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domingo, 19 de junho de 2011

DA BREVE INCURSÃO NOS DOMÍNIOS DO ETERNO





Um homem por mais atento,
sob a couraça do cargo,
sempre há de ter seu momento
de introversão, de letargo.

Nesse interstício de acesso
aos escaninhos do ser,
um lampejo o põe do avesso,
o faz, inteiro, se ver.

Essa luz indefinível,
quase vulto, quase voz,
assim, na força do rio,
em borbotância, na foz,

Rompe-lhe n'alma a tormenta
das lágrimas compungidas,
mesmo a um Nero,
a um Torquemada,
impossíveis de contidas.

E expõe ao sol, como velha estrada,
nos rastros multimilenares,
dramas de prístinas eras,
ânsias de mil avatares.

Exuma o que em negro fosso
ocultou-se por ruim.
Atua como azorrague,
desperta como clarim.

Vem forçá-lo a despojar-se
de tudo o que é exterior.
Aplaca-lhe, de um só golpe,
o gênio dominador.

Um homem, sob os efeitos
desse choque passageiro,
lembra o infeliz faroleiro
num ermo e soturno cais
a ver, no seu desespero,
algumas milhas adiante,
a  nau com sua bandeira
a balouçar, soçobrante,
sob a borrasca voraz.

Desse longo instante cósmico
ninguém não há que se esquive
e n'alma, opressa, não crive
a advertência que traz.

(Poema de Sersank para o livro "Estado de Espírito")

(Direitos Autorais registrados e protegidos por lei)

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