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domingo, 22 de agosto de 2010

AO LEVE ROÇAR DA BRISA






http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Eduardo_de_Martino_-_Veleiro_em_alto_mar.jpg 



Numa visita ao jazigo
de velho poeta amigo,    
à sombra de ermo cipreste,
surpreendi-me: a lousa fria,
como página vazia,
guardava o sereno epitáfio do mestre.

Lembrando-lhe o rosto
risonho e tranqüilo,
uns versos, dispersos,
à volta, entrevi.
À brisa não culpem,
 se, pobres de estilo,
 grafei-os aqui:

- “É apenas a estória do tédio de uma vida -
essa que, incauto poeta,  escrevi.
Vinha de intérmina infância.
Brincando de viver, ganhei distância
e, saturado da vida,
como tantos, a perdi.
                                             
Nisto consiste o viver:
compor como personagem
da estranha, intrincada estória
humana, um malogro a mais.
Ícaros, alçamos sob as asas
que se desfazem em penas
sonhos de vôos triunfais.

Os homens são argonautas.
Nos nevoeiros do tempo
têm seus destinos e avançam,
avançam. Urge avançar.
Mas, sabem: os seus veleiros
soçobram no grande mar.”

 (Do Livro de Sersank, "Estado de Espírito") 








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