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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A CRIANÇA ABANDONADA





Sem lar, que sonha a criança
nos véus da noite que avança
ao cintilar dos néons?
Há fantasmas, ao relento,
uivando, uivando no vento,
não pode ter sonhos bons... 

Ecoam nos seus ouvidos 
os tétricos estampidos 
da noite da Candelária. 
E sofre – não há contê-los - 
os suplícios – pesadelos 
da convivência diária. 


Mal sabe seu sobrenome
e, arrostando frio e fome,
com outras iguais, ao léu, 
já não se ilude: a aventura
do seu viver será dura,
sem fada ou Papai Noel.

Sem um tutor que a estime
descamba às raias do crime,
toma gosto ao que é ruim.
Fuma o crack, cheira cola,
bebe, briga, se estiola,
desumaniza-se, enfim.

Por certo, revel, rejeite
afagos de mão piedosa.
Só sabe a mão asquerosa,
que, de outros olhos oculta,
o submundo comanda
e em horrífica ciranda
bem cedo lhe faz adulta.

Assim, no escoar dos dias,
sepultando fantasias,
o que esperar do amanhã?
Nega-lhe o fado que a isola
o seu direito a uma escola,
ao lar, a uma vida sã... 

Quantas vezes lhe negamos
um gesto de cortesia,
o agasalho em noite fria,
a cédula para o pão.
E se namora, esfaimada,
guloseimas na vitrine,
não é raro que termine
enxotada como um cão.

É inconcebível que clame
diante de nossos ouvidos
e nós – seus irmãos crescidos -
não lhe queiramos ouvir.
E assim viva expatriada,
sob o céu de seu país,
sem chances de ser feliz,
sem ter para onde ir.

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Sem lar, que sonha a criança
nos véus da noite que avança
ao cintilar dos néons?
Há fantasmas, ao relento,
uivando, uivando no vento,
não pode ter sonhos bons...

Sergio de Sersank

(Do livro "Estado de Espírito", Editora Ithala, Curitiba (PR), no prelo)





segunda-feira, 1 de outubro de 2012

TROVAS DE SERSANK



Arte by Ben Goossens



TROBO


PRI LA TEMPO

“Regi l’ tempon – ha, defio
la homojn loĝanta ĉiam!
La tempo - ĥolera Dio –
saŭdadon sentis neniam.”

                                (El la krestomatio de Sersank)

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TROVA


SOBRE O TEMPO

Deter o tempo é impossível,
desafiá-lo, quem há-de?
O Tempo é um deus irascível
que jamais sentiu saudade...

                                  (Da coletânea de Sersank)