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domingo, 31 de janeiro de 2010

FRAGMENTO DA INFÂNCIA

Uma crônica do "Estado de Espírito"



(Manhã)


Sersank Kojn


Inesquecivelmente triste aquela manhã... Como grossas lágrimas, respingos de uma chuva interminável escorriam pela vidraça da janela de meu quarto, na singela casa de madeira ao fim da rua... As árvores, na vizinhança, recurvavam-se, estóicas, à fúria do vento.
Numa nesga de céu, no horizonte em brumas, via faiscarem relâmpagos ao rumor descompassado dos trovões que -imaginava – outra coisa não eram senão a manifestação da cólera de Deus pelos pecados do mundo.
Agasalhado no peito, de repente, o coraçãozinho afligiu-se: as rosas do nosso canteiro estavam expostas à fatalidade! Por certo não resistiriam, perder-se-iam, para sempre, nessa terrível manhã!...
Passei a ver, então, que, de alguma forma, assemelhava-me a elas, assim como a tudo que vive e respira, por idêntica sujeição à austeridade das estranhas e transcendentes leis que regem as orquestrações da vida neste mundo. Temia pelos de casa, por seus destinos, temia por mim...
Como alguém que, a insistentes rumores externos, se vê despertado de edênico sonho, fiquei por um tempo a ver, pela vidraça, as coisas que o mau tempo ia, em torno, desnudando; as coisas todas, desprovidas de magia...
Era de uma tristeza inesquecível aquela manhã...

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Imagem:
http:fotologando.blogspot.com/2008/10/34-lindas-imagens-com-o-tema-da-chuva.html

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