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quinta-feira, 27 de maio de 2010

NOSSAS REAIS DIFERENÇAS






Nossas reais diferenças
Não vêm das cores das pátrias,
das crenças e ideologias.
Não se limitam a gostos,
 desgostos e teorias.
 Não as impõe o idioma.
Não decorrem de costumes,
Tradições e confrarias.
É estulto o que as cinge a postos,
Propriedades, regalias.


Nossas reais diferenças
Não são visíveis na cútis,
Não as ressaltam o traje,
A idade, a fisionomia.



Nossas reais diferenças,
Não adstringem-se a sexo,
Cultura, classe, etnia...
Não as ressaltam os búzios,
As linhas da mão, o horóscopo,
Nem os traços da grafia.

Não estão, nunca estiveram
Nessa ou noutra faculdade,
Nessa ou noutra anomalia.
Decorrem, sim, dos sucessos
E dramas do dia-a-dia.
Estão nas nossas vivências,
Na nossa idiossincrasia.

Nossas reais diferenças
Têm, pois, outra hierarquia.
Se as láureas as dissimulam,
A dor as evidencia.
Só a forja do caráter
Eleva e distingue um homem.
É de espinhos a coroa
que lhe dá supremacia.


(Do Livro" Estado de Espírito", de Sersank)
 
 
Imagem:
Banco de imagens do Google.
Disponível em:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7V8VdZfTeK41-EWypMF449OCkQcwNu8uHyTCnocZoGUWF4F6P1BmRQFhnb91IblVlpJPvIf39Y1-Hx4YwqvlzrJbn7HBlG5dn-wH_wvn0O38t79O0Iiqdjtxz8049Et8jrOOWLIqtJbQ/s320/27415.jpg
 
 

domingo, 23 de maio de 2010

ORIENTAL











Que eu dome, enquanto é tempo,

neste tempo de aflições,

as minhas más tendências e emoções.



Que eu cresça em singeleza e tolerância,

como crescem as taquaras

e fazem os bambuzais.



E, assim me curve e resista

quantas vezes necessário,

à fúria dos vendavais.


(Do livro "Estado de Espírito", de Sersank)



Imagem:
Banco de Imagens do google
Disponível em:
http://www.inlinefeat.ch/


sexta-feira, 21 de maio de 2010

DOS ASPECTOS DA DOR










- I -
Por mais pungente é abstrata
A dor que nos outros vemos:
Só dói a que nos maltrata,
Só nos mata a que sofremos...

- II -

Decrescem, se constatadas,
As dores por nós descritas.
Mas, as dores fabricadas
São nossas outras desditas...

-III -

Ninguém a quer. Não nos tenta
Seu poder transformador.
Deus a tem por ferramenta.
Nós a chamamos de ... dor.


(Do Livro de Trovas de Sersank)

(DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS POR LEI)




Imagem:
http://memorias-de-um-amigo-imaginario.blogspot.com/2009_07_01_archive.html

sexta-feira, 7 de maio de 2010

QUADRINHAS DO AMOR DE MÃE









Vão-se ao vento uns ais pungentes
De mães... Que doridos ais!
De tantos, de tão freqüentes
Ninguém os escuta mais...
»«
Nos vôos, mãe, da memória,
Volto ao nosso antigo lar:
Sou personagem da história
De tua vida exemplar!
»«
Algo há de mães, algo nobre,
Nas roseiras esmerosas:
De espinhos a vida as cobre
E elas à vida dão rosas.
»«
Que triste sina a das mães
Sem lar, sob os viadutos!
Disputam sobras aos cães
Na lentidão dos minutos...
»«

(Do Livro "TROVAS DE SERSANK")
Foto do Banco de Imagens do google, também disponível em:
http://academicosonline.wordpress.com/2009/05/

sábado, 1 de maio de 2010

UM VELHO CLICHÊ




Merecem lembrados,
por imprescindíveis,
os homens que vivem
da força dos braços,
sem brio nos olhos
de brilhos escassos,
por seu coração
grande e fragilizado,
que se mostra, inteiro,
no sorriso fácil.

Homens que vivem
à margem do tempo,
imersos no Nada
que o tempo há de ser;
imersos nas sombras
do mundo, sem posses,
sem pressa nos passos,
sem razão de ser.
De rostos suarentos
e vestes horríveis,
Preenchem o espaço,
quase invisíveis.
Enxerga-os, valentes,
heróis sem bandeira,
que ao rude trabalho
se dão sem canseira!

Nos morros que rasgam,
nos rios que alargam,
nas pedras que lascam,
nas torres que erigem,
nas safras que sofrem,
no cerne das crises...


Ninguém lhes pesa as cotas de esperança!
Ninguém nunca lhes mede os sacrifícios!
É nada, infelizmente, o que percebem
do que lhes deve a Pátria em benefícios...

... Seu grande coração,
revela-se, frágil,
estrela incendida
no sorriso fácil.

(Do livro "Estado de Espírito", de Sersank)

Imagem: Banco de imagens do google
http://pagina20.uol.com.br/18042007/especial.htm

POEMEDO






(Elegia da vida operária)



Silente é o clamor que refulge
nos olhos dos circunstantes
e foge, por entre as frestas
das paredes circundantes
e adentra bairros e becos,
para arrefecer distante...
Funesta, por mais freqüente,
é a nova que dissemina:

- Desabado o prédio;
- Naufragado o barco;
- Propagado o incêndio;
- Soterrada a mina.


Não tarda e, sem que se espere,
eventos tais acontecem.
Alteram, claro, a rotina..

Se diferença fizessem!...
Ao olvido,
simplesmente,
se destinam.

Não se espere desses homens
que reajam, furibundos.
Sentem-se os próprios culpados
em seus juízos profundos.

No éter perde-se o estalo
dos cabos. Perde-se o estrondo.
Um imprevisto intervalo
faculta o fato hediondo.
Perpetua-se o presságio
nas imagens repetidas:


fumos de tochas humanas;
janelas de quedas livres;
espumas de pós-naufrágio;
destroços de alvenaria.
Uns fragmentos das vidas,
num relance, interrompidas...


Se pairam no éter vozes
não repercutem bastante:
seu eco nos que se salvam
é o silêncio. Lancinante.


Mas não assusta o fragor
das máquinas hostis que movimentam.
São outras máquinas, tantas.
E é com certo pundonor,
que suas marcas ostentam.


Sangram o suor
entre noites mal dormidas
e dias sucessivos de exaustão.

Repartem, cada dia,
com seus magros filhos,
à custa de absurdos empecilhos,
a parte que lhes cabe de minguado pão.
Acrescem-lhe a farinha da esperança
e o sal da crença que lhe dá sabor.

Os filhos, não esperem outra herança
que a audácia de sobreviver.
Contentem-se: podem ter
os dias de carnaval,
televisor, celular,
o baile ao fim da semana,
o time de futebol...

Um dia, quem sabe, tenham,
também, seu lugar ao sol...


(Do livro: "Estado de Espírito", de Sersank)
Imagem: Banco de imagens do google, disponível em
http://www.rondoniadinamica.com/userfiles/TRABALHADORES%20CAMINHANDO.jpg