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terça-feira, 22 de abril de 2014

FEDERICO GARCIA LORCA





de "Artes&Poesias", via Facebook 

Este é o Prólogo



Deixaria neste livro 
toda minha alma. 
Este livro que viu 
as paisagens comigo 
e viveu horas santas. 

Que compaixão dos livros 
que nos enchem as mãos 
de rosas e de estrelas 
e lentamente passam! 

Que tristeza tão funda 
é mirar os retábulos 
de dores e de penas 
que um coração levanta! 

Ver passar os espectros 
de vidas que se apagam, 
ver o homem despido 
em Pégaso sem asas. 

Ver a vida e a morte, 
a síntese do mundo, 
que em espaços profundos 
se miram e se abraçam. 

Um livro de poemas 
é o outono morto: 
os versos são as folhas 
negras em terras brancas, 

e a voz que os lê 
é o sopro do vento 
que lhes mete nos peitos 
— entranháveis distâncias. — 

O poeta é uma árvore 
com frutos de tristeza 
e com folhas murchadas 
de chorar o que ama. 

O poeta é o médium 
da Natureza-mãe 
que explica sua grandeza 
por meio das palavras. 

O poeta compreende 
todo o incompreensível, 
e as coisas que se odeiam, 
ele, amigas as chama. 

Sabe ele que as veredas 
são todas impossíveis 
e por isso de noite 
vai por elas com calma. 

Nos livros seus de versos, 
entre rosas de sangue, 
vão passando as tristonhas 
e eternas caravanas, 

que fizeram ao poeta 
quando chora nas tardes, 
rodeado e cingido 
por seus próprios fantasmas. 

Poesia, amargura, 
mel celeste que mana 
de um favo invisível 
que as almas fabricam. 

Poesia, o impossível 
feito possível. Harpa 
que tem em vez de cordas 
chamas e corações. 

Poesia é a vida 
que cruzamos com ânsia, 
esperando o que leva 
nossa barca sem rumo. 

Livros doces de versos 
são os astros que passam 
pelo silêncio mudo 
para o reino do Nada, 
escrevendo no céu 
as estrofes de prata. 

Oh! que penas tão fundas 
e nunca aliviadas, 
as vozes dolorosas 
que os poetas cantam! 

Deixaria no livro 
neste toda a minha alma... 


Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'  (7ago1918)
Tradução de Oscar Mendes






MOMENTO NOSTÁLGICO






 ACÉDIA



“Não sou nada
Nunca serei nada.
À parte isso, tenho em mim
todos os sonhos do mundo...”
FERNANDO PESSOA (“Tabacaria”)




Queria, esta noite,
embrenhar-me na estepe
que encobre as cidades
longe,  a luzir...

Como o urutau, mãe-da-lua,
monarca indigente,
a ver por estrelas
azuis vaga-lumes.
Razão mais nenhuma,
alçar-me...  Sumir...

Queria romper
a cortina da noite,
de vez adentrar-me
na bruma longínqua
do incerto porvir...

Como a ave impoluta,
senhora da noite,
alçar-me, expandir-me

e, p’ra sempre, sumir...

Sergio de Sersank







domingo, 6 de abril de 2014

2º PRÊMIO BRASÍLIA DE LITERATURA




Editora Ithala - Curitiba(PR)




Parabéns aos nossos autores habilitados para o 2º Prêmio Brasília de Literatura! E boa sorte na próxima etapa!
 — com Matheus MigottoLuiza Mrilac TeixeiraAdriano Pires RibasCristiano LealGiovani FaveroEduarda KiameWolff BodziakSigrid RenauxSergio de SersankZelmo DenariHamilton Bonat Jr e Beto Pacheco.



"In memoriam" do ator, diretor e crítico de cinema, José Wilker, que nos deixou na manhã de ontem.





Croatia-by Stankina-via BEAUTIFUL PLANET EARTH (Facebook)

TARDE DE DOMINGO

A vida escorrendo pela minha janela:
rio de águas barrentas, preguiçoso.
Sei que ele se move,
porque, na parede,
minha mãe tem um sorriso de moça.

A Morte vestiu o movimento
e passeia, fingindo ser a Vida,
nas ruas do mundo que vejo todo dia.

Mas, para mim ela está desnuda.
É por isso que estou triste.
E por isso, quando
pedaços das mortes de outras vidas caem
- cinzas fugidas da fogueira –
na minha vida,
tenho vontade de me derramar sobre o mundo

como um copo que se derrama sobre a toalha...

Moacir Félix
(Cubo de Trevas, 1947)

Félix, Moacyr (1926)
Biografia
Moacyr Felix de Oliveira (Rio de Janeiro RJ, 1926). Termina o curso de Direito em 1948, mesmo ano em que é lançado seu primeiro livro de poesia, Cubo de Trevas. Entre 1950 e 1953 estuda na Faculdade de Letras da Universidade de Sorbonne, em  Paris (França), onde também faz estudos de Filosofia no Collége de France. Até 1954 é redator e locutor de um programa da Radiodifusão e Televisão Francesa para a América Latina. De volta ao Brasil, trabalha como redator da revista literária Marco e redator e locutor de um programa semanal sobre poesia e literatura na Rádio Ministério da Educação e Cultura. Ainda nos anos 50 colabora em vários periódicos, entre os quais Correio da ManhãDiário de Notícias,Alguma Poesia e Revista do Brasil. Em 1962 e 1963 é organizador e prefaciador dos três volumes da série Violão de Rua, para o Centro Popular de Cultura da UNE. É preso pelo regime militar, em 1966, por suas manifestações a favor da liberdade de expressão. Dirigiu a coleção Poesia Hoje, da Ed. Civilização Brasileira, entre 1963 e 1971. Colabora na revista Le Scarabée International, em 1982É sócio-fundador da Associação Brasileira de Crítica Literária. Entre suas obras estão O Pão e o Vinho (1959), com o qual ganha o prêmio Alphonsus de Guimaraens de melhor livro de poesia, em 1960, e Em Nome da Vida, que recebe o prêmio de melhor livro de poesia no país em 1982, concedido pela APCA. Moacyr Félix pertence à segunda geração do modernismo brasileiro. Segundo o crítico Alceu Amoroso Lima, "o socialismo poético-libertário de Moacyr Félix representa uma face perene do sentimento de solidão do poeta, como todo exílio, mas também o protesto e a reivindicação social de um futuro melhor para sua gente e sua terra". 

Fonte:  
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http://itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=5252&cd_item=35&cd_idioma=28555