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domingo, 10 de janeiro de 2016

NOTA DE PESAR





Minha Mãe

Desejava, Mãezinha, para testemunhar-te afeto e gratidão, escrever-te um poema que me fotografasse o coração.
E, ao servir-me do verbo, quisera misturar a beleza das flores e das fontes, o azul do céu, o ouro do sol e os lírios do luar... 
Anseio enaltecer-te!... A palavra, no entanto, Mãe querida, não consegue mostrar as bênçãos incessantes que nos trazes à Vida.
Em vão consulto dicionários! Não encontro a expressão lúcida e bela que nos defina claramente a luz que o teu sorriso nos revela... 
Ofereço-te, assim ao carinho perfeito o doce pranto de agradecimento que me verte do peito.
As lágrimas que choro de alegria refletem, uma a uma as estrelas de amor que te engrandecem, – a tua glória em suma !... 
És tudo de mais lindo que há no mundo, – o agasalho a ternura calma e boa, o refúgio de santo entendimento, a presença que abençoa...
Desculpe, meu tesouro de esperança, se não te sei nobilitar o reino de bondade e sacrifício, no sustento do lar!

E não sabendo, Mãe, como louvar-te a celeste afeição, rogando a Deus te glorifique a vida, trago-te o coração.                
Do livro “Mãe”. Maria Dolores - Psicografia de Francisco Cândido Xavier. (Mensagem recebida em reunião pública da Comunhão Espírita Cristã, na noite de 22/03/1969, em Uberaba (MG)



sábado, 9 de janeiro de 2016

Os primeiros versos de Cecília Meireles


Foto by Khosrow Amirazodi


Meu Poema


Cecília Meireles

Quando eu não pensava em ti,
os meus pés corriam ligeiros pela relva,
e os meus olhos erravam, distraídos e felizes,
pela paisagem toda...
Quando eu não pensava em ti,
as minhas noites eram
como o sono do céu, cheio de luar...
Quando eu não pensava em ti,
minha alma era simples e quieta...
minha alma era uma ave mansa,
de olhos fechados,
na alta imobilidade de um ramo,
quando eu não pensava em ti....
E agora, ó eleito, o meu passo demora,
esperando pelos meus olhos
que procuram a tua sombra...
As minhas noites são longas, morosas, tão tristes,
porque o meu pensamento põe-se a buscar-te
e eu, sem ele, fico mais só...
Perderam-se os meus olhos entre as estrelas.
Entre as estrelas se perderam as minhas mãos
nesta ansiedade de te alcançarem...
Eleito, ó eleito,
Porque foi que eu fiquei assim?
Por que, desde o chão do meu corpo,
até o céu de minha alma,
sou fumaça de um perfume
a subir em teu louvor?
Quando eu não pensava em ti
"Os meus olhos erravam, distraídos e felizes,
pela paisagem toda...

De “Poema dos Poemas” (1923)

Comentário de Sersank:

Não poderia deixar de trazer aqui este belíssimo poema da nossa imortal Cecília Meireles. Ela o escreveu, recém-casada, mas ainda bem jovem. É um poema realmente encantador. Mas deixo falar por mim um dos nossos maiores escritores de todos os tempos, o folclorista, dialetólogo, poeta e ensaísta brasileiro AMADEU AMARAL (Capivari-SP, 1875 - São Paulo-SP, 1929) saudando a poeta estreante, à época, numa deliciosa crítica posteriormente enfeixada em sua obra "O Elogio da Mediocridade" (HUCITEC, 1976). Eis alguns trechos:

"O Poema dos Poemas é onde esse misticismo abre as asas com mais possança e demora. Aí, tudo chega à máxima simplicidade e ao máximo apuro emocional. Há trechos de uma beleza virgem, de ingenuidade despida. Os maiores efeitos com a maior singeleza de processos. Longe iríamos a querer levar o leitor através de todos os cantos deste poema que, não sendo longo, tem, entretanto, a extensão da profundidade."
(...) 
"Nos versos dessa poetisa há tal unidade e sequência, tal harmonia de conjunto, um ar de sinceridade tão visível, tudo parece tão claramente amassado na mesma greda que se pode prescindir de excogitar  "influências". Parafraseando Vieira, é lícito afirmar que na sua poesia não há enxertos: tudo é nascido. Dona Cecília Meireles é "um poeta".. Traz em si a massa de que se fazem os grandes poetas. No Brasil já é uma figura de belo e inconfundível relevo. Quererá produzir mais, ir adiante, crescer como lhe pede a seiva que se lhe adivinha? Esperemos. E, enquanto esperamos, saudemos nela o advento auroral de uma grande e nobre alma de artista, digna de profundo interesse e infinito carinho."

