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sábado, 4 de maio de 2019

Em favor da causa indígena





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DE VOLTA A URIHI
(Pelo transcurso do Dia do Índio, a 19 de abril)

De mui longínquas florestas
vem esse múrmur de rios turvos
com sinfonia de pássaros assustados
uivos, rugidos, vozes
da natureza inquieta.

O vento balouça os meus cabelos
e as copas das árvores.

Lembro Rondon pacificador
 e os irmãos Villas-Boas
nas noites tenebrosas de muitas aldeias.

Em uníssono cantam agora os índios como grandes pássaros.
Cantam e dançam
em torno à fogueira.
Mas seu canto é triste.
Das brasas vivas

evolam-se os guerreiros ancestrais:

Araribóia
Filipe Poti Camarão
Ajuricaba
Sepé Tiaraju

Cantam e dançam
são índios
vermelhos do sangue brasileiro
desafiam os deuses da terra
erguem seu grito a Tupã.

caingangues
ianomâmis
charruas
tupinambás
tupis
timbiras
guaranis kaiowás
caraíbas
caiapós
tupiniquins
xavantes
goitacazes
carajós
ashanincas
macuxis
ticunas
terenas
guajajaras
bororós
picarrãs
potiguaras
tantas mais.

Estão pintados à guerra

para a defesa de Urihi.
Davi Kopenawa
Raoni Metuktire
Ailton Krenak
Sonia Guajajara
e outros tantos.
Rufam como trovões seus tambores.


Versos me ocorrem de I-Juca Pirama(*):

“Não temas, meu filho,
não temas que a vida
é luta renhida,
viver é lutar!
Se o duro combate
aos fracos abate,
aos fortes, aos bravos,
só pode exaltar!”

Roubaram-lhes a terra virgem
roubam-lhes
os filhos
a sorte
a história.

Envergonho-me de ser natural de um país
vermelho do sangue indígena.
Este país que os humilha e despreza
ergueu-se
sobre as nações
destes filhos da selva
aguerridos
perseguidos
escravizados
ameaçados

tem para com eles uma dívida impagável.

São homens, mulheres, crianças
sempre longe de tudo
na faina de plantar caçar pescar colher frutos
e ofertar ou vender sua arte
aos invasores.

Que os ouçam, neste dia, o mundo inteiro!

Pesar do direito à vida com dignidade
privados de espaço e recursos
sem os irmãos Villas-Boas
os filhos da Terra de Santa Cruz
esses desconhecidos heróis que a natureza estima
celebram a alegria da paz que lhes é possível em seu meio
mas tentam (como e enquanto podem)
a duras penas
sobreviver.


Sersank, 19abr2019


(*) "I-Juca Pirama" é um poema clássico de Gonçalves Dias, um de nossos maiores poetas.

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Nossa Terra-Floresta (Kami Yamaki Urihipë)

Para os Yanomami, ''Urihi'', a terra-floresta, não é um mero espaço inerte de exploração econômica (o que chamamos de “Natureza”) Trata-se de uma entidade viva, inserida numa complexa dinâmica cosmológica de intercâmbios entre humanos e não-humanos. Como tal, se encontra hoje ameaçada pela predação cega dos brancos. Na visão do líder Davi Kopenawa Yanomami:

A terra-floresta só pode morrer se for destruída pelos brancos. Então, os riachos sumirão, a terra ficará friável, as árvores secarão e as pedras das montanhas racharão com o calor. Os espíritos xapiripë, que moram nas serras e ficam brincando na floresta, acabarão fugindo. Seus pais, os xamãs, não poderão mais chamá-los para nos proteger. A terra-floresta se tornará seca e vazia. Os xamãs não poderão mais deter as fumaças-epidemias e os seres maléficos que nos adoecem. Assim, todos morrerão."

Fontes:


POTIGUARAS, TUPINAMBAS, KAYAPOS, CAETES, TUPIS, TUPINIQUINS, PATAXOS, IANOMAMIS, XAVANTES, GUAJAJARAS, TERENAS, MACUXIS, TERENAS, CAINGANGUES, GUARANIS, TICUNAS, KAIOWAS, JAEXAA PORA.

