o de número 43) é considerado o mais belo escrito por uma mulher em língua inglesa.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013








Passagem da noite
                     Carlos Drummond de Andrade

É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se desânimo.

Sinto que nós somos noite,

que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra.

E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo.
É noite no submarino.
É noite na roça grande.

É noite, não é morte, é noite

de sono espesso e sem praia.
Não é dor, nem paz, é noite,
é perfeitamente a noite.

Mas salve, olhar de alegria!
E salve dia que surge!
Os corpos saltam do sono,
o mundo se recompõe.

Que gozo na bicicleta!
Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar: mesmo nas canções.

De novo andar: as distâncias,

as cores, posse das ruas.
Tudo que à noite perdemos
se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!

Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras; que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou; não nos diluímos!

Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado,
o essencial é
viver!

Foto cedida by Khosrow Amirazodi