Estava certíssimo o grande poeta e imortal escritor. Cecília Meireles veio a se tornar uma das maiores expressões da nossa literatura poética.

Biografia

Cecília Meireles

Poetisa brasileira

Cecília Meireles (1901-1964) foi poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estreia na literatura com o livro "Espectros". Participou do grupo literário da Revista Festa, grupo católico, conservador e anti modernista. Dessa vinculação herdou a tendência espiritualista que percorre seus trabalhos com frequência.
A maioria de suas obras expressa estados de ânimo, predominando os sentimentos de perda amorosa e solidão. Uma das marcas do lirismo de Cecília Meireles é a musicalidade de seus versos. Alguns poemas como "Canteiros" e "Motivo" foram musicados pelo cantor Fagner. Em 1939 publicou "Viagem" livro que lhe deu o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras.
Cecília Meireles (1901-1964) nasceu no Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901. Órfã de pai e mãe, aos três anos de idade é criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides. Fez o curso primário na Escola Estácio de Sá, onde recebeu das mãos de Olavo Bilac a medalha do ouro por ter feito o curso com louvor e distinção. Formou-se professora pelo Instituto de Educação em 1917. Passa a exercer o magistério em escolas oficiais do Rio de Janeiro. Estreia na Literatura com o livro "Espectros" em 1919, com 17 sonetos de temas históricos.
Em 1922 casa-se com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Viúva, casa-se pela segunda vez com o engenheiro Heitor Vinícius da Silva Grilo, falecido em 1972. Estudou literatura, música, folclore e teoria educacional. Colaborou na imprensa carioca escrevendo sobre folclore. Atuou como jornalista em 1930 e 1931, publicou vários artigos sobre os problemas na educação. Fundou em 1934 a primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro.
Cecília Meireles lecionou Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas, em 1940. Profere em Lisboa e Coimbra, conferência sobre Literatura Brasileira. Publica em Lisboa o ensaio "Batuque, Samba e Macumba", com ilustrações de sua autoria. Em 1942 torna-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Realiza várias viagens aos Estados Unidos, Europa, Ásia e África, fazendo conferências sobre Literatura Educação e Folclore.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles morre no Rio de Janeiro, no dia 9 de novembro de 1964. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação e Cultura.
Cecília Meireles foi homenageada pelo Banco Central, em 1989, com sua efígie na cédula de cem cruzados novos.

Obras de Cecília Meireles

Espectros, poesia, 1919
Nunca Mais... e Poema dos Poemas, 1923
Baladas Para El-Rei, poesia, 1925
Viagem, poesia, 1925
Viagem, poesia 1939
Vaga Música, poesia, 1942
Mar Absoluto, poesia, 1945
Evocação Lírica de Lisboa, prosa, 1948
Retrato Natural, poesia, 1949
Amor em Leonoreta, poesia, 1952
Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, poesia, 1952
Romanceiro da Inconfidência, poesia, 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara, poesia, 1955
Pístoia, Cemitério Militar Brasileiro, poesia, 1955
Canção, poesia, 1956
Giroflê, Giroflá, prosa, 1956
Romance de Santa Cecília, poesia, 1957
A Rosa, poesia, 1957
Eternidade em Israel, prosa, 1959
Metal Rosicler, poesia, 1960
Poemas Escritos Na Índia, 1962
Antologia Poética, poesia, 1963
Ou Isto Ou Aquilo, poesia, 1965
Escolha o Seu Sonho, crônica, 1964
Crônica Trovoada da Cidade de San Sebastian, poesia, 1965
Poemas Italianos, poesia, 1968
Inéditos, crônica, 1968

Fonte:
09/01/2016

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

OÁSIS DE LUZ






OÁSIS DE LUZ

Sersank

Havendo pervagado, a passo incerto,
por todos os caminhos, já provado
nas aflições do mundo, extenuado,
assim como o viandante no deserto,

vi-me do véu das ilusões liberto,
ergui-me dos escombros do passado,
a doce paz da crença tendo achado
n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, aberto...

Sorvida a Água Viva que sacia
a sede do saber, nova energia
inebriou-me, fez-me leve a cruz!

