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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

PER OMNIA SAECULA, SAECULORUM...




Fonte: 
(disponível no Banco de dados do Google)



Se os ventos do século vinte
cristalizaram em muitos
a ânsia pelo sublime,
as asas do coração,
a alguns não ensurdeceram.

Suavizam o ar as vozes
dos poetas que passaram e 
e dos que, heróicos, resistem,
perdidos na multidão.

Gritemo-las aos que surgem
e hão de estender esse canto
para os homens que virão...








Poema de Sergio Sersank ("Estado de Espírito") 









domingo, 11 de setembro de 2011

CHAMAMENTO










A cada um será dado
ouvir, por  mais descuidado, 
a voz que vem do Jordão
e, em íntimo alumbramento,
dura, faz o chamamento
a imergir-se o coração.

Desencadeia a refrega.
que se estava a postergar.
Soa essa voz dos desertos
como ciclone a ordenar:

 - Abrir mão do que sobeja,
dar de si,  compartilhar...
Trocar os lumes da noite
pelas benesses do lar;
deixar a amante, a bebida,
o jogo,  o cigarro,  a droga;
romper vínculos; parar.
Parar, refazer os planos,
ressarcir perdas e danos,
pedir perdão,  perdoar...

Enquanto flameja o dia
e as pessoas são visíveis;
enquanto tens energia
e restem sonhos possíveis;
antes de outro alumbramento,
de outro qualquer desvario,
cerra os olhos, deixa n’alma
percutir o chamamento.
Amigo, não vás perder-te
no imenso vale sombrio.
  
Porque, além, transposto o rio,
a nuvem cósmica terá tragado tudo.
E nessa asfixiante, tenebrosa bruma,
o fardo de suas dores
é tudo o que o viandante incauto tem.
Embalde há de esperar 
que nasça um novo dia
e haja um caminho, um horizonte além.

Naquele solo hostil, todo exilado,
por medo, apenas medo, ousa avançar.
Se grita, o grito ousado esvai-se e, longe,
de gritos, aos milhares, faz-se acompanhar...

Ali, sabe-se, amigo, os sentenciados,
sem um salvo-conduto, sem o escudo
do título, do nome,  da fortuna inglória,
sorvem do fel que evola a pira dos pecados;
colhem, no lodo, o horror, por ceifa obrigatória.

.................................................................
Desencadeia a refrega,
ouve a voz do eterno rio!
Amigo, não vás perder-te
no imenso vale sombrio...

(Da coletânea "Estado de Espírito" , de Sergio de Sersank)

domingo, 4 de setembro de 2011

UM VELHO PERDE O SEU CÃO



Fonte:

                                             

                                             - Tânatos!... (grita em silêncio...)
O filho da noite eterna,
com seu coração de ferro,
tomou-lhe de assalto o reino -
este mesmo que, sem muros,
sem súditos, sentinelas,
e em ruinas, ia a tombar.

Nem mesmo bateu-lhe à porta.
Entrando, assim, sem alarde,
ao fim de uma fria tarde,
adormeceu-lhe o cãozinho
nos braços, a agonizar...

Mais só do que nunca esteve
precisará doravante
mudar a velha rotina
curvar-se à sorte, esperar...

Perdido o cão, neste assalto,
soluça, indo e vindo em casa.
A dor que sente extravasa
falando às plantas, à sós...


Se almas de antigos afetos
o podem ouvir soluçam,
soluçam talvez bem alto
porque perderam a voz...

  
Por que morremos se o mundo
perde, assim, todo o sentido?
Que esperam de nós os deuses?
Que escondem nos seus desígnios?

- De que lhes servem - indaga 
à flor que deixa caída:
- Ai, diz-me, de que lhes servem
os nossos restos de sonho,
as dores da nossa vida?

(Da coletânea "Estado de Espírito", de Sersank)
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