Dia do Índio

O Dia do Índio, 19 de abril, foi criado pelo presidente brasileiro Getúlio Vargas através do decreto-lei 5 540, de 1943 e relembra o dia, em 1940, no qual várias lideranças indígenas do continente resolveram participar do Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México. Eles haviam boicotado os dias iniciais do evento, temendo que suas reivindicações não fossem ouvidas pelos "homens brancos". Durante este congresso, foi criado o Instituto Indigenista Interamericano, também sediado no México, que tem, como função, zelar pelos direitos dos indígenas na América. O Brasil não aderiu imediatamente ao instituto, mas, após a intervenção do Marechal Rondon, apresentou sua adesão e instituiu o Dia do Índio no dia 19 de abril.

Fonte: 


“(...) os Villas-Boas dedicaram todas as suas vidas a conduzir os índios xinguanos do isolamento original em que os encontraram até o choque com as fronteiras da civilização. Aprenderam a respeitá-los e perceberam a necessidade imperiosa de lhes assegurar algum isolamento para que sobrevivessem. Tinham uma consciência aguda de que, se os fazendeiros penetrassem naquele imenso território, isolando os grupos indígenas uns dos outros, acabariam com eles em pouco tempo. Não só matando, mas liquidando as suas condições ecológicas de sobrevivência.” (RIBEIRO, Darcy. Confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 194)

Os índios

Artigo de jornal da década de 1970
No aspecto dos índios, os irmãos Villas-Boas implantaram uma nova política indigenista, que, basicamente, consiste na defesa dos valores culturais dos índios, como único meio de evitar a marginalização e o desaparecimento dos grupos tribais. A partir da máxima segundo a qual “O índio só sobrevive na sua própria cultura”, os irmãos Villas-Bôas conseguiram implantar uma nova forma de relacionamento entre nossa sociedade e as comunidades indígenas brasileiras. Essa política vem sendo esposada por etnólogos e entidades científicas não só nacionais, como estrangeiras.
Os Villas-Boas mostraram que a antiga visão que a sociedade nacional tinha acerca do índio era absolutamente equivocada. Não se tratava, portanto, de sociedades selvagens, sem regras e sem estrutura social como se narrava na época do Descobrimento do Brasil. A nova imagem do índio, trazida pelos Villas-Bôas à nossa sociedade, era a de uma sociedade equilibrada, estável, erguida sobre sólidos princípios morais e donos de um comportamento ético que sustentava uma organização tribal harmônica. A esse respeito Cláudio Villas-Bôas teria dito certa feita:
(...) “Se achamos que nosso objetivo aqui, na nossa rápida passagem pela Terra, é acumular riquezas, então não temos nada a aprender com os índios. Mas se acreditamos que o ideal é o equilíbrio do homem dentro de sua família e dentro de sua comunidade, então os índios têm lições extraordinárias para nos dar.” Cláudio Villas-Bôas
https://www.youtube.com/watch?v=rr_tyGdscio

“É impagável a dívida social que temos para com os povos indígenas do Brasil. Os portugueses colonizadores, os donatários das Capitanias Hereditárias, os Bandeirantes e, depois os invasores de terras, grileiros e outros bichos, quase que dizimaram sua cultura, suas línguas, seus costumes. E são eles, os legítimos herdeiros da Pindorama, as terras de Santa Cruz. (Sersank) 

Fila de índios se apresentando para a cerimônia do Kuarup

Parqu






Bolsonaro é a ameaça mais séria aos indígenas:
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/bolsonaro-e-a-ameaca-mais-seria-aos-indigenas-desde-a-constituicao-de-1988-avalia-revista-cientifica-britanica/?fbclid=IwAR1Wo8U2PHk6ckjR6NmlBDvHhPg0zQtjeNZNY-iTAMjLzY7FdtW1pupQqnI

https://leonardoboff.wordpress.com/2019/10/30/a-vantagem-da-imperfeicao/

https://antropofagista.com.br/2020/02/08/itau-e-dono-da-ambev-estao-entre-acionistas-que-invadem-terra-indigena-jaragua-em-sp/

Abrahamm Weintraub: "Odeio o termo POVOS INDÍGENAS"
https://leonardoboff.org/2020/06/15/odeio-o-termo-povos-indigenasuma-blasfemia-em-dois-atos/

https://leonardoboff.org/2020/08/16/una-poesia-orada/