Se trazes, meu irmão, tu’ alma opressa,
abra esse livro sem temor, sem pressa:
que oásis te será, também, de luz!





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Há um século

Hilário Silva


Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, naquela triste manhã de abril de 1860, estava exausto, acabrunhado.
Fazia frio. Muito embora a consolidação da Sociedade Espírita de Paris e a promissora venda de livros, escasseava o dinheiro para a obra gigantesca que os Espíritos Superiores lhe haviam colocado nas mãos.
A pressão aumentava...
Missivas sarcásticas avolumavam-se à mesa.
Quando mais desalentado se mostrava, chega a paciente esposa, Madame Rivail - a doce Gaby -, a entregar-lhe certa encomenda, cuidadosamente apresentada.
O professor abriu o embrulho, encontrando uma carta singela. E leu: 
“Sr. Allan Kardec:
Respeitoso abraço.
Com a minha gratidão, remeto-lhe o livro anexo, bem como a sua história, rogando-lhe, antes de tudo, prosseguir em suas tarefas de esclarecimento da Humanidade, pois tenho fortes razões para isso.
Sou encadernador desde a meninice, trabalhando em grande casa desta capital.
Há cerca de dois anos casei-me com aquela que se revelou minha companheira ideal.
Nossa vida corria normalmente e tudo era alegria e esperança, quando, no início deste ano, de modo inesperado, minha Antoinette partiu desta vida, levada por sorrateira moléstia.
Meu desespero foi indescritível e julguei-me condenado ao desamparo extremo.
Sem confiança em Deus, sentindo as necessidades do homem do mundo e vivendo com as dúvidas aflitivas de nosso século, resolvera seguir o caminho de tantos outros, ante a fatalidade...
A prova da separação vencera-me, e eu não passava, agora, de trapo humano.
Faltava ao trabalho e meu chefe, reto e ríspido, ameaçava-me com a dispensa.
Minhas forças fugiam.
Namorava diversas vezes o Rio Sena e acabei planejando o suicídio.
‘Seria fácil, não sei nadar’ – pensava.
Sucediam-se noites de insônia e dias de angústia.
Em madrugada fria, quando as preocupações e o desânimo me dominaram mais fortemente, busquei a Ponte Marie.
Olhei em torno, contemplando a corrente...
E, ao fixar a mão direita para atirar-me, toquei um objeto algo molhado que se deslocou da amurada, caindo-me aos pés.
Surpreendido, distingui um livro que o orvalho umedecera.
Tomei o volume nas mãos e, procurando a luz mortiça de poste vizinho, pude ler, logo no frontispício, entre irritado e curioso:
‘Esta obra salvou-me a vida. Leia-a com atenção e tenha bom proveito. -  A. Laurent.’
Estupefato, li a obra – ‘O Livro dos Espíritos’ - ao qual acrescentei breve mensagem, volume esse que passo às suas mãos abnegadas, autorizando o distinto amigo a fazer dele o que lhe aprouver.”
Ainda constavam da mensagem agradecimentos finais, a assinatura, a data e o endereço do remetente.
O Codificador desempacotou, então, um exemplar de “O Livro dos Espíritos” ricamente encadernado, em cuja capa viu as iniciais do seu pseudônimo e na página do frontispício, levemente manchada, leu com emoção não somente a observação a que o missivista se referira, mas também outra, em letra firme: - “Salvou-me também. Deus abençoe as almas que cooperaram em sua publicação. - Joseph Perrier.”
Após a leitura da carta providencial, o Professor Rivail experimentou nova luz a banhá-lo por dentro...
Conchegando o livro ao peito, raciocinava, não mais em termos de desânimo ou sofrimento, mas sim na pauta de radiosa esperança.
Era preciso continuar, desculpar as injúrias, abraçar o sacrifício e desconhecer as pedradas...
Diante de seu espírito turbilhonava o mundo necessitado de renovação e consolo.
Allan Kardec levantou-se da velha poltrona, abriu a janela à sua frente, contemplando a via pública, onde passavam operários e mulheres do povo, crianças e velhinhos...
O notável obreiro da Grande Revelação respirou a longos haustos, e, antes de retomar a caneta para o serviço costumeiro, levou o lenço aos olhos e limpou uma lágrima... 

Do livro O Espírito da Verdade, obra mediúnica psicografada pelos médiuns Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier.

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