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quarta-feira, 21 de julho de 2010

"CARPE-DIEM"(*)








"Aquele que anda em trevas não sabe para onde vai." (João, XII: 35)


Reconsidera a luz que tens agora
e todas as benesses fugidias.
Em pouco só terás, quem sabe, a bruma...
a bruma, além do horror de furnas frias...

Estranho abismo às multidões atrai.
Não há como dele evadir, se avançares demais.
Escuta a exortação do áspero vento
de seus profundos umbrais!

De modo algum concebe-o, na gigântea esfera,
a extensa massa humana, invigilante e inquieta
que, na avidez do ouro e dos prazeres se lhe rende,
ao bizarro fascínio, à influência funesta...

Ensandecidas sombras, de insepultos dramas,
a esquifes de ilusão ali se atrelam...
Ardem-lhes, por chagas, as lembranças
nos pútridos pauís que as aquartelam...


Reconsidera, pois, as benesses de agora
ao longo do caminho em que te vais.
Que o seu soturno coro de "ranger de dentes"
mais tarde não contenha os teus longínquos ais!...


Estranho abismo às multidões atrai.
Não há dele fugir se avançares demais.
Escuta a exortação do áspero vento
que emana de seus umbrais!...



• "APROVEITA O DIA" - frase de Horácio, poeta latino epicurista.


Banco de imagens do Google
http://stud4.tuwien.ac.at/~e0025959/mond_5.jpg

O Epicurismo é uma doutrina do século II a.C. Refere-se à moral que propõe como objetivo primeiro a satisfação de tudo o que contribui para o prazer.


(Do Livro de Sersank, "Estado de Espírito")

Visite o blog:
http://sersank.blogspot.com/

sexta-feira, 16 de julho de 2010

UM HOMEM MORRE DE FRIO








Nos braços de Morfeu queda a cidade.
Gélida avança a noite sob o vento
Que zune açoites, bravio.
Por leito e barricada andrajos tendo,
Num canto, ao pé de arranha-céu imenso,
Um homem morre de frio...

Agonizando, ali, talvez delire,
Vendo os pedestres últimos, em busca
Do leito morno, macio...
Talvez, sinta-se um deles, por momentos...
Um homem desses, livres das algemas
Do destino. Ah, desvario!...

Morre indigente. Já não mais lhe ocorrem
Reminiscências de melhores dias.
Não tem mais traços de brio.
Distantes sons de uma boate em festa
A custo põe-se a ouvir. Perdem-se, agora,
No seu imenso vazio...

Nem todos dormem. Ornam-se de luzes
Os altos edifícios. E eis, um carro
Pára junto ao meio-fio.
Traz de Mammon uns súditos restantes
Que, indiferentes, tiritando e rindo,
Vão-se com seu vozerio...

Ensaia erguer-se; embalde, embalde tenta...
Thanatos já, movendo as longas asas,
O envolve, terno e sombrio.
À volta, entre as paredes, que ironia:
Há tantos indivíduos que se abraçam
E tanto leito vazio!

Bem cedo hão de encontrar-lhe o corpo, inerte.
Hão de exprobrar-se, por negar-lhe auxílio,
num gesto inóquo, tardio...
Talvez, alma remida, ao sol do Além planando,
Não mais proscrita, logo exulte e louve
O Averno da crosta, frio...

“- Coitado!”... “- Oh, que infeliz!"... “- Quem era ele?"
“- Um ébrio, com certeza". “- Um andarilho."
“- Um réu, talvez, arredio"...
Descerrem seus portais, guardiões do Inferno!
Estendam o seu fogo ao mundo infrene!
Um homem morre de frio...




(Do Livro "Estado de Espírito", de Sersank)

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ApukaOnline - Imagem: Ilustrativa
http://www.apukaonline.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:homem-morre-de-frio-em-mandaguari&catid=1:geral&Itemid=64

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